segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Somos Demasiadamente Humanas

Dia desses tive uma surpresa que me deixou muito emocionada. Era uma declaração de amizade da minha querida Kátia Cândido, uma amiga que tenho desde o primário. Na mensagem diz estar triste por saber como me sinto porque isso é tão ela e, resumidamente, lembra de como eu contava histórias incríveis dos meus finais de semana, sempre viajando e competindo, diz que alcançou minha intelectualidade. Considerava-se uma suburbana e meu mundo era diferente. Acontece que eu também vivia no subúrbio e estudava na mesma escola municipal Dr Napoleão Rodrigues Laureano, na periferia do Guarujá, que, para minha sorte, tinha uma piscina de 25 metros e que me fez conquistar muitas aventuras no braço, conhecer lugares nas pernadas e ampliar meu leque de amizades eternas. Talvez Kátia não enxergasse o seu real valor e visse em mim uma coragem que não percebia nela. Ou então não tivesse minha cara de pau de meter o bedelho em tudo e ir até para onde não era chamada. Já era o estereótipo da jornalista. Tagarelávamos muito e não consigo somar os tantos professores que nos repreenderam. Eu só podia contar tanta história para quem estivesse disposto a ouvi-las. Acho que é uma forma de vivenciar também. O seu riso era sempre largo, de fechar os olhos, seus cabelos eram castanhos, lisos e brilhantes (que adorava, já que os meus eram esverdeados e secos do cloro), uma pinta linda sobre os lábios e, assim como eu, também usava óculos e sentava na frente. Assim como eu, também via no conhecimento uma forma de superar a renda baixa e melhorar a qualidade de vida. Nunca quisemos muitos bens materiais, éramos duas idealistas com vontade de mudar as coisas erradas e injustas do mundo. A Kátia era tão chorona quanto risonha. Eu tentava ser mais dura, mas também era uma sentimental sensível. Para completar meu dia emotivo, um sábado no meio do feriado, outra amiga da infância, Silvana Borghi, escreveu que éramos suas "ídolas", fofas, inteligentes. Escreveu também que eu estava a frente do meu tempo, que tinha aparência comum, mas um brilho que me destacava. Isso me fez chorar muito. Porque realmente eu já brigava com quem fizesse bullying, sem nem saber o que era isso. Não existia o politicamente correto, mas eu era contra qualquer forma de racismo e machismo. Eu tinha 12 anos e já achava um absurdo criticarem as meninas beijoqueiras da escola ou que usassem saias curtas. Silvana era tão inteligente e observadora e menos falante do que nós. O que me faz constatar que formávamos uma turma mesmo especial. Não foi fácil crescer nos anos 80. Saímos da ditadura para as Diretas , era uma época de garoto usar brinco e deixar o cabelo crescer e garota tosar o cabelo e usar ombreiras. A liberdade comportamental de hoje, iniciamos há 30 anos. Em 2005, quando perdi a guarda da minha filha, fiquei tão perdida. Não imaginava isso ser possível, não comigo, alguém que amava, educava, cuidava tão bem da filha, que trabalhava, não usava drogas. E porque era mãe. Não tinha conhecimento de mãe perder a guarda de filho, a não ser quando jogava criança da ponte ou tentava matar. Foi um período tão conturbado que não consigo lembrar como Kátia Cândido voltou para minha vida, tão madura, linda, advogada. Me deu assistência emocional e jurídica, me fez entender com sua paciência didática como aquilo era possível. Talvez essa mulher tão sensível sofra tanto porque escolheu uma carreira para acabar com a injustiça, mas, assim como eu, percebeu que é batalha inglória e nunca seremos vencedoras. Não vejo mais o meu brilho, nem nos olhos. O brilho talvez viesse porque tudo que eu fazia e dizia, acreditava apaixonadamente. Me falta paixão na vida, talvez porque seja difícil acreditar em qualquer coisa. Me sinto muito fracassada, percebo agora que havia muita expectativa na minha pessoa, de todos os lados. Sou uma promessa que não se cumpriu. Sempre quis fazer algo maior do que eu, mas nunca consegui. Nunca coloquei meus sonhos e realizações em outra pessoa, sempre quis fazer eu mesma, quem quisesse, fosse junto, seria ótimo, mas sempre me bastei e agora não me basto mais. Me falta perspectiva e esperança, pois não espero mais nada, tem vezes que acordo só querendo que o dia termine. Kátia Cristina Cândido talvez nem imagine o quanto é parecida comigo. E de novo só consigo escrever em HTML e fica tudo assim confuso...

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