segunda-feira, 24 de junho de 2013

Brigar pra Quê?

    As manifestações não param e acontecem não só nos grandes centros urbanos e capitais, mas também em pequenas cidades do Brasil. São tantas as reinvindicações que se perdem no meio dos manifestantes. É certo também que muita gente vai no oba-oba, sem saber muito bem a quem ou o que reinvindicar. É muita indignação para pouco cartaz. Penso que pedir uma reforma política seria o ideal, porque muita coisa precisa mudar. Penso que grupos mais organizados, como o GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais) deveriam fazer seu manifesto diretamente aos seus opositores, como a turma que defende o projeto de Lei sobre a Cura Gay. Os médicos e categorias contrários às contratações de profissionais cubanos, idem. Meu maior protesto é contra a lentidão do Judiciário e suas brechas que deixam processos serem procrastinados por anos. Não estou sozinha. Já temos um grupo que precisa se organizar mais. A dificuldade da nossa organização é a imensidão territorial do Brasil.
    Já disse aqui que sou apartidária e anarquista. Não sou antipartidária, não odeio partidos. Acho até muito perigoso um jornalista ser petista, psdbista ou qualquer ista, porque isso tira totalmente sua credibilidade e imparcialidade. Se o jornalista tem partido, vai tomar partido, vai fechar os olhos para o Mensalão com a resposta vazia firmada em outra pergunta: "E a privatização tucana, esqueceu?" Chamo isso de explicar um erro com outro. Não concordo. O mesmo são os jornalistas psdbistas que parecem ter esquecido a privatização tucana e o golpe da reeleição do FHC. Eu estava lá, trabalhando na assessoria de imprensa no governador do Estado de São Paulo, Mario Covas, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou a reeleição e se reelegeu. Ora, só deveria valer a partir da próxima eleição. Foi golpe. O governador Mario Covas ficou muito bravo e só não rompeu porque isso partiria o PSDB no meio. Como disse, não sou partidária, mas admiro alguns políticos, tanto do PSDB, como do PT. Mario Covas era um desses admiráveis. Sei porque trabalhei com ele. Também admiro Eduardo Suplicy e alguns deputados estaduais e federais do PT. 
    O que não estou gostando de ver é a guerra por ideais políticos. Estou vendo amigos de infância rompendo por cegueira política. Claro, não devemos manter uma amizade só porque ela é longa, se percebermos que alguém virou um nazista, fascista, racista ou algo tão contrário aos nossos princípios de caráter e formação. Mas estou vendo amigos leais, de bom coração, trabalhadores, honestos, brigando. Não são hipócritas, nem ignorantes. São brasileiros que querem ver um País melhor, igualitário e justo, assim como eu, assim como muitos de vocês que estão lendo isso agora.
    Nas redes sociais parece que tem gente que só quer ser do contra, criar desavença. Não brigo. Já passei dessa fase juvenil, de ficar de mal, de não sou mais seu amigo. Tento esclarecer, tento entender o pensamento do outro. Tento relevar e me colocar no lugar. Tento me colocar no lugar de um médico brasileiro... mas isso é assunto para um outro post.
     Meus amigos de natação, por mais que tenham seguido outros caminhos, estão sempre nas minhas lembranças como pessoas que lutavam pelo mesmo ideal: treinar, competir, vencer seus limites. Torcíamos juntos, chorávamos e  ríamos juntos. Homens, mulheres, pequenos, grandes, brancos, negros, orientais, altos, baixos. Por genética alguns eram acima da média, outros abaixo, mas todos estavam sempre juntos. Assim que deveria ser quando queremos melhor educação, saúde, esporte, lazer, moradia, transporte. Juntos somos fortes. É o chavão mais verdadeiro que existe.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Infelizmente não é Anarquia o que Acontece no Brasil

