terça-feira, 17 de maio de 2016

De Cara Desfigurada e Atendida pelo SUS (que vai acabar)

  Na última quinta-feira tudo amanheceu estranho. Liguei a TV às 6h30 e vi que o presidente interino era Michel Temer. O dia foi todo muito esquisito. Não entendia os que comemoravam. Qual o motivo da alegria? A saída de Dilma? Sim, só pode, porque o fim da corrupção nesse País está muito, mas muito longe.
   O dia seguiu triste e no final dele, chegando ao Terminal Princesa Isabel, em São Paulo, louca para tomar um banho e ver as notícias do dia, levanto do banco e o motorista, que corria alucinado para chegar em casa logo, brecou bruscamente e fui de cara no ferro. Caí na hora e não enxergava nada. Os cortes na cabeça cobriram meu olho de sangue e o cabelo grudou no rosto. Também não conseguia falar, pois a pancada me deixou atordoada. Fazia sinal com a mão para dizer que estava consciente. Miranda, minha filha de 7 anos, chorava e não queria me ver, pois achou que eu tinha perdido um olho.
    Das pessoas que estavam no ônibus, três anjos me ajudaram. Uma garota de 14 anos brincou e tranquilizou Miranda. Seu irmão, de 17, ligou três vezes para o resgate. Só quando ele disse que eu continuava sangrando e minha pressão estava caindo, é que vieram. Entendo que uma cidade do tamanho de São Paulo tenha muitos chamados. E que alguns deles sejam desnecessários. Mas bati a cabeça, poderia ter um coágulo.
    O terceiro anjo foi Eliene, que ligou para a filha de 11 anos, explicou o ocorrido e que seguiria para o hospital comigo, já que eu estava com uma criança. O paramédico foi excelente e tranquilizador, a ambulância corria com sirene ligada e para Miranda foi mais uma história de aventura para contar.
     Fomos para o Hospital do Servidor Público, já que não tenho plano de saúde, afinal o SUS de Santos (que eu usava) é bem diferenciado (tem parceria com a Prefeitura) e não tenho doenças crônicas. E dificilmente contamos com acidentes, apesar de acontecerem o tempo todo.
     Me deram soro, quase desmaiei com as agulhas. Minha pressão não subia mais do que 9 por 5. A médica residente, cheia de boa vontade, me atendeu e me encaminhou para o Raio X. Aguardei imobilizada na maca, no corredor que, segundo as enfermeiras, nem estava cheio. Então chegou o médico chefe do plantão e disse que eu precisava de uma tomografia, já que a pancada foi na cabeça. Juro que pensei em pedir isso para a primeira médica, mas a cabeça doía tanto, que nem quis discutir a questão. E fiquei mais uma hora na maca aguardando, olhando para o teto e pensando em todas as séries médicas que já vi.
   Passava das 23 horas e após tentar falar com três enfermeiras para me ajudar ir ao banheiro, saí da maca em rebeldia e fui sozinha. O que mais me revoltou é que haviam três ambulâncias esperando macas para sair em socorro e eu repeti várias vezes que poderia ficar sentada, que levassem minha maca. Quando voltei do banheiro um enfermeiro veio ver o que aconteceu, o porquê de sair da maca e o porquê de não ter feito ainda a tomografia. Ora, esqueceram de encaminhar o papel!!
   Quando finalmente cheguei para fazer o exame, três profissionais aguardavam sem paciente nenhum, ou seja, fiquei mais de uma hora ocupando uma maca inutilmente! Percebi que o problema era mais organizacional do que propriamente falta de profissionais ou equipamentos.
   Quase fui embora sem os resultados, fui grossa com o médico, estava faminta, com dores no corpo todo e não achava minha filha, que já tinha sido devidamente alimentada e dormia no colo da mulher maravilhosa que me ajudou. Saímos de lá já era madrugada. O motorista do ônibus, o cobrador e o fiscal aguardavam no veículo para nos levar de volta. Não quis fazer B.O., não dava para ir numa delegacia àquele horário. Só disse para o motorista, triste de me ver desfigurada, que sua pressa em chegar acabou atrasando a vida de muita gente.
   Ainda tenho hematomas, não sinto mais dores e desinchei. Mas todos esses dias percebo como as pessoas me olham. Primeiro disfarçam, depois olham com piedade. Agora sei como sentem-se mulheres que são espancadas, que sofrem violência física. Domingo deu para passar maquiagem. Então me senti disfarçando, como mulheres que apanham fazem. Algumas vezes até expliquei o acontecido. Na escola da minha filha até pensaram que fiz cirurgia plástica!


