segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Futebol e Eu


    Nasci na Santa Casa de Santos, sábado de Sol, no dia 20 de junho de 1970, um dia antes do Brasil ser tricampeão na Copa do México. Diz a lenda que médicos e enfermeiras só falavam no jogo. Deram anestesia geral na minha mãe, Laura, porque eu era a primeira (e única) filha e no mês seguinte ela completaria 35 anos. Mesmo com pressão normal, acharam que era gravidez de risco, por conta da idade. Meu pai, Abel, apesar de português, torcia como o mais fanático tupiniquim para essa Seleção de estrelas.      
     O bebezinho ficou ali, no meio da torcida do Hospital. No dia da final também, fiquei lá ouvindo gritos e fogos, isso deve ter ficado no meu inconsciente. Não consigo assistir nada sem torcer. Se ligar a TV e estiver passando um jogo Kosovo e Antuérpia, vou acabar torcendo para algum e isso em qualquer esporte. Também nasci perto da Vila Belmiro e na época Pelé era ídolo mundial, mas era na minha praia que ele jogava! Mesmo assim nunca tive um time definido.
    Confesso que em 1977 quase virei corinthiana, porque queria ser do contra e não achava que deveria torcer para o Santos “só” porque nasci na cidade e porque Pelé jogava lá, oras. Então decidi que torceria para o campeão paulista daquele ano. E não é que o Corinthians, após amargar 23 anos sem título, vence o campeonato? Mas não adianta, meu coração não é corinthiano... sou santista da gema, fazer o que?
   Sempre adorei esportes, praticar, torcer, vibrar, gritar! Acabei virando nadadora porque meu pai foi nadador, mas acabei me apaixonando por natação (e por nadadores) e, com minha baixa estatura, não dava para ser outra coisa, não.  
   Na Copa de 1982, entendi a paixão nacional. Tinha 12 anos e cada jogo aumentava a torcida, assistia sempre com a turma da natação, no Clube de Regatas Vasco da Gama ou na casa de alguém com mãe que não se importava de alimentar com lanchinhos gigantes uma equipe de nadadores famintos. O último jogo, que eliminou o Brasil, foi na casa das irmãs Rosana e Renatinha. Dona Therezinha era mesmo uma santa!    
   Comecei a entender um pouco mais de futebol, virei fã de Sócrates e Zico. Quando fomos eliminados até chorei, até hoje não sei se porque achei injusto aquele time não ser campeão ou porque não teria mais a torcida com a galera da natação. Restava voltar a torcer nas piscinas... 
   E então Serginho Chulapa começa a jogar no Santos e assim me defini como torcedora santista. Para completar minha saga com o Peixe, fiquei amiga de Fábio Diegues e parte da turma da Sangue Jovem, no começo dos anos 90, reunia-se na casa do Fábio, antes dos jogos na Vila. Fui totalmente contaminada. Na mesma época me apaixonei por um fanático por futebol, um certo chileno corinthiano. E para poder discutir com propriedade até aprendi o que era impedimento! Sim, Chico, saiba que você é responsável por eu saber mais sobre futebol. Eu queria impressionar, sendo uma garota que entedia de futebol.
   Na Copa de 94 eu morava em São Paulo, num apartamento decadente apelidado de Bronx (esse é um post à parte), no bairro do Paraíso. Dividia com uma amiga, que tinha um namorado santista tão fanático que seu apelido virou um sobrenome: Marco Bola. Todos os jogos eram assistidos neste apartamento, com a presença de todos os ilustres ex-moradores, a maioria santista. E já que brasileiro é um povo supersticioso mesmo, Bola fez até um altar para o Romário, que ficou na sala até a final, e em cada jogo, cada um levava uma nova mandinga. E no dia da decisão dramática por penaltis muitas lágrimas rolaram nas faces de Tiko (Rocha) e Daltão (Vighi), tenho tudo gravado!!! E o resto é história.
   Isso me ajudou muito na minha meteórica passagem na TV Tribuna, de Santos. Como repórter fazia matérias sobre os Meninos da Vila, uma safra que começou a ser a renovação do Peixe, com Giovane, Jameli e Gallo, entre outros craques. E minha primeira filha nasceu em 2002, ano em que o Santos F.C., já com Robinho e Diego, foi campeão brasileiro e a Seleção pentacampeã!
  Coincidência ou não voltei a morar em Santos na Era Neymar - sim, ele finalmente encerrou a Era Pelé e iniciou sua própria Era. Para completar estou escrevendo sobre Djalma Santos, o melhor lateral direita que este País já teve e um dos homens mais admiráveis que já conheci. Tenho visto e revisto jogos e jogadas das Copas de 54, 58, 62 e 66. E cada vez gosto mais desse universo, que mudou muito, muito mesmo.
   Hoje é aniversário de Djalma, já liguei para parabenizá-lo pelos seus 83 anos. Ele agradeceu muito a minha lembrança, mas quem tem deve agradecer sou eu, por ter a oportunidade de compartilhar o que foi e o que continua sendo essa vida incrível, cheia de lições, aventuras, tristezas e muitas alegrias. 
   E vejo que Neymar, um craque de 19 anos, já é um milionário, com herança para séculos de descendentes. E vejo Djalma, com 83 anos, levando uma vida digna, porém modesta, por tudo que é e representa para o futebol mundial.  Um homem que tem uma Fundação com seu nome e corre atrás de patrocínio para uniforme e chuteiras para seus discípulos. Que ainda faz propagandas para aumentar sua renda e poder pagar o plano de saúde. Às vezes penso que somos a pessoa certa, mas na época errada.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