    Preciso escrever, mesmo estando tudo ainda tão confuso. Tem muita gente com medo que o Brasil esteja perto de sofrer um Golpe Militar, com uma minoria de direita reacionária indo às ruas quebrar, atacar, violar. A primeira vítima fatal (espero mesmo que seja a única) das manifestações que tomaram conta do País aconteceu ontem, em Ribeirão Preto/SP. Não foi a Polícia Militar que atirou. A Polícia Militar também não aguenta mais servir de escudo para políticos engravatados, corruptos, demagogos. Não foram manifestantes descontrolados. Foi um representante da minoria dominante capitalista que ficou "nervosinho" porque a manifestação popular atrapalhava seu percurso. Sinto, antecipadamente, pela impunidade que esse caso certamente terá. O assassino irá preso? Dificilmente isso acontece nesse País e esse é meu maior motivo de indignação e pelo que sempre me manifesto: a forma torpe como o Judiciário abre brechas para crimes nunca serem punidos ou quando acontece, com demora angustiante, com mais brechas para sair da prisão em pouco tempo. Aqui só pobre vai para a cadeia. Muitas vezes sem nem ter cometido crime algum. E lá aprendem como ser bandidos de verdade. A lentidão do Judiciário é enlouquecedora. Isso na esfera criminal, porque na civil, a gente morre e não vê o fim do processo.
    Agora tem gente falando em impeachment. Já escrevi aqui que não é para tanto. Devemos nos lembrar que o vice é o Michel Temer, isso é temeroso demais (com trocadilhos mesmo). O que queremos é Reforma Política. Mudaremos o presidente democraticamente nas próximas eleições. O Movimento Passe Livre mostrou que é possível conquistar pela manifestação. As tarifas foram baixadas. Isso fez com que nós acordássemos e saíssemos protestando contra tudo que achamos errado. Tem reacionário, neonazista nas ruas com cartazes fascistas? Sim, tem, sempre terá. Não vamos voltar para ditadura. A Dilma pegou em armas e lutou contra a ditadura, porque agora que ela está no comando vai deixar a ditadura voltar? Está mais articulada com governos de todo o mundo, imagino que tenha sido embriagada pelo poder, mas é hora da ressaca terminar. Esperamos um pronunciamento à altura do que está acontecendo neste País.
   
    O futebol deixou de ser "o ópio do povo". Em plena Copa das Confederações as principais avenidas das principais cidades estão tomadas. Pelé está sendo ridicularizado por ter pedido para o brasileiro "esquecer esse negócio de manifestação e ir torcer para a seleção, que é nosso sangue". Ronaldo perdeu a chance de ficar calado quando disse que Copa do Mundo se constrói com estádios, não com hospitais. Muito bem, imaginem na Copa, os turistas com dengue e sem soro para todos. Não, não quero ver isso. Os tempos mudaram, não estamos mais para ídolos esportivos vendidos. Sabe aquele garoto Neymar? Aquele que joga com paixão e genialidade? Ele se manifestou apoiando movimentos pacíficos por todos os direitos básicos, que deixamos de ter há décadas: saúde, educação e lazer. Sinal dos tempos...
     Ontem, 20 de junho de 2013, foi inesquecível para a história do Brasil e para minha história em particular, pois completei 43 anos e jamais esquecerei esse dia de divisor de águas, de partidos, de considerações políticas, de violência gratuita, de manifestação pacífica. Em Santos, onde estou, foi muito pacífico até onde vi e acompanhei. Agora tem uma parte, inclusive de formadores de opinião, dizendo que não ter  partido é pedir a volta da ditadura. Primeiro, não sou contra partidos, sou apartidária, não tenho partido, nenhum partido me representa. Nas vezes que me envolvi, me decepcionei muito, muito mesmo. Isso só fez crescer minha veia anárquica. Só me fez aprofundar cada vez mais no pensamento anarquista. Por isso gostaria de esclarecer um pouco algumas pessoas ignorantes - no sentido literal da palavra, que ignoram, que não tem conhecimento - sobre o que é anarquismo, para que parem de espalhar a ideia equivocada que anarquia é bagunça e destruição. Estou cansada de ler postagens em redes sociais dizendo que sem partido viveremos em Ditadura ou em Anarquia. Sim, sem partido viveremos em anarquia e isso seria lindo, maravilhoso, além de utópico.
     Anarquismo vem do grego anarkhos, que significa "sem governantes, soberania, reino, magistratura". É uma filosofia política com várias teorias para eliminar totalmente qualquer governo compulsório. Anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja aceita com liberdade. Anarquistas se organizam de forma libertária, com base na livre associação. Anarquia significa ausência de coerção, não a ausência de ordem. Então, por favor, respeitem os nobres anarquistas e parem de ficar nomeando esses baderneiros, vândalos e violentos cidadãos que estão tentando arruinar uma manifestação legítima, como anarquistas.  Há uma noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos,  que se popularizou entre o fim do século XIX e o início do XX, pelos  meios de comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. Nessa época os segmentos operários com fundamentos libertários estavam muito bem organizados, por isso surgiram inúmeras campanhas antianarquistas. Outro equívoco grosseiro é considerar anarquia como ausência de solidariedade (indiferença) entre os homens, sendo que um dos laços mais valorizados pelos anarquistas é o auxílio mútuo. A ausência de ordem chama-se anomia.
    Outra coisa que me irrita é ler o tempo todo: "O povo acordou, que orgulho do povo brasileiro". Espera aí? Que povo? Nós acordamos, nós somos o povo brasileiro, nós temos que nos orgulhar de nós mesmos. Esse tipo de comentário está recheado de preconceito e arrogância. O que eu quero é Justiça! Quero Reforma Política! Quero amor e quero anarquia, mesmo que tardia.
   

