sexta-feira, 29 de abril de 2016

Ativismo por Igualdade - Amor por Direito

    O cinema sempre foi um refúgio. Onde entro em outra história que não as minhas. Uma espécie de meditação, em que fico no presente por duas horas ou mais, parada, mas acompanhando um movimento exterior que não está acontecendo. Foi montado para acontecer daquele jeito.
   Cinema é programa que dá para fazer sozinho. Mas companhias de amigos cinéfilos (tanto ou mais do que eu), namorados (é um requisito) são sempre boas. Gosto de falar e escrever sobre filmes e ouvir outras opiniões. Decidindo com um grande companheiro de cinema (e de tantas outras maravilhas e desventuras da vida), Gustavo Liedtke, um entre tantos para ver, optamos por Amor por Direito (Freeheld). Um amor lésbico, mesmo sabendo que uma das mulheres tem câncer, parecia leve e condizente com esse momento de lutar para manter direitos adquiridos. 
    Baseado em uma história real, o filme conta a história de Laurel Hester (Julianne Moore), uma policial diagnosticada com uma doença terminal, que luta para assegurar à companheira, Stacie Andree (Ellen Page) os benefícios de sua pensão. Mesmo morrendo, a policial ia em reuniões do Condado da cidade, para pedir que aprovem esse direito. A Comissão do Condado era responsável pela votação, já que as duas não eram casadas, tinham "apenas" união estável, não havia casamento gay. O fato, ocorrido em New Jersey, no começo deste século, foi uma bola de neve que mudou a Lei sobre casamento homossexual nos Estados Unidos.
   A obra já vale pela sempre maravilhosa Julianne Moore e por Ellen Page, atriz ativista e ícone  da causa GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Trans). Ambas estão incríveis. Mas este filme deveria ser visto por todos os homofóbicos e para os que não tem opinião formada sobre união gay. Também por ativistas de causas diversas. 
    Pense numa mulher policial. Sua luta contra o machismo é diária. Ela precisa ser muito melhor do que a média para ser reconhecida. Pense que essa mulher é homossexual e esconde isso de todos. Na maturidade encontra o grande amor numa jovem mecânica. Temos aí mais um ingrediente para o preconceito: a diferença de idade.
    Se for duro demais ver beijo entre mulheres, ultrapasse as poucas cenas de olhos fechados e veja apenas duas pessoas que amam ficar e viver juntas. E que projetam e realizam sonhos. E que uma dessas duas pessoas está morrendo e quer deixar sua pensão para a outra, com quem está, de fato (mas não de direito) casada, como todos os funcionários públicos fazem. Mas precisa de votos e de Lei. E essa mulher nem era ativista e nem queria que o mundo soubesse que era gay.
    Então entram no filme personagens secundários que poderiam ser qualquer um de nós:
 - O policial hetero, branco e ateu, apoiador da causa, que nunca havia imaginado que sua parceira fosse gay e que não muda em nada a amizade e admiração que sempre nutriu por ela. 
 - O jornalista judeu e ativista gay, que convence o casal a levantar a bandeira da causa e mostra o quanto isso é muito maior do que uma pensão. Pode ser a mudança de um sistema.
- O político que sente-se envergonhado em votar contra e mal pode olhar na cara da filha, enojada pela postura do pai. A mudança que esse provoca lentamente nos demais.
- O jovem policial gay que resolve sair do armário para apoiar a colega.
- O chefe que tenta ser imparcial.
     Foi bastante emblemático ter visto esse filme com Gustavo, um ativista gay. Nesse País assumir ser homossexual já é ativismo. Mostrar em redes sociais, denunciar homofobia, falar abertamente sobre homossexualidade, querer direitos iguais e respeito é considerado petulância, arrogância. Um filme sobre direitos conquistados que não podem ser tirados é essencial em tempos de retrocesso político e avanço conservador.

   Sobretudo é um convite ao ativismo. As cenas que mais emocionaram foram as que personagens tomaram posição. Mostra a importância de lutarmos pelos direitos civis e humanos. Você não precisa ser gay para apoiar o casamento gay. Você só precisa ser justo.

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