Tinha escrito um texto sobre o dia que Dora foi levada, lembrando cada detalhe da última manhã que passei com minha filha, há 22 meses e 8 dias. Também sobre a expectativa de encontrá-la hoje, conforme foi combinado, conforme o atual juiz determinou em junho, numa sentença (um tanto abstrata) para que as visitas monitoradas fossem realizadas "o quanto antes". Claro que para mim o quanto antes seria no dia seguinte, para Jonas Golfeto, tão sádico, alienador e com perfil de psicopata, o quanto antes pode demorar a eternidade. Pois eu escrevia no ônibus de São Paulo para Ribeirão Preto, enquanto Miranda dormia como um anjo, um texto falando dos livros que levava para Dora, da importância da literatura em minha vida, meu primeiro grande livro e tanto mais. Esse texto não cabe aqui hoje.
No íntimo eu sabia que o guardião legal e alienador sagaz daria um jeito de mudar tudo. Um pouco antes de chegar na rodoviária fui checar meus emails e me deparei com essa pérola:
Ainda não há deferimento juducial para que as visitas ocorram nesse dia 18/12. Entre em contato com a Fabíola para fazer amanhã a entrevista inicial.
Como assim não existe? Há mais de seis meses o juiz deu a sentença! Então, logo pela manhã, fui com Miranda no escritório da minha advogada Lucélia Nunes, de lá para delegacias fazer BO, depois para o Fórum de Ribeirão Preto. O juiz mandou um oficial de justiça até a casa dos avós da Dora, intimando seu guardião a levá-la, mas Jonas Golfeto não estava lá (ele nunca está, inclusive seu celular tem prefixo de São Paulo). Então a oficial voltaria às 18h.
Mesmo assim eu, minha advogada e Miranda fomos no consultório da tal psicóloga, Fabíola Januário Martins. Assim que entrei a secretária sorriu e disse: "Adriana". Achei curioso, mas pensei que me conhecesse pela internet, alguma matéria de TV, enfim, pedimos que ligasse para Fabíola, que estava dentro de um avião, já que tinha outros compromissos e Jonas havia desmarcado. Tudo muito estranho. Obviamente, para estar viajando de avião, a passagem foi comprada com antecedência, a tal psicóloga, escolhida pela outra parte, sabia há tempos que não haveria essa visita.
Quis saber qual a formação acadêmica da Fabíola, a secretária não soube dizer. No consultório tinha uma garota esperta, de 10 anos, muito parecida com Dora, mostrei até uma foto para ela, que também ficou impressionada com a semelhança. Em pouco tempo essa menina simpática e falante estava entretendo Miranda, perguntando sobre Dora, falando de tatuagens, me confidenciando desejos. Quando eu vi que nada iria acontecer, liguei para o editor chefe do SBT local, que me atendeu prontamente e pediu todos os contatos, de todos os envolvidos. Nisso percebo que a secretária se ausentava por vezes e saía para falar ao telefone. Uma senhora, loira de cabelos curtos, provavelmente uma das psicanalistas do imóvel, não me dirigiu a palavra, mas me olhava atentamente, seguindo meus passos, vigiando meus atos e ouvindo todas as minhas palavras ao telefone.
Perguntei para essa senhora onde a tal Fabíola estudou, ela não sabia dizer, mas perguntou porquê eu queria saber tanto sobre isso, porquê isso era tão importante. Respondi que se fosse na Unaerp de Ribeirão teria sido aluna de Ed Melo Golfeto, avó de Dora. "Não, ela veio do interior, está aqui há poucos anos". A secretária, que até então eu não sabia o nome, disse que inclusive ligou para Ed e essa disse que a neta estava aguardando a visita. Achei todos muito íntimos, tudo muito curioso. Como nada iria acontecer, Lucélia falou com uma das advogadas de Jonas, disse que chega de fazer tudo o que ele quer, que não é ele quem manda no processo e que no dia seguinte teria polícia, oficial de justiça e imprensa. Pedi para a secretária um cartão da Fabíola, porque Jonas só me passou o celular da mesma. "Ela não tem cartão". Como assim? "Aqui é só por indicação, não precisa de cartão". Tudo mambembe demais. Senti já uma certa repulsa por parte da secretária, o que já havia sentido desde a entrada pela tal senhora, que era avó da garotinha simpática, parecida com a Dora.
Assim que saímos uma advogada do Jonas ligou, dizendo que falou com a psicóloga e que a visita seria hoje, às 18h30. Concordamos. Em seguida liga a secretária, Josie, dizendo que seria amanhã, às 10h, no consultório do avô psiquiatra infantil, José Hércules Golfeto. Então vi o semblante calmo de Lucélia se transformar, negou veementemente, afinal, seria totalmente manipulador fazer uma visita com Dora no consultório do avô! E outra ligação da advogada de Jonas. Até agora não entendi o que aconteceu. Jonas disse que a psicóloga Fabíola não queria fazer a visita sem ordem judicial, que disse que era Jonas que não queria. Um jogo de empurra ridículo, infantil, grosseiro. A advogada de Jonas concordou que não tinha nada a ver o encontro ser no ninho do avô.
Daí cheguei com Miranda, na casa da minha querida Paola Miorim, onde Miranda se sente tão em casa que até já me perguntou se a Giovana (caçula de 11 anos) poderia ser sua irmã, já que não pode ver Dorinha. Hoje Miranda entendeu tudo, pensou que veria a irmã, mas ao me ver nervosa, chorando, praguejando, me disse com a sabedoria infantil: "Esquece a Dorinha, mamãe". Isso doeu.
Daí peguei o telefone do consultório onde trabalha a tal Fabíola: 016 3623 6302, ou seja, o mesmo do consultório de Ed Melo Golfeto. Josie é Josiane, aquela que me atende e diz que Ed não quer falar comigo, que não vai me atender. A senhora loira que me regulava é uma das 10 psicanalistas que atende no imóvel e que me acha uma louca transtornada. E quem não ficaria? Acho até que essa família tem sorte por eu ser quem eu sou, porque muitos no meu lugar teriam cometido uma loucura, de verdade!
Saí como uma palhaça desta história toda. Na verdade tanto faz ser no consultório do avô, afinal, Fabíola Januário Martins é sócia da avó! Para começar nem deveria haver visita monitorada, já que minha perícia está pronta há 1 ano e meio, mesmo que fosse teria de ser por um perito forense, não escolhido pela outra parte, justamente a outra parte, filho de psicóloga, psiquiatra e irmão de psicóloga! E eu temendo que a tal Fabíola conhecesse os avós, ora ela trabalha com eles! Mesmo assim estarei lá, no consultório de Ed Melo Golfeto, para enfim encontrar Dora. Ou não, a outra parte que manda e não obedece nem ordem judicial.