sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Time dos Macacos

   Está muito difícil escrever. É sempre mais do mesmo quando escrevo sobre esse processo insano e sobre o sistema judiciário, que com a ajuda da outra parte, há quase 8 meses impede Dora de ver mãe, irmã e amigos. O vazio aumenta, o buraco no peito dói, lateja, é como se eu tivesse uma faca enfiada e perfurando mais e mais a cada dia... saber que tem gente em situação muito pior não alivia, ao contrário, dói mais...
   Num dos meus esconderijos favoritos, a sala de cinema, me refugiei dia desses. Fui assistir Planeta dos Macacos, a Origem. Antes queria dizer que o clássico de 1968 é um marco da minha infância, vi inúmeras vezes na Sessão da Tarde. A cena final, quando o astronauta vivido por Charlton Heston encontra destroços da estátua da Liberdade, é antológica. Só então percebemos (ou só então eu percebi) que é a Terra no futuro e não outro planeta. Muitos outros filmes vieram depois, todos baseados no livro La Planète Des Singes,de Pierre Boulle.
   Fui lá, despretensiosamente, para ver filmão, daqueles que é só para relaxar e esquecer de tudo. Como estava enganada... para começar o cientista vivido por James Franco (um ator que sempre me impressiona) tem um pai com Mal de Alzheimer. Perder o pai aos poucos, ver o pai deixar de fazer tudo o que fazia não é novidade para mim. Como o cientista eu faria qualquer coisa para te meu pai de volta. Até usar uma droga ainda em estudo. Chorei em todas as cenas em que aparecia o pai com Alzheimer. Nas tentativas de tocar piano, na tentativa de dirigir o carro... mas ao contrário do personagem, não fiz nada para salvar meu pai. Demorei muito para perceber que sua ida era sem volta. Depois vejo uma chimpanzé doce e amigável, usada como cobaia, enlouquecer furiosamente. Ela só estava  protegendo o seu bebê, que nasceu no laboratório sem ninguém saber. Me identifiquei também. Uma mãe, seja de que espécie for, tem o instinto de proteger sua cria de qualquer jeito...
   O mesmo cientista fica com o bebê órfão, cuida de César como seu filho, escondido, clandestinamente. Depois vê César ser levado pela Justiça, para uma jaula. Ele tem que lutar contra um sistema moroso para ter César de volta. Mais lágrimas, muitas lágrimas. E quando finalmente consegue, por meio de suborno, libertar César, o animal não quer mais ir... o instinto do símio o faz ficar junto dos seus, para protegê-los. O macaco não suporta ver os humanos subjugando, maltratando e matando seus iguais.

A César o que é de César

 O filme nos faz torcer para os macacos o tempo todo. Mostra como a raça humana, por ter inteligência superior, não respeita nada que esteja sob seus domínios, mesmo que respire, viva e sinta. Talvez seja pelo meu estado de espírito, mas quando ia se formando a liderança de César, também me vinham lágrimas. Primeiro porque o verdadeiro líder não consegue a liderança por força bruta. É sempre por seu carisma e inteligência. Se conseguir de outra forma, sofrerá golpe de seus seguidores, isso é certo e é fato histórico. O chimpanzé César usa sua inteligência, ampliada descomunalmente por um vírus estudado para a cura do Alzheimer, para fortalecer o time dos macacos.
  Esse longa não é para distrair, é para pensar. A única cena que me arrancou um sorriso, também foi uma crítica. Um orangotango se comunica com César por sinais, esse fica impressionado e pergunta: "Você também estava num laboratório?" "Não, eu era macaco de circo"...
  Quando César consegue a confiança do Gorila, o mais temido do cativeiro, sinto uma satisfação quase juvenil. E quando todos se rebelam e ganham as ruas, se o cinema estivesse cheio de crianças, eu gritaria e aplaudiria com elas.
