terça-feira, 22 de abril de 2014

Os Algozes em Casa

     Nem iria escrever sobre o assassinato do menino Bernardo, de 11 anos, pela madrasta enfermeira, com a ajuda da amiga assistente social e conivência do pai médico, porque minha gastrite nervosa dói demais. Porém, é tanta gente me escrevendo e falando sobre esse crime anunciado, que sinto necessidade de me manifestar, talvez porque eu seja uma referência de indignação judiciária. 
    O que mais me revolta é a desculpa esfarrapada do juiz. Mesmo o menino implorando para morar com outras pessoas, o juiz convenceu a criança a dar outra chance ao pai e agora diz que o “menino decidiu dar outra chance”. Abominável a falta de hombridade, a arrogância e o desmazelo do judiciário com nossas crianças. Fico abestalhada em ver como a maioria dessa gente de toga, que se acha tão acima do bem e do mal, se deixa impressionar pelo título de “doutor”, afinal o pai do garoto era médico, né? Coincidência ou não, o avô da minha filha, mentor financeiro, intelectual e emocional da nossa separação, José Hércules Golfeto, é psiquiatra infantil. Daí imagino os quatro juízes do meu processo supondo que minha filha estará segura nas mãos de um médico. Lembrando sempre que de médico e monstro, todos tem um pouco.  O pai de Bernardo é muito mais monstro do que médico. 
    O juiz do caso de Bernardo tira o seu da reta ao afirmar que haviam indícios, não provas. Ora, ora, já os juízes do meu caso e de várias mães que conheço (hoje conheci mais uma) tinham apenas indícios, mas mesmo sem provas, tiraram a guarda e proibiram visitas, “até que nós, mães, provemos o contrário”. Eu já provei, mas nenhum juiz deve ter lido nada. Repito: a advogada da outra parte, Ana Maria Murari, escreveu que minha filha não tinha cama para dormir, passava fome e que eu morava de favor em casa de estranhos. Haviam indícios (ligações anônimas, segundo a brilhante advogada), provei o contrário, mas ninguém leu. O que se passa na cabeça desses juízes? E o que dizer de uma advogada como essa, que faz tudo por dinheiro? Pior é que o filho dessa advogada, Danilo Murari, é seu sócio...  é a falta de ética passando de mãe para filho. Pobre Danilo, mentiroso e obeso como a mãe, cheio de maus exemplos na própria casa. Esse tipo de advogados é o que defende assassinos de filhos. 
   Agora os algozes de Bernardo podem até ficar presos, mas em celas especiais, já que tem educação “nível superior”, logo estarão em liberdade e, tal qual Suzanne Von Richtofen , que planejou o assassinato dos próprios pais, podem encontrar Jesus, converterem-se e trabalhar na Seguridade Social. Ou pode acontecer como os assassinos da atriz e bailarina Daniela Perez, que em seis anos estavam livres por bom comportamento. O monstro, convertido, hoje é pastor, a “monstra” até fez faculdade de Direito e hoje advoga por aí. 
    Isso porque Daniela é filha da autora de novelas globais, Glória Perez, que conseguiu mais de um milhão de assinaturas (a minha estava lá) para aumentar a pena por crimes hediondos.  Nem com sua fama e credibilidade a admirável Glória conseguiu. Segue a vida com seu buraco no peito e com a sensação de que não existe justiça nesse País. 
   A mãe de Bernardo morreu há quatro anos. Segundo a perícia, cometeu suicídio no consultório do marido, três dias antes de assinar o divórcio e ficar com mais de um milhão de reais. Uma amiga minha do Rio Grande do Sul contou que, na época, houve rumores de que o marido era o assassino, mas haviam apenas indícios, não provas. Repercutiu no Estado, mas não em território nacional. Vai ver que o juiz também ficou impressionado com o título de “doutor”, afinal médicos existem para salvar vidas, não para matar mulher e filho. A Justiça errou duas vezes, tivesse o monstro sido preso, Bernardo estaria a salvo com a avó materna, que ficou mais de quatro anos sem ver o neto por proibição do pai. 
