Estou
fazendo um curso no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo: Geopolítica e Grupos Terroristas. Quem me
conhece sabe que desde muito nova já lia tudo que podia sobre IRA e
Sendero Luminoso, sempre me interessaram os pequenos e grandes
conflitos políticos e religiosos. Não que goste das guerras, mas
porque elas existem desde que o mundo é mundo e o melhor jeito de
não ter guerra é evitá-la. Sei o quanto esse pensamento é utópico
também. Me resta estudar mais para entender e não sair por aí,
falando aleatoriamente, sobre minhas teorias, que podem parecer
bobagens.
Na última aula tivemos uma interessante palestra com Abdul Nasser,
da Aliança Nacional Islâmica. Tirando todo o machismo do pensamento
muçulmano, que respeita suas mulheres de véus, mas acha que sair
com blusa de alcinha e shorts rasgados é “não se dar ao respeito”
e “desperta” os instintos do estuprador, que sexo antes do
casamento é o que gera filhos sem pais (e não a irresponsabilidade
e soberania masculina, que deixa os filhos a mercê dos cuidados e
condições das mães “solteiras”, pois sabem que jamais serão
punidos ou cobrados), o Islã prega igualdade e compaixão. Por isso,
a partir de agora, denominarei o grupo terrorista Estado Islâmico de
ISIS, para evitar essa confusão e esse ódio generalizado ao Islã.
O ISIS se apoderou da bandeira do Islã, o que não significa que 1,6
bilhão de muçulmanos no mundo sejam coniventes. Muito ao contrário.
As comunidades islâmicas espalhadas pelo mundo tentam identificar e
combater possíveis terroristas. Como? Combatendo a desigualdade e
intolerância.
Uma frase simples e marcante de Abdul (um homem inteligente, radical
e sincero) foi: “A injustiça é o que gera o terrorismo”. Sim,
terrorismo não é feito apenas de homens bomba. Antes disso eles
foram crianças com casas bombardeadas, com famílias exterminadas,
moraram em acampamentos, foram doutrinados por extremistas (com
infância semelhante) e não conheceram outra vida que não fosse
guiada pela destruição e fúria. Quantos terroristas não podem
surgir a partir das crianças e jovens refugiados sírios?
Fazendo uma analogia com o caso das mães que perderam a guarda de
filhos. Após anos de batalha judicial em que perdemos também nossa
saúde, dinheiro e sanidade mental, sofrendo todos os tipos de
humilhações, penúrias e injustiças por parte do Poder Judiciário
(aquele que deveria defender, principalmente, o direito das
crianças), pensamos, algumas vezes em “tocar o terror” nos
fóruns. Sim, pensamos, mas o Brasil não é de cultura extremista e
nós, apesar dos pesares, pensamos nos inocentes que estão nos
fóruns: o pessoal do cafezinho, da faxina e o cidadão comum que
está lá tentando resolver seus problemas. Os demais envolvidos no
sistema são tudo, menos inocentes.
Por que existem feministas que odeiam os homens? Porque foram
humilhadas, violentadas, estupradas, encarceradas por homens. Sou uma
feminista que só quer igualdade de direitos. E me dói ver mulheres
tirando sarro do movimento, que “feminista quer direito igual, mas
não vai lá carregar um saco de cimento igual homem”, isso não é
só infantil e raso, é também imbecil. Nunca a mulher vai ter força
física igual a dos homens. Eu nado melhor e mais rápido do que
muitos homens. Mas me coloque ao lado de um nadador que tenha o mesmo
treinamento e ele será mais rápido do que eu. O feminicídio é
nosso terrorismo diário. Toda mulher tem (ou deveria ter) medo do
estupro. Pode ser evangélica, temente a deus, usar roupas que cubram
todo o corpo, ser idosa. O estuprador não vê diferença. Não
adianta castração química. O estupro está no cérebro, não no
corpo.
Não fugi do tema. No terrorismo do ISIS, da Al-Qaeda e em todos os
conflitos de maiores ou menores proporções, mulheres são
estupradas. Muitos filhos do estupro são novos terroristas em
potencial. Muitos são levados para crescerem como terroristas.
Muitos não conhecem outra forma de vida.
Dia desses escrevi a frase de Abdul numa rede social. Foi na
segunda-feira, quando as tropas iraquianas entraram em Mosul
(dominada pelo ISIS desde setembro de 2014) para combater os
terroristas. Perguntei quem mais lucra com mais essa guerra. Pensei,
principalmente, nos EUA e sua indústria bélica e seu interesse no
petróleo do Oriente Médio. Claro, existem mais países que fabricam
armas. Mas essa mania do Governo dos EUA sempre se meter nas guerras
dos outros e, desde o começo do ataque ao terror, estar sempre
perdendo as guerras, parece até de propósito. Não seria
interessante perder uma guerra para entrar em outra e assim continuar
vendendo suas armas?
Quando eu digo que os EUA estão sempre fabricando terroristas para
serem combatidos depois, não é coisa que surgiu da minha cabeça.
Ou melhor, surgiu, após muita leitura e análise. Desde que comecei
esse curso, muitos amigos indicam livros, emprestam livros, e quanto
mais leio, algumas certezas e muitas dúvidas aparecem. Num desses
livros, do correspondente Patrick Cockburn, há o e-mail de uma amiga
dele (síria, sunita), depois que seu bairro, em Mosul, foi
bombardeado pela aviação iraquiana. O jornalista deixa claro que
sua amiga tem todas as razões para não gostar do ISIS. Reescrevo a
mensagem na íntegra, pois mostra como os sunitas iraquianos passarão
a enxergar o governo de Bagdá:
“O bombardeio foi executado pelo governo. Os ataques visaram
bairros totalmente civis. Talvez desejassem atingir duas bases do
ISIS, mas nenhuma das rodadas de bombas acertou os alvos. Um dele é
uma casa, ligada a uma igreja, onde vivem homens do ISIS. Fica
próxima ao gerador do bairro e distante 200 a 300 metros de nossa
casa. O bombardeio apenas feriu civis e demoliu o gerador. Desde
ontem à noite, não temos mais eletricidade. Escrevo de um aparelho
na casa de minha irmã, que está vazia. O bombardeio do governo não
atingiu nenhum homem do ISIS. Acabo de ouvir de um parente que nos
visitou para saber que se estamos bem, depois daquela noite terrível,
que, em razão do bombardeio, jovens estão juntando-se ao ISIS, às
dezenas ou centenas, porque cresceu o ódio contra o governo, que não
se preocupa com a morte de sunitas. As forças do governo foram para
Amerli, uma vila xiita circundada por dezenas de vilas sunitas,
embora Amerli jamais tenha sido tomada pelo ISIS. As milícias do
governo atacaram as vilas sunitas que a circundavam, matando
centenas, com auxílio dos ataques norte-americanos”.
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