E Mais Um Boletim de Ocorrência Contra Mim

    E então, no último dia 10, quando completou um ano que não vejo ou falo com Dora, liguei mais uma vez e o avô atendeu. Entre outras me disse que duas vezes (!) perguntou se Dora queria falar comigo ao telefone, mas ela não quis. Que não fala mais da irmã, que está muito apegada ao pai e tia. Novamente disse que não manda nada, quem manda é Jonas, que o advogado disse para ele não se meter. E que Jonas está montando apartamento para morar com Dora e a futura esposa (pobre mulher).
    Disse ainda não agüentar mais esse martírio e teme que Dora, daqui uns anos, fuja de casa, como aconteceu com uma paciente dele, que não aguentou a briga entre os pais e fugiu aos 12 anos e só voltou aos 16. Verdade, não sei? Mas detesto omissão e, neste caso, José Hércules Golfeto está sendo tremendamente omisso. Enquanto psiquiatra infantil sabe o risco que Dora está correndo e até me dá exemplos. Como pai de Jonas, concorda com tudo o que ele faz! Quanta insanidade! E a louca sou eu?
    O avô ainda insistiu para que eu conversasse com Jonas. “Aproveita e fala com ele hoje”. Então fui até a residência dos Golfetos.  Ao invés de ficar esperando na calçada a chegada ou saída de alguém, toquei a campainha. Creio que quem atendeu foi Lourdes, a empregada, uma mulher gentil, a única que me trata com alguma dignidade naquela casa. Mas quando disse que era eu, mãe de Dora. Nada.
    Volto a tocar, ela diz que Jonas já vem. Aguardo embaixo de uma árvore, enquanto converso com um guarda do bairro, sobre o tempo, a cidade e da minha espera para ver minha filha que foi arrancada de mim há um ano, para lhe entregar o livro de aniversário do ano passado e o convite para o aniversário de Miranda, a irmã, nesta semana.  Cinco minutos depois chega Jonas Golfeto, o ator/mentado. E chega dentro de uma viatura, com dois policiais militares e uma pilha de papéis nas mãos. Era o processo! Ele pensa que é Kafka*.
    Pega o celular e liga alucinadamente para advogados. Os policiais chegam para falar comigo. Dizem que estou impedida judicialmente de visitar minha filha. Respondo que só quero vê-la, ver o quanto cresceu, como está seu cabelo e queria entregar o livro e o convite, estendido para toda família. Depois chega mais uma viatura com mais dois policiais. Puxa, acho mesmo que vou mudar para cá. Não deve haver crimes nas ruas, para duas viaturas serem disponibilizadas para este tipo de ocorrência.
     Jonas não falou comigo, tentei conversar, disse que foi sugestão do pai dele. Sou uma jornalista idiota, ainda acreditar na mudança de comportamento alheio. No  fim só queria mesmo que eu me humilhasse mais um pouquinho.
    Já estava sentada na calçada sendo corroída pelas lágrimas e ainda tive vontade de me ajoelhar, implorar... adiantaria? Acho que falta um pouco de culhões para esse sujeito, além de caráter e maturidade. Já queria ir direto para o Fórum anexar mais este BO. Disse ainda que só quero atormentar minha filha emocionalmente. Curioso, não falar com a mãe, irmã, qualquer pessoa de seu convívio não é um tormento? Falar com a mãe é?
    Ao contrário de mim, que tenho tanto o fazer neste vasto mundo que precisa de mais humanidade e menos burocracia, parece que Jonas leva uma vida tão sem sentido, que faz desse processo sua razão de viver. E quando Dora completar 18? O que ele fará da vida quando não tiver que processar, ir em fóruns, contratar advogados, remexer em ações?
    Será que agora será um mar de BOs com minha estadia aqui em Ribeirão Preto? Talvez ele peça até uma ordem de restrição, creio que tudo é planejado. Mas eu posso ficar na rua esperando Dora chegar ou sair, sem tocar campainha, sem incomodar, só para vê-la.  Sempre que venho para cá meu sofrimento aumenta, pois estou tão perto de Dora e não posso vê-la ou abraçá-la.
    A coisa boa é que estou com Paola Miorim e suas duas filhas encantadoras. Uma tem a idade d e Dora e certamente seriam grandes amigas. Paola, que já ligou para Jonas, só para entregar para Dora algumas coisas dela, que eu trouxe em maio, é doce, meiga, sensata e gentil, além de linda. Pois o genitor de Dora não quis conversa com ela, desligou o telefone na cara da minha querida amiga. Perdeu em não conhecê-la. Por outro lado foi sorte da Paola, uma pessoa leve demais para tanta perversidade.
   Queria ser mais malvada. Mas o máximo que consigo em malvadeza é ser irônica, o que chega a ser engraçado. No meio das minhas lágrimas com o policial militar, que utilizou seus conhecimentos de psicologia comigo, falei sobre minhas dúvidas quanto a masculinidade de Jonas,  essa falta de coragem de falar comigo. Ele riu e riu muito. “Desculpe, sei que o momento não é para riso, mas é muito engraçado”.
    Sim, o melhor não é rir depois que tudo isso passar, pois posso ficar 8 anos sem rir. Tenho que rir enquanto acontece.