   Bernardo foi brutal e covardemente assassinado e não teve quem o defendesse. Muito inteligente e igualmente desesperado, procurou a Justiça, mas essa virou-lhe as costas. Cada dia que passa confio e acredito menos. Meu único desejo é o de vingança. Eu desisto da Justiça no Brasil, eu desisto de tentar em vão ter uma migalha da minha filha e só conseguir gastrite e úlcera. Eu desisto dessa imprensa parcial e manipuladora. Eu desisto deste País. E só não desisto da minha vida porque ainda tenho uma filha de 5 anos, que depende única e exclusivamente de mim. Ela ainda tem quem a defenda.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Cronologia de Um Crime

   Há três anos e dois meses minha filha foi levada da escola, em Santos, para o interior de SP, dentro da Lei, com Rede Globo gravando e tudo. Só soube onde ela estava dois meses depois, quando foi cancelada a audiência marcada em São Paulo, já que "a menor" encontrava-se em outra cidade. O pai foi ligeiro em despachá-la para a casa dos avós. Um promotor, que nunca viu minha cara, leu lá o que a advogada Ana Maria Murari escreveu, entre outras que eu morava de favor em casa de estranhos e minha filha passava fome. Nenhuma prova, mas esse eficiente promotor acatou tudo e, vendo que foi brilhante em ludibriar promotor e juiz, a formidável advogada colocou lá no processo que “depois” mostraria as provas. Nunca mostrou. 
   Foram seis meses para a tal audiência de conciliação acontecer, com o juiz de paz, vulgo “juiz inútil”, já que é pura perda de tempo tentar conciliar as partes em litígio. Dessa audiência inútil ficou um acordo de que eu falaria diariamente com minha filha por skype e a outra parte, Jonas Golfeto, teria um mês para encontrar uma psicóloga para, finalmente, monitorar nossos encontros quando, onde e como Ele, o todo-poderoso Jonas, quisesse.  Aceitei tudo, estava há mais de seis meses sem ver, falar, tocar minha filha.
  Ele, o pai que tudo pode e nada permite, concedeu um dia de skype, mas minha filha ficou tão emocionada e chorou tanto e eu falei coisas que Ele não queria, então, não deixou mais. Viajei 7 horas para ir ao Fórum daquela cidade, falei com o juiz inútil, que me respondeu: “era um acordo amigável, podendo voltar atrás a qualquer tempo”. “Mas para que perder tempo com isso? “, perguntei. “Ah, mas será pior para ele”, respondeu sorrindo o juiz conciliador, como se fosse tudo uma grande brincadeira. Pior? Só se for para mim, pois a outra parte também demorou um ano e um mês para encontrar a tal psicóloga, Fabíola Januário, que por uma coincidência incrível, trabalhava no mesmo consultório da avó paterna da minha filha, Ed Melo Golfeto. 
    O primeiro juiz, Ricardo Braga Monte Serrat, saiu do processo após 8 meses sem fazer nada e está me processando. O que foi bom, pois entre suas centenas de sentenças duvidosas, está a guarda de uma criança concedida aos avós paternos. Afinal o filho deles tinha morrido e a criança era um alento para o casal de idosos. Dane-se a mãe que perdeu o marido, que lhe tirem a filha também. Coincidência ou não, era um casal afortunado, a mãe não tinha posses, o juiz Ricardo Braga Monte Serrat considerou que a criança ficaria melhor com os avós e sua casa grande, seu cofre cheio.  Após 4 anos, essa mãe desistiu de tentar reverter a guarda. Está conformada em vê-la de 15 em 15 dias e nas férias. 
   Coincidência ou não conheci uma mãe, na beira de uma piscina, que cuidava dos filhos dos outros e conversamos sobre filhos. Ela perdeu a guarda de dois, que moram, vejam só, na mesma cidade da minha filha. Está há seis anos sem ver os filhos. Os juízes? São os mesmos... 
    Após 8 meses sem fazer nada, Ricardo Braga Monte Serrat sai e entra José Duarte Neto. Esse ficou 4 meses, não fez nada e saiu segundo Artigo 35, parágrafo único: motivos pessoais. Já que é pessoal, não precisa dizer o motivo. Entrou outro, ficou um mês e saiu, nem deu o motivo. Finalmente chegou o último juiz, Márcio Peliciotti. Entrou no processo em março de 2012. Em 8 janeiro de 2013 fui para a cidade quente, sufocante e provinciana para encontrar minha filha, segundo acordo entre advogadas. O todo-poderoso Jonas Golfeto não permitiu, fiquei 4 dias naquele calor infernal, tentando, ligando para a casa dos avós. Entramos com liminar para eu poder vê-la, o senhor juiz, ao invés de decidir alguma coisa e mandar um oficial de Justiça para eu encontrá-la, mandou vistas para o Ministério Público decidir. De boa, para que uma pessoa quer ser juiz se não é capaz de decidir algo tão simples? O que esse juiz conseguiu foi me deixar mais 4 meses sem ver ou falar com minha filha. Daí tenho que escutar de advogada “vai ser pior para o Jonas”, não, o tempo está contra e só é pior para nós duas. Aquela família vibra com tudo isso. 
