terça-feira, 31 de maio de 2011

A Mentira Anunciada

     Hesitei em dar entrevista para a Globo, mas dei e me arrependi imediatamente, ao perceber o teor da matéria. Queriam dar um desfecho para o pobre pai que não sabia o paradeiro da filha. Na primeira matéria veiculada no Profissão Repórter, em 22 de junho de 2010, a repórter Gabriela Lian ignorou totalmente meus emails mostrando a troca de mensagens entre mim e o ator Jonas Melo Golfeto, em que a outra parte deixava clara sua raiva e desejo de vingança, nunca perguntando sobre Dora, apenas me agredindo verbalmente. Tenho tudo isso guardado, claro, como prova. O que mostrou na matéria foi uma pessoa que não queria saber de entrevistas e a única linha em que "ofendo" a outra parte, pedindo para não dar audiência, chamando-o de "mimado que quer de novo aparecer as custas da filha"  é a linha que foi ao ar.
   Meu texto conciso, cheio de informações e detalhes foi simplesmente ignorado. Depois soube da amizade entre Jonas e Gabriela, amizade crescente, pois foram vistos juntos durante jantar em restaurante paulistano, há cerca de 3 semanas. Tenho duas fontes que viram e comprovam em juízo, se preciso for. Em outra ocasião, soube a opinião distorcida do jornalista Caco Barcellos sobre a minha pessoa. Tudo bem, foi um amigo do meu amigo que trouxe a informação, pode ter havido algum ruído de comunicação, mas não invenção.
  Por essas e outras a minha hesitação. Saber que a Globo acompanhou a outra parte na busca e apreensão de Dora, que há mais de 4 anos não via o pai, me causou náuseas. Ficou tão óbvio e cristalino que o ator só queria mais atenção da mídia com um caso que seria pessoal. O que importa Dora nesse momento? Dane-se o trauma que isso causará na filha, por dentro o coração desse hipócrita saltitava de emoção por aparecer de novo na Rede Globo!
  Dei entrevista e me arrependi. Mandei emails pedindo para não divulgar a imagem da minha filha e para não veicular essa matéria. Fiz ligações para a repórter Eliane Scardovelli, que me entrevistou. Gabriela Lian seguia seu rumo com a outra parte. Nada feito, a matéria sairia quer eu quisesse ou não, sobre a imagem de Dora ainda não sei, espero que não mostrem, espero muito por isso.
  Mas, na semana passada, um dia antes do fechamento do jornal semanal que estou editando, me liga Eliane, para saber se tenho alguma novidade, pois a matéria sairia na próxima terça (hoje meus caros leitores). Primeiro contei que Dora estava morando com os avós, o psiquiatra infantil José Hércules Golfeto, e a psicóloga Ed Melo Golfeto, não pareceu novidade, vai ver pensam até que o pai também resolveu voltar, após mais de 15 anos de Capital, para o interior paulista. Esclareci que continuava em São Paulo e, desde que Dora foi levada, nenhum telefonema, contei, inclusive que passei o dia das mães naquela cidade, Dora lá, sem pai, nem mãe. Sugeri que fôssemos até lá. "Mas você tem o que fazer lá?", foi a pergunta da foquinha. Claro, tenho a minha filha lá, sugeri que poderíamos ir na casa do ilustre casal de avós. Ah, mas Eliane Scardovelli não quis, preferiu não se meter na história da outra parte, a responsável por aquele lado era Gabriela Lian. No meu entendimento de jornalista com quase 20 anos de profissão, a verdade, a constatação dos fatos é a força matriz da matéria. Esse negócio de cada equipe acompanhar um caso detona a parcialidade.
  Fiz fórum com amigos jornalistas que acompanham essa saga entre Davi e Golias. A missão maior ficou a cargo do grande Sérgio Duran, pois já tínhamos combinado almoço na quarta-feira, em São Paulo. No almoço falamos sobre a entrevista que se seguiria. Levei documentos  para mostrar as brechas da Justiça que me impossibilitam, até o momento, de desmascarar a farsa da outra parte.
  Chegam repórter e cinegrafista, já com câmera nas costas e microfone na mão. A pergunta é como me sinto, o que sinto pela outra parte, se penso que um dia seremos amigos. Há um esforço evidente para me arrancar lágrimas. Não, minhas lágrimas deixo em meu travesseiro, na hora em que durmo. Deixo para as horas em que escuto Chico Buarque. Agora, 4 meses depois, aprendi a segurar o pranto. Não vou deixar que mostrem uma mãe em desespero. Quero que mostrem a mulher lúcida, munida de documentos, provas e testemunhas com total credibilidade. E sim, também sou a mãe amorosa, preocupada em saber como está a filha.
  Digo do empenho da outra parte em manter o litígio, cheio de mágoa e rancor. Sérgio Duran se dispõe a fazer uma ligação para Jonas Melo Golfeto, provando diante das câmeras qual a sua atitude em relação a qualquer amigo meu. Ele simplesmente diz que não fala sobre o assunto (Dora) e desliga na cara. Para nossa total estupefação, a repórter diz que não precisa! Insistimos, ela  não quer mesmo mostrar a imagem do pai empedrado, raivoso, rancoroso, litigioso! Lembrei-me de quando tinha 20 e poucos anos, quando patinava na difícil profissão de jornalista. Mesmo iniciante, teria visto ali a oportunidade de mostrar a verdade, exposta facilmente. Não sei como Caco Barcellos ensina jornalismo, mas esse não foi o jornalismo que aprendi. Como disse, sabiamente, Sérgio Duran, "esses jovens repórteres não querem matéria, querem novela". O cinegrafista Welligton Almeida ainda disse que Dora é linda, "é tudo isso que você disse, vocês precisam superar isso pela Dora". Senti verdade e compaixão no que ele disse, compaixão por Dora, imparcialidade estava ali, nessa declaração. Sempre admirei cinegrafistas, tive passagem em reportagem de TV também. Pergunto: "então você conheceu Dora?". Ele se esquivou, mas depois da sexta vez, acabou confessando que acompanhou a busca de Dora e que ela estava ótima em Ribeirão Preto. Sim, pode ser que naquele momento, em choque, estivesse. Mas e agora? Quase 4 meses depois, como está? Não houve resposta.  Acredito também que ela ter ido "de boa" é o sinal de que eu nunca coloquei sentimentos de raiva ou repúdio em seu coraçãozinho tão puro.
   Eis que começam as chamadas do Profissão Repórter dessa semana. Muitos amigos viram antes de mim e tive que desconectar para conseguir escrever minhas matérias, tantas eram as mensagens, chamadas de bate-papo e telefonemas. Estava teclando com Danglares Silva, um querido que não vejo pessoalmente há 25 anos, sobre esse assunto e já eram quase 1h da manhã. Muita solidariedade de todos os lados. Praticamente um fórum no Facebook. E então entendi porque a relutância de Eliane Scardovelli em fazer a imagem de Sérgio Duran ligando para a outra parte: isso colocaria por água abaixo o teor da matéria. Na chamada do site está assim: "Pai reencontra filha. Mãe decidiu fugir por 4 anos". Piada! Quiseram dar um desfecho para  a matéria sem nexo veiculada no ano passado. Colocaram uma mãe em fuga, que estava aqui mesmo, em Santos, com a filha devidamente matriculada, fazendo ballet no Corpo de Baile da Cidade de Santos, uma referência na dança nacional. Quiseram mostrar o emocionado encontro entre pai e filha. Não mostraram que ele já sabia da filha há mais de um ano, não mostraram emails em que ele "exige" nossa mudança para São Paulo para ficar mais perto da filha, sendo que mandou a filha para Ribeirão Preto, 500 km mais longe! Mostrar a inflexibilidade do pobre pai sofredor derrubaria a matéria! Mostrar que ele esperou a Rede Globo para encontrar a filha mostraria sua frieza e calculismo. Preferiram mostrar a interpretação medíocre.
  Pior a chamada da TV, com erro grotesco de tempo e espaço. Diz lá que Jonas e Adriana "brigam" pela guarda de Dora desde que ela tem 1 ano. Mentira, mentira, mentira. Entrei com pedido de guarda e regularização de visitas quando Dorinha tinha 2 anos e 11 meses. Pedi regularização de visitas porque queria que minha filha visse o pai ausente. Foram duas festas de aniversário de 1 ano de Dora. Na de São Paulo, o pai chegou atrasado, depois dos parabéns e ainda pediu para algum amigo meu ir buscá-lo! Não tem nem fotos dele no evento. A segunda festa foi patrocinada pela minha família, na casa da minha prima Kátia, uma casa construída para dar festas. Foi muita gente, menos o pai ou a ilustre família Golfeto. O Guarujá era muito longe para ele. Tenho testemunhas disso tudo, viu equipe do Profissão Repórter?
  Temo pelo que sairá veiculado hoje. Mas a força da web ainda será maior que da Globo, por favor, repassem para todos essa história.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Paranóia da Outra Parte

