quinta-feira, 24 de março de 2016

Juízes Mandam, Globo Edita, Fascistas Ganham

   Fazer análise política no Brasil não é tarefa fácil. A coisa é tão rápida que cientista político e jornalistas ficam tontos por aqui. Tinha escrito sobre a indicação de Lula como chefe da Casa Civil. Sobre como essa decisão iria inflamar mais os ânimos dos Fora Dilma e que não havia problema nenhum querer escapar do juiz salvador da pátria, Sérgio Moro. Eu mesma, que não sou tão esperta e apenas uma mãe que perdeu a guarda da filha e ficou anos sem vê-la pela morosidade da inJustiça brasileira, discuti com o juiz e ele saiu do processo. Coincidência ou não, o processo andou mais rápido sem Ricardo Braga Monte Serrat, um juiz que não fazia nada, não decidia nada e quando decidia era algo bem duvidoso. O que dizer sobre Moro? Que é implacável contra petistas e todo rabo preso com psdebistas? É tão óbvio que só o PT é investigado. Faria o mesmo para sair da parcialidade brutal desse Moro.
    Não ia escrever mais nada sobre política nenhuma. Mas lendo um artigo do colega Alceu Castilho, sobre o fascismo crescente no País, me identifiquei com o que ele chama de "esquerda blasé". Isso mexeu com minha dignidade, com meu instinto mais esquerdista. Sim, sou blasé em várias coisas. Falo baixo, não gosto de brigas, sou pelo diálogo, até faço o que não quero fazer por não saber dizer não, não querer decepcionar e ainda gosto de filme iraniano e dinamarquês. Mas contra o fascismo não dá para ser blasé! Não dá mais para tolerar gente que odeia pelo ódio, que é "contra tudo isso que está aí", que detesta pobre (e não pobreza, que eu também detesto), que detesta negro, detesta gay, detesta petista, mas não sabe nem quem sucederá Dilma, caso ela saia da presidência, por renúncia ou impeachment.
     Quando ela foi reeleita eu estava em Ribeirão Preto. O que ouvimos (eu e Miranda, minha filha de 7 anos, que gosta muito da Dilma e acha o máximo uma mulher presidente) foi xingamentos dos prédios, de todos os tipos. Miranda perguntou porque xingavam a presidente. Respondi que essas pessoas, apesar do acesso à educação e informação, não souberam aproveitar sua sorte. Não voto desde 2002, mas sempre torço para que o eleito democraticamente pela maioria, dê conta do recado. Torço por Alckmin também! Torço para que ele perceba que a truculência que usa hoje contra manifestantes e estudantes pode se voltar contra ele um dia, seria extermínio na certa.

    Mas quando pensei em reler sobre a posse de Lula para publicar o texto, eis que uma liminar, assinada em tempo recorde (28 segundos!) pelo juiz Catta Preta, proíbe Lula de assumir. Puxa vida, fiquei impressionada com os dois pesos e duas medidas da Justiça brasileira. Uma vez pedi uma liminar para ver minha filha, já estava acordado e tudo. O pai não deixou ver. Fui até o Fórum e achei que bastava o juiz assinar e mandar um Oficial de Justiça cumprir a Lei. Mas não, ele pediu vistas para o Ministério Público, porque era difícil um juiz decidir sozinho se uma filha tem o direito ou não de ver a mãe. E lá se foram mais 5 meses sem ver ou falar com minha filha. Agora quando é com Lula, tudo é tão rápido, porque Lula vale mais do que eu? Porque não dei a sorte de pegar um juiz tão ágil? Claro que isso é ironia, caros leitores, claro que vocês já devem saber que esse juiz é um dos Fora Dilma. Todos nós temos opiniões formadas, mas levá-las a público tendo um cargo público tão elevado é, no mínimo, leviano.

