quarta-feira, 6 de abril de 2011

Síndrome do Amor

  Ontem conheci a Associação Síndrome do Amor, que fica em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Dedica-se aos familiares de crianças portadoras de doenças severas, como a síndrome de Edwards. Leigamente falando para leigos são crianças que nascem com expectativa de vida curtíssima, 1 mês ou 2, mas que com muito cuidado e amor chegam a superar a barreira de um ano. Essas crianças precisam de sondas para se alimentar, pois não conseguem fazer sucção ao nascer. Vi um vídeo postado no meu facebook, está no youtube como 99 Balloons, chorei aos cântaros e fui saber mais com minha amiga Paola Miorim, responsável pela postagem e que mora em Ribeirão Preto. Logo entrei no site, vi um depoimento da cantora Maria Rita, madrinha da associação, emocionante, visceral. Me comuniquei com Marília Castelo Branco, fundadora da associação, mãe de Thales, com quem conviveu por 541 dias, apesar da mais otimista das expectativas ser de 30 dias.
  O que quero dizer é que esses familiares sabem que vão perder aquela frágil criança em pouco tempo. Todos podemos perder quem amamos hoje, em alguns minutos, amanhã, em algumas horas. Mas essas pessoas têm a certeza constante da brevidade da vida. Cada dia é uma vitória do amor incondicional. Essas mães são a prova da existência desse amor. Não que todas as outras mães, de crianças sadias e perfeitas não o sejam, mas a correria do cotidiano, as crises mundanas, os nervosismos repentinos banalizam esse amor. Chega um tempo em que olhamos os filhos com naturalidade maternal, não mais como o milagre da vida. Não vivemos cada dia como se fosse o último. Essas famílias sim. E vivem intensamente esse amor.
  O dia em que Dora foi levada da escola, sem despedidas, deixando toda a sua vida aqui comigo, me acompanha em todas as horas. No almoço eu briguei com ela porque não comeu beringela! Mas disse que a amava ao vê-la entrar, tão docemente, na escola. Eu nem imaginava que seria o último dia. Dora não morreu, mas a vida que vivíamos acabou! Eu vejo tudo dela intacto, como o quarto do filho que se foi e não vai voltar. Dora não morreu, mas seus projetos e sonhos sim, mesmo que temporariamente. E isso tudo que eu sinto é infimamente menor do que essas mães vivem...
 
Infinitamente Amor

  Eu sempre disse que o ódio que o genitor da Dora sente por mim é infinitamente maior do que o amor que sente por ela. Fosse diferente teria desistido há tempos e deixado a filha com a mãe, como é de costume em separações. Como inicialmente ele deixou, dizendo ainda, quando cobrei alguma ajuda emocional e financeira, que eu era "muito" mais velha (5 anos), que quis ter a filha, que a vontade foi minha e eu que cuidasse dela sozinha. Dora tinha 1 ano e meio nessa época. Por que, mesmo com tanta má vontade da outra parte, insisti? Porque queria que Dora tivesso o direito de ter pai, que ele poderia melhorar, ser tocado pelo amor daquela criança doce e gentil, carinhosa e inteligente.
  Ao contrário meu amor por ela é infinito e cresce a cada dia e dói tanto a sua falta que parece que meu coração vai explodir de saudade. Um dia pode acabar explodindo mesmo. Que eu  morra de amor e não de ódio!
   Mas sou demasiadamente humana e por ser assim, imperfeita. Sinto raiva, muita raiva! Raiva de ter de lidar com burocracias jurídicas, raiva de um juiz que nunca viu minha cara e nem da minha filha e que baseado em informações falsas sobre uma suposta fuga para o Chile, em agosto de 2005, passou a guarda para o genitor, vingativo e perverso, que usa sua inteligência privilegiada para arquitetar formas de me separar de minha filha. Nunca vi esse juiz, nem lembro o nome dele, mas conseguiu arruinar a minha vida! Muitos foram os juízes que passaram por esse processo. Tenho raiva de um sistema que aniquila pessoas que não conhece. Tenho raiva de pessoas movidas por vingança. E mais que isso tenho muita raiva de Jonas Melo Golfeto, que deveria, no mínimo, me respeitar por ser mãe de sua filha, por pior que eu fosse. Eu o respeitava por isso, por ser o pai, até que um dia meu respeito acabou e se transformou. Ele registrou em mim um sentimento que eu desconhecia: ódio mortal.  E tenho muita raiva de sentir isso. De gastar minha energia com esse sentimento tão negativo. De me sentir má por desejar a morte alheia, isso é ódio mortal! Me pego pensando como seria tudo mais fácil se ele morresse! Não só por ele, mas por tudo o que representa.

  E volto às mães das crianças com síndrome de Edwards. Sinto uma tremenda admiração por elas. Admiro Marília Castelo Branco, que ao invés de ficar remoendo sua dor, resolveu transformá-la numa lição de amor. Li não sei onde nem quando que algumas coisas só vivem na escuridão, como as raízes de plantas, que quando expostas à luz, morrem. Assim é com o sofrimento. Se ficar guardado nunca termina. Mas ao mostrá-lo ao mundo, ao dividir o sofrimento... ele se vai. Que assim seja.
  Que a dor dessas mães, transformada em amor, alcance mais e mais corações endurecidos. Conheçam mais dessa história: http://www.sindromedoamor.com.br/ e não banalizem o milagre do amor e da vida.

4 comentários:

  1. Que declaração de amor...a Dora, a vida, ao milagre da vida.
    O ódio precisa sair para este amor invadir nosso ser.
    E quem sabe esta é a saída...mostrar ao mundo a dor, o ódio, o amor...
    Amo voces...amo muito...

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  2. Adriana,

    Agora fui eu que fiquei sem ar. História forte, narração emocionada, verdadeira. Sabe, antes desse amor todo se manifestar passei pelas minhas sombras. Foi culpa, medo, mágoa, raiva e até ódio. Como você me senti abandonada, ferida. Naquele momento não sabia a importância de conhecer sentimentos tão "negativos". Minha opção foi juntar todas essas energias e voltá-las para o caminho da luta pelo amor. Quanto mais raiva, mais amor, quanto mais medo mais amor, numa busca louca de equilíbrio mas para o lado do bem. O bem é leve, a paz é uma conquista que tenho hoje, o perdão é o melhor presente que ganhei com essa experiência. Posso afirmar que recebemos muito mais do que doamos nesse trabalho que nos dignifica.
    Muito obrigada por olhar para nós, por falar do nosso trabalho. É assim que ele chega em quem precisa dele. Um abraço cheio de carinho,
    Marília (marilia@sindromedoamor.com.br)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. SOUBE DE FONTES FIDEDGINAS QUE O PAI EFETUOU UM BO SÓPORQUE LEU A FRASE ACIMA: "DE ME SENTIR MÁ POR DESEJAR A MORTE ALHEI (...)". SERÁ QUE ELE PROCESSOU O AUTOR DO PEQUENO PRINCIPE TAMBÉM OU AINDA OS IRMÃOS GRIMM? ALGUEM POR FAVOR DIGA A ESSE PAIOGRO PARA ELE NÃO SE ESQUECER DE PROCESSAR WALT DISNEY TB POIS AS SEQUELAS SOFRIDAS O DEIXARAM AMARGO, FEIO E PSICÓTICO, COM MANIA PERSECUTÓRIA... NÃO É O PATINHO FEIO, É O PAI FEIO...ACOMPANHEM!

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