  Depois de sofrer uma depressão profunda, ser internada por 1 mês em um sanatório psiquiátrico, pedir para o pai da minha filha, o ator Jonas Melo Golfeto, ficar com ela, ao sair da internação percebo que fui vítima de uma grande armação: sumiram com minha filha. Em menos de uma semana, em que pensei que descansaria e retomaria aos poucos, meu trabalho e minha vida, tive que correr atrás do paradeiro de Dora. Estava em Ribeirão Preto (oh, que novidade!), sob os cuidados dos avós, a psicóloga Ed Melo Golfeto, e o avô, o psiquiatra infantil, José Hércules Golfeto. O avô ainda me deixou entrar, a avó ficava nos seguindo, monitorando tudo o que dizíamos. Eu queria levar minha filha embora e Dora, com 2 anos e 11 meses, queria ir comigo e chorava muito. Perguntava: "mamãe, com quem eu vou morar?", com quem você quer morar, filhinha? "Com você mamãe". Ainda argumentei que era um absurdo a menina ali, sem pai, nem mãe. A avó, ríspida e autoritária, disse que estava com ela, que o pai viria no dia seguinte. Ok, essa parte eu sei, ela continua aqui, com os avós, sem pai, nem mãe. Fui dispensada enquanto minha filha ficava lá, aos prantos, gritando: "Eu quero a minha mãe!".
    Enfim, nunca entendi o empenho desses avós em tirar a neta da mãe, nem por que não entraram os próprios com pedido de guarda da neta, já que é com eles que ela fica, quando o filhinho mimado e caprichoso "consegue" a guarda. Tenho pra  mim que eles sabem que erraram, e muito, na educação do filho, que mente até sobre sua formação universitária, que nunca houve. Ele mente no próprio currículo que é formado em Letras pela USP-SP. Afinal, já aprendeu que ninguém vai lá apurar os fatos. Nem juízes, nem promotores, nem repórteres foquinhas. Mas, ei, outra parte, estou aqui! Não sou foquinha e sei bem da sua história...
   Mas, enfim, 4 dias depois, voltei para Ribeirão Preto, para uma audiência, com 3 testemunhas e um juiz muito justo, que mandou oficial de Justiça buscar Dora e entregá-la para a mãe! Ele entendeu que mesmo tendo passado por uma grave depressão, eu era a pessoa certa para ficar com ela. Ao buscá-la, o avô atendeu a porta e disse que ela não estava, a oficial nem entrou para averiguar... só consegui pegá-la 2 dias depois, na casa de um amigo do pai dela, em São Paulo... depois ele ainda tem coragem de dar entrevista para a Globo dizendo que eu fujo com minha filha. Ei, outra parte, lembre-se bem como tudo começou e pare de agir assim, com tanto ódio e sede de vingança. Eu amo minha filha e ela me ama. Ela está sofrendo aí,  longe de todos os amigos, da vida dela, da irmã, da mãe e até de você. Por que deixá-la com os avós e atestar que não é capaz de cuidar dela? Por que usar brechas da Justiça para impedir nosso convívio?

A tranquilidade enfim

  Consegui  minha filha de volta, depois de 3 meses, em que nunca impedi visitas ou telefonemas, o pai de Dora finalmente vai em sua escolinha buscá-la com oficial de Justiça, com a mãe psicóloga, com a irmã, a também psicóloga Raquel Melo Golfeto, o advogado e um policial! Tudo isso para exercer seu direito de visita nos finais de semana, sem deixar de fazer cena, claro, como bom ator frustrado. Era só dar um telefonema, mas ele preferiu essa celeuma. Preferiu ficar 3 meses sem ver a filha extra-oficialmente, porque é um burocrata. Artista burocrata!
  Depois disso tudo, pensei que enfim,  teria tranquilidade. Isso era junho de 2005. Decidi mudar para o Guarujá, para ficar mais perto do genitor, facilitar a vida dele para ficar mais com Dora e parar com essas brigas ridículas. Não sabia que ele passara o semestre inteiro indo atrás de falsos testemunhos, convencendo um porteiro mal instruído a depor contra mim, uma costureira de mais de 70 anos e até aos meus colegas de trabalho do Sebrae-SP. Lá passou por momentos de total constrangimento, chorando e tremendo, pedindo depoimentos contra mim. Quando a situação estava para lá de constrangedora, meu grande amigo Ali Hassan, puxou o sujeito pelo braço e disse que, se quisesse qualquer depoimento negativo sobre mim, que tentasse no RH.
  Eu nem imaginava, na minha visão cor-de-rosa do mundo, que o pai da minha filha fosse tão cruel e meticuloso em sua vingança contra mim. E vingar-se não sei do que também. Sempre o ajudei, por muito tempo o sustentei, dei a ele o único sucesso de sua vida: Dora Mendes Golfeto, a menina doce, meiga, carinhosa e inteligente que está no meio desse litígio criado pela outra parte. Que é sistematicamente arrancada da mãe.
  Falei para esse ser desumano que iria me mudar para o Guarujá, que então, falsamente, demonstrou querer trégua. Cheguei a fazer um trabalho para o Governo do Maranhão, em maio de 2005 e deixei Dora com minha mãe, a vó Laura que ela tanto ama, a típica vovozinha que faz bolos e conta histórias para a netinha. Porque, embora quisesse que tudo ficasse bem, tinha medo de deixá-la com o genitor e ele de novo sumir com Dora. Também sabia que meu sucesso profissional, de alguma forma atingia negativamente essa pessoa tão mesquinha. E porque meus 10 dias no Maranhão, não coincidiam com a visita dele. E Dora estaria mais segura e feliz com a vovó Laura.
  Chegamos a ir juntos numa festa junina, da escola Raízes, onde Dora estudava, em São Sebastião, antes da minha mudança para o Guarujá. Pensei que, enfim, minha vida voltaria ao rumo certo, que teria mais estrutura perto da minha mãe, aumentaria os cuidados com meu pai, que apresentava os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer, e tentaria manter uma relação de cordialidade com o pai da minha filha.
  A maior tempestade ainda estava prestes a desaguar.

sábado, 28 de maio de 2011

Sobre um Chileno

O Amor Dentro de Mim

    Estava na sala de aula da Metodista, em São Bernardo, onde estudei jornalismo. Ele abriu a porta atrasado, tirou os cabelos negros, espessos e lisos dos olhos e sorriu meio sem graça. Sentou-se ao meu lado e perguntou o que tinha perdido. Nada, eu que perdi de não ter te conhecido ainda, pensei. Seus óculos de aro preto e lentes grossas, deixavam seus olhos ainda mais rasgados. Parecia um índio, de pele morena e sorriso largo.
  Logo nos tornamos amigos inseparáveis, éramos do mesmo grupo, depois das aulas íamos ao mesmo barzinho tomar cerveja, falar de jornalismo, política, música e poesia. Francisco Cabezas, meu querido Chico, era chileno, portanto, poeta de nascença. Sua família mudou-se para o Brasil quando ele tinha 6 anos, em 1977, para fugir do Governo do ditador Pinochet. Nessa época, por aqui já se vislumbravam dias de esperança com a chegada da Anistia política. Então Chico teve toda a sua formação no Brasil, educacional, social e cultural. Mas nunca esqueceu as raízes, todos os anos passava férias no Chile e voltava confuso, falando "mais grande" e "mais pequeno". Dizia que quando se formasse voltaria ao seu País.
  Não lembro exatamente quando me apaixonei por ele, se foi nesse primeiro dia, em 1991. Se foi por alguma das inúmeras poesias que escrevia em meu caderno e que guardo até hoje ou se foi numa festa em que, embriagados, paramos de falar e começamos a nos beijar.
  Quando mais nova eu era ainda mais racional. Não queria trocar o certo pelo duvidoso. Nossa amizade era certa, a paixão é sempre duvidosa. Sempre preferi o bom amigo ao mal amante. Não que Chico fosse mal amante (nem cheguei a fazer o teste, na época), mas relacionamentos amorosos, geralmente alteram a amizade. Me arrependo muito até hoje de ter pensado assim. Além do mais eu tinha um namorado, com quem terminei só por começar a pensar no Chico com outras intenções. No fim, voltei com o namorado, que não era duvidoso, e com quem fiquei por 5 anos. Um ano após a conclusão do curso, Chico foi  mesmo para o Chile, trocávamos cartas (não tinha internet), declaramos nosso amor tardiamente. Por fim, as cartas foram cessando e perdemos o contato.
  Em março de 2003 recebo uma mensagem de um tal Javier Cabezas, meu coração disparou! O assunto era: Desde el Chile. Timidamente se apresentou e se eu fosse a Adriana Mendes que estudou na Metodista, perguntou se me lembrava dele. Pergunta descabida! Ele sim parecia ter esquecido da pessoa que mais se lembrava de tudo. Procurou por mim na internet e apareceram 3 Adrianas Mendes, uma atriz pornô (essa ele descartou), uma poeta portuguesa (poderia ser eu exercendo minha dupla cidadania e assumindo minha personalidade póetica) e um comentário escrito na revista Trip, sobre a eleição do Lula - essa era eu, Chico não teve dúvidas. Começaram as trocas de emails, logo nos telefonamos. E tudo conspirou a favor e em junho ele estava vindo para o Brasil para fazer um trabalho sobre vinhos.
   Quando fui buscá-lo no aeroporto era como se o tempo não tivesse passado. Não faltava assunto e quando faltavam palavras começavam os beijos... e que beijos! Foram 15 dias incríveis, reuni em casa os amigos da faculdade e que tanta saudade sentiam do Chico. Fomos em eventos de degustação de vinhos, passamos um final de semana em Boiçucanga e Dora adorando tudo isso. Ela tinha 1 ano e 4 meses e Chico era uma figura masculinha fantástica. Levava de cavalinho, brincava na cama, dava beijinhos e ainda preparava a mamadeira. Era pai presente de uma menina, Amanda, de 3 anos. Entendia bem do assunto. Nesse período ele foi uma noite para Santos (morávamos em São Paulo), para visitar um velho amigo e voltou no dia seguinte. Passei a noite rolando na cama, angustiada e me bateu um desespero. Ele iria embora e minhas noites seriam assim, até superar, como tudo na vida.
  Senti também que aquela era a vida que eu deveria estar vivendo. Era com ele que eu deveria estar e ter filhos e compartilhar amigos, trabalho, momentos. Foi muito triste a partida. Foi como um poema do Neruda: "Antes de amar-te, amor, nada era meu. Vacilei pelas ruas e as coisas".
  Depois que ele se foi, mergulhei num imenso vazio. Para piorar fui demitida. Houve a tal briga com o pai de Dora, em que ele fez Boletim de Ocorrência contra mim (já postei sobre isso). Só não caí imediatamente em depressão porque tinha o sorriso, o amor e alegria de Dora. Me segurava por causa dela. Estava em São Paulo, sozinha com minha filha, sem apoio nenhum da outra parte, nem emocional ou financeiro. O ator Jonas Melo Golfeto, quando avisado de que fui demitida e que ele precisaria me ajudar de alguma forma, fosse com dinheiro ou ficando com Dora para que eu pudesse viajar a trabalho, ainda disse que eu quis ter a filha, então que cuidasse dela sozinha. Tanto egoísmo e nenhuma consideração por Dora.
  Quando eu contei sobre isso para meu amado Chico (mesmo no Chile era tão próximo), disse que deveria ser um modo de me machucar porque viu que fui feliz com ele. "Mas você foi embora e estou muito triste". Não bastava me ver sofrendo de amor, desempregada e cuidando sozinha de uma criança de 1 ano e meio. A outra parte queria ver meu fim e tenho que admitir, nunca conheci alguém tão determinado em atingir seu objetivo do mal. O que me alenta é que todos os ditadores acabam sendo derrotados por movimentos populares. Cedo ou tarde a verdade vem. Mesmo que Dora esteja sendo alienada nesse momento, quando crescer irá ler tudo o que escrevo e tirar suas sábias conclusões.
 
