Quando perdi a guarda de Dora para seu genitor, Jonas Golfeto, fui condenada a pagar 10 mil reais para seu advogado. Ele venceu, levou o prêmio (minha filha) e tenho que pagar por isso, assim é a Justiça, fazer o que? Não paguei e os juros cresceram até chegar em 16 mil. Em abril do ano passado minha advogada da época negociou minha dívida em 16 parcelas de mil. Fui contra essa negociação, pois meu salário era de 5 mil, mais custas processuais, honorários, minhas contas, meu pai internado numa clínica de repouso e minha filha caçula Miranda, totalmente por minha conta e risco, não sobraria nada! A advogada foi tão firme em me fazer pagar que até depositou a primeira parcela para mim (que lhe paguei no dia seguinte, claro), disse - e quase me convenceu - de que isso seria bom, o juiz veria que pago minhas dívidas, cumpro com minhas obrigações e tenho palavra. Enfim, foi feito o acordo. Mas na semana seguinte descubro que minha filha Dora foi levada para morar na casa dos avós, em Ribeirão Preto, a mais de 500 km de distância.
Ora, isso mudaria totalmente o cenário da história. São Paulo está a menos de uma hora de Santos, posso ir e voltar no mesmo dia com folga, mesmo que fosse só para ir ao Fórum ver processo. Mas claro que em São Paulo tenho muito o que fazer, além de trabalho, entrevistas e ver amigos queridos. Ir para Ribeirão Preto e voltar no mesmo dia é quase inconcebível (mas já fiz isso algumas vezes). Tenho lá uma grande e querida amiga de infância, Paola Miorim, que me hospeda sempre, que tem duas filhas lindas e inteligentes, o que torna minhas viagens menos dolorosas e sempre construtivas, cheias de conversas sobre todos os assuntos e lembranças íntimas e pessoais, que só sabe quem viveu uma vida junto. Santista, atleta, linda e meio nerd, Paola faz parte da minha vida desde sempre, pois nadamos e estudamos juntas. Conheço toda a sua família e ela conhece a minha. Um dia ela até tentou falar com o guardião de Dora, por telefone, para entregar uns livros e roupas preferidas da minha filha, mas ele desligou na cara dela, pois se é minha amiga, não pode ser gente boa. Ah, quanto engano...
Enfim, cada viagem para Ribeirão, mesmo com hospedagem garantida, sai cara. Também pago para advogados irem, tudo muito cansativo, porque quase sempre é "infrutífero". Escrevi para o advogado da outra parte, o jovem Danilo Murari, assim que soube da agressiva mudança de Dora para Ribeirão Preto e da minha impossibilidade de continuar pagando, mesmo fazendo outros trabalhos free lancer. Nenhuma resposta, só um pedido de execução da dívida. Pois o juiz executou a dívida. Meus bens foram alienados, minha conta está bloqueada, por sorte, estava negativa no dia do bloqueio. Mas eis que na manhã do último domingo recebo uma ligação da minha advogada, perguntando se eu tinha outra conta. "Não que eu me lembre". "É que saiu uma publicação dizendo que a execução foi parcialmente frutífera".
Isso já revirou meu estômago. No dia seguinte fui procurar saber o que havia acontecido: pegaram o dinheiro da poupança que fiz para Miranda! Está no nome dela, mas como é menor e a responsável legal sou eu, tiraram o dinheiro que guardo para minha filha! Isso é vergonhoso...
Tão vergonhoso quanto essa família Golfeto é o que a Justiça faz com Miranda. Nunca comentei sobre o suposto pai de Miranda, até porque ele ainda é suposto, já que não registrou a menina. Quando eu contei sobre a gravidez, ele me disse que estava namorando, diante da minha surpresa, esclareceu que estava com as duas ao mesmo tempo, para decidir com qual ficaria, como se fosse a última bolacha do pacote. Me surpreendi, porque ele era um professor de natação, educação física, surfe e adorava crianças. Dizia ser louco para ter um filho, enfim, me decepcionei com a atitude, mas como já sofria com um pai obcecado por me separar da minha filha, acreditei que seria melhor sem pai (e a situação de Miranda é de longe muito melhor que a de Dora). Como o cara às vezes ligava chorando ou aparecia chorando arrependido, mas logo depois ignorava a gravidez, decidi pedir Investigação de Paternidade, ainda grávida de 7 meses, para acabar com tanta indecisão.
O primeiro exame de DNA foi marcado quando Miranda tinha 1 ano e 11 meses! Ele não foi. Daí o segundo foi marcado quando ela tinha 3 anos e 4 meses. Nada de novo. O que acontece agora? Marca-se o terceiro exame, se o provável genitor não aparecer, daí é julgado à revelia, mas ainda pode recorrer. Depois disso é obrigado a pagar pensão retroativa, mas pode dizer que não tem dinheiro. Perguntei para a advogada dessa ação porque não o contrário: o homem é considerado pai, paga pensão até fazer o DNA, caso não seja o pai, a mãe devolve com juros e retroativo? "Ora, porque a Justiça entende que a mãe já vai ter gasto com a criança e não terá como devolver?" E a Justiça não entende que se a mãe não tiver condições a criança pode passar privações e até fome? Não, as Leis foram escritas por homens, homens que parecem que nunca tiveram mãe.
Enfim, a Justiça para Miranda é tão ineficiente como a Justiça para Dora. Eu sustentei Dora sozinha até ser levada, nunca pedi pensão para Jonas Golfeto, até porque os avós é que seriam acionados, já que são eles que sustentam o filho e nunca quis encrenca com aquela família. Agora, além de tudo, eles querem tirar o que dou para Miranda! É de dar dó dessa gente. Não basta deixarem Dora sem mãe, eles também querem que a mãe de Dora fique à mingua e que sua irmãzinha passe necessidade.
Eu, se fosse José Hércules Golfeto, o psiquiatra infantil "renomado", avô de minha filha, mentor disso tudo, que há quase 2 anos não permite que eu fale ao telefone com Dora, teria vergonha de sair às ruas! Lamentável tudo isso. Miranda já sofre a falta da irmã, logo mais sofrerá privações por conta de uma família tão mesquinha, que nem a conhce, mas já a prejudica, só porque ela é minha filha. Só não digo que tiraram o leitinho da Miranda porque ela ainda mama em meus seios.