sexta-feira, 25 de março de 2011

O Egoísmo Dessa Dor

  Sinto um egoísmo absoluto. Nenhum sofrimento é maior do que o meu, ninguém chora mais, nem foi mais injustiçado do que eu. Sei que não é verdade, conheço as mazelas do mundo, mas é assim que me sinto...sei dos tremores terrestres, dos milhões de refugiados, antes políticos, agora da natureza. Ela está mandando a humanidade embora, são muito desumanos. Eu me sinto assim, desumana. Como posso achar minha dor maior do que a de pessoas que perderam tudo e todos? Como posso me sentir mais injustiçada do que executados? Como posso chorar mais que a mãe que perde um filho? Como posso ser vítima e não reconhecer meus erros? Porque faço parte dessa humanidade desumana!
  Ainda hoje recebi uma mensagem de um psquiatra infantil, José Hércules Golfeto, avô da minha filha Dora, dizendo que não devo ser castigada e sim tratada, que tenho direito a tratamento... sim, eu preciso de tratamento. Preciso de um que me ensine a lidar com o mundo, já tenho 40 anos, provavelmente já vivi mais da metade da minha vida, já passou da hora de aprender a dissimular, fingir, sorrir quando necessário, calar para não se comprometer, a não lutar pelos direitos dos outros. Me sinto tão egoísta e não me sinto bem assim.

  O egoísmo é tanto que chorei ouvindo "De onde vem a calma", do Los Hermanos, a música é linda, transborda poesia: "Eu não vou mudar, não, eu vou ficar são, mesmo se for só, não vou ceder. Deus vai dar aval sim, o mal terá fim e no final, mesmo calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim". Chorei porque me identifiquei, como se a música fosse feita para mim. Sei que esse é o significado da música, nos tocar, identificar, sentir. Mas é muita pretensão me achar assim tão somente do lado do bem. O mal existe em mim. De certa forma eu busquei o mal. Talvez continue buscando. Pode ser na falta de sono, essa noite foram somente 3 horas. Não consigo dormir cedo e tenho que acordar 6h28 (28 é porque não gosto de números redondos). Mesmo se posso voltar a dormir depois, como hoje, não consigo dormir de dia. E continuo com minhas filosofias de botequim, mesmo sem nunca mais ter ido em botequins...os papos de boteco ficaram gravados na minha alma, quando brindava desejando que "nossos pais tenham filhos ricos e famosos"! Sempre tão pretenciosa...

  Para parar de chorar passei a ouvir Strokes - You Talk Too Much, do Room on Fire. Ah, piorou, passei a lembrar de todos os bons namorados que tive, desde os 15 anos, de pouca ou  muita duração: Rodrigo, Dan, Siqüila, Pedro, Mazuras, Chico ... sempre falei demais sobre o que não importava. Nunca reconheci o mérito de cada um, de aguentar alguém como eu, incondicionalmente, não falo de amor ou sexo, falo de amizade! Alguém assim como eu, que fala demais sempre, que se compromete quando não deveria, racional demais, egoísta e arrogante. Sei que tenho qualidades, mas parecerei presunçosa ao enumerá-las. Basta de presumir, eu só quero ter a paz que eu perdi não sei onde, nem quando. No fundo sei que tenho sorte, muito mais pessoas boas cruzaram meu caminho do que ruins. É que as ruins eram péssimas e fizeram um estrago enorme. Vai demorar para limpar toda essa sujeira.

2 comentários:

  1. Desculpe-me, mas não consegui ficar sem ler, pois, chorar é o que tenho feito, talvez você já deve ter superado, talvez você poderia me dizer o que fazer...

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    1. Não, não superei, mesmo que um dia eu tenha minha filha de volta, as marcas são profundas demais. Não sei o que te dizer, eu só sigo em frente porque tenho uma filha pequena que depende totalmente de mim. Tenho a literatura para não enlouquecer, tenho a água para extravar... leia, leia a vontade e compartilhe se for possível, acho que mais gente precisa saber como a Justiça brasileira age com suas crianças e como o sistema educacional está falido, afinal, José Hércules Golfeto é o avô da minha filha, é um psquiatra infantil que lecionou na USP de Ribeirão Preto por décadas. É dele que falo neste texto, alguém tão sem ética que manda eu me tratar sem nunca ter me consultado... não sei como aguento, não sei...

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