 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre o Chile

Entre a Neve e Mar

   O Chile talvez tenha a geografia mais singular do Planeta: é uma faixa de 4.300km de comprimento por 175 km de largura, encravada entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Tem o deserto do Atacama, o mais seco do mundo, na extremidade norte e geleiras e lagos, na extremidade sul.
   Vai ver por isso os chilenos sejam, na maioria, pessoas quietas, de pouca conversa na rua. O oceano de um lado e a montanha com neve do outro levam à introspecção e reflexão. No Chile todos são um pouco poetas. Gostam muito de literatura. Não é por acaso que lá nasceu um dos meus autores preferidos, o emblemático poeta Pablo Neruda. É dele a brilhante frase: "Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra". Tomei essa frase como minha ainda na adolescência.
  Neruda é o poeta do mar e do amor. E por amor ao Chile desistiu da sua candidatura à presidência em favor do amigo Salvador Allende. Morreu em setembro de 1973, após a destituição do governo Allende, por um golpe militar! Para Isabel Allende, filha de Salvador, em seu livro Paula, "Neruda morreu foi de tristeza".
  A ditadura no Chile foi uma das mais sangrentas da história e durou de 1973 a 1990. Após a anistia, o País seguiu uma trajetória de crescimento econômico e social digna de estudos, tendo o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da América Latina. Também foi o que mais avançou nos direitos à liberdade de imprensa e tecnologias na construção civil.

Abalos Sísmicos e Acidentais

   As tragédias ambientais no Chile só não são maiores porque estão, de certa forma, preparados para grandes catástrofes. São recorrentes pequenos tremores. Mas em fevereiro de 2010 aconteceu um de proporções bem mais graves:  o tremor de 8,8 graus na escala Ricther fez a Terra girar mais rápido. Segundo estudo feito pelo cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, Richard Gross, esse abalo deslocou o eixo da Terra em 8 cm e mudou a rotação do planeta em 1,26 microssegundos. Esse mesmo estudo calculou o impacto do terremoto de 9,1 de Sumatra, em 2004, que reduziu o tempo em 6,8 microssegundos e deslocou o eixo em 7 cm.
  Então não é só impressão que o tempo está mais rápido e que as coisas estão fora de eixo. O Planeta está mesmo saindo do lugar e nosso tempo fica cada dia mais curto. E talvez por isso eu não queira mais perder tempo dormindo.
   Recém-chegado ao posto máximo do País, o presidente Sebastián Piñora, teve que encarar esse terremoto seguido de tsunami, muito simbólico. Mal a população se reerguia de mais essa tragédia e acontece o soterramento de 33 mineiros, lá em Copiapó (onde mora um grande amigo meu), no Deserto do Atacama. O resgate desses mineiros foi uma comoção mundial, feito com tecnologia avançada e quem puxou a responsabilidade foi o próprio Governo, pois a empresa não teria estrutura para trabalho tão minucioso. O que parecia mais uma tragédia anunciada, transformou-se em exemplo mundial de esperança, fé, bravura e amizade.
  E por esses e mais tantos motivos tenho uma conexão e admiração profundas pelo Chile, por seus poetas, suas pessoas e suas histórias.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sentimental Assim

  Tenho estado nostálgica nesses dias, talvez para lembrar quem sou e como cheguei aqui, nessa situação tão triste. Mas ainda não consegui entender. Não entendo como uma pessoa bacana, amorosa, inteligente, popular e independente (essa pode não ser eu, mas é como lembro de mim) tenha caído em tantas armadilhas jurídicas. É que também sou impulsiva e imediatista. E imediata é uma coisa que a Justiça não é. Outra verdade é que nunca conhecemos totalmente uma pessoa. Quando eu ia imaginar que o genitor da Dora iria fazer tanta questão de ter a guarda dela e ficaria por meses atrás de falsos testemunhos, achando brechas na Justiça para tirar a guarda da minha filha? Tirar de mim para dar aos avós... não sei o que é pior, pelo o que os avós fizeram com ele, temo pelo que façam com Dora. Será que vão criar uma garota mimada, cheia de vontade ou irão podar sua liberdade, não deixando que fale com mãe, amigos, irmã... nenhum dos dois panoramas me parece favorável. Me sinto um pouco como Harry Potter em A Ordem da Fênix: "Sinto tanta raiva o tempo todo".
  Tento não pensar negativamente, mas estou sempre duas jogadas atrás. Já me disseram que a outra parte foi inteligente, soube esperar para pegar a Dora na hora certa. Não vejo assim. Não julgo ser inteligente ficar tanto tempo sem ver a filha, ficar fazendo um promotor perder tempo em acordo que jamais existiria. Acho tudo muito frio e calculista. Não vejo amor em nenhum momento. Dora estuda na escola Albert Sabin, em Ribeirão Preto, segundo seu genitor, num dos muitos emails destinados a me humilhar, "agora ela sabe o que é uma boa escola". Bom, então o Colégio Sion, onde ele a matriculou quando morou com ele em São Paulo, também não era uma boa escola. Eu não sei, me proibiam de entrar lá... fui num Dia das Mães porque Dora pediu muito. Ela só tinha 4 anos!
  E ainda penso no dia das mães, em que Dora ficou sem mãe e sem pai, pois esse estava em São Paulo. Quem quiser prestigiá-lo, a peça está no Centro Cultural Vergueiro, o horário precisa confirmar. Aproveitem e digam Merda para ele e mandem quebrar a perna! É o jeito que os atores desejam sucesso e boa sorte, fique claro, antes que venha mais um processo por injúria ou difamação... tanto processo parece coisa de quem tem muito tempo livre. O que eu queria mesmo é que esse homem trabalhasse muito, ficasse muito ocupado, encontrasse uma mulher incrível que lhe desse muitos filhos lindos e saudáveis! E que deixasse seu coração empedrado ser invadido de amor e compaixão.
  Mas o mundo perfeito não existe. Enquanto isso não acontece escrevo o que parece ficção. Tenho acompanhado outro blog, de Elaine César, sobre Gravidez, Câncer e Alienação Parental. Como eu, ela também sofre por erros judiciais, no meu caso cometidos por advogados contratados por mim, lá no começo de tudo. No caso dela, como no meu, uma Lei absurda que diante de qualquer denúncia infundada, para proteger o menor,  passa imediatamente a guarda para a outra parte. Todos sofremos muito. O que torna a história de Elaine César mais singular é que está grávida enquanto luta por ter seu filho de volta e tem câncer. São muitas batalhas para uma única mulher. Mas ela tem tantos amigos e pessoas que nem a conhecem - como eu - mas que estão solidárias e abraçam sua causa, que tenho certeza, sairá vencedora. Ela também tem um companheiro leal, que a apóia, uma rede de pessoas do bem. Tomara que tudo isso ajude.

Voltando a Nadar

  Enquanto não posso fazer nada, a não ser esperar, penso que voltar a nadar seria o melhor nesse momento. Quando escrevi sobre Zé Ricardo, meu primeiro amor e nadador que muito me inspirou, uma onda de saudade invandiu meus pensamentos. Coincidência o não, esteve em minha casa, outro nadador, Marco Sapucaia. Então fizemos um pouco de alongamento e, mesmo sendo quase uma mulher elástico, me senti travada. Preciso voltar a nadar. Ficar contando azulejos, ouvir o barulho das braçadas, sentir o cheiro de cloro. Nadar é um grande exercício de paciência. Preciso encontrar minha paciência perdida.
  Também lembrei porque gostava tanto de natação. É muito bom ver nadadores de ombros largos e corpos alongados. Nadadores são todos lindos, por mais feios que sejam! Não há quem não fique lindo após uns quilometros na água. A sensação de torpor e a fisionomia relaxada embelezam! Preciso voltar a ver beleza em tudo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Amigos do Lado do Bem