* Franz Kafka, autor de O Processo (1925), entre outras obras-primas da ficção. Na minha singela opinião, um gênio!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Carregada de Mágoa

      Queria muito me desculpar pelas pessoas que eu possa ter magoado. Peço que me perdoem. Muitas vezes magoamos e nem percebemos. Não sei que tipo de mágoa e rancor tão profundos deixei no pai de Dora, Jonas Golfeto. Namoramos 6 meses, engravidei, nunca planejei ser mãe, não achava que caberia em minha vida de jornalista, que trabalhava 12 horas por dia, além de nadar 4 vezes por semana e competir como Master. Mas estava com 30 anos e acreditei que ter um filho seria a oportunidade de criar alguém para fazer um mundo mais justo e com mais amor. Jonas pediu que eu abortasse, viu até clínica, não se conformou que eu quisesse ter o filho. Será essa a grande mágoa?
    Descolou minha placenta, fiz repouso absoluto, muitos amigos cuidaram de mim (que bom ter tantos amigos em tantos lugares). Jonas foi morar comigo quando estava de 6 meses e com a certeza de que Dora  nasceria. Já não sabia se queria ficar com ele, que já demonstrava ser muito egoísta e falhava em pequenas mentiras. Suportei até Dora ter 9 meses, então nos separamos. Nunca pedi pensão, pois se fosse fazê-lo teria que intimar os avós, já que Jonas era sustentado pelos pais. Só cobrava a presença dele, como pai de Dora.
   Fiquei com Dora, cuidei sozinha, com amor, muito amor. Fui demitida, mudei de cidade, parei de nadar, cuidava absolutamente sozinha de Dora, sem babás, sem tias, sem pai. Tive depressão, o avô de Dora, o psiquiatra infantil José Hércules Golfeto * , mandava um psicotrópico de última geração - Lexapro - pelo filho, quando ia ver Dora. Esse antidepressivo era novo, caro e difícil de achar. Num final de semana Jonas não foi ver Dora e não levou os remédios. Nem precisa ser psiquiatra para saber que isso não pode. Parei de tomar os remédios de repente, fiquei sem, surtei... e fui internada e a única coisa que pedi foi para que Jonas ficasse com Dora enquanto fui internada. Será essa a mágoa? Ter pedido para ficar com a filha? Não ter morrido de uma vez?
    Isso aconteceu em dezembro de 2004. Em janeiro de 2005, o ator/mentado, já sumiu com Dora e tentou pegar a guarda de forma insólita. Fui para Ribeirão Preto, tive audiência e recuperei a guarda... daí começou a saga dele em procurar falsos testemunhos e acabar com minha vida. Há 7 anos estou numa luta inglória com um ser perverso! Esse é meu calvário!
  E penso em tanta energia gasta, em quantas coisas boas eu poderia estar fazendo, realizando, como eu poderia estar  produzindo, construindo, concluindo.... mas não, passo dias e noites com o coração apertado, doendo, sofrendo, me indignando com a (in)Justiça e comportamento sem ética desses avós de Dora.
   Hoje completa um ano que Dora foi levada. Um ano! E eu, que nunca fui de guardar rancor, sou um poço de tristeza e mágoa. Quanto arrependimento! Como deixei uma pessoa acabar com minha vida? Nada nunca me causou tanta dor, nem a morte da minha melhor amiga *, que ainda me encontra em sonhos. Com a morte a gente tem que se conformar. Com a separação forçada de um filho, não. Isso mata e mata a cada dia. Eu sei que erro e erro muito. E tem dias que só dá vontade de chorar... para tentar colocar essa mágoa para fora.