O possível fim do SUS (Sistema Único de Saúde)

   Desde que o presidente interino assumiu são muitos os absurdos propostos. A cada dia fico mais estupefata, quando penso que não pode piorar, piora. Sobre o novo ministério não conter mulheres ou negros, ouço e leio por aí que não há importância. O importante é ter competência. Ora, num País onde mais de 50% da população é feminina e mais de 50% negro ou pardo, é uma chacota não achar nenhum representante negro ou feminino com competência. É dizer que mulheres e negros são inferiores. Que homens brancos são os mais competentes.
   Acabar com o Ministério da Cultura é uma afronta! Mas a mobilização já é grande e essa bomba relógio que transformou-se o Brasil está prestes a estourar. Vários artistas em vários Estados estão se mobilizando contra mais esse absurdo no governo interino.
   Mas com a experiência que passei ao quebrar a cara e parar no SUS de um grande hospital paulistano, saber que o recém-nomeado ministro da Saúde (um engenheiro, diga-se de passagem), Ricardo Barros (PP-PR), expôs a preocupação de que o País não sustente o acesso universal à saúde, me deixou ainda mais estarrecida. Barros disse também que terá de repactuar, como aconteceu na Grécia, onde cortaram as aposentadorias. Desolador saber que seguiremos o exemplo da Grécia. 
   A celeuma é a segunite: a União é obrigada a aplicar na saúde ao menos o mesmo valor do ano anterior, mais o percentual de variação do PIB (Produto Interno Bruto). Estados e municípios precisam investir 12% e 15%, respectivamente. Na educação, o governo federal deve gastar 18% do arrecadado e as outras esferas, 25%. Em seus tempos de vice, o presidente interino defendeu publicamente o fim dessa regra. 
   Mas se você pensa que é uma ideia absurda que nem vai vingar, saiba que já tramita uma proposta de emenda à Constituição de número 143/2015, aprovada em primeira votação no Senado. A PEC pretende estender aos Estados e municípios um direito que o Governo Federal já exerce com a DRU (Desvinculação de Receitas da União): o que permite que as gestões usem livremente 25% dos valores que teriam de aplicar compulsoriamente em saúde.

   Durante a hora na maca olhando para o teto, pratiquei a paciência. Não pude deixar de pensar que meu estado era transitório, mas que todas as pessoas ali, a maior parte de idosos, precisavam passar por aquela rotina de corredores, enfermeiras mal humoradas e rabugentas, médicos iniciantes que comem mosca, quase que diariamente. E agora penso que sem assistência médica gratuita, essas pessoas morrerão à míngua em seus pobres lares. Como pagar planos privados de saúde com um salário mínimo ou aposentadoria?
   Quando haverá uma revolta coletiva contra os altos salários de deputados e senadores, além de todos os benefícios? Como essa gente recebe auxílio moradia se já possui casa própria (mais de uma, claro)? Como um aposentado ou qualquer um que receba um salário mínimo consegue pagar aluguel?
    Eu tenho vontade de chorar e nem é porque quebrei a cara. 

2 comentários:

  1. Certamente o SUS não vai acabar, se cuida! Eu que acredito, agradeço a Deus por não ter te acontecido o pior. Logo logo você estará 100% linda novamente. Agora você já sabe o que passam as que não são lindas, eu nem sei. Apareça. Beijos!!!

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    1. Não é o que passam as "não lindas", mas o que passam as que ficam de olho roxo por apanhar de seus "companheiros"... de qualquer forma, minha sobrancelha ficou mais levantada... vai dar um charme a mais rsrs. Beijos

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