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cheiro de Revolução

    O que está acontecendo em todo o Brasil na última semana é de arrepiar. Havia preparado um texto para segunda-feira, antes das manifestações. Não participei porque estava em Ribeirão Preto, na minha jornada semanal de bate e volta Santos/Ribeirão. Lá não houve manifestação, se houve foi tão pequena que não percebi. Mas o que escrevi ficou velho, foi tudo bem maior do que eu previa. Fiquei com a Paola Miorim e sua filha Lívia, acompanhando tudo online, na melhor cobertura jornalística que existe para esse evento: as redes sociais. Lívia, na plenitude de seus 17 anos, estava eufórica, querendo ir para São Paulo. Teve depredação, infelizmente, mas convenhamos que foram poucos os manifestantes "vândalos e baderneiros". A avenida Paulista ficou em paz. Já sabemos e o mundo sabe que não é mais pelos 20 centavos de aumento nas passagens. É por tudo que acontece e deixa de acontecer neste País.
   Ontem foi votado o projeto de Lei da Cura Gay, que derruba a resolução 00/99 do Conselho Federal de Psicologia, que desde então não trata homossexualidade como doença. Aprovaram a Cura Gay em primeira instância. Isso significa que a maioria dos parlamentares que votou é homofóbica e ignorante. E tudo é feito tão na surdina que a maioria da população nem sabia que esse absurdo estava sendo votado. Hoje está bombando nas redes sociais.
    Outro PL que está para ser votado é o PEC 37, que dá total liberdade para o Congresso fazer o que bem entender, sem ser julgado pelo judiciário. Isso é ditadura ou não é? Claro que é interesse da maioria que está lá não ser julgada, porque a maioria, por mais que entre com boas intenções, acaba se corrompendo. Digo maioria, porque tem sempre a exceção que confirma a regra. Agora, com essas manifestações que não cessam, espero que olhem com mais cuidado pra os abusos feitos no Planalto, que grande parte da população nem fica sabendo.
     Ontem cheguei a pensar que manifestação todo dia perderia o fôlego. Mas mudei de ideia (adoro mudar de ideias). Somos 200 milhões e 200 mil foram às ruas. Não vai perder o fôlego, esse movimento vai ganhar cada vez mais oxigênio! Cada vez mais pessoas estão aderindo. E não venha a presidente Dilma dizer que manifestações são próprias da juventude. Há idosos, crianças, gente de todas as idades participando. A revolta com a política brasileira não é coisa de adolescente cheio de hormônios, não. É um direito civil protestar e se manifestar, direito esse que pode ser retirado na votação de 29 de junho, no projeto de Lei sobre terrorismo. Direito civil que já está sendo tirado dos homossexuais. Como diz o famoso texto de Bertold Brecht, que também está correndo solto nas redes: "Levaram meu vizinho que era judeu, como não sou, não me importei. Levaram meu vizinho homossexual, como não sou, não me importei. Levaram meu vizinho negro, como não sou, não me importei. Até que me levaram e não tinha ninguém para se importar". Nós brasileiros nos importamos. Não vamos deixar levar minorias já tão massacradas. Não vamos.
     Há de acontecer uma reforma geral na forma de fazer política nesse País. Impeachment? Não creio que seja para tanto. Mas se for preciso, tiramos prefeito, governador e presidente, sim. Já fizemos isso, eu estava lá.