   Durante todo o tempo eu pensava em como a raça humana é desprezível... mas, quando o filme termina, eu sem graça de sair da sala, porque os olhos inchados podem parecer ridículos para quem não sabe o meu contexto, tenho outra opinião. Se essa mensagem conseguir tocar alguns corações, ainda pode haver alguma esperança.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um Sequestro Dentro da Lei

  Escrevi esse post na última sexta, dia 16, era o tal texto escrito na descida da Serra, antes de chorar aos cântaros e escrever o outro, que acabei publicando. Nem iria postá-lo mais, como já fiz com tantos outros textos. Mas escrevi sobre Elaine César, ainda não tinha notícia da decisão sobre a guarda de Théo voltar para a mãe (de onde nunca deveria ter saído). Quando começava a declinar na expectativa desse caso se resolver, quando começava a ficar descrente de tudo, essa notícia. Ainda acho que não deveríamos comemorar pela "Justiça" ter sido feita, afinal isso nunca nem deveria ter acontecido. Deveríamos usar esse caso como prova cabal do erro desse sistema falido, que considera culpado qualquer pai e mãe até que se prove o contrário. Esse caso é emblemático! 


  Mais de 7 meses se passaram desde que Dora foi levada da escola, onde estava devidamente matriculada, apenas de uniforme e a mochila com o material (que já deve ter sido jogado fora), levada por advogado, oficial de Justiça e acompanhada pela Rede Globo, filmando toda essa busca e apreensão e o reencontro (nada emocionado) com o pai que não via há mais de 4 anos! Sim, foi o pai que chamou a Globo para gravar tudo. Isso está bem claro na matéria que foi ao ar, mesmo com a edição tendenciosa. A ideia genial, daquele que detém a guarda, era levá-la de forma a nunca mais deixá-la ver a mãe. Tanto que antes já havia entrado com uma ação pedindo a destituição do meu poder familiar, exigindo, inclusive, que meu nome fosse tirado da certidão de nascimento de Dora, e que o Mendes também fosse retirado do nome dela. Isso, legalmente, ele não conseguiu, mas de todas as maneiras tenta e consegue impedir que nos comuniquemos, sempre amparado por Lei.  
  Uma das várias pessoas que me escrevem após ler esse blog e que agradeço muito, assim sei que faço chegar minha verdade em alguns corações e mentes, fez uma consideração simples, mas incrivelmente sábia. Disse que após rever a matéria veiculada no Profissão Repórter, achou tudo muito bizarro, que foi um sequestro dentro da Lei. A criança de 9 anos foi levada no colo, em sinal evidente que não iria pelas próprias pernas, as câmeras da Rede Globo registrando tudo. Essa leitora ainda analisou a reação das jornalistas responsáveis pela matéria de roteiro pronto. “Gabriela Lian ficou constrangida, pois sabia que aquilo, apesar de legal, não era justo, e Eliane Scardovelli ficou claramente comovida, percebendo que a história não era exatamente como o sistema judiciário contava”. Nada disso importa. A Justiça, induzida a erro ou não, afastou Dora da mãe, da irmã e de todo o seu convívio social. 
  Um promotor que jamais viu (e nem parece muito disposto a ver) minha cara, aceitou todas as acusações da outra parte e me chamou de mãe nociva. Será que esse promotor viu a matéria na TV? Se ele tivesse visto, uma das mentiras do “pai” de Dora, despencaria em sua frente. Na ação está que Dora não tem cama para dormir. O cinegrafista filmou o quarto de Dora e Miranda, com todos os brinquedos, móveis e objetos pessoais de Dora. Os brinquedos que ela tem desde que nasceu estão comigo, em nossa casa. Não é de hoje que o ator (será ainda ator?) Jonas Golfeto mente. 
  Por seis meses, em 2005, buscou falsos testemunhos, até que encontrou alguém – que mesmo me conhecendo e sabendo a verdade – sensibilizou-se diante de sua encenação e foi testemunhar contra a mãe que, supostamente, teria enlouquecido. As testemunhas foram o porteiro do prédio em que eu morei até 2003 (isso mesmo, 2003) e uma senhora costureira, vizinha, de quase 80 anos! Nem ele mesmo lembra quem foi a falsa testemunha convencida a depor. Eram pessoas simples, Arnaldo e dona Judith, de pouco estudo, Jonas Golfeto mal os cumprimentava, por isso não lembrava. Falei com ele sobre isso no dia 2 de agosto, quando teve a audiência que não deu em nada. A resposta? “Alguém falou, tá lá”. Irônico, sarcástico, pedante. Na falta de plateia para seu talento duvidoso, busca juízes, advogados e promotores para participar de seu showzinho ridículo. Assim foram as únicas duas audiências que tive com esse ser nefasto (isso não pode ser humano). 