   Escrever esse blog é uma forma de não transformar em câncer toda a dor que eu sinto. Dor da saudade, dor da calúnia e difamação, que sofro há 7 anos, dor por ser punida pelo crime de amar demais minha filha Dora. Recebo críticas por carregar muito nas palavras, por escrever nome e sobrenome das partes envolvidas, que isso acarreta em mais desejo de vingança. Sinceramente, não vejo por onde ser mais vingada ou odiada. O que percebo é que escrever faz a verdade surgir cristalina. Tudo bem que colocar os tais nomes faz com que os mesmos sejam vistos em sites de busca, ninguém quer ver seu nome relacionado com injustiça e privação da liberdade de uma criança ou por correr atrás de falsos testemunhos ou aproveitar brechas da inJustiça para eternizar um processo. Mas eu também tive meu nome caçado. Pior, em email enviado a todos os meus contatos jornalísticos e amigos pessoais, o genitor de Dora, afirmou que temia que eu matasse Dora e me matasse. Tenho tudo guardado. Isso era uma mentira estapafúrdia, usada por falta de argumentos. O que escrevo é verdade pura, com provas. Verdade com amor.
  Ontem recebi mensagem de uma mãe que não me conhece, mas soube da minha história por um amigo que é totalmente a favor da versão da outra parte. No início essa mãe também era, sentiu pena do genitor, mas achou meu blog e leu tudo e achou minha história muito mais coerente. Sim, a verdade é sempre mais coerente, por mais bizarra que seja. Essa mãe, que não conheço, me incentivou a continuar, dando como exemplo sua própria conclusão. Se não fosse meu blog, continuaria acreditando na mentira. Trocamos vários emails ontem na minha madrugada insone e acredito que esse é o caminho a ser seguido.
   Com esse blog pude retomar contato com pessoas queridas, porém perdidas na correria dessa nossa vida século XXI. Como os irmãos Bonvenuto, meus primos, filhos da prima da minha mãe. São 6 irmãos, bonitos, inteligentes e de corações transparentes. Retomei contato primeiro com o Ricardo Bonvenuto e por ele soube do blog do maestro Fábio Bonvenuto, que toca um lindo projeto de música para surdos e cegos, em Guarulhos. Li as matérias sobre essa ação do Fábio e senti tanto orgulho por conhecer essas pessoas.
  Quando postei sobre meu querido Zé Ricardo, que partiu tão precocemente, também recebi mensagens de tantos amigos, como Alexandre Oliveira (Tatoo) e Ary Fonseca Jr, que não tinha contato há tempos. E mais recentemente, recebi uma linda mensagem de Marcos Mendes, meu querido Marquinhos, que mora lá no Japão, que não vejo há 20 anos (mas que tenho notícias por sua irmã, Márcia Mendes, minha amiga e dentista). Para variar, são meus amigos de infância, da natação. Ele leu o blog, não sabia das minhas angústias e desventuras, sentiu muito e desacreditou que isso pudesse estar acontecendo comigo, que sempre prezei tanto a amizade. Isso me tocou tanto, tanto, Marcos Mendes nem imagina o quanto, porque esse amigo lembra de mim assim, uma pessoa sempre disposta a fazer e manter amigos, com alegria, solidariedade e dedicação. Agradeço tanto por não ter sido esquecida. Por lembrarem de mim por minhas boas atitudes e ações. Há tanto tempo me pintam como monstro que tem dias que começo a acreditar nessa mentira. Que bom que tenho amigos espalhados pelo mundo todo, que me trazem para a realidade, que me fazem lembrar quem realmente sou. Agradeço aos amigos que moram no Japão, no Chile, na França, nos Estados Unidos, na Argentina e que não  me abandonam. Também os que estão aqui perto. Os espalhados pelo interior de São Paulo. Família Yumoto, em Santa Catarina. E tantos amigos no Rio de Janeiro, no Mato Grosso, na Bahia... como é bom ter essa família que escolhi ter.
  Nos momentos de maior solidão e dor penso em todos eles e como me querem bem. Isso me dá muita força para continuar e pensar que a vida se resume mesmo na eterna luta entre o bem e o mal. Estamos todos do lado do bem.

domingo, 22 de maio de 2011

100 Dias Sem Dora

  Cem dias é uma data significativa demais. Tem nome de livro, de filme, de tanta coisa... mas hoje significa uma dor de 100 dias e sem fim. Significa uma sensação de angústia por não ser ouvida e por não saber como Dora está...
  Nesses 100 dias houve o pior terremoto da história do Japão, um Tsunami sem precedentes, um acidente nuclear ainda nebuloso, a morte de Osama Bin Laden, assassinatos cruéis, atirador em escola do Rio de Janeiro, mãe que deixou bebê no lixo do hospital, mãe que deixou bebê na caçamba do lixo, escândalos políticos que nem escandalizam mais. Mas também bons acontecimentos. Nasceram Fátima e Antônia, duas priminhas de Dora, filhas de minhas primas. Um dia Dora as conhecerá.
  Nos 3 primeiros dias desses 100 dias, Dora me mandou 2 emails quase taquigrafados, deu até pena, tipo esqueceram o computador ligado e ela correu para se comunicar. Me deu um telefonema 2 dias depois de ser levada, mas no final chorou muito... desligaram e nunca mais me ligou. Nesses 100 dias, Dora me mandou novo email, criado agora, na sua nova vida. Escrevi muito para esse endereço, sem resposta. Ou foi o genitor que criou e apenas ele lê, ou tem sempre alguém atrás dela para ver o que escreve e assim ela não escreve. Eu sei, ela vivia comigo!
  Nesses 100 dias procurei uma advogada, tentei descobrir o novo endereço do genitor de Dora, pois no endereço de São Paulo não era encontrado. Liguei para o avô dela, o renomado psiquiatra infantil José Hércules Golfeto. Me disse que Dora estava ótima, não sentia falta de nada, era inteligente, educada, espirituosa e muito discreta. Sim, eu sei, fui eu que a criei assim! Disse ainda que o filho dele estava entrando com os meios legais cabíveis para que eu e Dora pudéssemos nos encontrar. Sim, estava, com um pedido de suspensão de visitas, já que a ação pedindo a destituição da minha maternidade não deu em nada.
  Liguei de novo para esse avô, que não sabia o endereço do filho, " você sabe, eu e Jonas somos só meias palavras, não há muito diálogo entre nós". Sei bem, com esse seu filho nunca há diálogo, por isso deu no que deu. Por isso me separei dele tão rápido! Esse psiquiatra renomado ainda insistiu para que eu fizesse tratamento. Ora, primeiro, não sou paciente dele, jamais fiz consulta com ele, e pelo filho que tem e pela maneira que age, acho que jamais me consultaria com médico desse tipo. Acho que é outra pessoa que precisa de tratamento, mas enfim...
  Nesse tempo, a outra parte me mandou email sobre um órgão de conciliação em São Paulo (só pra juiz ver), liguei, marquei, passei para ele por email (porque ele jamais atende minhas ligações) e nada. Nesse tempo, a outra parte marcou de nos encontrarmos no Fórum João Mendes, em São Paulo, depois desmarcou, depois marcou de novo, depois desmarcou de novo. Depois marcou no Fórum de Santos, desmarcou por email 3 horas antes, porque o advogado dele não poderia ir... sempre o advogado dele, tão ocupado.
  Nesse tempo comecei a escrever esse blog e num dos textos mais inspirados - Síndrome do Amor - falei dessa associação, que fica em Ribeirão Preto. Foi quando a outra parte leu e desesperou-se porque achou que eu havia descoberto que Dora estava morando em Ribeirão Preto! Então ligou em pânico para o advogado dele, que ligou para minha advogada, que entendeu que eu estava na porta da casa dos avós, dando escândalo! Quanto medo de mim... sou apenas uma mãe sem filha, partida ao meio, com um buraco no peito, triste, cansada, sozinha,  por que tanto medo de alguém como eu? O único poder que tenho é o da palavra. Mas ainda não pude usá-la.
  No dia seguinte desse texto fui para São Paulo, 8 de abril, para uma audiência. Me preparei física e, principalmente, psicologicamente para essa audiência. Não houve audiência, minha advogada desistiu da mesma ao saber que o endereço de Dora era em outra comarca, a de Ribeirão Preto. Nesse tempo fiquei sabendo que o cara bonzinho e conciliador (aquele que me enviou mensagem sobre um órgão de conciliação), havia entrado com liminar pedindo suspensão das minhas visitas. E o juiz aceitou, vai saber o que está escrito na nova ação, afinal, a outra parte nunca inicia uma ação com menos de 1.500 páginas... acho que a vida dele é tão vazia, que precisa ser preenchida com papéis e assinaturas. Quanta falta de amor!
   Então liguei de novo para o avô psiquiatra infantil da Dora, afinal, o cara me enganou muito, dizendo não saber onde a neta estava, estando o tempo todo na casa dele. O maior ator dessa história é José Hércules Golfeto, é a mente superior disso tudo! A secretária do consultório anotou meu recado. Como no fim do dia não houve retorno, tornei a ligar. Dessa vez a secretária disse que ele não ria falar comigo, era recomendação do advogado do filho dele e que haveria uma audiência 9 de maio e eu que esperasse! Ah, esses advogados e suas recomendações para perpetuar o litígio... na verdade não sei se foi o advogado ou mais uma mentira desse médico psiquiatra, que no auge de sua interpretação fantástica disse que mãe e filha precisavam estar juntas! Que era injusto separar irmãs!
  Nesses 100 dias outra audiência foi marcada, mas desmarcada um dia antes de acontecer. Nesses 100 dias, Dora passou o dia das mães sem mãe e sem pai, porque o pai amoroso,  presente e cuidadoso pegou a filha e levou para morar com os avós e leva sua vidinha tranquila em São Paulo! Mas ele diz, por meio do advogado dele, claro, que mora em Ribeirão Preto e trabalha em São Paulo. Será que tem jatinho e eu não sei? Enfim., esse genitor ator trabalha nos finais de semana em São Paulo, logo não estava com Dora nem no dia das mães... isso ao menos mostra que ele  tem noção de sua incapacidade de cuidar da Dora, sabe que vai vacilar, que não vai conseguir acordar para levá-la onde tem que levar, enfim, ele deu seu atestado de incapaz mandando a filha morar com os avós.
  E minha Dorinha está lá com o casal septuagenário. O lado bom é que está levando alegria e um pouco de sentido para a vida daquela gente... espero que não suguem toda a sua energia e vivacidade, que não coloquem tristeza naqueles olhos de Capitu.
  Nesses 100 dias Dora perdeu o desenrolar da língua de Miranda. Agora Miranda fala tudo e nunca esquece a irmã, todos os dias fala de Doinha... e agora já aceitou que "Doinha foi emboia", antes achava que fosse voltar... tive que tirar todas as fotos visíveis de Dora, pois Miranda se punha a chorar... agora pega as Barbies da Dora e fala que é "da minha Doinha". Sim, é sua irmã e sempre será, pena perderem a infância juntas. Nesses 100 dias talvez Dora não tenha visto nenhum jogo do Santos, sua camiseta do time também ficou aqui, com certeza não vão dar-lhe outra, pois Dora não terá nada que remeta à sua antiga vida. Nesses 100 dias deve ter feito novos amigos na escola, mas seus melhores amigos estão aqui. Espero que ela sinta toda a vibração de amor e amizade que todos sentem por ela. Espero que isso lhe dê esperança e alegria para voltar. Que ela acredite que vai voltar! E que mantenha-se resignada e calma, como sempre foi.

