domingo, 25 de outubro de 2015

Dora e a Dança

  Quando minha filha aprendeu a andar, aos 11 meses, foi na ponta dos pés. Na hora pensei: “Vai ser bailarina!”. Não foi uma viagem de mãe que adora dança, que escrevia sobre dança em caderno de cultura, viu vários espetáculos dos melhores grupos do Brasil e do mundo (como eu gostava desse trabalho e ainda ser paga por isso!), que foi jurada por duas vezes no Prêmio Imprensa de Dança. Não era delírio, era apenas a identificação de uma vocação do espírito.
   Durante a gestação eu ouvia muito Mozart, para me acalmar quando sentia medo de perdê-la (tive uma gravidez de risco, com repouso absoluto), mas também porque li sobre inteligência intrauterina, que música clássica desenvolve o aprendizado do feto. Verdade ou não, Dora tem uma inteligência acima da média. E ouvir música clássica, certamente, não faz mal algum.
    Quando morávamos em Boiçucanga (litoral norte de SP), Dora começou a educação infantil na Escola Raízes. Pouco antes de fazer 3 anos, a bailarina Juliana Andrade, que acabara de sair do Ballet Stagium (de São Paulo) para viver uma vida simples na praia, me chamou pedindo para que colocasse Dora no ballet. “Ela corre na ponta dos pés. É uma bailarina nata!”. Concordei, mas disse que assim como eu também iria nadar, porque assim como meu pai, considero saber nadar uma questão de sobrevivência, ainda mais para quem vive na praia. “Isso é ótimo, futuramente poderá fazer nado sincronizado”, profetizou Juliana, já que Dora, posteriormente, fez nado sincronizado na Unimes, em Santos, e mandava muito bem!
     No período em que moramos em Paraty, coloquei numa aula de dança, mas era uma professora tão ruim, que mais brincava com as meninas do que ensinava. Então a tirei de lá, pois dança é como esporte, precisa de disciplina, treino e muito suor. Foi quando Dorinha aprendeu a nadar. Gostava muito das aulas, não faltava e pegou o jeito fácil, mas via nela a suavidade da bailarina clássica, não a força aliada à técnica e a competitividade de uma nadadora.
    Em Santos me pediu para fazer ballet novamente, queria dançar no Municipal, mas já havia passado o processo seletivo. Fomos tentar uma bolsa na Rosely Ballet. No dia do teste, Miranda tinha apenas 15 dias! Enquanto Dora ficava na sala com outras várias meninas fazendo a aula, eu amamentava minha pequena gigante. Então as mães foram chamadas ao tablado, todas no canto e as meninas ao centro. Rosely, a dona da escola de dança, perguntou: “Quem é a mãe dessa menina?”, apontando para Dora. Levantei a mão. “Parabéns! Ela será uma grande bailarina!”. Precisei soltar o ar para não flutuar de orgulho. E então Dora e Raquel, sua melhor amiga da classe, ingressaram juntas na mesma escola de dança. A junção dessa dupla fez crescer uma grande amizade entre as mães também, eu e Cláudia.
    Passaram um ano bailando com muita dedicação, a apresentação do final do ano foi linda. E então inscrevi Dora para o teste no Ballet Municipal de Santos. Passou! Ficou radiante, mas não tanto quanto eu. Eram mais de 400 meninas para 40 vagas! Aos 7 anos, Dora não tinha dimensão do que isso significava. Em menos de 2 meses no Municipal, recebo a ligação da coreografa, me pedindo para deixar Dora fazer parte do Corpo de Baile Infantil. Das 40 novatas, apenas duas foram  chamadas para o CBI. A maioria termina os 9 anos de Ballet sem nunca integrar o Corpo de Baile.
    No dia 10 de fevereiro de 2011, fomos ao Municipal, fazer a inscrição para o segundo ano. E ver que sua melhor amiga Raquel também tinha passado de primeira no teste. Foi tanta alegria. Mas nesse mesmo dia Dora foi levada para Ribeirão Preto (narro essa história no primeiro texto desse blog).
      O que me alivia é que em Ribeirão Preto, Dora continuou dando vazão à sua grande paixão. No ano passado ficou meio desmotivada, pois não participava de todos os festivais que desejava, já que muitas vezes não havia elenco. Mas no início deste ano, Dora, além de fazer clássico, sapateado e jazz, entrou para a dança contemporânea. Então formaram um quinteto lindo. Numa seletiva de um Festival em Ribeirão Preto, classificaram-se para o de Salto, ficaram em décimo oitavo lugar, entre 40 coreografias. Em julho fez um curso intensivo de dança em São Paulo. Isso mudou seu conceito e a fez querer dançar mais e mais.
   Quando estávamos de férias em julho, em Boiçucanga, chegou a chorar porque pensava que não dançariam bem em Salto. Disse para não pensar negativo, que era para dedicarem-se mais, limpar a coreografia, melhorar. “Nossa mãe, como você está otimista!”. “Não, minha filha, o otimista diria: imagina, vai dar tudo certo. O pessimista diria: não vamos conseguir. O realista analisa o que foi dito e faz o que tem de fazer”. Daí ela se acalmou. E as cinco meninas ensaiaram e melhoraram muito. No Festival de Salto eram quase 500 coreografias, as três primeiras coreografias classificadas estariam automaticamente selecionadas para o Festival de Los Angeles, no ano que vem. Dora também dançou o sapateado, uma coreografia linda, chamada Chaplin. Teve pouco mais de um mês para ensaiar. Resumindo a ópera, minha talentosa filha está no quinteto de contemporânea, no clássico e no sapateado. Estará no palco de Los Angeles por três vezes, dançando, que é sua grande vocação desde sempre! Como é lindo saber do que mais gosta tão nova.
    No dia do resultado me ligou exultante, radiante. Talvez eu não tenha conseguido expressar o tamanho da minha satisfação. Agora, essas meninas lindas e dedicadas, além de aulas e ensaios seis vezes por semana, também estão atrás de dinheiro para a viagem, inscrição e estadia. Sei que irão conseguir, porque a motivação é grande. Do meu lado, ajudarei no que puder e até no que não puder. Felizmente, as coisas estão melhorando para mim no lado financeiro. Dizem que o dinheiro não compra felicidade, mas acho que manda trazer. Como me disse Miranda dia desses: “Mãe, nada é impossível”. Começo a acreditar que nada mesmo é. Somos nós que criamos no pensamento o nosso destino. E tenho certeza que daqui para frente o meu destino e das minhas filhas será de muita união, realização e felicidade.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Outubro das Minhas Rosas