  Então, essa leitora, tão rapidamente, apenas lendo o que escrevi e vendo as imagens da TV, teve um entendimento muito maior do que todo o sistema judiciário junto e multiplicado. E não é porque ela é mãe de uma menina da idade da Dora. Existem vários tipos de mães e pais. A questão não é de gênero, é de humanidade. É preciso ter compaixão e dignidade. Se a pessoa for desprovida dessas qualidades perde sua condição humana. Dora foi sequestrada dentro da Lei. Está em cárcere privado dentro da Lei. Seu “pai” e também seus “avós” cometem alienação parental dentro da Lei. Assim funciona o sistema e isso precisa ser mudado. 

Sobre compaixão e dignidade 

  Para os que ainda não conhecem ou não leram sobre o calvário de Elaine César, exposto com muita dignidade e compaixão no blog Câncer, Gravidez e Alienação Parental, depois de quase um ano acreditando que a Justiça seria feita, cai na realidade. Seu processo, ainda no início (quase um ano!), teve troca de juízes! Ou seja, um novo juiz, cai de pára-quedas num doloroso processo em que um ex rancoroso e magoado (da mesma falange de Jonas Golfeto), faz falsas acusações contra a mãe de seu filho. Agora esse novo juiz irá estudar toda a ação, ler (será que alguém lê alguma coisa?), passar vistas para outra parte, esperar vistas da promotoria... e mais alguns anos perdidos na infância de um menino inocente... cadê a compaixão com essa criança? Cadê a dignidade desses pais mentirosos?
  E qual não foi minha surpresa quando leio uma mensagem de Jonas Golfeto no meu facebook? Diz que procurou um “órgão” ou coisa parecida para mediação de conflitos, em Ribeirão Preto, para nos encontrarmos lá. Primeiro isso foi uma invasão, pois Jonas Golfeto não é meu amigo nem no facebook. Segundo, ele me fez perder mais de um mês (ganhando tempo com a Justiça) sobre um “órgão” semelhante em São Paulo. Liguei, marquei, escrevi. Ele nunca podia estar em nenhum horário. Em um dos emails (email meu ele tem, desde que Dora morava comigo), diz que era por causa das “várias demandas em relação à nossa filha”. Nunca deu em nada, porque ele já havia levado Dora para Ribeirão Preto, apenas queria me fazer perder mais do meu precioso tempo. Agora sugere, de novo, um lugar de medição de conflito. 
  Ora, quer que eu viaje 6 horas até Ribeirão Preto para me reunir com ele e uma psicóloga, sem nenhum valor jurídico para resolver conflito? Vou até lá passar uma hora discutindo a origem do mundo e nada de ver Dora? Isso é para juiz ver... acontece que tenho os emails da outra tentativa, em que eu sempre cedia e ele “não tinha tempo”. Ora, Jonas Golfeto, poupe-me de suas artimanhas primárias. Se quisesse mesmo resolver conflito, teria, no mínimo, “permitido” minhas conversas por skype com Dora, deixaria a filha falar com a mãe ao telefone, não entraria com pedido de destituição de poder familiar, não faria BO de ameaça de morte. Essa piada não tem a mínima graça, só mostra todas as suas atitudes incoerentes! Na frente do juiz assina acordo e depois não cumpre! 
  Porque a outra parte sempre sempre sabe usar as tais brechas judiciais. Como era um acordo amigável e não uma ordem judicial, apenas gozou mais de seu prazer sádico, dando e tirando a mãe de Dora. Se quisesse resolver conflito não “exigiria” visitário público para a filha e a mãe se encontrarem.
  O pobre só quer ter plateia, nem que tenha que pagar por isso... só posso ter compaixão por esse ser sem a menor dignidade.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Engavetamento Monstro no Meu Coração Aflito

  Era para ter descido a Serra ontem, depois das 23h, mas com o mega engavetamento da Imigrantes, com número ainda impreciso de carros envolvidos, estimado em 300, achei mais prudente ficar em São Paulo. Liguei para meu querido amigo Gustavo Liedtke e dormi em sua casa. Ele sempre me recebe quando tenho que ficar em São Paulo, o que é certeza de ótima conversa e música.
