sábado, 12 de dezembro de 2015

Estudantes: Assim Nascem os Anarquistas

  No final de 2013 recebi um email de Mayara Queiroz, uma estudante que precisava defender o Anarquismo numa aula. Me disse que não sabia nada sobre o tema, estava perdida e chegou até minha pessoa por meio desse blog. A defesa seria como um tribunal, cada grupo defendendo um sistema político (presidencialismo, monarquia, parlamentarismo, socialismo, comunismo, capitalismo). Ela queria respostas minhas, o que achei interessante, já que não se contentava com googles e wikipedias da vida. Respondi o que pude, indiquei livros, autores e passei o contato de um amigo anarquista, Jonatas Nunes, que passou ainda mais informações.
   Eu disse ser um prazer disseminar ideais anarquistas. Mayara agradeceu: "Muito obrigada, o tribunal já acontecerá semana que vem e eu ando vendo uns filmes para me informar e tals, tudo o que souber e lembrar e puder me ajudar avise aqui, por favor". Uma semana depois recebi uma linda resposta:
  "Venho agradecê-los por toda a ajuda que me deram, a base e os ensinamentos. Sou muito grata e graças a vocês vencemos no tribunal! Arrasamos! Acabei com a vida daqueles que eram contra o anarquismo. Critiquei tão bem o capitalismo que não tinha como eles vencerem. Convenci muito bem o júri, me desconheci rsrs. Então, muito obrigada, gente!
 
  Fiquei muito emocionada, mais ainda quando soube que era uma garota de 16 anos, ainda no colegial. Nem tinha perguntado nada, pois "deduzi" que era estudante de Direito, pelas perguntas, por como escrevia bem. Me deu muita esperança porque ela disse que todo o grupo virou anarquista e os outros grupos se interessaram pelos livros e filmes que viram.
  Estava há 2 anos para escrever sobre esse acontecido, mas fui deixando, deixando e agora parece ser muito pertinente o assunto. A maioria das pessoas pensa que anarquia é bagunça, é vandalismo e em momentos como o que vivemos, com a ocupação dos estudantes nas escolas paulistas, o que mais escuto é que estão fazendo uma anarquia, mas no sentido pejorativo. Sim, esses jovens estudantes estão em um sistema anárquico ocupando as escolas. Eles estão dividindo tarefas, cozinhando, limpando, fazendo leituras, dormindo, acordando de forma anárquica, organizada.
   Pacificamente estão lutando contra o opressor, no caso o Governo do Estado de São Paulo, que impôs uma "reorganização" fechando quase 100 escolas. O Governo pensava que essa garotada era alienada e iria aceitar facilmente ser transferida para escolas geograficamente distantes, causando transtorno diário na família toda e até causando o abandono escolar. É muito antagonismo querer reorganizar fechando escolas ao invés de construir escolas novas. Os alunos conseguiram em um mês o que a APEOSP (Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo) não conseguiu em 20 anos: negociar e vencer a negociação com o Estado. E ainda tem gente que chama esse movimento estudantil, a mais revolucionária manifestação no Brasil neste início de século, de baderneia anarquista. Sendo que uma coisa nada tem a ver com outra.
    O mais sensato a fazer é mandar quem não entende nada de anarquia estudar um pouco de história. Seria capaz de escrever um tratado sobre anarquismo, mas vou apenas em um ponto, deste sistema que chegou ao Brasil no final do século XIX, pelos imigrantes europeus, principalmente os italianos. Primeiro uma definição simples sobre o que significa anarquia, que é a"ausência de governo". Representa o estado da sociedade ideal em que o bem comum resultaria da coerência entre os interesses de cada um. A anarquia é contra a divisão em classes e toda a espécie de opressão de uns sobre os outros. O anarquismo rejeita o poder estatal e acredita que a convivência entre os seres humanos pode ser determinada pela vontade e razão de cada um. E o ponto que quero chegar é sobre a Educação Libertária proposta pelos anarquistas, que consideram a educação uma maneira de emancipação do indivíduo e dessa forma pode nascer a base de uma nova sociedade. E é justamente essa emancipação que não interessa aos políticos e governos. Quanto mais sabemos, mais questionamos.
   Parece utopia? Sim, parece. Mas esses estudantes paulistas estão provando que não. Eles podem ser os donos das suas escolas, lutar contra o Estado opressor, que não media balas de chumbo e spray de pimenta contra esses meninos. A coisa estava ficando tão violenta que logo haveria um mártir assassinado por algum policial militar do Governo paulista. Ainda bem que o apoio dos pais, sociedade e Jornalistas Livres mostraram o que estava realmente acontecendo. Minha esperança nasceu em Mayara e continua agora nos milhares de jovens nas escolas.