Os caras pintadas

    Seria minha primeira eleição para presidente. Devidamente orientada por minha querida, linda e saudosa amiga Ana Paula Assumpção, votei em Ulysses Guimarães no primeiro turno. No segundo estavam Lula e Collor. Não conhecia Collor e não acreditava no seu discurso vazio de caçar marajás. Não acreditava que Lula fosse capaz der governar o País, já que nunca havia ocupado um cargo executivo. Iria anular meu voto. Uma noite antes da eleição saí com um grupo de amigos petistas, alguns jornalistas (eu tinha 19 anos e cursava o segundo ano da faculdade de jornalismo), muitos estudantes. Em debates inflamados contra meu voto nulo, me fizeram ver que Collor era uma grande ameaça e que Lula tinha bons assessores e políticos de respeito no PT. Eu, particularmente, só gostava do Eduardo Suplicy. Mas votei no Lula. Votei mais contra o Collor do que no Lula.
     Fernando Collor de Melo foi ainda pior do que eu poderia imaginar, mesmo dentro do meu realismo pessimista, que me acompanha da infância até hoje. Fraude total. O caçador de marajás tinha casa com piscina de cascatas! Tinha muita coisa pior,  mas a piscina de cascatas... ah, isso para minha juventude cheia de rebeldia era o maior símbolo de ostentação humana!
    Quando tudo parecia estar se perdendo, um presidente patético vai fazer pronunciamento em rede nacional, pedindo ao "povo brasileiro" que vista-se com roupas coloridas e vá às ruas mostrar apoio ao seu governo. Me indignei com tamanha cara de pau e alguns minutos depois, me liga a amiga Carla Stoicov, uma militante de carteirinha, pra dizer que estavam planejando ir para as ruas no dia seguinte, todos de preto. Adorei a ideia, liguei para todos que eu podia e que estavam na minha agenda. No dia seguinte enchi meu carro preto de amigos vestidos de preto e saímos primeiro em carreata pela avenida da praia de Santos. Não lembro quem levou tinta, mas logo estavam todos com o verde e amarelo no rosto.
    Foi lindo, foi maravilhoso. O resto virou história. Com muito orgulho digo que fiz parte disso e sinto agora a mesma euforia que senti naquele dia. Sinto que algo de muito grande está para acontecer. Uma mudança drástica, profunda. Em 1992 não existia celular com fotos, nem redes sociais na internet. E conseguimos mobilizar uma nação. Agora o movimento é global. O Brasil está no mundo. Não somos fracos, não!
   

sexta-feira, 14 de junho de 2013

20 Centavos - A Luta pelo Direito de Protestar

    No último post escrevi sobre o futuro do jornalismo. Ontem ocorreu a quarta manifestação popular e legítima do Passe Livre, contra o aumento dos 20 centavos nas passagens em São Paulo-SP. A melhor cobertura que vi foi no Facebook, com a centena de amigos jornalistas postando fotos e imagens online. Até imagem de policial quebrando vidro de viatura para culpar cidadão comum foi feita. Claro que esse policial recebeu uma ordem superior para fazer isso, nenhum  policial gastaria do próprio bolso para consertar viatura, pois é o que acontece nesse País: policial paga por carro que quebra em trabalho. O que a cidade (e o mundo) viu foi uma violência descomunal por conta da  Polícia Militar do Estado de São Paulo. Logo pela manhã comecei a ler sobre a manifestação anterior, parte dos amigos classe média/burguesa chamou os manifestantes de vândalos e baderneiros. Eu não estava lá, mas as imagens que vi não eram violentas por parte da população e sim da PM. Claro que ao serem atacados por PMs os manifestantes se enfurecem e quebram.
   Alguns não entenderam ainda que é muito mais que protestar sobre o aumento de 20 centavos. Agora é a luta pelo direito de protestar. Essa é a gota d`água que faltava para o povo ir às ruas mostrar sua indignação contra construções superfaturadas de estádios para a Copa enquanto a educação está à míngua, enquanto não há leitos suficientes para doentes em estado grave. Queria aproveitar que esse humilde blog é lido em todos os continentes do mundo para que saibam que o Brasil vive um momento de retrocesso! Estamos voltando a perder direitos conquistados com muito suor, sangue e lágrimas. Direitos civis. 
   