    A única coisa que esse juiz Márcio decidiu até agora foi dar, em maio de 2013, mas com a ajuda do Ministério Público, a visita monitorada que eu pedi em 2011. Pedi 10 dias de férias para julho de 2013, ele nem leu. Em novembro minha advogada entrou com uma série de pedidos, entre eles férias de janeiro. Ele leu tudo desta vez, mas só concedeu uma visita monitorada no Fórum, no dia 19 de dezembro. E foi a última vez que ouvi a voz dela, agora diferente, com forte sotaque do interior. 
   Minha advogada garantiu que o resultado sairia antes do fim das férias. Agora “acredita” que até o fim de abril. Ah, mas tem feriado, vai ter Copa, depois eleição. Eu não acredito, nem espero mais nada. Esse juiz está há 2 anos e 1 mês no processo e a única coisa que decidiu foi conceder visita monitorada, pedida em 2011, justamente para não perder o vínculo, já perdido. O primeiro promotor, o que me chamou de mãe nociva, inclusive, baseado no que Ana Maria Murari, a advogada casca grossa, escreveu, indicou para o juiz que eu ficasse 3 meses sem ver minha filha, para que a família paterna retomasse o vínculo. Agora quem perdeu o vínculo fui eu e minha filha caçula. Quero três anos para retomar o convívio. Claro que é piada, claro que eu sei que isso nunca vai acontecer. Esse atual juiz tem prazo? Tem. Ele cumpre? Não. Eu posso ir na Corregedoria reclamar? Poder, posso, mas Ele vai ficar com raiva de mim e demorar mais, segundo minha própria advogada. 
    São três anos e dois meses. Mataram minha filha, mataram a mãe da minha filha. Mataram para ela todas as pessoas que faziam parte da vida dela. Três anos e dois meses. Meu pai morreu, minha grande amiga, segunda mãe de Dora, morreu, minha prima que era muito mais que prima (uma grande amiga) morreu, escrevi até a biografia do Djalma Santos, livro que será lançado segunda-feira, mas o biografado, por quem me enchi de afeto e amizade, também morreu.  Será que esses juízes não sabem que a vida é breve e que a infância passa rápido?
   Ontem falei com minha filha, rapidamente, pelo facebook, ela me pediu para contar alguma história engraçada de quando era pequena, pois não lembrava nenhuma. Falei algumas, mas também lembrava de poucas. Pedi que perguntasse ao pai, mas Ele não estava, nunca está. Perguntei se pediu para o avô levá-la ao lançamento do livro, mas ela nem pede, disse que ele anda muito cansado. Ela sabe que a resposta é negativa. Foram mais de três anos e nem sei quantos mais serão. O crime já foi feito. A Justiça apagou nossas melhores lembranças. Mas é melhor nem lembrar para não sentir saudade. Melhor deixar tudo guardado no passado, como se fosse alguém que passou em minha vida brevemente e partiu. 
    Isso me faz lembrar minha melhor amiga, que morreu na adolescência, eu tinha 19 anos e ela 18. No início a dor era insuportável, eu acordava no meio da noite com falta de ar. Eu pensava nela todos os dias e chorava. Como eu faria sozinha tudo o que tínhamos planejado juntas? Entre nossos planos estava morar em Londres (ela queria trabalhar na BBC). Nunca fui para Londres, talvez porque a falta dela fosse dolorosa demais. Dia 29 de abril completará 24 anos que a presença de Ana Paula Rodrigues Assumpção se foi da minha vida para sempre. Claro que me acostumei com a ausência e a dor diminui, mas ainda lembro muito dela e de nossos planos. Lembrei tanto dela no show do New Order e quando escuto várias bandas de rock que me apresentou. Quando vejo esse jornalismo superficial, parcial, penso na jornalista fantástica que Ana Paula teria sido, com toda sua inteligência, beleza, sendo crítico e simpatia. Sinto saudade mais do que não vivemos, porque o passado é só uma lembrança, a mesma coisa acontece com Dora. 
    Mas com Dora posso ainda ter algum plano...  não sei se é melhor aceitar o fim ou ter esperança de um recomeço.  A Justiça matou nossas lembranças. Afastou mãe e filha, alienou completamente uma criança. Quem paga por esses crimes? Eu penso em processar o Estado, porque a outra parte só faz procrastinar tudo que a Justiça permite. A culpa é da morosidade, da falta de compromisso desses profissionais de toga, a falta de psicólogos e assistentes sociais nas Varas de Família. Sim, quero muito processar o Estado, mas preciso de um advogado que não pense em retorno financeiro imediato. É que quando falo isso para minha própria advogada, ela diz que daria uma boa briga, mas só meus netos (se é que irei tê-los) verão a cor deste dinheiro. Eu não me importo, só quero desobstruir meu fígado e não morrer de câncer. Qual advogado pegaria uma causa para vencer daqui 30 anos? Talvez um que pense em seus netos. Ou uma baiana arretada que também teve sua filha arrancada pela Justiça.

