quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Repercussão Destas Palavras

     No próximo dia 9 Dora completará 10 anos. Os números 9 e 10 ficam me atormentando, numa matemática cruel e sem sentido. Dora fez 9 anos dia 9 e foi levada dia 10 de fevereiro. Agora fará 10 anos no dia 9 e no dia 10 completará um ano que foi levada. Confuso? Desnecessário? Não importa. O fato é que nunca mais soubemos uma da outra.
    Essa lembrança constante aumenta minha angústia, indignação, desespero. Nem sei se continuo tentando ligar para falar com minha filha, se vou na entrada ou saída da escola Albert Sabin, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Ver de longe, ver Dora escondida, a linda menina que gerei, pari, amamentei, eduquei...amei e amo. Falar de Dora sempre no passado é mais um motivo de dor para mim e de estranhamento para qualquer pessoa que me conheça agora. Parece que falo de uma filha que morreu. Porque é assim que parece ser. Um dia ela não estava mais e nunca mais soube nada dela. Assim é a morte. A vida que estava lá de repente não está e você não sabe o que acontece (por mais que as religiões tentem explicar, não passam de elucubrações). Aquela vida deixa de fazer parte da sua. Fica na lembrança, na saudade.
   Se isso se passa comigo em relação à Dora, com ela isso acontece em relação a todas as pessoas que conhecia e convivia. Todos simplesmente pararam de existir para ela. Como se tivessem morrido. Impuseram um luto à Dora. Amparado por um sistema judiciário falho, decisões duvidosas, profissionais sem ética e família especializada em mentes e comportamentos humanos *, Jonas Golfeto matou o passado de Dora.
   Não vale dizer aqui o quanto isso tudo tem me matado mais rápido também. Não meu passado, tão cheio de tantas histórias e pessoas incríveis. Mas o meu presente e o meu futuro. Minha vida também está sendo encurtada em alguns anos ou décadas. Minhas defesas estão sendo minadas, minha saúde física entrando em colapso. Porém, minha mente continua sã e lúcida. Algumas  pessoas não acreditam que eu esteja passando por tudo isso sem aditivos químicos (antidepressivos). Ora, a sociedade está doente e eu que preciso tomar remédios? Há um ano a 1Vara de Família do Fórum de Ribeirão Preto sabe que não me deixam falar com minha filha e acham isso normal! Existe até um nome para esse crime: Alienação Parental. Tão subjetivo tudo isso...
   E quando eu penso que mais nada está valendo a pena, senti uma grande esperança. O comentário de uma mãe de aluno da escola que Dora frequenta em Ribeirão Preto. Li diz que lê meu blog e conta para sua filha que a coleguinha tem uma mãe que a ama muito e a estão proibindo de vê-la. Chama a atitude de vergonhosa, tacanha. Muitos pais estão lendo e acompanhando tudo. Recebi emails também. E o Dr. José Hércules Golfeto não respondeu minha carta aberta. E mais de 500 pessoas já leram minha denúncia, absolutamente verdadeira. O jornalista Luis Fernando Ramos, inclusive, cobra uma resposta, do médico citado e da Comissão de Ética do Conselho de Medicina. A dúvida foi, no mínimo, semeada.
   Só temo que, de vergonha, os avós tirem Dora desta escola, onde, com certeza, já fez amigos. Mas se eu escrever que me deixaram vê-la, falar com ela ao telefone, que trouxeram Dora para o aniversário da irmã Miranda, que completará 3 anos no próximo dia 16, isso pode mudar tudo! Arrependimento, redenção, perdão, paz. Tantas pessoas querem essa notícia!

"Do Luto à Luta!"

  Quem me escreveu isso foi Adriana Botelho, de Salvador, uma das Sisters of Pain. Sua filha, Maria Clara, de 6 anos, foi levada para Portugal, pelo pai português, no dia 19 de dezembro de 2011, após decisão da juíza substituta Ana Carolina Lima Fernandes. Um desembargador revogou a decisão no dia seguinte... mas era tarde. O pai colocou um oceano de distância entre mãe e filha, com a colaboração da Justiça. A história está no blog Enquanto Você Não Volta... Entramos em contato por essas redes de mães separadas dos filhos pela Justiça. Como Adriana Botelho é nova nessa falange, não conhecia Elaine César, nem sua história, soube pelo meu blog. Leu, emocionou-se, divulgou, teve inspiração.
  E mais uma vez eu tenho que fazer um paralelo entre Elaine e o heroísmo. Os heróis inspiram, impulsionam. Foi isso o que aconteceu. A injustiça cometida contra Elaine está sendo mais amplamente divulgada. Outras mães estão espelhando-se em suas palavras, encontrando-se em seus sentimentos limites. Somos todas irmãs nessa dor do afastamento imposto, da tortura consentida por Lei. E nossos filhos são todos vítimas do rancor extremo, da burocracia judicial, tão propensa aos erros.

* A irmã de Jonas, Raquel Golfeto é psicóloga; o pai José Hércules Golfeto é psiquiatra infantil e foi professor da USP Ribeirão Preto; a mãe Ed Melo Golfeto é psicóloga e foi professora da UNAERP de Ribeirão Preto.

2 comentários:

  1. Adriana,
    Sigamos na nossa luta diária, estamos passando por por essa provação por algum motivo que só Deus sabe...
    Acredito que no nosso caso, e de todas as mães que nesse exato momento se veem privadas do convivio com seus filhos, é que ainda que "eles" queiram apagar nossa imagem da memória dos nossos filhos, não conseguiram.
    Nem no momento do parto, em que fisicamente ocorre a separação entre mães e filhos, ao cortar o cordão umbilical, nem assim conseguem nos separar das nossas crias. Porque existe algo muito mais forte e incondicional que nos liga aos nossos filhos, que é o amor incondicional,para uma mãe parir um filho, é ter sempre o coração batendo fora do peito. Querendo ou não, a "justiça", o genitor de sua Dora ou da minha Maria, ela faz parte de você e você sempre fará parte dela, porque é carne da sua carne e sangue do seu sangue. E isso, assim como o amor pelos nossos filhos, é definitivo!!!

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  2. Minha filha Maria Eduarda faz aniversário no mesmo dia de Dora e desde sempre comemoram juntas...ano passado não teve comemoração, elas foram brutalmente separadas, estavam aguardando uma viagem de comemoração mas não houve tempo...levaram Dora de nossa vida, desde então elas se falaram duas vezes, Maria ensinando Dora a ludibriar os avós e ligar pra mãe, Dora com medo...poderia virar comida no jantar...e mais uma vez em que brincaram no micro, agora foi bloqueada no msn, perderam contato. Até quando isto continuará? Agora está nítido pq Adriana levou Dora consigo por estes anos...se não o tivesse feito estaria afastada da filha até hoje. Isto é muito claro agora...

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