Sobre Sapatilhas de Ponta

  Dora não via a hora de chegar o quarto ano do Balé no Municipal de Santos, pois só no quarto ano usaria sapatilhas de ponta. Fizemos a matrícula para o segundo ano no fatídico 10 de fevereiro, quando foi levada pelo pai, oficial de Justiça, advogado e Rede Globo. Gosto de lembrar isso, pois o genitor fez questão de levar a Globo para registrar a retirada de Dora de sua doce vida.
  Enfim, sobre as sapatilhas de ponta, a diretora do CBI (Corpo de Baile Infantil), do qual Dora fazia  parte, alertou que não se deve usar antes dos 10 anos, se quiser seguir carreira, porque usá-las antes acaba com as articulações da criança. Como a vida de bailarina não é muito longa, o correto é tentar prolongá-la ao máximo.
  Mas Dora está fazendo balé em Ribeirão Preto e com sapatilhas de ponta! Ou não são bem informados por lá ou querem suprir as dores de saudades de Dora com prazeres imediatos, como a utilização de sapatilhas de ponta, afinal, era um grande desejo dela. Já que não pode ter mãe, irmã, amigos, praia, balé no Municipal de Santos, que seja feita a vontade das sapatilhas de ponta. Para que preocupar-se com suas articulações? Ora, se ninguém lá se preocupa nem com seus sentimentos... mas há alguém aqui que sabe o que Dora sente e precisa. Um dia Dora vai crescer e ler tudo que sua mãe escreve. Irá ver as ações que seu genitor entrou contra mim, irá ver que ele queria me tirar da certidão de nascimento dela. Irá constatar que seu genitor não queria ficar com ela, apenas separá-la de mim. E o que acontecerá então? O tempo, sempre o sábio tempo, dirá.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

De Quando nos Tornamos Personagens

   Estava na redação da assessoria de imprensa do Sebrae-SP quando me liga a repórter do livro Crianças a Bordo - Guia Quatro Rodas. "Eu precisava de uma mãe que viaja direto com seu bebê, para dar dicas. A Bia Reis me passou seu contato, disse que você e Dora viajam sozinhas quase todos os finais de semana". Lá vem a Bia me fazer virar entrevistada. Foi minha segunda vez nessa situação. Na primeira contei minhas aventuras como repórter de moda para uma estudante de jornalismo. Mas a história não é essa.
  No fim acabei mudando um pouco a direção da entrevista, que seria mais sobre segurança em viagens com crianças. Falamos de papinhas adequadas para a trip e de como distrair os pequenos durante o percurso. Minha tática era levar muita música, bem variada. Ouvíamos juntas as lúdicas canções do Palavra Cantada, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Ilha Rá-Tim-Bum, mas também mantive minha fidelidade ao Pixies, me abri ao novo Strokes (na época, 2003, quando Dora tinha 1 ano e 3 meses, era novo) e essa era nossa básica trilha sonora para descer a Serra do Mar, em praticamente todos os finais de semana. Como éramos felizes!
  Uns meses depois foi uma repórter da TV Cultura que me ligou. "Vamos fazer uma matéria sobre o lançamento do Bebê a Bordo e pedi uma personagem legal, me passaram seu contato". E lá estava eu marcando sábado de manhã, às 11 horas, para acompanharem nossos preparativos.
  Chegaram pontualmente uma hora antes. De propósito, para eu não fazer armação, achei até engraçado. Dorinha foi correndo para a porta assim que tocou a campainha. Aparece um cara com uma câmera daquelas bem grandes e uma moça com microfone. "Enta, é polaqui", chama Dorinha, toda anfitriã, levando-os para o quarto dela. A mochila já estava aberta e Dorinha guardou duas fraldinhas. Separou algumas roupas e me deu para dobrar. A equipe ficou impressionada. Ainda tomamos café e fui me trrocar enquanto Dora distraía as visitas. Ninguém acreditava que aquela criança tivesse 1 ano e meio. Nem eu!
  Fomos para o carro, coloquei Dora da forma correta na poltroninha, falei sobre cinto de segurança e então saímos rumo ao parque do Ibirapuera. É que ia dar um passeio por lá, só desceria depois do almoço. Tudo seguiu tranquilo, Dora fez gracinha para as câmeras e a matéria encerrou com ela dando tchauzinho.
  Essas foram as primeiras vezes em que nos tornamos personagens da vida real. Lindas imagens de mãe e filha em momentos íntimos de cumplicidade, dedicação e carinho. A mãe que dá dicas de bem cuidar, a criança com inteligência precoce, comunicação expressiva, brilho nos olhos!. Mas essas imagens não são mostradas...

Pode Ser que Tenha Começado Assim

  Uma pergunta que sempre me fazem e nunca consigo responder é: como tudo isso começou. Consegui me lembrar dessa vez, ao menos, como começaram a entrar advogados, policiais e oficiais de justiça na ainda jovem, porém atribulada vida, da minha amada, idolatrada Dora.
  Ela tinha um ano e 5 meses, era agosto de 2003. Eu já havia me separado do genitor desde que ela completara 9 meses. Morávamos em São Paulo, num apartamento espaçoso e térreo, com cara de casa, no bairro da Vila Mariana. Eram 3 quartos grandes para Dorinha e eu e muitos amigos hóspedes. O genitor dela buscava quando queria, via quando queria, sem horários pré-determinados. Sua vida de ator era sem horários, quando não tinha ensaio, tinha a estreia de algum amigo, um filme imperdível... eu não ligava muito por ele não aparecer, só me estressava quando ele combinava de pegar sábado 10h, eu ligava às 11h para saber se estava tudo bem e acabava acordando o belo adormecido.
  Num desses sábados, em que o genitor buscaria Dora às 10h e devolveria às 18h, surpreendentemente, chegou na hora! Pegou Dora no colo, com a bolsa para o dia, com fralda, leite, roupas e tudo (sim, eu mandava com tudo) e disse que devolveria no dia seguinte, pois seu pai viria de Ribeirão Preto para ver a neta. Espera aí, não é assim, tenho que colocar mais roupas, tinha planos com Dora para amanhã. "Eu sou pai, tenho direito!", foi a resposta cheia de razão. Ok, direitos, mas os deveres foram esquecidos. Nunca pagou pensão, nunca pagou um pacote de fraldas e ficava com a filha quando bem queria. No que ele saiu com ela nos braços, me desesperei e fui no pescoço dele para tentar pegá-la. Em vão. Eu com 1,59cm, e 50kg, ele com 1,85cm e mais de 80 kg. Chorei aos cântaros ao ver minha linda filha sendo levada aos prantos, com seus bracinhos em minha direção, chamando mamãe...
  Liguei imediamente para a casa desse ser desprovido de sentimentos e falei com a mãe dele, avisando sobre o acontecido e que iria buscar Dora na sequência. Minutos depois me liga a minha amiga Claudia Pentiocinas perguntando o que o Jonas fazia em frente minha casa, com Dora no colo e um carro de polícia! Claudia morava  perto de casa e estava passando por minha rua quando viu o que considerou um absurdo. Inacreditavelmente ele saiu de casa com Dora direto para uma delegacia de polícia para fazer um Boletim de Ocorrência contra mim! Por agressão! Nesse momento eu percebi o quanto ele não se importava com o bem estar de Dora, levar um bebê para uma delegacia, para fazer um B.O. contra a mãe 100% integral dela!
  Um policial de bom coração e mente, pegou Dorinha no colo e a trouxe de volta para mim, ainda comentou. "Esse seu ex é louco!", me desculpei por fazê-lo perder tempo com isso e agradeci por trazer minha filha de volta. Acho que foi aí que tudo começou.
  Passei um final de semana tranquilo. Na segunda-feira, uma mensagem na secretária eletrônica para eu entrar em contato com a advogada dele. Não só liguei, como fui até o escritório da tal advogada, não lembro se era Márcia, Sandra, já foram tantos advogados nessa história. Lembro que era muito bonita e tinha olhos azuis desconcertantes. Fui com a cara dela. Conversamos longamente, ela disse que seu cliente queria regularizar as visitas: "Que ótimo, aproveitamos e estipulamos uma pensão alimentícia". A advogada ficou surpresa, não sabia que ele não ajudava em absolutamente nada e ainda atrapalhava. "Ah, mas Jonas me disse que o pai dele é fiador do seu apartamento!" . Era sim, mas assim que Jonas mudou-se de lá, o primeiro pedido foi para que eu arrumasse outro fiador, como se Dora não continuasse morando lá. No fim essa advogada acabou desculpando-se e entraria em contato. Não entrou. Vai ver desistiu do cliente, vai ver retomo o caso agora, afinal, tem mais advogados nessa história do que partes interessadas.
  Três meses depois, isso mesmo, três meses depois, o genitor da minha filha me liga, pois queria muito ver Dora, estava morrendo de saudades. O detalhe é que eu nunca o proibi de vê-la ou falar com ela, ele simplesmente sumiu! Respondi que poderia vir imediatemante, era um domingo à noite. "Ah, hoje não posso tenho um compromisso agora, pode ser terça-feira." Por mim tudo bem, nunca vi alguém  morrer de saudade desse jeito, mas enfim, não se podia esperar mais que isso de alguém sem sentimentos.
  Na terça ele apareceu, mal olhou na carinha de Dora, que finalmente via o pai (ela já estava até chamando um amigo meu de papai), se jogou no chão, ajoelhado, chorando, me pedindo perdão... ora, ora, não é a mim que deve pedir perdão, é para sua filha, que você está sem ver há mais de 3 meses (e morávamos na mesma cidade). Pedi que parasse com aquela cena piegas e saísse logo para passear com Dora, que estava esperando por isso.
  Os dois voltam 40 minutos depois, ela dormindo no carrinho, ele querendo conversar, que havia começado uma terapia e que percebeu o quanto foi ausente e mesquinho todo esse tempo. "Nossa, me passa o telefone desse terapeuta, que conseguiu em algumas sessões o que não consegui em um ano!". Enfim, achei que havia iniciado um período de trégua. Mas a outra parte não age sinceramente como eu. Apenas finge o amor que não sente, o arrependimento que não existe (mentes doentias nunca se arrependem) e forja provas. O objetivo não é estar com a filha, afinal, após 4 anos sem ver Dora, apenas fez seu teatrinho diante das câmeras da Globo e levou minha Dora para morar com os avós em Ribeirão Preto.
  Nenhum juiz sabe dessa história. Não consigo contá-la, a outra parte e seu fiel advogado estão sempre duas peças na frente, nesse interminável jogo de xadrez. A audiência marcada para 9 de maio não aconteceu. A morosidade da Justiça, como sempre dando brechas para quem age fria, calculista e morosamente, como Ela. Dia 10 de maio completaram 3 meses sem ver ou falar com Dora. Ela passou o dia das mães com os avós septuagenários, pois sua mãezinha estava lá em Ribeirão, mas não deixaram sequer falar ao telefone com ela. Seu genitor, tão "presente", estava em São Paulo, apresentando uma peça no Centro Cultural Vergueiro! E esse cara tem uma mania tão grande de perseguição que bloqueou minha amiga Paola Miorim no facebook, para ela nem tentar contato com ele. Mal sabe a pessoa bonita por dentro e por fora que está deixando de conhecer. Sorte da Paola..