    O mês de outubro sempre foi de festa para mim. Duas pessoas maravilhosas nasceram nesse mês: minha eterna amiga Claudia Figueiredo e minha maravilhosa prima e amiga Keila Gonçalves. Ambas se foram também no mesmo ano: 2013. E posso garantir que não há um dia que não lembre dessas queridas. Também foram levadas pela mesma doença. Coincidência ou não, nasceram no mês do Outubro Rosa.
   Sim, mulheres, temos de nos prevenir, nos cuidar, temos de lutar sempre para continuar seguindo saudáveis. E se acontecer um câncer na vida da gente, seja no nosso corpo ou no corpo de quem amamos, devemos continuar lutando, continuar amando. Não é fácil para quem está do lado, mas é muito mais difícil para quem passa pelo tratamento. Não é fácil viver com quem está morrendo, mas é mais difícil para quem sabe que tem pouco tempo. 
   A verdade é que estamos todos morrendo um pouco a cada dia, mas vivemos como se a morte nunca fosse chegar. Muitos passam a vida correndo atrás de dinheiro, estabilidade, fortunas e perdem momentos de amor, de comunhão, do que realmente vale na curta vida. Sim, a vida é absurdamente curta, mesmo que fiquemos nesse planeta por 100 anos, ainda é muito pouco.
    E como ouvi esses dias, "já que a minha vida é curta, não quero que seja banal, nem pequena". Quero uma vida de amor, de amigos, de sensações profundas, de aprendizado. Quero ser importante para quem importa para mim. E olha que me importo com pessoas que nem conheço. Quero ser importada para o coração das pessoas, assim como levo no meu coração todas as pessoas que amo (e são tantas).
     Tem muita conta para pagar? Todos tem, inclusive os mais ricos, quanto mais dinheiro, mais conta, sei bem disso porque já estive dos dois lados (dos endinheirados e dos sem dinheiro). Seu grande amor não lhe quer mais? Não era tão grande assim e tem tanta pessoa linda no mundo para conhecer. O amor é maravilhoso, quanto mais você tem, mais você recebe. Não consegue realizar seu grande sonho? Perceba quantas pequenas dádivas acontecem enquanto você tenta alcançar seu objetivo. A vitória pode estar no caminho e não na conquista. E se a angústia da dúvida apertar seu coração, olha o mar. E se você não mora na praia, olha a montanha. E se os prédios não te deixam ver a paisagem, olha para o céu, mesmo com poluição e nuvens, imagine que o Sol está sempre lá brilhando. Os grandes amigos reconhecemos no sorriso. Os grandes amores sentimos no abraço. A grande paz que procuramos está em nós mesmos. 
    Queria ter braços maiores, ser mais forte. Queria ter um sorriso mais largo que convidasse sempre à felicidade. Queria ter um olhar mais profundo para atingir sem palavras. Mais não sou perfeita, estou muito longe disso, com meus temores e angústias e passionalidade. Mas sigo tentando fazer o melhor, mesmo que da pior forma. Queria ter dito mais o quanto amava Claudia e Keila. Queria tê-las abraçado mais, queria ter feito muito mais por elas. Porque sempre fizeram tanto por mim. E mesmo não estando mais aqui, continuam fazendo. Porque o amor que tive ainda tenho e estará sempre em mim. A vida é o que acontece ao redor, enquanto as pessoas ficam olhando para os celulares. Em comum, essas duas tinham um certo repúdio à tecnologia. Keila mal usava o celular. Claudia nem entrava em facebook. Viveram intensamente e amaram muito. E deixaram filhos e amores. Deixaram sementes em vários corações. O meu vive germinando por elas. 
    Cada um lida de um jeito com a saudade. O meu jeito é chorar... e quando nem as lágrimas me aliviam, meu jeito é escrever. Que todas as mulheres que se amam, se toquem. E vivam plenamente o amor.
    E outubro continua sendo um mês de festa para mim. Minhas rosas nunca irão murchar.