domingo, 9 de agosto de 2015

O Sol Dentro de Mim

   Sempre me viram como uma pessoa ensolarada. Desde pequena na praia, na piscina, cabelos dourados, pele bronzeada e sorriso no rosto. Mas por dentro eu era como uma música do Violeta de Outono: "nada explicará meu sentimento, está em meu coração o frio do outono". Se por fora eu era verão, por dentro tinha um inverno que não acabava. Nunca consegui expressar muito bem o que sentia falando, por isso comecei a escrever. Muito, muito cedo. Escrever sempre foi um jeito de não enlouquecer, de não morrer.
   Nos relacionamentos não foi diferente. Até hoje tenho uma dificuldade danada em começar e em terminar. Porque nada é para sempre, sabemos. Espero que o outro termine, muitas vezes até peço que me deixe, mas não consigo explicar o porquê. Parece que quero antecipar o sofrimento. 

   Na adolescência tive uma história complexa. Eu amava o garoto, mas não conseguia dizer isso. Achava que era cedo demais. Comigo ele era apaixonado, espirituoso, na sociedade era um playboy que nada tinha a ver com a minha pessoa. Queria ficar com ele sem ninguém por perto. Terminamos de forma conflituosa, ele achando que o tinha traído, ficamos sem nos falar por anos, décadas. Nos dois anos que se seguiram após o término, sempre que podia, deixava uma carta (não havia celular, nem internet) na portaria do prédio dele. Escrevia o que sentia, o que pensava sobre as atitudes infantis dele, sobre a saudade que me acometia sem trégua, da minha mania de não falar de amor quase nada, da falta dolorosa primeiro do corpo, do cheiro, depois das conversas, da amizade. De como ele tirou o inverno de dentro de mim. 
   Foram dois anos sem conseguir esquecer aquele amor, mesmo namorando outro. Ainda bem que o destino maravilhoso nos reuniu novamente. Agora sabemos dizer o que sentimos e podemos rir da nossa juventude rebelde. E pensar no que poderia ter sido e não foi. Nem nunca será. 
   
    Daí quase 30 anos depois me vejo em situação parecida, inclusive com um homem do mesmo nome do tal garoto. Passei uns meses amando sem conseguir dizer que amava. Acho sempre muito precipitado sair dizendo que ama, parece exagero, pode espantar a pessoa. Mas ao mesmo tempo acho que o amor é assim, inesperado, inexplicável, acontece rápido, não é uma coisa que ficamos esperando que aconteça. Eu também sabia que ia acabar e me faltou coragem para acabar antes que acabasse. Depois quis dizer muitas coisas sobre as atitudes dele, repetitivas, egocêntricas, tal como o garoto da adolescência. Comecei a achar tantas similaridades além do nome. Parecia uma repetição. Embora sejam extremamente diferentes. Não gosto de comparações, não gosto de ser comparada com as ex. Não gosto de histórias de ex.
    Mas conforme a idade passa nossas histórias aumentam, não dá para negar o passado. Por um motivo que não sei, meus ex não me esquecem, porque foi bom demais ou ruim demais, tenho receio das respostas. Mas sei que demorei muito para amar de novo. E por mais que surjam novas pessoas, descomplicadas, de corpo sarado, sei que o amor é algo raro. Não adianta ficar com alguém para esperar que surja o amor. Nunca é assim.
     O que concluo é que por mais que a idade pese, o coração ainda é uma criança de alma pura, que enxerga mais fundo e além. Não escolhemos quem amamos, jamais escolheremos. Hoje pareço mais inverno, mas tenho um Sol que brilha o tempo todo dentro de mim. Estou num conflito tão grande entre razão e coração que mal posso dormir. Não haverá vencedor, preciso encontrar enfim um equilíbrio entre essa mente calculista e esse coração passional. E quanto mais amadurecemos, mais difícil se entregar para o amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A Magia do Lugar e das Pessoas