  Peguei o ônibus hoje pela manhã, às 11h30, no terminal rodoviário Jabaquara e duas horas depois ainda não havia descido a Serra. O dia começou com más notícias. Mais algumas tentativas vãs de resolver qualquer coisa rápido. E parada dentro daquele ônibus, pensava o porquê de estar perdendo os mais produtivos anos da minha vida em ações burocráticas e sistemáticas, nas mãos de promotores e juízes que nunca viram a minha cara... não faz sentido, nada faz sentido.
  O trânsito flui uns 2km e então vejo caminhões destruídos, ônibus com frente acabada, carros reduzidos pela metade, marcas de pneus em todas as direções. Dava pra imaginar a cena de todos eles se espatifando. O trajeto lento aumentava a minha angústia. Pensei por instantes que poderia ser eu naquele acidente horrível e não pude deixar de chorar e chorar muito. Mesmo que eu não veja mais Dora até ela crescer e conseguir me encontrar, mesmo que essa dor seja forte de matar, tenho que estar aqui por Miranda. Por isso chorei mais e mais e muito mais.
  Peguei o "note" e escrevi um texto, que não é esse. Enquanto escrevia, meu coração acalmava, escrevi por mais de uma hora, enquanto começava a fazer graça com um garotinho muito esperto, com a mãe, nos bancos ao lado do meu. Ela, uma negra linda, bem africana, alta, magra, de tranças, cochilava. O menino, de uns 3 ou 4 anos, brincava de esconder  na mãe, ria, piscava os olhos vivos para mim, cheios de energia, sorriso largo e cabeça redondinha raspada. Me distraí por muito tempo com esse menino. Uma moça vendendo cocadas entrou no ônibus. Após 2 horas e meia queria comer alguma coisa. Perguntei para a mãe da criança, que despertava com os olhos cansados, se poderia dar uma para seu filho. "Não, obrigada, ele acabou de fazer quimioterapia e não pode comer doce". Entendi a cabeça raspada. O cansaço da mãe. E de onde vinha tanta alegria naquele menino? Então, de novo, meu coração apertou, o que me prende a garganta e dá vontade de chorar. E chorei olhando pela janela, com vergonha de mim mesma, para que ninguém visse as minhas lágrimas.
  Ele olhava pela janela a vista linda da Baixada Santista, quando finalmente começa a descida da Serra. Seus olhos brilhavam, mau conseguia controlar sua euforia ao ver os carros pequenininhos lá embaixo e depois... o mar! Como é lindo poder ver o mar... nem que seja para chorar.

Sobreviventes

  O trânsito prosseguiu até a entrada de Santos. Mas estar no nível do mar, passar pela estátua do Peixe na entrada da cidade, me deixava menos tensa. Tenho muitos horários a cumprir. Tenho Miranda para buscar na creche. Estava conversando com o motorista (sei que é proibido, mas estava tudo parado), já na frente da Portuguesa Santista, no Canal 1. Ele me contou que nunca pensou que veria um engavetamento maior do que o de 1977. "Prazer, Adriana! Que história é essa?". Então, direto da fonte, o senhor me conta que era motorista de caminhão e estava na Serra quando esse acidente horrível aconteceu, envolvendo 140 veículos. Era o maior da história até então e esse motorista estava lá. Ontem não. Mas era sua rota, ele sobe e e desce a Imigrantes todos os dias, facilmente poderia estar.
    Por tudo que vi hoje na estrada, imagino que o cenário de ontem tenha sido de guerra. Uma vítima fatal, apesar de trágico, é quase a menor porcentagem na proporção do acidente. Foram mais de 400 sobreviventes! E hoje, no meio da minha crise de desespero pela demora, pela injustiça, de pensar em querer morrer... conheço mais dois sobreviventes: um menino e um senhor. Quantos mais estariam naquele ônibus? Eu também quero sobreviver...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Sacrifício de Sofia

  Sempre tive animais de estimação, cães e gatos. A primeira gata que eu tive, Rafaela, foi trazida por meu cão Billy (Idol), que estava sentindo-se muito sozinho após a morte de seu pai e amigo, Bob (Dylan). Na época, 1986, o único gatinho que tive, Cauê (Strauss), era siamês e foi levado (roubado), então eu queria uma gatinha bem de rua. E Billy trouxe na boca, pendurada, semimorta, Rafaela, uma linda e preta gatinha de olhos verdes. Que sobreviveu, mas morreu jovem, aos 3 anos.