    Como acontecerão grandes eventos esportivos e religiosos no País, a aprovação de projeto de Lei que define crime terrorista terá prioridade. Com os últimos acontecimentos do Movimento Passe Livre, a votação do projeto de Lei foi adiada para o dia 27 de junho. O parecer do relator-geral Romero Jucá (PMDB-RR) abre espaço para inclusão de movimentos sociais como terrrorista. O texto define como crime de terrorismo "provocar ou infundir pânico generalizado mediante ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à liberdade de pessoa por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico". Reivindicar seus direitos não pode ser considerado terrorismo. Isso parece anos 70, quando eu era criança e via na TV as chamadas contra os terroristas nacionais. Eram estudantes, eram guerrilheiros que protestavam para ter o direito de liberdade de expressão e de votar. Não era à toa que quando me  perguntavam o que eu queria ser quando crescer, respondia: "terrorista".  Meu pai me puxava de lado quando alguém vinha com essa questão e a menininha aqui nunca, jamais disse "professora ou médica". O protesto social no Brasil era visto como terrorismo e se deixar, voltará a ser. Segundo o projeto de Lei, a pena também aumenta se for praticado contra autoridades (presidente, senadores, deputados). Por que eles tem mais direitos do que o cidadão comum se estão lá para nos representar?
    Ontem prenderam o repórter Piero Locatelle, do site Carta Capital, porque portava vinagre! Aos que não tem conhecimento, esse ingrediente gastronômico protege contra gás lacrimogêneo. Também li críticas sobre manifestantes irem com os rostos cobertos. Ora, se você sabe que haverá policiais com ordem de atirar contra você com balas de borracha na cara, não iria proteger seu rosto? A repórter da Folha de São Paulo Giuliana Vellone não protegeu, e levou bala no olho. Trabalhando sério para a empresa que, em seu editorial matutino, pede mais segurança contra os "baderneiros". Ironicamente triste que uma funcionária sua tenha sofrido "sem fazer baderna". Outro jornalista, Pedrão Ribeiro Nogueira foi espancado. O fotógrafo Fernando Borges, do site Terra, também foi detido para averiguação. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, corre o risco de perder a visão após levar tiro de borracha no olho. Segue internado no Hospital Nove de Julho, com apenas 5% de chances de continuar enxergando. Um fotógrafo cego! Exercendo sua profissão!
   A professora Maria Carvalho, saindo da igreja da Consolação, misturando-se por acaso com os manifestantes, também levou bala de borracha na cara! O amigo do filho do meu amigo levou sete (!) tiros no tórax e estava internado com  parada respiratória. Senti muita saudade das minhas coberturas como repórter, não porque quisesse ser detida ou levar bala na cara, mas porque fiquei sabendo dessas histórias em casa. Imaginem quantas mais aconteceram entre os milhares de manifestantes na avenida Paulista.
    A jornalista Barbara Gancia, em excelente texto escrito com indignação de quem vê sua colega sendo baleada por PMs, disse que agora estão "acelerando o processo e matando o jornalismo a tiros". Muito mais que assustador tudo isso. Pior é ainda ver tanta gente concordando com a truculência da PM, com o Governo... aliás, onde estavam mesmo o governador Alckmin (PSDB) e o prefeito Haddad (PT)? Em Paris.
    Não, não são os 20 centavos. Isso é o começo de algo maior que  precisa acontecer para mudar esse País. Não dá mais para viver no meio dessa corrupção, ficar a mercê de sistemas falidos. Eu, particularmente, tenho minha vida arrasada pelo Judiciário. No coletivo vejo gente morrendo por falta de internação e tratamentos corretos, professores desmotivados porque, afinal, como ter motivação com salário de fome?  Que futuro terá um País com profissionais semianalfabetos? 
     Hoje já me disseram para aceitar que dói menos. Não, não dói menos. A indignação é necessária. Só vou parar de me indignar quando houver igualdade e justiça ou estiver morta. Sinto raiva, muita raiva, mas uma raiva que move e  não me deixa procrastinada. Não podemos deixar que a ditadura volte travestida de segurança pública.

terça-feira, 11 de junho de 2013

O Fim do Jornalismo Estará Próximo?