Sobre minha estadia em Ribeirão 

  Fiquei na casa de Paola Miorim, amiga que não via há anos, nadamos juntas, fizemos colegial juntas, muitos shows e viagens juntas, uma vida para lembrar. Tem duas filhas lindas, uma de 15 e outra de 9. A mais nova parece com Dora, em todos os sentidos, gosta dos mesmos filmes, músicas, dança... e Miranda grudou nela, como se para sanar um pouco a dor da saudade da sua "Doinha". Depois de não ter audiência, a meiga Paola tentou falar com o genitor de Dora. Ele desligou na cara dela. Paola nunca foi de desistir fácil. Ligou de novo, a resposta: "Eu não te conheço, não confio na pessoa que você deve confiar e vou desligar". E desligou de novo, Paola até chorou. Sua filha mais nova também, ela teve medo. " Mamãe, ele pode começar a te seguir, tadinha da Dora, não poder ver a mãe nem no dia das mães...", essa menina nem conhece Dora e gostaria muito de ficar amiga dela, mas eu disse que o genitor de Dora jamais deixaria ela ter amizade com filha de amiga minha, aliás, ele não deixa ela manter amizade com nenhum de seus amigos. No cérebro dele é assim:  todos os meus amigos são inimigos dele. Coitado, nem imagina quantos inimigos tem!
    Estou sem advogados. Acho que posso me defender sozinha, ninguém sabe dessa história melhor do que eu. A outra parte diz estar imprimindo tudo o que escrevo nesse blog para usar contra mim (isso segundo o advogado dele em conversa com minha última advogada). Como já disse, tudo é usado contra mim. Não acho que escreva nada demais, é tudo verdade mesmo. Outra informação é que a outra parte sentiu muito a saída minha atual advogada, que é mediadora e conciliadora. Ora, se tem alguém que não quer fazer conciliação ou mediação é justamente a outra parte, que tentou, inclusive, me destituir a maternidade, tirando meu nome da certidão de nascimento da Dora. Quanto ódio deve sentir por mim! Já me disseram que o ódio pode matar...
  Dora é uma princesa, presa  num castelo, guardada por seus avós. O guardião oficial está muito ocupado com sua vida em São Paulo, não tem tempo para Dora. Mas em seu insano desejo de vingança, acredita que faz o bem, tirando Dora da vida que tinha e levando-a para morar com os avós, proibindo-a de falar com a mãe, com os amigos, com a irmã. E que assim seja.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Abismo Entre Adversário e Inimigo

  Lendo, novamente, o blog de Elaine César, sobre sua audiência da semana passada, me vi na cena. Ela espera um resultado rápido, porque o amor de mãe e filho tem urgência, espera perdão, espera trégua. Mas sentando-se naquelas cadeiras sóbrias, sala fria, olhando pela primeira vez uma pessoa (juiz) que irá determinar sua vida e de seu filho, entre advogados falando termos jurídicos e tratando crianças como objetos: "porque no ato da busca e apreensão do menor" ou "o local onde estaria mais seguro o enfante". Ninguém fala em lar, em amor, em compaixão, em perdão. Mas o pior mesmo é ver a outra parte impassível, sem emoção, como se nunca tivesse vivido uma vida em comum, olhar a outra parte e desejar que tente esquecer o desejo doentio de vingança e lembrar algum  momento, por mais efêmero que tenha sido, bom.
  Mas isso não existe no inimigo: perdão, compaixão. O que mais choca em audiência de Vara de Família é a terrível constatação de que você tem um inimigo. A primeira vez que passei por isso foi bastante simbólico e estarrecedor. Fisicamente doloroso. Até então sempre tive adversários na vida, jamais um inimigo.
  Era a primeira, e até hoje única, audiência entre a outra parte e eu. Após ter fugido do Visitário Público com Dora e nos ver no Fantástico 1 mês depois, com narração de Cid Moreira, voltei e realizei "a devolução da incapaz", com passagem por peritos. Fiquei sem ver ou falar com Dora por um mês após a "devolução"  (o termo jurídico é esse). Pensei que se já era obrigada a ver minha filha no Visitário Público, imagina agora a penalidade que nos seria imposta. Chego lá com meu advogado (já outro depois de descobrir que Muruy de Oliveira não tinha nem inscrição na OAB), a outra parte com sua advogada.
  Momento tenso, ao olhar a advogada da outra parte fico assustada, não sei se já estava sugestionada, mas senti uma vibração de ódio vinda dali. O pai da minha filha nem me olhava nos olhos. Eu estava com infecção urinária braba. Tive febres a semana toda. O juiz se mostrava propenso a acordos e disse que mãe e filha precisavam ter contato. Que eu não causei mal algum, ao contrário, Dora voltou com mais peso, mais saudável, bronzeada e feliz das férias forçadas com a mãe! Feliz, muito feliz ficou Dora livre comigo. Sim, finalmente tinha sua vida de volta com sua mãe!
  Sei que agi errado levando-a do Visitário, mas o próprio policial acenou para mim, achando que era uma mãe levando sua filha para o lar. E Dora pediu tanto para tirá-la de lá. E aquele lugar era tão sórdido! E minha amada filha não merecia aquilo. Nenhuma daquelas pobres crianças mereciam. Não pensei em consequências jurídica, agi com amor de quem não pode mais ficar vendo sua filha sofrer e esperando um sistema moroso funcionar. Justiça pelas próprias mãos pode ser o nome disso. Não julgo crime ter minha filha comigo, sendo capaz, responsável e podendo cuidar tão bem dela, ao contrário de tantos que deixam seus filhos aos cuidados de terceiros, de avós. Pessoas sem estrutura para cuidar dos filhos deixam com outros. Pessoas como eu cuidam dos filhos.
  Fui com Dora sim, me arrependi e não sabia como voltar, voltei ao ver a imagem da minha filha exposta no Fantástico. Ainda bem que a mídia tem sempre outra notícia para apagar as marcas da anterior. Ainda bem que 15 minutos de má fama passam rápido. Voltei e estava ali, naquele tribunal, disposta a apagar tudo. Minha meta era ter Dora morando de novo comigo como sempre foi. Mas não sendo possível queria vê-la em qualquer lugar que não fosse a tortura do Visitário Público. Era um direito  meu não querer mais encontrar minha filha num cárcere, afinal fui eu mesma, que isso seja lembrado sempre, por meio de um advogado inexperiente e incompetente, que pleiteei a visita! Assim que pisei naquele lugar e vi o inóspito da situação, me arrependi, mas a outra parte, o inimigo, aproveitou-se para agravar o problema, distorcendo os fatos, como se eu tivesse sido "obrigada"  a ver minha filha lá. Não importava que a filha também sofresse. Meu sofrimento era a meta maior do inimigo. Isso sim é um inimigo quase invencível. Alguém que não se importa com a dor da filha porque isso atinge a mãe, no caso eu, a inimiga.
  Nenhum lugar ele queria para a visita. Sua ideia já era dali me destituir do poder familiar e formar com Dora uma nova família, com outra "mãe". O pai de Dora insistia para que nossos encontros se realizassem no Visitário. O juiz ponderava que o lugar não era saudável para ninguém, muito menos para a criança. Mas o pai de Dora queria o visitário, porque eu poderia fugir. O juiz ainda alegou que fugi com polícia militar, monitoramento, que não adiantava visitário para mim. Eu jamais aceitaria encontrar Dora de novo num visitário. Não era só eu e o inimigo. Minha amada e desejada filha estava no meio disso. E pensava nela, acima de tudo.
  Após 4 horas (sim, 4 infinitas e dolorosas horas, em que tive de me retirar para ir ao banheiro por causa da tal infecção urinária), nenhum acordo foi feito. O juiz nos dispensou sem dar sentença.
 