Mudanças

   Estou em Ribeirão Preto - SP. Ontem foi aniversário de Dora e lhe enviei flores. Pedi na floricultura que entregassem em mãos. Isso não foi feito porque disseram que Dora não estava. Mas o pessoal da floricultura ligou hoje e falou com a avó Ed Melo Golfeto. Disse que sim, entregaram. Até o pessoal da floricultura ficou indignado com a situação. Liguei para falar com Dora, desligaram.Deixei recado que estou na cidade e aqui ficarei até o final do mês, vou encontrar Dora nem que seja passeando no shopping...
  Eles podem pedir ordem de restrição? Tudo bem, estou restrita com 500 km de distância. Aqui as pessoas vão poder me conhecer, vão olhar nos meus olhos e acreditar em mim. Sem falsa modéstia, porque nunca fui modesta mesmo, tenho uma credibilidade incrível. As pessoas acreditam em mim, simplesmente porque falo a verdade e minhas atitudes são condizentes com meus atos.
   Agora "só" estou escrevendo o livro sobre o jogador Djalma Santos. Posso escrever de qualquer lugar e, quando tiver de ir até Uberaba completar as entrevistas, Ribeirão Preto fica mais perto. Tenho amigos nesta cidade, posso ir em casas variadas para não incomodar ninguém, até ter minha residência aqui. Sim, mudarei para Ribeirão Preto. Algumas pessoas tinham me aconselhado isso, mas achei que Dora deveria voltar para Santos, lá era a vida dela, tudo dela era lá... um ano depois, sem contato nenhum com família, amigos, cidade... não é mais.
   Aqui também poderei mostrar quem são as pessoas "maravilhosas" que estão com Dora. E sei que minha simpatia atrairá mais simpatizantes para essa causa. E com o meu currículo, contatos e experiência, logo estarei em alguma mídia importante desta cidade. Já morei 1 ano e meio nesta cidade, no final dos anos 80, adolescente. Esse clima quente e seco nunca me agradou, mas as pessoas sempre me agradaram muito. Mas sei que logo farei amizade com os pais de amigos de Dora, na escola, no balé. Família Golfeto, me aguarde!
 
* Insisto em dizer que o avô de Dora é psiquiatra infantil porque me causa imensa indignação a total falta de ética deste homem. Ainda bem que se aposentou da USP, nem quero imaginar o que ensinou para seus pobres alunos.