  Daí em diante sempre tive felinos. Sempre participei de histórias de animais, animais participaram das minhas histórias e acabei ficando amiga de vários protetores animais, participei - e ainda participo de forma torta - de ongs de proteção. Justamente por isso, no final de 2000, minha amiga Fabiana Inarra pediu que eu "conseguisse" uma gatinha preta. Imediatamente liguei para Claudia Pentiocinas, diretora de uma ong. Claro que tinha, as pessoas adoram livrar-se de gatos pretos! Fabi não imaginava que seria tão rápido e pediu para que eu ficasse com a gatinha por 15 dias, pois ela estava no meio de uma mudança, com filho e cachorro. "Só peço para você já ir chamando de Sofia, é o nome dela, tá?". Claro, que lindo nome!
  E então chegou Sofia. Meio assustadinha, pois havia sido jogada no lixo, com seus dois irmãos, de lá retirada e levada para um lar provisório, cheio de cães querendo pegá-la. Ficou escondida atrás da estante, às vezes colocava sua cabecinha para que eu pudesse ver seus lindos olhos amarelos. Aos poucos vinha e ronronava. Eu tinha acabado de mudar para um apartamento e estava, temporariamente, morando sozinha. Sofia era minha companheira. Em 15 dias me conquistou totalmente, era meiga, sossegada, nem miava e de tão carinhosa, fazia carinho em si mesma. Não podia entregá-la para Fabi! Essa amiga tão gentil e também protetora dos animais disse então que, se tivesse sobrado um irmãozinho, ficaria. E restou mesmo um, enorme, peludo e lindo. Que sorte teve Tobias - esse foi o nome escolhido.
   Era dezembro de 2000. Assim recebi o bichano mais especial que já cruzou o meu caminho. Fiquei grávida em maio do ano seguinte. A placenta descolou com 37 dias de gestação. Precisei fazer repouso absoluto. Sofia ficava no meu colo, me fazendo companhia e me olhando com olhar de Capitu. Nunca estava sozinha, tinha sempre Sofia comigo. Quando Dora nasceu, já tinha mudado para um apartamento maior. O pai de Dora, que foi morar comigo quando estava grávida de 6 meses, queria que eu me livrasse dos gatos (a essa altura já tinha Baleia, para que Sofia não ficasse muito enciumada, quando Dora nascesse). Infelizmente, a maioria das pessoas acha que gestação e felinos não é condizente. Mas é. Sou prova disso. E em todo meu repouso, enquanto ficava sentada, de pernas esticadas, aprendendo a bordar ponto cruz, Sofia ficava comigo. Nem bagunçava as linhas.
   Dora nasceu! Eu não deixava Sofia entrar no quarto do meu bebê, mas como era térreo, ela dava um jeito de sair, entrar pela janela e quando eu ia ver, estava no berço de Dora, deitada nos pés, tomando conta da minha cria. Que amor de gatinha!
   Ao contrário do que  muita gente pensa, gatos não são mais apegados à casa do que ao dono. Não Sofia. De São Paulo mudei para Boiçucanga. Era um terreno de mil m² e, mesmo assim, ela não saía do meu lado. Tive uma depressão profunda, no mesmo período Sofia teve problemas pulmonares, por falta sol. A gata estava deprimida como eu. Após a pior fase da minha vida, afinal eu não sabia que tudo ainda iria piorar muito mais, resolvi mudar para o Guarujá, nem metrópole, nem vila. Esperava que tudo se resolvesse da melhor forma. Fiquei com Dora apenas 3 dias no apartamento, depois o pai a levou, numa manobra jurídica para tirá-la de mim. Fiquei sem chão, sem teto, sem parede, um abismo sem fim iniciava-se. Após depressão profunda e tentativa de suicídio, me tiram a única razão de continuar! Chorava dia e noite, não tinha forças nem para levantar, apenas para dar comida para Sofia.
  Depois de processo kafkaniano, tortura sistemática, humilhações grosseiras, coração partido e ego destruído, levei Dora para um fim-de-semana e não devolvi. Deixei Sofia com amigos. Depois busquei Sofia e ela viveu comigo e Dora, sempre feliz. E quando estava grávida de Miranda, lá estava Sofia, ronronando na minha barriga...