    O clima está muito tenso entre meus colegas de profissão. Demissões em massa nos maiores jornais de São Paulo, o fechamento do Jornal da Tarde e agora rumores de que a Editora Abril irá fechar as revistas Playboy, Contigo e Capricho está nos deixando ansiosos, preocupados e até desesperados. Ouvi dia desses que, se nem revista de fofoca e mulher pelada consegue mais vender, será mesmo o nosso fim. Piadas deixadas de lado, tenho lido muitos textos analisando a situação. Há tempos a notícia é conseguida pelo telefone, depois por email... da nova geração são poucos os que vão investigar com profundidade, ouvindo os quatro lados da notícia. 
   Acho que hoje mesmo li um  texto do meu querido Rafael Guelta, com quem muito aprendi no Diário do Grande ABC, não só pela qualidade do seu texto, mas pela contundência de seus questionamentos, sobre a nova linguagem a que nos adaptamos (ah, o ser humano sempre tão adaptável). "Não se usa mais ler e sim seguir, a maioria não lê mais a Folha de São Paulo, mas a segue", ponderou Rafa em seu texto. Além disso, ninguém lê mais como antes. Eu mesma, leitora compulsiva de livros, revistas, bulas de remédios, me pego lendo notícia pela internet, de preferência nos blogs opinativos de jornalistas nos quais confio. Até livros leio menos, muito menos do que gostaria.
   Dia desses, "conversando" por whatsapp com minha querida Mirela Tavares, também parceira no DGABC, fiquei triste, porque ela está tão desiludida e preocupada com o fim do jornalismo como o conhecemos que já  pensa em mudar de área. Isso é desolador, porque os bons jornalistas, os que apuram as informações, perfeccionistas nos textos, estão desistindo. Não é para menos. Todos os anos o mercado joga milhares de jovens ávidos por trabalhar 12 horas e ganhar uma merreca de salário para "conseguir experiência". Eu já fui essa jovem repórter, que varava noites, tomava um banho e voltava para a redação cheia de energia. Mas existia redação! Agora estão extinguindo-se.
    Há dois anos trabalhei com uma equipe mais jovem, com 10, 15 anos menos do que eu. Apesar de ser "moderninha", adorar tecnologias, me senti uma veterana master quando me perguntaram como eu fazia quando não tinha google. Ora, eu ligava para as pessoas, ia nos lugares. Também existia algo muito eficiente chamado pesquisa e outra qualidade que conquistamos na infância e adolescência, a formação. Agora é tão simples, vai lá no google ou wikipedia e consegue todas as informações. Será? Qual a veracidade dessas informações? Não dá para confiar assim em tudo que o Dr Google diz...
   Que o jornal impresso iria acabar eu já sabia desde o século passado, quando trabalhei no Palácio dos Bandeirantes, na assessoria do Governador Mario Covas. Tinha um chefe que insistia em mandar fazer print de tudo. Trabalhávamos em rede, era só mandar o texto para olhar na tela, mas ele gostava de ler no papel, rabiscar com caneta. Eu achava isso tão antigo e começava com meu discurso verde de que "assim seus netos nunca irão subir em árvores". Acho meio besta gastar papel para tudo, já que temos a correção na tela. O jornal grandão também é incômodo de ler, além da minha alergia não permitir que eu folheie mais que quatro páginas. E também, as matérias foram ficando cada vez mais supérfluas, com textos tão óbvios quanto chatos. Claro que existem exceções, que só confirmam a regra. Mas seria o fim do jornalismo ou apenas do jornal? Estaremos todos fadados a trabalhar em assessoria de imprensa? Para qual imprensa trabalharemos?

    Não acho que o jornalismo irá acabar. Mas sim a profissão como a conheci, como a idealizei. O romantismo de mudar o mundo já não existe nem em mim, nem nos jovens jornalistas, mal consigo mudar o meu mundo, não consigo sair de um sistema lento e corrupto no qual me embrenhei. Se penso em ir na Corregedoria denunciar um juiz que estourou 7 meses seu prazo para despacho, escuto da advogada que será  pior para mim, pois o magistrado ficará com raiva e não sentenciará a meu favor. Então, tenho que me calar em meu problema pessoal e tentar resolver os problemas alheios, como imaginei ser a profissão de jornalista, sempre pensando no bem coletivo, nas denúncias, na divulgação da arte e do esporte. A gente cresce e percebe que não é bem assim. Percebe que aprofundar-se é para poucos. E que essa categoria, dos jornalistas, sempre lutou por causas alheias, mas fica passivo diante de tantas demissões em massa, na sua causa própria. E me incluo nessa.