* Ana Paula Rodrigues Assumpção foi-se prematuramente, aos 18 anos, no dia 29/04/90, deixando uma saudade imensa em tanta gente que a amava. E deixando comigo muitas das melhores lembranças da minha adolescência. Continuo amiga de sua família, o irmão Fernando, os pais Eduardo e Ana, todas as tias e primos. E de Val, a cunhada que não teve a oportunidade de conhecer essa garota fantástica...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Feliz Aniversário Dorinha

    Hoje Dora completa 10 anos! Como passou rápido. Lembro cada momento do dia que ela nasceu. Nascimento do primeiro filho é muito marcante. Passamos para um estágio novo da vida, do amor incondicional e absoluto. Até Dora nascer eu tinha uma vaga ideia do que era o amor. Depois dela só amei com intensidade, inteira, com vontade. Depois que Dora nasceu passei a questionar mais atitudes, desejos, ideais, fez mais sentido tanta coisa e tantas outras perderam o sentido.
   No primeiro aniversário de Dora fiz uma festa em São Paulo, onde morávamos. O pai dela, Jonas Golfeto, chegou atrasado, pois na noite anterior havia sido a festa de formatura de sua irmã, Raquel Golfeto. Ligou no meio da festa, pedindo para eu ir buscá-lo ou algum amigo meu... claro que ninguém deixou a festa para isso. Jonas chegou, já nem tinha filme na máquina fotográfica (eu tinha uma Pentax S10, digital era para poucos em 2003). Na semana seguinte houve outra festa no Guarujá, na casa da minha prima Kátia. Ninguém da família Golfeto foi, todos foram convidados.
   Posso relembrar e enumerar todos os aniversários de Dora. Menos esse. Os 10 anos de Dora não terão mãe, nem irmã, nem seus melhores amigos. Com certeza ela terá uma bela festa, em que ninguém que fez parte da sua vida será convidado. Dora está numa nova casa, nova escola, novos amigos, novo quarto, novos brinquedos... tudo novo na sua vida, para que esqueça o que teve comigo... como um avô psiquiatra infantil permite isso?
   Há um ano choro todos os dias. Não o dia inteiro, mas todos os dias. Às vezes mais, outras menos, no banho, no quarto, no carro, viajando, lendo...há 364 dias levaram Dora e nunca mais nos vimos. Já fui na casa dos avós, mas chamaram os guardinhas do bairro, ligo todos os dias, mas desligam. A Justiça? O juiz Ricardo Braga Monte Serrat nem é mais o juiz do processo, estamos sem juiz! Mesmo assim depois de 7 meses da contestação da outra parte, é esse mesmo juiz que pede para minha advogada contestar a contestação. Sarcasticamente falou para minha advogada que ele demora porque em Ribeirão Preto é muito quente, por isso não pensa direito. Repetiu minhas palavras, do que escrevi nesse blog... culpa minha então? Devemos concordar com todo o sistema corrupto, moroso, arraigado em valores e Leis ultrapassadas? Devo aceitar o inaceitável? Devo achar normal que quem acusa primeiro (sem provas) tome a guarda? Agora de ¨vingancinha¨, o juiz não vai deixar Dora ver a mãe? No meu entender, um juiz de Vara de Família deveria se preocupar com o bem estar da menor! Mas ego e vaidade não combinam com Justiça!
  Tenho que ficar calada e parar de escrever? Acho absurdo que um promotor que nunca tenha visto a minha cara e de minha filha me proíba de vê-la, graças às mentiras escritas por Danilo Murari, um dos advogados de Jonas Golfeto. Eu queria muito mesmo ser diferente. Saber calar diante de injustiças, saber ficar fria diante de provocações ridículas, mas não posso deixar minha essência, eu já morro a cada dia, mais rápido do que morreria naturalmente. Ainda na escola eu brigava com quem tratasse mal meus amigos de óculos ou gordos. Na natação também. Aliás, quem tratasse mal qualquer um! Eu não sou apenas capaz de morrer por minhas filhas. Sou capaz de morrer por qualquer um que precise de ajuda, pois não saberia viver como uma omissa.
   Só espero que você Dorinha, não mude sua essência. Continue generosa, inteligente, meiga e feliz. Que continue gostando de tudo e todos que gostava e que não se deixe influenciar pelos seus atuais tutores (quem mesmo cuida de Dora? Não sei). Queria te dizer, Dorinha, que todos os seus amigos estão bem, mas não posso afirmar isso, pois não sei de muitos de seus amigos. Há 6 meses, ninguém liga mais para saber de Dora, acabei me afastando de pais que fiz amizade por conta de Dora. Não faz sentido ir na casa da melhor amiga de Dora, sem Dora, sem notícias de Dora. Já tem criança demais sofrendo... não é seu psiquiatra infantil avô de Dora?
   Eu não sei quanto tempo vou suportar viver assim...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Vida Sem Dora

