sábado, 14 de maio de 2011

Distorções: casos de Oswaldo Junior e Elaine César

   Dia desses numa das profundas conversas com meu primo Oswaldo Gonçalves Jr, sobre nossos processos e filhos, falei que tem uma história ainda mais triste do que nossas somadas, de Elaine César. Quando pensei que começaria a contar o caso, com riqueza de detalhes, para minha surpresa, não só ele conhecia, como já tinha assinado o Manifesto a favor de Elaine. Claro, meu primo é ator, Elaine César é documentarista, videomaker, mulher das artes. Ambos sofrem alienação parental. O caso de Elaine é profundamente triste porque foi acusada de um crime hediondo: pedofilia com seu próprio filho. O pai do menino foi lá, disse o que quis e mais uma vez um juiz determinou separar mãe e filho antes de apurar os fatos. É assim mesmo que funciona. Todos somos culpados até que se prove o contrário. Vara de Família é assim, ao contrário da Criminal, onde todos são inocentes até que se prove o contrário. Não entendo mesmo como funciona a Justiça , que deixa criminosos soltos, com todos os direitos e defensores, inclusive defensores de Direitos Humanos renomados internacionalmente, enquanto pais e mães amorosos, vítimas de ex-companheiros vingativos, são brutalmente afastados de seus filhos. Os Direitos Humanos dessas crianças ninguém questiona, ninguém defende a não ser diante de honorários gordos.
  Voltando ao caso de Elaine César, não bastasse acusá-la de crime tão terrível, o cauteloso pai ainda levou o filho para Brasília. Elaine descobre que está grávida de seu segundo marido. E também que sofre de câncer linfático. Tão injusto e tão triste. Queria confortá-la dizendo que existem centenas, talvez milhares de pais e mães acusados injustamente e afastados de seus filhos. Isso poderia trazer-lhe alento. Mas o fato de ainda ter de lutar contra o câncer torna tudo tão mais difícil. E tão corajosa.

   Passando para o caso de meu primo Junior. Esse cara que sempre pareceu muito mais jovem do que é, teve uma filha com uma jornalista. Na época cuidava da menina como uma mãe, preparava a comida, dava banho, fazia dormir, já que como ator tinha mais tempo livre e a mãe jornalista tinha o tempo tomado. Separaram-se, voltaram e tiveram outro filho, um lindo e amoroso menino. Muitas brigas depois, separaram-se definitivamente. Então o afastamento começou. Como ele não tinha condições de pagar pensão, desempregado e voltando a morar com os pais, também não podia ver os filhos. Em seguida começou a trabalhar como ator no roteiro cultural da cidade de Santos, atuando para crianças de quarta série, pelo centro histórico da cidade, um delícia de passeio, fui com Dora nesse roteiro quando ela tinha 3 anos e ficou maravilhada. Seu salário era pequeno para um trabalho suado. Pouca gente dá valor ao trabalho de ator, faço parte dessa porcentagem. Lembro que Junior comentava o quanto desejava estar no lugar do pai da Dora. Eu não exigia nada porque entendia as dificuldades de um ator iniciante, apenas queria o contato entre pai e filha. Ele era cobrado o tempo todo e afastado dos filhos.
   Até que sua ex entrou na Justiça. O processo tem baixarias e termos que não ouso expor aqui. Junior, corajosa e inteligentemente, foi para a audiência sem advogados, fez sua própria defesa. O juiz determinou visitas quinzenais e pensão de 200 reais. Isso mesmo, era apenas o que poderia ser retirado de seu salário. Sua ex desdenhou, disse que isso não dava nem para o lanchinho da escola da filha. Junior suportou  humilhações insuportáveis . Até que sua ex se casou novamente, mudou-se para uma casa digna de comercial de margarina e foi afastando cada vez mais os filhos do pai.
   Chegou o ponto em que o filho mais novo passou a chamar o padrasto de pai e o pai de Junior. Como doía quando meu  primo ligava, o filho atendia, falava brevemente e chamava a irmã: "Ei, irmã, o Junior quer falar com você". A ex teve outra filha com o atual marido. O que deixou  meu primo feliz, assim forma-se o vínculo eterno e, mesmo que se separem um dia, seu filho alienado não sofrerá o afastamento do segundo pai. Confuso isso, meio distorcido, mas é assim que é. Junior agradece sempre por seus filhos terem um padrasto que quer também ser pai. Que bom que ela não se uniu a algum homem drogado, bandido, do mal... e sim um homem bom, tranquilo, caseiro, que ama seus filhos.
   A filha mais velha, que passou tempo suficiente com Junior para saber que ele é seu verdadeiro pai, hoje tem 13 anos. Pega o ônibus e vai visitar o pai! Na primeira vez que isso aconteceu fiquei muito feliz. Talvez isso aconteça com a Dora. A diferença é que ela foi levada para Ribeirão Preto, distância que não permitirá que ela pegue um ônibus sem autorização. Está lá morando com os avós, prova cabal de que o interesse da outra parte nunca foi ficar com a filha, apenas afastá-la da mãe. O pai de Dora continua morando em São Paulo, levando sua vida como sempre levou. Deve ver Dora uma vez por semana, talvez menos. No Dia das Mães, Dorinha ficou sem mãe, nem pai. Ficou lá com os avós. Nem um telefonema para a mãe deixaram a menina dar... nem um cartão...
   O filho de Elaine César também está longe, bem longe, vai demorar muito para que ele pegue um avião e venha ver sua mãezinha. Nesse ponto, Junior teve mais sorte. Eu e Elaine fomos consideradas culpadas, primeiro somos punidas, depois podemos tentar nos defender. Mas o estrago já foi feito. Nossas vidas e de nossos filhos já foram devidamente marcadas. Infinitamente triste. Imensamente amados e afastados.

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