terça-feira, 1 de abril de 2014

O Futuro Estarrecedor

      O relatório divulgado ontem pela ONU mostra um futuro sombrio e, praticamente, insuportável. Foram mais de 700 cientistas de 100 países para reafirmar o que já foi avisado na Eco 92, no Rio de Janeiro: o homem e sua ganância, o “progresso” que acaba com florestas, água potável, oceanos e oxigênio, vai tornar a vida no planeta maravilhoso, cada vez mais difícil. O pior que esses danos são irreversíveis e não imagino a humanidade, milagrosamente, tomando consciência disso. Nem vislumbro os governos, principalmente dos EUA, usando alta tecnologia para criar soluções sustentáveis, pois ainda preferem investir em armamento bélico, assim destrói tudo mais rápido.
    Em 2050, segundo os cientistas, a África estará sem água, a China sem ar e plantações, a Europa sofrendo enchentes e o Brasil com clima seco e temperaturas muito elevadas (nós temos o triste posto de campeões de desmatamento no mundo). De que adianta eu me cuidar, fazer esporte, ter expectativa de vida aumentada se quando chegar aos 80 anos (se não “morrer de susto, bala ou vício”  – como cantou Caetano Veloso) mal poderei respirar e tomar água?
     Não era por rebeldia ou feminismo radical que eu dizia, na adolescência, que não queria ter filhos. É que desde muito cedo tomei consciência da destruição humana. Até 1982 era possível ver tartaruguinhas saindo das cascas e correndo para o mar no Costão das Tartarugas, o Tortuga, na praia da Enseada, Guarujá. Mas então a Prefeitura da época liberou a construção de três prédios de 30 andares bem ali na frente da praia, onde até hoje não é permitido prédios de mais de quatro andares. E as tartarugas sumiram. Vieram ambientalistas de toda a parte fazer manifesto, me juntei a eles, conheci o Greenpeace e outros radicais. Não houve alemão que fizesse mudar o quadro ou fazer cumprir a “Lei”. 
    O grande golpe, a apunhalada final foi saber que meu pai vendeu material para a construção dos malditos prédios horríveis que enfeiam a paisagem até hoje. Minha vontade era implodir tudo aquilo. Foi nossa primeira briga feia. O chamei de capitalista selvagem, exterminador de animais. Ele tentava me explicar que se não fosse ele, outra distribuidora de cimento venderia, não tinha jeito. Graças àquela construção sinistra, meu pai comprou a primeira casa própria. Ele dizia que queria me dar o melhor. Eu respondia que o melhor para mim era continuar vendo as tartaruguinhas correndo para o mar. Tinha 12 anos e uma utopia juvenil meio doentia. Depois entendi que lutar contra o sistema só sendo muito radical mesmo, extremista, tipo luta armada.
   Continuei não querendo colocar mais gente nesse mundo com excesso de população, mas aos 30 anos, quando engravidei sem planejar, pensei que seria maravilhoso poder passar meus ensinamentos e consciência ambiental para alguém. No tempo de convívio que tive com Dora, minha filha mais velha, sei que passei os melhores valores de preservação, respeito e proteção animal e ambiental. Tanto que, aos 8 anos, ela já falava que queria fazer Biologia Marinha. Adorava os oceanos e a vida no mar. Miranda, minha filha mais nova, de 5 anos, diz que quer ser veterinária. 
   De certa forma elas são bem mais práticas e efetivas do que eu. Depois de me envolver na causa ambiental, fui me interessando por várias outras: proteção animal, legalização do aborto, eutanásia, inclusão social, acessibilidade universal, feminismo... é muita causa para uma pessoa só. Daí me iludi pensando que fazendo jornalismo poderia denunciar, divulgar, esclarecer e conscientizar sobre tudo isso. Talvez fosse inocente ou uma arrogante. Ou os dois. Só sei que fracassei. Minhas filhas serão mais práticas, tenho certeza. Assim como tenho certeza de que acertei tendo essas duas filhas, que poderão fazer diferença nesse futuro macabro que nos espera.
   O ser humano se adapta fácil. Penso que esse período em que Dora é obrigada a morar na cidade de clima mais quente e seco que já conheci é uma espécie de preparo para sua vida adulta num mundo de tantas mudanças climáticas.  Pensar no futuro é estarrecedor, por isso vou aproveitar e tomar muita água, mergulhar nas ondas enquanto as temperaturas permitem e tratar de procurar um terreninho na montanha, com cachoeira no quintal. Igual ao lugar lindo que eu morava com Dora em Paraty (RJ).