   Tanto aconteceu nesses 2 meses que não escrevo por aqui e não tem muito por onde começar a não ser pelo fim. Passei férias com minhas filhas e, ao contrário da última temporada trágica em Boiçucanga (litoral norte de SP), desta vez deu tudo mais que certo. Não gosto de carregar traumas e voltamos ao mesmo lugar, porque tinha certeza de que seria diferente.
   O principal foi encontrar todos os amigos e, mesmo tendo passado anos, perceber que nada mudou. Quando vi Laurinha, Serena e JoJo abraçando Dora com toda a força, me deu vontade de chorar. São amigas desde os 2 anos de idade. A primeira foi a Laurinha, o abraço com olhos fechados, longo, apertado, me encheu de lágrimas nos olhos. Serena, filha dos queridos Alê Poveda e Luciana Mesquita, amiga de Dora desde os tempos das nossas barrigas de grávida, primeira amiga a dormir na casa, o grude de infância... estava igual. Dora dormiu  na casa dela e na de JoJo (Joana, filha da Pri e Fábio) e adorou tudo. Lembro bem quando eu tinha 13 anos e tudo o que eu queria era ficar até de madrugada conversando com minhas amigas.
   Ficamos na casa da Myrian Bemerghi, minha amiga do surf, linda, guerreira, espirituosa e sempre de boa com a vida, filha da querida Renata Melo, que não pude ver porque estava se tratando em São Paulo. My é mãe da espertíssima Ana Lys, que Miranda adorou e brincou. Me deu um baque danado passar esses dias em Boiçucanga, um lugar mágico, que faz parte da minha vida desde sempre, que meu pai me levava para passear, que comprou um terreno grande em que construí uma casa do jeito que queria. Lá, onde passei férias e feriados com amigos de todos as partes do mundo. Ainda acho que voltarei para lá, quando as crias crescerem e eu passar parte das minha noites escrevendo livros e parte dos dias nadando naquele mar maravilhoso. E quem sabe, acompanhada de um grande amor na terceira idade.

    O que mais surpreende é que encontramos todos que queríamos sem marcar. Eu até tinha mandado mensagem para o Duda, pai de Tomás e Thales e marido da Camila Carrasco, que estava em Londrina. Não precisei marcar nada, nos encontramos na rua, enquanto ia para a praia com os dois filhos lindos, loiros e bronzeados. Dora e Tomás eram grudados na infância. Miranda adorou o Thales, virou fã do menino de 8 anos (que é mesmo encantador). Pensei que meu esperado encontro com a Camila fosse virar lenda, daí soube que ela voltou antes da hora. Estava no shopping com Dora e Miranda e ainda comentei, enquanto ia ao mercado: "Dora, fique atenta, a Camila pode passar aí a qualquer momento". E passou! Com Thales, a amiga Rafa (mais uma agregada no meu coração) e o filho José. Fomos todos para um bar pé na areia, ver o pôr-do-sol único daquela praia.

   E foi como se tivessemos tomado um café com bolo na tarde anterior. As histórias, afinidades, músicas, risadas... a felicidade está em momentos como esse, perpetuados na memória. Na mesma noite uma festa de aniversário, da Aline que eu não conhecia, na casa de outra pessoa incrível que tive o prazer de então conhecer. Casa linda, noite de lua prateada, fogueira e som dos "meninos" Alê, Fábio e Duda. Com direito a fogueira, com direito a conhecer um poeta na fogueira, que falou sobre ballet russo com Dora. E Miranda meio decepcionada porque "o filho dela não veio", referindo-se ao Thales, sua nova paixão.

   Em Santos não foi diferente, Dora e Maria Eduarda, filha da minha amiga de sempre, Simone Raia, passaram dias e noite conversando o tempo perdido. Maria é uma garota pra lá de inteligente e divertida, que estuda enquanto fala de guerras mundiais e teorias da conspiração e fim do mundo. Agora tornou-se fã da natação brasileira, assim como Dora, já que os nadadores são os caras mais bonitos do mundo. Fui ao cinema como sempre, várias vezes, ver todos esses filmões arrasta quarteirão. O último dos filmes que vimos foi o "terror" Sobrenatural, um dia antes de levar Dora, com Marcia Abad, minha amiga e companheira de filmes e livros e séries. Dublados que é uma porcaria, mas como é bom estar num cinema com Dora e suas amigas. Encontramos Raquel, sempre tão popular e com o sorrisão no rosto, filha do Fernando e da minha para sempre amada Claudia. O tempo não parou, mas a semente do amor e da amizade germinou. Nada será como antes, mas continuamos sendo o que sempre fomos, um peito aberto pronto para dar e receber.

   Nos dias de chuva ficávamos assistindo todos os jogos do Pan Americano, com o comentarista especialíssimo, Marcelo Santos, aquele amigo que poderia ser meu irmão. Dora estava com muita saudade dos comentários ácidos dele, que como bom educador, professor de Educação Física, explicava todas as regras de todos os jogos. Foram dias lindos, que antecipam os dias mais lindos que virão.