    Então o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está sendo investigado por milhões desviados e depositados em contas no exterior. E ele continua presidindo a Câmara! Ele já é réu! Pior, ele faz parte da Comissão de Impeachment!! Mas qual o problema do seu desvio? Vamos concentrar nossos esforços nos pedalinhos de Lula e no sítio em Atibaia. É muito mais amador, mais tupiniquim do que dinheiro em contas na Suíça. É a cara do Brasil. E o Paulo Maluf também está na Comissão! Aquele mesmo que eu pensei estar, finalmente, no ostracismo. As investigações contra Cunha estão paradas há mais de 5 meses. E o que dizer do senador Aécio Neves, que aparece mais no Lava Jato do que no Senado? O que dizer da meia tonelada de cocaína encontrada em sua propriedade? E o helicóptero que transportava a droga era da empresa de Zezé Parrela, amigo de Aécio, que fez três contratos sem licitação para o brother, mas isso é matéria do passado. Para que investigar? Afinal, as pessoas que querem depor Dilma são todas de bem e contra a corrupção, não é verdade?

  
    Quando a extrema direita e a Rede Globo perceberam que Lula poderia assumir a Casa Civil, o justiceiro Sérgio Moro não hesitou em passar todas as gravações sigilosas para a Rede Globo, que em edição profissional, fez de Lula um arrogante, grosseiro e que desdenha do povo. Ele pode ser tudo isso, mas ele não é só isso. A gravação inteira mostra muito mais. Alguns dos odiadores poderiam parar para ouvir na íntegra. Mas o ódio cega e ensurdece. Sei bem disso. Daí mais uma vez penso nos pesos e medidas da Justiça brasileira. Em 2011, a juíza carioca, Patrícia Accioli, foi executada com mais de 20 tiros, por policias que estavam sendo julgados por ela. Ninguém foi preso. Num País onde juiz é assassinado por ter coragem em enfrentar o tráfico, considerei, no mínimo estranho, um juiz vazar todas as gravações de Lula, inclusive, conversas com a presidente. Ele não tem medo? Claro que não! Todos os políticos corruptos de todos os partidos estão ao seu lado. Dilma caindo, Moro ganha um cargo daqueles, acima do bem e do mal, querem apostar?

    Mas os "rebosteios" midiáticos e políticos no Brasil não param por aí. Saiu enfim uma lista da Odebrecht, com mais de 300 políticos envolvidos no Lava Jato. William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional, explicou com sua cara lavada de bom moço e voz linda, que a lista não seria divulgada. O mesmo juiz Moro decretou sigilo nessa lista. Por que? Porque o nome da Dilma não está. Nem o meu. Acho que nem o de Lula. Mas todos os outros estão e não é conveniente dar os nomes de políticos que chamaram às ruas para manifestação contra  a corrupção. Sendo que TODOS são corruptos. Inclusive você que compra DVD pirata, que passa ponto para a carteira de habilitação do amigo, que sonega...
   
   Você que está lendo esse texto em outro País e não entendeu nada, não fique constrangido. Estou aqui há 45 anos e não consigo entender até hoje. Você que está aqui e é contra "tudo isso que está aí", reflita um pouco e pense quem você quer no lugar de Dilma. Não concordo com muita coisa desse atual desgoverno. Na minha análise parca, Dilma quis ser legal com banqueiros e empresários, mas não conseguiu. E foi péssima com as classes que a elegeram. Há genocídio indígena, MST (Movimento Sem Terra) sendo desrespeitado, desmatamento recorde na Amazônia. Mas pensem que nunca antes houve tanta investigação de políticos nesse País.
   Corrupção existia, e muita, na Ditadura Militar, mas ninguém podia falar sobre isso. Os fascistas estão mostrando sua cara. E é muito feia. Na manifestação nacionalista dos verde e amarelo, dia 13 de março, estava em Ribeirão Preto, de vestido vermelho (coincidência e não provocação). Gritaram para mim, de um carro: Fora Dilma. Cheguei a fazer piada sobre o acontecido. Mas agora vejo que não tem graça. Tem mãe com bebê de colo sendo agredida por usar vermelho. Ciclista com bicicleta vermelha tomando pedrada. Sei o quanto é pequeno burguês pensar na cor da roupa por medo de represálias. Penso nos negros que acordam todos os dias e temem represálias pela cor da pele. Os valores desse mundo estão muito errados, mas ainda acho que vale tentar acertar os erros.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Culinária Intuitiva na Casa do Ernesto