Sempre em Frente

   Desci a Serra do Mar chorando. Lembrando cada ato que me fez chegar até ali. E lembrei de muitos saudáveis adversários da minha vida. Na escola eu disputava sempre a liderança de classe. Ganhei os quatro anos que disputei, mas meu adversário, o segundo lugar, me fazia ser cada ano mais ativa nos eventos da escola. Meu adversário, Marcelo, muitas vezes tirava notas maiores do que eu. Ele era nota 10 em tudo. Eu raspava em 8 e 9. Marcelo, adversário que dividia comigo a mesma fascinação por literatura e gramática,trazia novos livros, autores, me fazia estudar mais. Querer ser me melhor.
  Nas piscinas impossível quantificar o número de adversárias. Mas em algumas provas encontrava as mesmas nadadoras, que por vezes vencia, outras perdia. Os mesmos braços que disputavam braçada a braçada em raias diferentes, se abraçavam na chegada. Adversárias que me faziam treinar mais.. Querer me superar.
  No trabalho tem sempre um repórter que consegue a melhor matéria, busca as mais seguras fontes (pessoas que passam informações) e se destacam. Com esses quero aprender, dividir e conseguir uma notícia melhor, uma visão diferente do mesmo fato. Conheci tantos assim.
  Entre os mais generosos está Sérgio Duran, com quem tive a honra e o prazer de trabalhar no jornal Diário do Grande ABC, no caderno de Cultura. Eu cobria preferencialmente Dança e Artes Plásticas, Duran era o fera das Artes Cênicas e não se importava de me passar todas as suas fontes. Até o telefone pessoal da atriz Malu Mader ele me deu. Primeiro porque sabia que usaria todos com responsabilidade. Depois porque queria me ajudar a crescer como profissional. E, principalmente, por nossa afinidade imediata. Santista, ex-jogador de vôlei, casado com uma maquiadora supermoderna, pai de 3 filhos e ligado em todos os acontecimentos culturais, Sérgio Duran era o amigo perfeito, além de jornalista brilhante. Melhor adversário não há! Com esse, a meta é a perfeição!
  Mas o inimigo nunca te ajuda a melhorar. Ao contrário, os sentimentos despertados por ele só te derrubam. O inimigo usa armas fraudulentas para te aniquilar. Nunca é transparente, só age por ódio e vingança.
  E no fim de uma pequena batalha, a tal audiência, fui divagando na Serra do Mar, sobre meus adversários e inimigo. Como queria continuar aprendendo com meus adversários. E passar uma borracha em qualquer história com inimigo. Mas o inimigo é pai da minha filha, que paradoxo. Como apagar...
  E no dia seguinte, após uma noite de lágrimas, angústia e solidão, o juiz dá a sentença. Ganhei o direito de pegar minha filha sábado, 10h da manhã e devolvê-la domingo, 16h. Uma pequena vitória sobre o inimigo!  Isso foi em abril de 2006...

sábado, 14 de maio de 2011

Distorções: casos de Oswaldo Junior e Elaine César

   Dia desses numa das profundas conversas com meu primo Oswaldo Gonçalves Jr, sobre nossos processos e filhos, falei que tem uma história ainda mais triste do que nossas somadas, de Elaine César. Quando pensei que começaria a contar o caso, com riqueza de detalhes, para minha surpresa, não só ele conhecia, como já tinha assinado o Manifesto a favor de Elaine. Claro, meu primo é ator, Elaine César é documentarista, videomaker, mulher das artes. Ambos sofrem alienação parental. O caso de Elaine é profundamente triste porque foi acusada de um crime hediondo: pedofilia com seu próprio filho. O pai do menino foi lá, disse o que quis e mais uma vez um juiz determinou separar mãe e filho antes de apurar os fatos. É assim mesmo que funciona. Todos somos culpados até que se prove o contrário. Vara de Família é assim, ao contrário da Criminal, onde todos são inocentes até que se prove o contrário. Não entendo mesmo como funciona a Justiça , que deixa criminosos soltos, com todos os direitos e defensores, inclusive defensores de Direitos Humanos renomados internacionalmente, enquanto pais e mães amorosos, vítimas de ex-companheiros vingativos, são brutalmente afastados de seus filhos. Os Direitos Humanos dessas crianças ninguém questiona, ninguém defende a não ser diante de honorários gordos.
  Voltando ao caso de Elaine César, não bastasse acusá-la de crime tão terrível, o cauteloso pai ainda levou o filho para Brasília. Elaine descobre que está grávida de seu segundo marido. E também que sofre de câncer linfático. Tão injusto e tão triste. Queria confortá-la dizendo que existem centenas, talvez milhares de pais e mães acusados injustamente e afastados de seus filhos. Isso poderia trazer-lhe alento. Mas o fato de ainda ter de lutar contra o câncer torna tudo tão mais difícil. E tão corajosa.

   Passando para o caso de meu primo Junior. Esse cara que sempre pareceu muito mais jovem do que é, teve uma filha com uma jornalista. Na época cuidava da menina como uma mãe, preparava a comida, dava banho, fazia dormir, já que como ator tinha mais tempo livre e a mãe jornalista tinha o tempo tomado. Separaram-se, voltaram e tiveram outro filho, um lindo e amoroso menino. Muitas brigas depois, separaram-se definitivamente. Então o afastamento começou. Como ele não tinha condições de pagar pensão, desempregado e voltando a morar com os pais, também não podia ver os filhos. Em seguida começou a trabalhar como ator no roteiro cultural da cidade de Santos, atuando para crianças de quarta série, pelo centro histórico da cidade, um delícia de passeio, fui com Dora nesse roteiro quando ela tinha 3 anos e ficou maravilhada. Seu salário era pequeno para um trabalho suado. Pouca gente dá valor ao trabalho de ator, faço parte dessa porcentagem. Lembro que Junior comentava o quanto desejava estar no lugar do pai da Dora. Eu não exigia nada porque entendia as dificuldades de um ator iniciante, apenas queria o contato entre pai e filha. Ele era cobrado o tempo todo e afastado dos filhos.
   Até que sua ex entrou na Justiça. O processo tem baixarias e termos que não ouso expor aqui. Junior, corajosa e inteligentemente, foi para a audiência sem advogados, fez sua própria defesa. O juiz determinou visitas quinzenais e pensão de 200 reais. Isso mesmo, era apenas o que poderia ser retirado de seu salário. Sua ex desdenhou, disse que isso não dava nem para o lanchinho da escola da filha. Junior suportou  humilhações insuportáveis . Até que sua ex se casou novamente, mudou-se para uma casa digna de comercial de margarina e foi afastando cada vez mais os filhos do pai.
   Chegou o ponto em que o filho mais novo passou a chamar o padrasto de pai e o pai de Junior. Como doía quando meu  primo ligava, o filho atendia, falava brevemente e chamava a irmã: "Ei, irmã, o Junior quer falar com você". A ex teve outra filha com o atual marido. O que deixou  meu primo feliz, assim forma-se o vínculo eterno e, mesmo que se separem um dia, seu filho alienado não sofrerá o afastamento do segundo pai. Confuso isso, meio distorcido, mas é assim que é. Junior agradece sempre por seus filhos terem um padrasto que quer também ser pai. Que bom que ela não se uniu a algum homem drogado, bandido, do mal... e sim um homem bom, tranquilo, caseiro, que ama seus filhos.
   A filha mais velha, que passou tempo suficiente com Junior para saber que ele é seu verdadeiro pai, hoje tem 13 anos. Pega o ônibus e vai visitar o pai! Na primeira vez que isso aconteceu fiquei muito feliz. Talvez isso aconteça com a Dora. A diferença é que ela foi levada para Ribeirão Preto, distância que não permitirá que ela pegue um ônibus sem autorização. Está lá morando com os avós, prova cabal de que o interesse da outra parte nunca foi ficar com a filha, apenas afastá-la da mãe. O pai de Dora continua morando em São Paulo, levando sua vida como sempre levou. Deve ver Dora uma vez por semana, talvez menos. No Dia das Mães, Dorinha ficou sem mãe, nem pai. Ficou lá com os avós. Nem um telefonema para a mãe deixaram a menina dar... nem um cartão...
   O filho de Elaine César também está longe, bem longe, vai demorar muito para que ele pegue um avião e venha ver sua mãezinha. Nesse ponto, Junior teve mais sorte. Eu e Elaine fomos consideradas culpadas, primeiro somos punidas, depois podemos tentar nos defender. Mas o estrago já foi feito. Nossas vidas e de nossos filhos já foram devidamente marcadas. Infinitamente triste. Imensamente amados e afastados.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Janeth Arcain, a Fabulosa

   Mais uma vez tive a oportunidade de entrevistar a jogadora de basquete Janeth Arcain. A primeira foi no final dos anos 90, quando ela jogava no Santo André e eu trabalhava no Diário do Grande ABC. Ela já era a melhor jogadora da Seleção Brasileira, medalhista olímpica, campeã mundial em cima da China e mais dezenas de títulos.  Agora é mais que uma atleta prodigiosa, é uma entidade. Fundou o Instituto Janeth Arcain, com sede em Santo André, inaugurado em 2002. Os outros 3 ficam em Cubatão, Pindamonhangaba e Mauá. E Janeth quer muito mais. A inclusão social pelo esporte parece que se tornou uma missão de vida.
  Entrevistei Janeth ontem, 22h30, depois de 6 noites muito mal dormidas, uma delas passei virada mesmo. Estava no ginásio no Clube Internacional de Regatas, em Santos, após uma partida amistosa entre a equipe masculina do clube e a Seleção Brasileira Sub 17, da qual ela é técnica. Falar com Janeth, com seu jeito despojado de colega de classe é sempre um prazer.
  Mesmo com o ânimo melhor, essa noite não foi diferente: dormi, se tanto, 3 horas, dentro de um ônibus. E agora estou novamente em um ônibus, mas não consigo dormir, meu cérebro está a mil porque tenho muito trabalho acumulado e não quero parar de escrever. E preciso mudar meu foco para não desidratar. Depois de muitas lágrimas, Janeth me deu alegria. Pessoas como ela servem de inspiração. Aproveitou seu nome e sua fama e foi atrás de patrocinadores para realizar seus projetos. A ideia surgiu quando jogava na WNBA, a versão feminina da Liga Americana de Basquete. Lá, mesmo quem não é nascido em berço caro, tem oportunidade de conseguir um lugar no time. Claro, qualquer  pessoa em qualquer País precisa também de apoio familiar, não só assistencialismo governamental ou de “gente que faz”. Não adianta Governo e Entidade oferecerem tudo, se não há uma boa alma na família para inscrever, levar e trazer a criança.
  O Instituto, além de formar atletas, forma cidadãos, com projetos dentro do projeto. Um deles conscientiza sobre o planeta, a sustentabilidade e a importância de cada um no todo. Outro acompanha o rendimento escolar do atleta e um terceiro a alimentação e hábitos alimentares. O esporte, mais que saúde, é um estilo de vida. Quem cresce praticando esporte torna-se uma pessoa melhor, não que os atletas sejam melhores que os não atletas, mas são melhores do que se não tivessem praticado esporte. Digo isso por mim. Com o esporte se aprende a perder e a tentar de novo e aprender com o erro. Aprende-se a respeitar o adversário como alguém que te impulsiona e estimula a melhorar e não como um inimigo que precisa ser derrotado a qualquer preço.
   Poderia ter pensado muitas palavras para definir Janeth, mas fabulosa é a pessoa digna de fábulas. A vida dessa atleta é uma fábula. Nascida numa família humilde, em Carapicuíba, desde cedo tinha como matéria preferida a Educação Física, no que começou no basquete, aos 14 anos, em 3 meses foi campeã paulista de sua categoria e escolhida a melhor jogadora do campeonato. O resto é história. Mas como tantos atletas renomados, Janeth não ficou guardando suas vitórias em armários e estantes. Inteligente, empreendedora e de espírito elevado, usou seu  nome mundialmente conhecido para formar mais atletas e cidadãos. Tem 41 anos. Creio que sua trajetória ainda nem está na metade. Que o mundo seja presenteado com muitas Janeths.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Mãe que Amamentava o Filho

