terça-feira, 19 de agosto de 2014

Embargos Declaratórios

   Tento, tento muito não escrever mais sobre o processo, mas daí é tanto email, tanta mãe pedindo auxílio que me sinto no dever de elucidar mistérios do judiciário brasileiro. Queria escrever mais sobre todas as coisas porque fico um tempo sem entrar aqui e vejo que tenho mais e mais gente de todos os cantos lendo o que escrevo (certo ou não, concordando ou não). A vida tem me dado muitas surpresas boas e deveria escrever todos os dias sobre isso. Mais do que vaidade intelectual, escrever é um ato meio desesperado, quando não aguento mais guardar comigo tanta informação e sentimento, preciso mesmo escrever.
   Minha advogada, que parece minha irmã mais velha porque briga comigo, me conforta, me ajuda, briga de novo, não quer que eu escreva sobre o processo e sei que está certa, diz que não ganho nada com isso e sei que pode estar certa. Já perdi tanto e não quero que outros também percam. No que puder evitar que ex casais acabem com a infância de seus filhos, evitarei. 
   Na sentença de 32 laudas o juiz me vê como uma pessoa vingativa e a outra parte como traumatizada, o juiz entende o trauma da outra parte, mas não concorda que duas vítimas continuem sofrendo. As vítimas são as irmãs separadas, Dora e Miranda. Isso me confortou muito. O juiz sabe que Miranda existe e é a que menos culpa tem em tudo isso e talvez seja quem mais sofre. O amor que ela tem pela irmã chega a me doer. O que uma perde da outra dói demais em mim. E acreditem, mesmo com a sentença publicada em 26 de junho, ainda não vi minha filha. É que os advogados da outra parte entraram com um recurso chamado Embargos Declaratórios. Traduzindo o "juridiquês", pedem para o juiz explicar melhor, pois não entenderam o sistema de visitas e ainda o chamam de omisso. Ninguém gosta de ser chamado de omisso, muito menos alguém com plenos poderes sobre a vida dos outros.
   Não sei quanto tempo isso ainda vai durar, mas sinto que será pouco tempo. Sinto estar cada vez mais próxima da minha filha, apesar de todo o tempo e distância. Talvez esse meu jeito meio adolescente de ser me aproxime mais dela. Talvez a música, a literatura, nossas bandas preferidas, os amigos em comum. 

    Daí eu tinha escrito isso aí em cima e o juiz, que poderia demorar, no mínimo, 2 meses para responder aos Embargos Declaratórios, respondeu em menos de um. Talvez agora esteja percebendo que "o vingador" está do outro e o trauma também é meu. Mesmo assim a outra parte agora entrou com agravo de liminar, no Ministério Público.
    Sei lá, deve ser muito triste viver uma vida procurando brechas da Justiça, achando que está ganhando quando todos estão perdendo. Deve ser muito vazia e sem amor a vida de pessoas que agem assim. Nem sinto mais raiva, chego a sentir pena. E nem sinto pena das minhas filhas porque continuam sãs, inteligentes e lindas. Tenho pena da pequenez humana, da falta de respeito com a efemeridade da vida. Prometo que escreverei mais vezes e vou buscar inspiração no que há de bom e construtivo. Mas continuo desejando que haja uma reforma judiciária com a máxima urgência nesse País. Continuo desejando um mundo melhor e sem guerra, mesmo sabendo que não sou capaz nem de resolver um conflito pessoal. A guerra dos outros sempre parece menos bélica que a nossa. Nunca é.