  Mas há 7 meses abandonei Sofia. Ela estava morando na casa da minha mãe, eu ia buscá-la, mas levaram Dora e tudo voltou tão forte e pior e maior, que não tive tempo de olhar outra dor que não fosse a minha. Mas Sofia também sofreu e foi definhando. A gata gorda e peluda, emagreceu e perdeu o brilho. Passei uma semana com Sofia no soro, fez hemograma completo, vários testes, ultrassonografia... um de seus olhos perdeu o brilho e a cor, tem um tumor. Um rim tem mais que o dobro do tamanho. Tem linfomas.
  Os 5 dias de soro deram um sopro de vida. Mas há uma semana não come, mal levanta, mas me reconhece, vem para o meu colo com dificuldade, ronrona... ainda é minha Sofia. Sacrificá-la é uma decisão tão difícil. Sofia faria 11 anos no mês que vem. Acompanha toda a minha saga com Dora. Faz parte de toda essa história. É a gatinha da Dora. Ao menos ela não está aqui para ver isso. Não vai nem saber do sacríficio de Sofia, pode ser que Dora nem lembre mais da Sofia. Pode ser que nem lembre mais de mim. Dizem também que os animais sentem a dor do dono. Pobre Sofia,  pobre Sofia...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Poder de Um Blog

   Fiquei sem escrever nesse blog durante um período longo porque não consigo mais expor o tamanho da minha dor e indignação. Não dá para acreditar que a Justiça funciona assim. Tenho passado novamente por perícia, desta vez em Santos, onde tudo me é mais alegre e familiar. Falo tão rápido, com tanta propriedade e clareza de detalhes que surpreendo a psicóloga. Muitas vezes tenho que repetir, pois  o que faz parte da minha vida há 7 anos, é novo para ela. Diz que sou muito ansiosa, que para pessoas como eu “o mundo todo é devagar”, imagine a Justiça! Disse também, já em tom de brincadeira, que se eu quisesse um judiciário rápido e justo, que eu torcesse para nascer na Dinamarca, numa próxima encarnação (taí, depois de um juiz conciliador me recomendar crer na Justiça Divina, a psicóloga me propõe teoria de reencarnação).
  Conta ainda, com a tranquilidade de quem vê barbárie todos os dias, que acompanhou um caso que durou 9 anos. Uma ex vingativa fez uma falsa denúncia de abuso sexual. É contra visitário público, assim como todas as pessoas com o mínimo de coerência e compaixão pela criança. O pai carrasco de Dora não se importa com isso, quer  “me ver presa”, é tão claro e cristalino como a preocupação dele não está em Dora, tanto que nesses seis meses, ele sequer a levou em qualquer médico, nem psicólogo!
  Quando falei para a psicóloga sobre esse blog e que a outra parte (tão empenhada em me prejudicar) fez até BO contra mim, por ameaça de morte, após ler o post “Síndrome do Amor”, me recomendou que  parasse de escrever, já que a outra parte é, provavelmente, movida por vingança e ódio cego e fará qualquer coisa contra mim, isso já está provado.  Mas não conseguimos identificar onde começa essa vingança e esse ódio, já que tudo começou quando ele inventou que eu fugiria para o Chile, numa manobra perversa para ludibriar a Justiça e arrancar Dora de mim, isso em agosto de 2005. Na verdade nem ele sabe porquê começou tudo isso. Ele só sabe que lhe deu audiência e projeção, teve imagem veiculada na Globo, a família lhe deu apoio total, deve ter impressionado uma meia dúzia de mulheres, crentes de que ele é um pai exemplar. E Dora? Só quero saber como está Dora!
  Na outra perícia, a assistente social não entende muito bem porque estou sendo periciada, já que a menor mora em outro local, com outras pessoas que nem conheço. Conto que quando ligo, desligam o telefone na minha cara: avô, avó e uma voz de mulher, que deve ser a empregada que fica com a Dora, já que os avós trabalham o dia todo. Impressionante como tudo está errado: estou proibida de ver minha filha e preciso fazer perícia para provar que sou capaz de vê-la. Ora, ela passou 4 anos e meio comigo, estava linda, saudável, inteligente e feliz! Isso está provado, atestado, confirmado. Já agora ninguém sabe como vive Dora e com quem!. Nem os profissionais técnicos envolvidas no processo entendem como essa outra dimensão funciona. Para entender melhor: o pai de Dora pega a filha após 4 anos e meio, leva a Globo para filmar tudo, entrega Dora para os avós cuidarem (ou empregada ou tia ou sabe-se lá quem). O advogado da outra parte escreve lá um monte de mentiras sem provas. O juiz em cima do muro que não decide nada e não lê  nada passa a bola para o promotor, que lê lá aquelas páginas mal escritas e suspende minhas visitas. Agora a dúvida: quem vai responder por esses erros todos? O juiz, o promotor ou  a outra parte? A única certeza é que a maior vítima disso tudo é Dora.
