sexta-feira, 14 de junho de 2013

20 Centavos - A Luta pelo Direito de Protestar

    No último post escrevi sobre o futuro do jornalismo. Ontem ocorreu a quarta manifestação popular e legítima do Passe Livre, contra o aumento dos 20 centavos nas passagens em São Paulo-SP. A melhor cobertura que vi foi no Facebook, com a centena de amigos jornalistas postando fotos e imagens online. Até imagem de policial quebrando vidro de viatura para culpar cidadão comum foi feita. Claro que esse policial recebeu uma ordem superior para fazer isso, nenhum  policial gastaria do próprio bolso para consertar viatura, pois é o que acontece nesse País: policial paga por carro que quebra em trabalho. O que a cidade (e o mundo) viu foi uma violência descomunal por conta da  Polícia Militar do Estado de São Paulo. Logo pela manhã comecei a ler sobre a manifestação anterior, parte dos amigos classe média/burguesa chamou os manifestantes de vândalos e baderneiros. Eu não estava lá, mas as imagens que vi não eram violentas por parte da população e sim da PM. Claro que ao serem atacados por PMs os manifestantes se enfurecem e quebram.
   Alguns não entenderam ainda que é muito mais que protestar sobre o aumento de 20 centavos. Agora é a luta pelo direito de protestar. Essa é a gota d`água que faltava para o povo ir às ruas mostrar sua indignação contra construções superfaturadas de estádios para a Copa enquanto a educação está à míngua, enquanto não há leitos suficientes para doentes em estado grave. Queria aproveitar que esse humilde blog é lido em todos os continentes do mundo para que saibam que o Brasil vive um momento de retrocesso! Estamos voltando a perder direitos conquistados com muito suor, sangue e lágrimas. Direitos civis. 
   
    Como acontecerão grandes eventos esportivos e religiosos no País, a aprovação de projeto de Lei que define crime terrorista terá prioridade. Com os últimos acontecimentos do Movimento Passe Livre, a votação do projeto de Lei foi adiada para o dia 27 de junho. O parecer do relator-geral Romero Jucá (PMDB-RR) abre espaço para inclusão de movimentos sociais como terrrorista. O texto define como crime de terrorismo "provocar ou infundir pânico generalizado mediante ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à liberdade de pessoa por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico". Reivindicar seus direitos não pode ser considerado terrorismo. Isso parece anos 70, quando eu era criança e via na TV as chamadas contra os terroristas nacionais. Eram estudantes, eram guerrilheiros que protestavam para ter o direito de liberdade de expressão e de votar. Não era à toa que quando me  perguntavam o que eu queria ser quando crescer, respondia: "terrorista".  Meu pai me puxava de lado quando alguém vinha com essa questão e a menininha aqui nunca, jamais disse "professora ou médica". O protesto social no Brasil era visto como terrorismo e se deixar, voltará a ser. Segundo o projeto de Lei, a pena também aumenta se for praticado contra autoridades (presidente, senadores, deputados). Por que eles tem mais direitos do que o cidadão comum se estão lá para nos representar?
    Ontem prenderam o repórter Piero Locatelle, do site Carta Capital, porque portava vinagre! Aos que não tem conhecimento, esse ingrediente gastronômico protege contra gás lacrimogêneo. Também li críticas sobre manifestantes irem com os rostos cobertos. Ora, se você sabe que haverá policiais com ordem de atirar contra você com balas de borracha na cara, não iria proteger seu rosto? A repórter da Folha de São Paulo Giuliana Vellone não protegeu, e levou bala no olho. Trabalhando sério para a empresa que, em seu editorial matutino, pede mais segurança contra os "baderneiros". Ironicamente triste que uma funcionária sua tenha sofrido "sem fazer baderna". Outro jornalista, Pedrão Ribeiro Nogueira foi espancado. O fotógrafo Fernando Borges, do site Terra, também foi detido para averiguação. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, corre o risco de perder a visão após levar tiro de borracha no olho. Segue internado no Hospital Nove de Julho, com apenas 5% de chances de continuar enxergando. Um fotógrafo cego! Exercendo sua profissão!
   A professora Maria Carvalho, saindo da igreja da Consolação, misturando-se por acaso com os manifestantes, também levou bala de borracha na cara! O amigo do filho do meu amigo levou sete (!) tiros no tórax e estava internado com  parada respiratória. Senti muita saudade das minhas coberturas como repórter, não porque quisesse ser detida ou levar bala na cara, mas porque fiquei sabendo dessas histórias em casa. Imaginem quantas mais aconteceram entre os milhares de manifestantes na avenida Paulista.
    A jornalista Barbara Gancia, em excelente texto escrito com indignação de quem vê sua colega sendo baleada por PMs, disse que agora estão "acelerando o processo e matando o jornalismo a tiros". Muito mais que assustador tudo isso. Pior é ainda ver tanta gente concordando com a truculência da PM, com o Governo... aliás, onde estavam mesmo o governador Alckmin (PSDB) e o prefeito Haddad (PT)? Em Paris.
    Não, não são os 20 centavos. Isso é o começo de algo maior que  precisa acontecer para mudar esse País. Não dá mais para viver no meio dessa corrupção, ficar a mercê de sistemas falidos. Eu, particularmente, tenho minha vida arrasada pelo Judiciário. No coletivo vejo gente morrendo por falta de internação e tratamentos corretos, professores desmotivados porque, afinal, como ter motivação com salário de fome?  Que futuro terá um País com profissionais semianalfabetos? 
     Hoje já me disseram para aceitar que dói menos. Não, não dói menos. A indignação é necessária. Só vou parar de me indignar quando houver igualdade e justiça ou estiver morta. Sinto raiva, muita raiva, mas uma raiva que move e  não me deixa procrastinada. Não podemos deixar que a ditadura volte travestida de segurança pública.

2 comentários:

  1. Adri sempre leio seu blog (que até te chamo de Adri rs) e choro ao ler essas notícias, é devastador saber que os políticos se importam com qualquer coisa menos com a gente que o colocamos eles lá. A polícia com certeza foi treinada pra fazer isso, pra o povo ficar com medo e não querer fazer isso na Copa e não passar vergonha para o mundo. E o pior é gente ainda defendendo essas coisas horríveis.

    Quando alguem luta por algo bom eh chamado de tudo de ruim no mundo, e os que desviam bilhoes para as obras da copa fica todo mundo calaaaado....

    Me enche de vergonha de saber que um projeto de lei tão importante (no quesito de que pode mudar mto a nossa vida) depende do Jucá que é politico do meu estado. (Não é de nascença ams ja o tomei como meu) E como eu sei que ele é horrivel, como enche o nosso povo de mentiras e baboseiras.

    Pessoal acha ruim reclamar de 20 centavos, então vamos reclamar de algo grande que tal as viagens para o exterior dos politicos? Não? Ninguem né.... Impressionante como o pessoal gosta de encher a boca de hipocrisia ¬¬

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    1. Natasha querida,

      Pode me chamar de Adri, Dri, como quiser. Te chamo de querida porque adorei o que vc escreveu e é bom saber que esse político não representa todo o Estado! Obrigada por ler o que escrevo e compartilhar dessas ideias "subversivas" e "revolucionárias", como se Justiça e Igualdade fosse algo tão distante de ser alcançado...

      Grande beijo!

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