   A Casa do Ernesto é um espaço de trabalho e convivência coletivo. Foi inaugurada em dezembro do ano passado. Os ocupantes são profissionais que atuam em diversas áreas, principalmente nas sociais, socioambientais e de comunicação. Há engenheiro, há jornalista. Dividimos tudo: contas, espaço, ideias, desejos, projetos (de vida e trabalho). Só para situar como fui parar nesse grupo, voltarei uns meses no tempo. 
   Em agosto do ano passado decidi mudar para São Paulo, uma cidade que adoro, apesar das coisas que se tem para odiar. Então comecei a falar com os melhores amigos que moravam por lá. Entre eles a santista Carla Stoicov. A Casa do Ernesto era uma ideia que já vingava em três cabeças (das mais pensantes): Carla, Wilson Bispo e Flora Cytrynowicz.
   Para dissipar a maior dúvida: Ernesto não é uma pessoa, é um cachorro. E a proprietária da casa, a jornalista Gisele Paulino, é  também a "dona" do Ernesto. Só que a Gi viaja muito e acabou mudando para o Rio de Janeiro, por conta de um mestrado. O Ernesto ficou. Quem alugasse a casa, hospedaria o Ernesto. Embora ele tenha uma "cuidadora", que já morou na casa com o Ernesto. Enfim, em menos de 4 meses já tem muita história nessa Casa. Isso tudo foi apenas um lead bagunçado, como disse, para situar os leitores. Essa Casa vale um post só sobre os ocupantes. Outro só sobre a inauguração. Outro sobre a primeira reunião, que estipulou "as regras" da Casa.
     Mas vamos à culinária. De pouco tempo para cá começamos a cozinhar um "resto de tudo" o que tivesse na geladeira com os que estivessem no horário de almoço (que pode ser qualquer um entre 12h e 15h). E os que estivessem vindo, trariam o que faltasse. Quem me conhece, minimamente, sabe do meu pouco potencial nas manobras do forno e fogão. Por isso sempre fui a pessoa que lava a louça e faz o café. Na semana passada, Carla perguntou/intimou: "- Amanhã você faz o almoço?". "- Pode ser macarrão?". " - Fazer o que, né? A gente come". Paralelamente, há mais de um mês, eu combinava um almoço ou café com o querido Norian Segatto. Eis que ele aceita almoçar na Casa, assim aproveitaria para conhecer o espaço. Fiquei tensa.
     No dia seguinte deixei Miranda na escola e fui ao supermercado. Lembrei da minha musa Jout Jout* e do primeiro vídeo dela que vi (apresentado há um bom tempo por Dora, claro, minha assessora para assuntos de vlog), justamente sobre culinária intuitiva
      Fui no corredor dos legumes e saladas. "Alface não ofende ninguém e tomate é um coringa", pensei e peguei. Daí acrescentei algo que dá graça em tudo: gorgonzola! Segui confiante e avistei um lindo pacote de shitake, que adoro e combina com shoyo, que dá gosto em chuchu. Para completar batatas. Quem não gosta de batata? Com salsinha e azeite não deve ter erro.
    Cheguei na Casa e só estava Carla, numa reunião por skype. Fui para a cozinha e parti para intuição. Norian chegou pontualmente, em tempo de sentir o cheiro do shitake queimando no azeite (a intuição nem sempre leva à perfeição). Então Flora e Wil ligaram para dizer que chegariam para o almoço. "Nossa! Era para ser eu e Carla e agora somos cinco!" Ainda bem que tinha um arroz integral na geladeira, que abrilhantou a salada. Mesmo assim fiquei um pouco mais tensa. Os dois chegaram com uma quirche e ingredientes para fazer brigadeiro de sobremesa. "Ufa! Brigadeiro eu mando bem".
      Para evitar mal entendido, avisei que a culinária era intuitiva. Mas no final, não sobrou grão de nada para contar história. Foi um sucesso de público e crítica. A Casa do Ernesto realmente opera milagres! E me inspirei para escrever porque quem manobrou as panelas hoje foram Carla e Beto Gomes. Fiz de novo o tal brigadeiro. Apenas repetirei aqui o comentário do Wil após provar minha especiaria: "- Dri, larga o jornalismo!".

*Cozinhando intuitivamente com Jout Jout https://youtu.be/iDMdlihU9Dw