   Parei de escrever, mas não adiantou nada também. Só comecei a sentir meu peito apertar até me faltar o ar. E o ar falta tanto que lágrimas incontroláveis escorrem por meu rosto. Parece que vou enfartar! Tenho palpitações noturnas, acordo com falta de ar. Meu peito dói. Não consigo mais dormir. Desde que vi Dora por skype é assim. Minha filha está sofrendo, está triste, está ceifada. E isso me tira o ar, o sono, a saúde. Estou para morrer e não é figura de linguagem. E quando eu morrer, eles serão os vencedores. E Dora ficará órfã de fato, como sempre desejou a outra parte. Monstruoso.
   Que a esquizofrenia da família Golfeto (avós, principalmente, os responsáveis por manter essa situação absurda) torne esse mundo muito mais doente, vá lá. Mas que o sistema judiciário, já a par de toda essa crueldade, de toda essa mazela, não faça nada, não admito, não admito! De alguma forma isso tem que mudar. Não podem mais haver casos como o de Joanna Marins, onde a Justiça arrancou a filha da mãe da mesma forma, a pobre mãe teve visitas suspensas como eu, não pôde mais ver a filha, que morre por negligência paterna. A mãe, que tem todo o meu amor e solidariedade, só viu novamente sua filhinha em coma, prestes a morrer. E o que foi feito? O que aconteceu com o juiz que tirou a guarda da mãe e a proibiu de ver a filha? O que aconteceu com o pai carrasco que negligenciou a filha até a morte? Onde está a Justiça para Joana Marins?  Então, por todos os leitores desse blog, por todas as crianças que morrem diariamente por erros jurídicos e parentes insanos, eu vou continuar escrevendo. E que essa leitura continue se multiplicando. 
  Só hoje mais de 25 pessoas acessaram na Alemanha. Já passa de mil o número de leitura nos Estados Unidos. Chile e Portugal não ficam muito atrás. São muitas pessoas lendo também na Irlanda, Austrália e Reino Unido. No Brasil, mais de 15 mil pessoas leram esse blog.  Me surpreendo quando vejo  busca na Rússia, Moçambique, Áustria, Cingapura, Filipinas. É muita responsabilidade. Por isso reforço que tudo o que escrevo aqui é verdade. Não há como ser processada por isso. Tenho provas. Nada do que digo aqui é inverdade. Minha dor é a mais genuína dor da perda e da separação. Minha indignação com o sistema judiciário brasileiro precisa ser levada a outros países, sim. Tenho que denunciar isso, não só por Dora, mas por milhares de crianças que tem sua infância ceifada dentro da Lei. 
  E quando Dora crescer saberá que não foi apenas a Justiça que a tirou de mim. A Justiça não faria isso tudo sozinha, precisa de atores. Foi preciso um pai perverso, com tempo ocioso de sobra, mente com visão distorcida da realidade e família doente apoiando seus passos tortos. Foi preciso existir esse cenário para a Justiça fazer o que está fazendo. E escrever tudo isso faz meu peito doer menos e me volta o ar. Porque não agüento mais ligar para o número 16 3421 3320 (onde Dora está) e receber o telefone na cara ou  “um momento”, silêncio total, telefone fora do gancho e o "momento" torna-se eterno. Detalhe que o pai de Dora jamais atendeu ao telefone. Ligo todos os dias, em horários diferentes. Ele nunca está lá. Onde será que está o pai de Dora? E Dora como está? 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Me Amputaram os Braços

  Não deve haver nada mais frustrante do que ser um juiz conciliador numa Vara de Família, porque conciliação e acordo são coisas que não existem nesse mundo. No dia 2 de agosto, há 1 mês, houve uma audiência de conciliação (piada) entre Adriana Mendes e Jonas Golfeto, para tentar definir as visitas de Adriana para Dora, a filha que não vê há quase 7 meses.