    Não tivesse o tempo tanta importância, eu não sofreria desta forma mórbida. Chega perto uma data de nascimento e morte. Dia 9 de fevereiro completa 10 anos que nasceu Dora. Dia 10 um ano que foi arrancada de forma brutal da minha vida. E tudo que era seu continua aqui, no mesmo lugar. Como o quarto do filho que morreu. Não há mais sua voz, sua música, nem sua brilhante presença. Dora está viva, mas dela só restam lembranças e um passado distante.
    Para Miranda, que irá completar 3 anos no próximo dia 16, a irmã é como um fantasma. Por diversas vezes me vejo comparando atitudes, aptidões e preferências entre as duas. Miranda já não fala mais para eu “parar de ficar triste porque a Doinha vai voltar”. Agora quando eu digo que vamos viajar para determinado lugar, mas esperaremos a Dorinha voltar, determina: “Não vamos esperar, não, mamãe. A Doinha tá demorando muito”. Essa é a sabedoria inata do ser humano, que na maioria das vezes mingua após a infância.    
    Miranda me mostra que preciso continuar vivendo mesmo sem Dora, porque, se continuar assim, acabarei não vendo nenhuma das duas crescer. E é tão doloroso viver oficialmente afastada da filha, por vontade da família dela, com autorização judicial para nos separar indeterminadamente... tão triste não poder ir até a escola Albert Sabin de Ribeirão Preto ou em alguma apresentação do Ballet Carla Petroni, porque Jonas Golfeto, o pai, ou os avós, José Hércules Golfeto e Ed, podem chamar a polícia (como os avós já fizeram).     
    Não posso imaginar Dora tanto tempo sem me ver e ainda ter que presenciar a polícia me levando, como uma criminosa. E os novos amiguinhos vendo tudo isso. Não, iria desmoronar de novo sua vida. Sua nova vida, que está prestes a completar um ano! Será que irão comemorar os 10 anos de Dora ou 1 ano da nossa separação? Da aparição de Jonas Golfeto em rede nacional, pela TV Globo? Os nefastos tem muito a comemorar.
    E há um ano todas as pessoas que faziam parte da vida de Dora foram brutalmente assassinadas. Como se um grande Tsunami tivesse banido a Baixada Santista e todo o litoral paulista e fluminense. Como se não houvesse tecnologia capaz de conectá-la aos amigos bloqueados de sua vida.
    Que o magistrado não entenda isso, já que são tantos processos e ações e burocracia e casos até piores, até vá lá. Que juiz e promotor tirem uma da minha cara, dizendo que essa ação só vai acabar em Brasília e que minha filha completará 18 anos antes, suporto. Mas como os avós, psiquiatra e psicóloga, não são capazes de entender a monstruosidade que estão fazendo com tantas vidas? E até com suas próprias vidas. Não acredito que alguém possa ser feliz agindo desta forma. Matando todas as pessoas que existiram para Dora. Matando Dora para todos os seus amigos!
    Enquanto isso vivo de lembranças de tempos livres, das viagens que fiz com Dora, parando em praias lindas, remando até ilhas, dormindo em barcos na noite de lua cheia. De seu desejo precoce em ser bióloga marinha. Em que praia agora ela alimenta essa vontade? De quando dançava pela casa e pela rua, vivendo eternamente um musical. Eu só queria poder me despedir da minha filha e poder abraçá-la mais uma vez.
    Pedi para minha advogada que fizesse uma liminar para que eu pudesse abraçar minha filha no dia 9 de fevereiro, quando ela completa 10 anos. A reposta é que pedido para judiciário tem limite. Pedir para abraçar minha filha, após um ano, no dia do seu aniversário, é passar dos limites...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Espiritualidade do Ateu

