domingo, 1 de maio de 2011

As Amigas que Não se Encontraram

  Há alguns dias eu escrevi sobre uma pessoa muito querida, que partiu muito cedo. Pensei que tivesse sido tão especial para mim porque foi meu primeiro amor. Mas, mesmo passados mais de 15 anos de sua morte, sua personalidade alegre e seu espírito elevado tocam muitas pessoas. Zé Ricardo não era único só para mim. Desde que escrevi sobre ele tenho recebido mensagens, comentários e ligações. Muitos choraram de saudade, outros tantos ficaram emocionados. Fiquei muito feliz porque não eram apenas meus olhos apaixonados que enxergavam toda a beleza daquele garoto. Quando a gente ama tende a super estimar o ser amado. Não, não foi esse meu caso. Ele era realmente uma pessoa muito especial. E eu, bem novinha, já tinha percebido isso!
  Como tenho escrito muitas palavras de dor por todas as dores que tenho sentido, de uns tempos para cá resolvi pensar não só em tudo de errado que tem acontecido e todo o azar que parece ter me seguido. Caramba, foram tantas passagens fantásticas na minha história. Conheci pessoas extraordinárias desde minha infância. E continuo conhecendo. Não é nada justo sofrer tanto pela única pessoa realmente ruim que trombou na minha vida. Claro que outras pessoas ruins passaram por aqui, mas nenhuma tão relevantemente má, nenhuma que tenha me prejudicado tanto e, pior, nenhuma que eu tenha tido uma filha! Não é justo só lamentar sobre um processo jurídico infernal e sem fim. Nem chorar a falta da minha amada Dora que não vejo nem falo há quase 3 meses. Ela está lá, bem ou mal, mas está. Um dia poderei vê-la, quando ela crescer - ou um juiz de bom senso decidir - ela voltará a morar comigo e com Miranda.
  Hoje é aniversário de morte de uma outra pessoa muito querida, Ceres. Sua mãe esteve na minha casa hoje, uma tia postiça que adotei como mãe e que me adotou como filha. Eu estava meio irritada, sem paciência, falando sobre minhas dores... e me dei conta que estava diante de uma mãe que enterrou a filha de 25 anos! Que egoísta eu sou! Minha tia Cida ainda vai me fazer o imenso favor de ficar com a Miranda amanhã após a escola, porque não estarei aqui para buscá-la. Mesmo envergonhada da minha total falta de sensibilidade, não tive coragem de falar nada. O que deve ser dito para uma mãe que perdeu a filha?

Tão franceses

  Talvez minha irritação venha desse zumbido no meu ouvido, que me incomoda há 3 dias. Pode ser porque estiveram hospedados em minha casa um querido casal - Chris e Maria - e sua filha Nêmora. Conheci essas pessoas por Dora, que na praia fez amizade com Nêmora. Ambas tinham 2 anos. Fiquei amiga dos pais, que já passaram muitas férias em casa. Chris e Nêmora são franceses, Maria é brasileira, mas mora na França há mais de 15 anos. O que me irritou é que Dora não estava aqui. Os encontros com Nêmora são tão raros... e nem por telefone elas puderam falar! Essas duas meninas tiveram uma genuína amizade desde que se viram pela primeira vez, na praia de Boiçucanga, no verão de 2004! Uma amizade que superou distância e tempo. Elas mandavam desenhos e escreviam cartas. Nêmora me pediu o msn da Dora. De que adianta? Não deixam ela falar com ninguém da sua vida anterior. Sim, porque Dora tinha uma vida que lhe foi arrancada, agora está numa nova vida que desconheço, assim como todos que conviveram com ela.
  E Nêmora está linda e tão inteligente, prefere ler a ver televisão - tão francesa. Ainda bem que tem Miranda, ficaram felizes por conhecê-la. Miranda amou Maria, chorou quando foram embora. Acordou hoje perguntando pela titia. Prefiro pensar que nos veremos em breve, quem sabe iremos para Paris, com Dora, que desde que começou essa amizade, manifestou o desejo de conhecer a França. Se o dia de hoje pudesse ser mensurado num sentimento, seria saudade.

Um comentário:

  1. Oi, Adriana,
    Obrigada pela sua visitinha lá no Saco de Farinha. Não pude deixar de ler sua história e me comover com ela. Só posso desejar que tudo se resolva com urgência, porque uma criança não pode esperar. Beijos solidários, e muita fé!

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