terça-feira, 11 de junho de 2013

O Fim do Jornalismo Estará Próximo?

    O clima está muito tenso entre meus colegas de profissão. Demissões em massa nos maiores jornais de São Paulo, o fechamento do Jornal da Tarde e agora rumores de que a Editora Abril irá fechar as revistas Playboy, Contigo e Capricho está nos deixando ansiosos, preocupados e até desesperados. Ouvi dia desses que, se nem revista de fofoca e mulher pelada consegue mais vender, será mesmo o nosso fim. Piadas deixadas de lado, tenho lido muitos textos analisando a situação. Há tempos a notícia é conseguida pelo telefone, depois por email... da nova geração são poucos os que vão investigar com profundidade, ouvindo os quatro lados da notícia. 
   Acho que hoje mesmo li um  texto do meu querido Rafael Guelta, com quem muito aprendi no Diário do Grande ABC, não só pela qualidade do seu texto, mas pela contundência de seus questionamentos, sobre a nova linguagem a que nos adaptamos (ah, o ser humano sempre tão adaptável). "Não se usa mais ler e sim seguir, a maioria não lê mais a Folha de São Paulo, mas a segue", ponderou Rafa em seu texto. Além disso, ninguém lê mais como antes. Eu mesma, leitora compulsiva de livros, revistas, bulas de remédios, me pego lendo notícia pela internet, de preferência nos blogs opinativos de jornalistas nos quais confio. Até livros leio menos, muito menos do que gostaria.
   Dia desses, "conversando" por whatsapp com minha querida Mirela Tavares, também parceira no DGABC, fiquei triste, porque ela está tão desiludida e preocupada com o fim do jornalismo como o conhecemos que já  pensa em mudar de área. Isso é desolador, porque os bons jornalistas, os que apuram as informações, perfeccionistas nos textos, estão desistindo. Não é para menos. Todos os anos o mercado joga milhares de jovens ávidos por trabalhar 12 horas e ganhar uma merreca de salário para "conseguir experiência". Eu já fui essa jovem repórter, que varava noites, tomava um banho e voltava para a redação cheia de energia. Mas existia redação! Agora estão extinguindo-se.
    Há dois anos trabalhei com uma equipe mais jovem, com 10, 15 anos menos do que eu. Apesar de ser "moderninha", adorar tecnologias, me senti uma veterana master quando me perguntaram como eu fazia quando não tinha google. Ora, eu ligava para as pessoas, ia nos lugares. Também existia algo muito eficiente chamado pesquisa e outra qualidade que conquistamos na infância e adolescência, a formação. Agora é tão simples, vai lá no google ou wikipedia e consegue todas as informações. Será? Qual a veracidade dessas informações? Não dá para confiar assim em tudo que o Dr Google diz...
   Que o jornal impresso iria acabar eu já sabia desde o século passado, quando trabalhei no Palácio dos Bandeirantes, na assessoria do Governador Mario Covas. Tinha um chefe que insistia em mandar fazer print de tudo. Trabalhávamos em rede, era só mandar o texto para olhar na tela, mas ele gostava de ler no papel, rabiscar com caneta. Eu achava isso tão antigo e começava com meu discurso verde de que "assim seus netos nunca irão subir em árvores". Acho meio besta gastar papel para tudo, já que temos a correção na tela. O jornal grandão também é incômodo de ler, além da minha alergia não permitir que eu folheie mais que quatro páginas. E também, as matérias foram ficando cada vez mais supérfluas, com textos tão óbvios quanto chatos. Claro que existem exceções, que só confirmam a regra. Mas seria o fim do jornalismo ou apenas do jornal? Estaremos todos fadados a trabalhar em assessoria de imprensa? Para qual imprensa trabalharemos?

    Não acho que o jornalismo irá acabar. Mas sim a profissão como a conheci, como a idealizei. O romantismo de mudar o mundo já não existe nem em mim, nem nos jovens jornalistas, mal consigo mudar o meu mundo, não consigo sair de um sistema lento e corrupto no qual me embrenhei. Se penso em ir na Corregedoria denunciar um juiz que estourou 7 meses seu prazo para despacho, escuto da advogada que será  pior para mim, pois o magistrado ficará com raiva e não sentenciará a meu favor. Então, tenho que me calar em meu problema pessoal e tentar resolver os problemas alheios, como imaginei ser a profissão de jornalista, sempre pensando no bem coletivo, nas denúncias, na divulgação da arte e do esporte. A gente cresce e percebe que não é bem assim. Percebe que aprofundar-se é para poucos. E que essa categoria, dos jornalistas, sempre lutou por causas alheias, mas fica passivo diante de tantas demissões em massa, na sua causa própria. E me incluo nessa.

4 comentários:

  1. "O romantismo de mudar o mundo já não existe nem em mim, nem nos jovens jornalistas, mal consigo mudar o meu mundo..."
    Infelizmente,Dri querida,o romantismo de mudar o mundo acho que não existe mais em nenhuma profissão.É uma pena...

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    1. Pior é não ver esse romantismo na juventude, pq a rebeldia faz parte do crescimento, da adolescência... saudades...

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  2. Até bem "pouco" tempo atrás poderíamos mudar o mundo...quem roubou nossa coragem???

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    1. É que "tudo é dor e toda dor, vem do desejo de não sentirmos dor"... o bom do Legião Urbana é que tem sempre uma canção pra dizer o que a gente sente...

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