     Acredito que por não ter religião o ateu não impõe dogmas ou fica seguindo mandamentos que ninguém sabe ao certo de onde vieram. Não falo só por mim e por meus amigos ateus, também por alguns artigos que leio, de outros ateus ou teólogos. Mesmo em pesquisas, que comprovam o que há tempos eu sabia: o ateísmo é uma espécie de evolução. Primeiro que em Países predominantemente ateus, como Dinamarca, há menos conflitos, pobreza e mais educação. Há evolução social e econômica.
    A tolerância do ateu é quase infinita. Constantemente massacrado e sem muitas possibilidades de expressar suas opiniões, evita falar que não acredita em Deus. Em contrapartida tem amigos de várias “facções religiosas” e costuma respeitá-las. Digo por mim, que só não tenho amigos Testemunhas de Jeová, ainda assim conheci Evanize, a mãe de uma colega bailarina de Dora, enquanto a esperava sair de um ensaio no Teatro Municipal de Santos.
    Uma mulher simpática, inteligente e falante. Ela não conseguiu me convencer o motivo de “obedecer a ordem” sobre não fazer transfusão de sangue. Depois me deu até uma revista, com uma carta linda, escrita por ela, com letra e ortografia perfeitas (tenho guardada). Respeitei ainda mais a consideração e devoção dessa mulher, mas não nos tornamos amigas. Mas tenho amigos e familiares evangélicos, espíritas, budistas, rastafáris, católicos, daimistas, muçulmanos e judeus. E posso citá-los e contar histórias ótimas sobre todos eles, mas fica para uma próxima parada *.
    O que a maioria das pessoas com religiões definidas não compreende é que não ter religião é diferente de não ter espiritualidade. Ateu não é um ser que não acredita em nada e fica elucubrando sobre teorias do fim do mundo. Ao contrário, acredito em muita coisa que não vejo, como a velha máxima do “o ar está aí, todos sabem, mas ninguém vê “**.  Acredito na vida em outras galáxias, cura da AIDS e do Câncer, telepatia (empiricamente), na energia solar como principal alternativa para desafogar o planeta.
    Eu tive alternativa. Minha mãe é católica, meu pai era ateu. Casaram-se no civil.  Fui batizada católica pelos meus avós maternos, Janguinho e Cida, mas não lembro de nada porque era bebê e nunca vi fotos. Aos 9 anos minha mãe falou para eu fazer Catecismo, já tinha até madrinha escolhida para a Crisma. As aulas seriam todos os sábados, durante um ano. “Mas e as competições nos finais de semana?”, desesperei. Então, sempre evitando o conflito, meu pai disse que eu fosse no primeiro sábado, se não gostasse poderia parar. A escolha era minha. E foi o que fiz, assim o “bonito” não ficou como máxima influência, na visão católica de minha mãe. A rebelde era eu, que não gostei da aula sobre Adão e Eva.
    E assim, naturalmente, cresci sem religião. Por isso não entendo sonhar com uma vida divina após a morte, se o que temos é essa vida, que pode ser divina, aqui. Ou conformar-se com o sofrimento porque será recompensado após a morte. O que conhecemos de fato sobre o pós-morte é o enterro. A pessoa é enterrada e o que resta dela são as lembranças ou suas obras. Então, se for para fazer tem que fazer agora. O tempo é muito precioso para o ateu.
    Mas eu entendo que pensar positivo nos faça sentir melhor, assim como praticar boas ações, ajudar os outros e não fazer nada que não queira que faça com você. E acredito num encontro com uma energia maior, momentos transcedentais, que dão sentido nessa vida tão sem sentido. Pode ser num mergulho no mar de águas cristalinas, em contato com a natureza, na linguagem universal da música (que faz todo o sentido), na hora de amamentar, ao salvar um animal abandonado, na cumplicidade do melhor amigo, no amor verdadeiro. Qualquer ser humano pode sentir isso e não precisa ter religião. O ateu não precisa ter Deus para amar o próximo.

*Vou escrever sobre experiências com religiões.
** Com exceção de cidades como São Paulo, Los Angeles e outras em que a emissão de gases nos permite ver o ar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Repercussão Destas Palavras