  O juiz está lá, ouve, deixa falar, interage, mas não decide nada. Então, após 2h40 minutos, um promotor convence a outra parte a permitir que a filha de 9 anos fale com a mãe por skype durante uma hora, todos os dias, das 19h às 20h. É assinado um acordo entre as partes e seus advogados.
  No dia seguinte o pai já não cumpre o acordo. A mãe fica muito mal, chora, perde a produção no trabalho, dorme mal, chora mais ainda. Dizem para ela ir numa delegacia fazer BO, ela não quer que sua vida se resuma a delegacias, fóruns, audiências e todas essas coisas chatas e burocráticas, sem criatividade.
  No dia após o dia seguinte Dora aparece! Rosto molhado de lágrimas, olhos inchados, pergunta por Miranda, sua irmãzinha de 2 anos e meio, que não vê há 6 meses, que não imagina o quanto já está falando e sente sua falta. Chora, pergunta dos amigos, me mostra seus livros, seu quarto parece um quarto de hóspedes, nada tem de quarto de princesa, como é o seu em minha casa. Pergunto se foi ao dentista, olha assustada para o pai, que não sai do seu lado nem por um segundo, monitorando cada olhar. Não deixa Dora colocar fone de ouvido porque quer ouvir tudo o que eu falo. Tenho que escrever. O pai manda dizer que vai ao dentista na semana seguinte. Penso por que tem tanda disposição para entrar com ações contra mim, ir à delegacias fazer BOs contra mim, mas não é capaz de levar a filha ao dentista. Sinto raiva, muita raiva, pois nunca fui negligente com Dora e esse carrasco que se proclama pai, não foi capaz de levá-la ao dentista no período de seis meses! Claro, sabia que estava muito bem cuidada comigo. Como é rídiculo e bizarro tudo isso.
  Não consigo falar com Dora direito, ele monitora tudo, quando faço perguntas e digo para ela dizer com quem quer morar, ele diz que vai desligar, Dora chora. Sinto mais angústia, me sinto algemada, mais que isso, amputada, incapacitada. Desespero, dor, raiva, muita raiva. Quero minha filha, não quero aquele ser repugnante do lado, com olhar psicótico acompanhando nossos pensamentos. Que vida é essa?
  Depois disso, nunca mais nos falamos, ele proibiu. Não está contra lei, já que não foi ordem judicial, foi apenas um acodro amigável (como se houvesse amizade). Falei com o juiz conciliador, que me recomendou acreditar na Justiça Divina, que essa não falha... ah, mas só pode ser piada. Estão todos atuando numa grande comédia de erros! E Dora? Eu só quero saber de Dora. Nem sei com quem ela fica. Se com avós, empregada, tias... lá, nessa casa, deve ser feita perícia psicossocial. É  lá que Dora está e vive, é lá que não permitem que ela tenha qualquer contato com a vida que teve. É lá que Dora está sendo diariamente massacrada, aniquilada, estão matando Dora, tudo que ela viveu. É com essas pessoas que Dora está.
  Fui até essa casa, precisava ver de perto tudo isso. Apertei a campainha. Chamaram os guardinhas do bairro. Essas pessoas querem afastar definitivamente Dora de sua mãe Adriana e de sua irmã Miranda. Essas pessoas: Jonas Golfeto, Ed Melo Golfeto, José Hércules Golfeto e Raquel Golfeto. Sim, essa família está com Dora, dentro da Lei, há 7 meses, sem deixá-la falar com mãe, irmã, amigos, família. São torturadores, avô psiquiatra, avó psicóloga, tia piscóloga, todos fazendo experimento na cabeça da minha filha. O pai carrasco de Dora, o único sem formação superior na família, está sempre cheio de informações sobre psicoses, sempre tentando me tirar de louca, ele e toda a família. E essa obcessão coletiva leva Dora junto da loucura. E a Justiça permite, porque é lenta demais, pessoas morrem durante o processo, crianças crescem. Tudo demora demais e eu não posso abraçar minha filha. Eu não posso ver  minha filha. A Justiça impede a mãe de ver a filha por 7 meses. Pior, afasta a mãe da filha, tira a mãe da flha, deixa uma criança órfã de mãe viva. Não acredito na Justiça dos homens, nem na Divina.