     No próximo dia 9 Dora completará 10 anos. Os números 9 e 10 ficam me atormentando, numa matemática cruel e sem sentido. Dora fez 9 anos dia 9 e foi levada dia 10 de fevereiro. Agora fará 10 anos no dia 9 e no dia 10 completará um ano que foi levada. Confuso? Desnecessário? Não importa. O fato é que nunca mais soubemos uma da outra.
    Essa lembrança constante aumenta minha angústia, indignação, desespero. Nem sei se continuo tentando ligar para falar com minha filha, se vou na entrada ou saída da escola Albert Sabin, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Ver de longe, ver Dora escondida, a linda menina que gerei, pari, amamentei, eduquei...amei e amo. Falar de Dora sempre no passado é mais um motivo de dor para mim e de estranhamento para qualquer pessoa que me conheça agora. Parece que falo de uma filha que morreu. Porque é assim que parece ser. Um dia ela não estava mais e nunca mais soube nada dela. Assim é a morte. A vida que estava lá de repente não está e você não sabe o que acontece (por mais que as religiões tentem explicar, não passam de elucubrações). Aquela vida deixa de fazer parte da sua. Fica na lembrança, na saudade.
   Se isso se passa comigo em relação à Dora, com ela isso acontece em relação a todas as pessoas que conhecia e convivia. Todos simplesmente pararam de existir para ela. Como se tivessem morrido. Impuseram um luto à Dora. Amparado por um sistema judiciário falho, decisões duvidosas, profissionais sem ética e família especializada em mentes e comportamentos humanos *, Jonas Golfeto matou o passado de Dora.
   Não vale dizer aqui o quanto isso tudo tem me matado mais rápido também. Não meu passado, tão cheio de tantas histórias e pessoas incríveis. Mas o meu presente e o meu futuro. Minha vida também está sendo encurtada em alguns anos ou décadas. Minhas defesas estão sendo minadas, minha saúde física entrando em colapso. Porém, minha mente continua sã e lúcida. Algumas  pessoas não acreditam que eu esteja passando por tudo isso sem aditivos químicos (antidepressivos). Ora, a sociedade está doente e eu que preciso tomar remédios? Há um ano a 1Vara de Família do Fórum de Ribeirão Preto sabe que não me deixam falar com minha filha e acham isso normal! Existe até um nome para esse crime: Alienação Parental. Tão subjetivo tudo isso...
   E quando eu penso que mais nada está valendo a pena, senti uma grande esperança. O comentário de uma mãe de aluno da escola que Dora frequenta em Ribeirão Preto. Li diz que lê meu blog e conta para sua filha que a coleguinha tem uma mãe que a ama muito e a estão proibindo de vê-la. Chama a atitude de vergonhosa, tacanha. Muitos pais estão lendo e acompanhando tudo. Recebi emails também. E o Dr. José Hércules Golfeto não respondeu minha carta aberta. E mais de 500 pessoas já leram minha denúncia, absolutamente verdadeira. O jornalista Luis Fernando Ramos, inclusive, cobra uma resposta, do médico citado e da Comissão de Ética do Conselho de Medicina. A dúvida foi, no mínimo, semeada.
   Só temo que, de vergonha, os avós tirem Dora desta escola, onde, com certeza, já fez amigos. Mas se eu escrever que me deixaram vê-la, falar com ela ao telefone, que trouxeram Dora para o aniversário da irmã Miranda, que completará 3 anos no próximo dia 16, isso pode mudar tudo! Arrependimento, redenção, perdão, paz. Tantas pessoas querem essa notícia!

"Do Luto à Luta!"

  Quem me escreveu isso foi Adriana Botelho, de Salvador, uma das Sisters of Pain. Sua filha, Maria Clara, de 6 anos, foi levada para Portugal, pelo pai português, no dia 19 de dezembro de 2011, após decisão da juíza substituta Ana Carolina Lima Fernandes. Um desembargador revogou a decisão no dia seguinte... mas era tarde. O pai colocou um oceano de distância entre mãe e filha, com a colaboração da Justiça. A história está no blog Enquanto Você Não Volta... Entramos em contato por essas redes de mães separadas dos filhos pela Justiça. Como Adriana Botelho é nova nessa falange, não conhecia Elaine César, nem sua história, soube pelo meu blog. Leu, emocionou-se, divulgou, teve inspiração.
  E mais uma vez eu tenho que fazer um paralelo entre Elaine e o heroísmo. Os heróis inspiram, impulsionam. Foi isso o que aconteceu. A injustiça cometida contra Elaine está sendo mais amplamente divulgada. Outras mães estão espelhando-se em suas palavras, encontrando-se em seus sentimentos limites. Somos todas irmãs nessa dor do afastamento imposto, da tortura consentida por Lei. E nossos filhos são todos vítimas do rancor extremo, da burocracia judicial, tão propensa aos erros.

* A irmã de Jonas, Raquel Golfeto é psicóloga; o pai José Hércules Golfeto é psiquiatra infantil e foi professor da USP Ribeirão Preto; a mãe Ed Melo Golfeto é psicóloga e foi professora da UNAERP de Ribeirão Preto.