   No período mais doentio da minha vida presenciei uma das cenas mais tristes, dolorosas e humilhantes impostas a um ser humano. Falo de quando me obriguei a ver minha filha no Visitário Público de São Paulo, caso contrário ficaria sem vê-la até concluir uma perícia psicológica, o que pode significar um semestre nesse sistema tão burocrático. Eu via Dora todos os sábados, das 10h às 16h, no cárcere infantil já citado em outra postagem.
   Não lembro o motivo, mas troquei o sábado pelo domingo, ou foi a outra parte que trocou, minha memória não é exata nesse momento, porque esse domingo eu gostaria de esquecer, mas não consigo. Jamais esqueci e quando se aproxima o Dia das Mães lembro ainda mais.
  Era um dia abafado de novembro e no domingo aquela caixa de cimento ficava ainda mais cheia de crianças. Muitos pais trabalhavam no sábado e preferiam o domingo. Todos estavam muito agitados e suados, afinal os dois ventiladores de teto nem funcionavam. Eram só pais e eu de mãe e mais uma moça. Em um canto eu vi uma figura frágil, pequena e magrinha, com longos cabelos loiros e lisos. Ela estava deitada em um dos colchonetes daquele lugar insalúbre, devidamente coberto com um lençol de motivos infantis. Estava deitada com um bebezinho, que mamava vorazmente enquanto apertava o outro seio e olhava em seus olhos tristes e úmidos.
  Em um dos momentos que Dora ficou distraída brincando com a menina Vitória, me aproximei da moça. Precisava conhecer aquela história, como mãe e jornalista. Dei oi e ela me sorriu com lágrimas nos olhos, o filhinho já dormia, com aquela carinha de bebê satisfeito que foi bem nutrido pela mãe. O motivo de estar ali era tão cruel que me senti privilegiada por Dora já ter 3 anos!
  Separada logo após o nascimento do filho (nem fiz questão de saber o porquê), a jovem mãe entrou em depressão, talvez por se sentir sozinha com o bebê numa nova fase da vida onde é preciso 100% de dedicação física e emocional. Também estava desempregada e sua família não tinha muitas condições de ajudá-la. Numa tarde de sábado o pai do menino foi buscá-lo para passear. Ela ainda agradeceu, pois se sentia tão fraca que nem tinha vontade de sair de casa com o bebê. Anoiteceu e eles não voltaram. Ela entrou em desespero, ligou para todos os lugares possíveis e ninguém sabia o paradeiro do pai ou do filho. Ligaram para polícia e IML, nada. Isso fez com que ela comesse menos ainda e chorasse até desidratar. Alguns dias depois ela foi citada pela Justiça: o pai entrou com ação falando sobre a depressão dela e que poderia matar o filho e cometer suicídio! Mais uma vez um juiz decide separar mãe e filho baseado em suposições. O bebê estava com a mãe, mas ninguém tinha a guarda no papel, esse papel que vale tanto, vale mais que o amor. Esse juiz simplesmente passou a guarda para o pai, que pegou o bebê e mudou-se para São Paulo. Ah, um detalhe, a moça triste e bonita era de Curitiba.
  Essa mudança dificultou ainda mais o processo para ela, que aconteceria por meio de cartas precatórias, ou seja, qualquer ação que na mesma cidade demoraria uma semana, em outro Estado significaria 2 meses. Desesperada ela também recorreu ao Visitário Público! Como os custos de viagens seriam altos, via seu bebê a cada 15 dias. Junto com pessoas estranhas, observada por psicólogos, policiais militares e assistentes sociais. E amamentava o filho! Para continuar produzindo o alimento tão essencial, ordenhava-se e doava para bancos de leite.
  Só consegui abraçá-la e chorar. Dora veio correndo para saber se estava tudo bem com a "mamãe". Por que minha filha tinha que ver tudo aquilo? Talvez para já saber que no mundo tem muita gente boa, mas que os ruins são péssimos...
   Há mais de 5 anos a imagem dessa mãe me enche de emoção. Imagine uma mulher ser impedida de amamentar seu filho e pior, um pai cortar esse vínculo com a mãe. Mas essa mulher frágil era muito mais forte do que poderia supor. Mantinha seu leite para, de 15 em 15 dias, poder amamentar seu filho, afinal era o único momento que ele sabia o que era ter mãe. Nenhuma outra mulher faria isso por ele, só uma mãe com muito amor e coragem seria capaz de tanto sacrifício. E eu me perguntava onde estava o juiz que setenciou isso? Minha vontade era ir atrás desse homem tão justo, agarrá-lo pelo colarinho branco e levá-lo até o cárcere. Fazê-lo ver aquela cena. Uma mãe suicida que poderia matar o filho ordenha o leite para poder alimentar seu bebê quinzenalmente. "Olhe o que foi feito dessa vida". Mas vale lembrar que a Excelência só decretou a sentença porque houve uma outra parte pedindo. Não precisei perguntar o porquê da separação. Sem conhecer o pai só podia considerá-lo um ser desprovido de qualquer sentimento. E também entendi sua depressão.
    O bebê de 7 meses acordou e sorriu para a mãe. "Não era sonho meu anjo, você mamou, dormiu e vai poder mamar de novo". E foi o que ele fez. E me afastei para deixá-los naquele momento tão raro, tão íntimo e de tanto amor.
  Também tive depressão, também fui acusada de poder matar minha filha e me matar. E agora também tive minha filha levada para longe para dificultar ainda mais o processo. Pessoas cruéis existem em todos os lugares. Mães amorosas, que amamentam seus filhos, também. Nunca mais ousei ir naquele lugar no domingo. Passei a semana toda chorando ao lembrar dessa doce  mãe e do bebê impedido de ser amamentado. Só espero que hoje estejam juntos e felizes e que, diferente de mim, essa bela moça consiga esquecer.

domingo, 1 de maio de 2011

As Amigas que Não se Encontraram

  Há alguns dias eu escrevi sobre uma pessoa muito querida, que partiu muito cedo. Pensei que tivesse sido tão especial para mim porque foi meu primeiro amor. Mas, mesmo passados mais de 15 anos de sua morte, sua personalidade alegre e seu espírito elevado tocam muitas pessoas. Zé Ricardo não era único só para mim. Desde que escrevi sobre ele tenho recebido mensagens, comentários e ligações. Muitos choraram de saudade, outros tantos ficaram emocionados. Fiquei muito feliz porque não eram apenas meus olhos apaixonados que enxergavam toda a beleza daquele garoto. Quando a gente ama tende a super estimar o ser amado. Não, não foi esse meu caso. Ele era realmente uma pessoa muito especial. E eu, bem novinha, já tinha percebido isso!
  Como tenho escrito muitas palavras de dor por todas as dores que tenho sentido, de uns tempos para cá resolvi pensar não só em tudo de errado que tem acontecido e todo o azar que parece ter me seguido. Caramba, foram tantas passagens fantásticas na minha história. Conheci pessoas extraordinárias desde minha infância. E continuo conhecendo. Não é nada justo sofrer tanto pela única pessoa realmente ruim que trombou na minha vida. Claro que outras pessoas ruins passaram por aqui, mas nenhuma tão relevantemente má, nenhuma que tenha me prejudicado tanto e, pior, nenhuma que eu tenha tido uma filha! Não é justo só lamentar sobre um processo jurídico infernal e sem fim. Nem chorar a falta da minha amada Dora que não vejo nem falo há quase 3 meses. Ela está lá, bem ou mal, mas está. Um dia poderei vê-la, quando ela crescer - ou um juiz de bom senso decidir - ela voltará a morar comigo e com Miranda.
  Hoje é aniversário de morte de uma outra pessoa muito querida, Ceres. Sua mãe esteve na minha casa hoje, uma tia postiça que adotei como mãe e que me adotou como filha. Eu estava meio irritada, sem paciência, falando sobre minhas dores... e me dei conta que estava diante de uma mãe que enterrou a filha de 25 anos! Que egoísta eu sou! Minha tia Cida ainda vai me fazer o imenso favor de ficar com a Miranda amanhã após a escola, porque não estarei aqui para buscá-la. Mesmo envergonhada da minha total falta de sensibilidade, não tive coragem de falar nada. O que deve ser dito para uma mãe que perdeu a filha?

Tão franceses

  Talvez minha irritação venha desse zumbido no meu ouvido, que me incomoda há 3 dias. Pode ser porque estiveram hospedados em minha casa um querido casal - Chris e Maria - e sua filha Nêmora. Conheci essas pessoas por Dora, que na praia fez amizade com Nêmora. Ambas tinham 2 anos. Fiquei amiga dos pais, que já passaram muitas férias em casa. Chris e Nêmora são franceses, Maria é brasileira, mas mora na França há mais de 15 anos. O que me irritou é que Dora não estava aqui. Os encontros com Nêmora são tão raros... e nem por telefone elas puderam falar! Essas duas meninas tiveram uma genuína amizade desde que se viram pela primeira vez, na praia de Boiçucanga, no verão de 2004! Uma amizade que superou distância e tempo. Elas mandavam desenhos e escreviam cartas. Nêmora me pediu o msn da Dora. De que adianta? Não deixam ela falar com ninguém da sua vida anterior. Sim, porque Dora tinha uma vida que lhe foi arrancada, agora está numa nova vida que desconheço, assim como todos que conviveram com ela.
  E Nêmora está linda e tão inteligente, prefere ler a ver televisão - tão francesa. Ainda bem que tem Miranda, ficaram felizes por conhecê-la. Miranda amou Maria, chorou quando foram embora. Acordou hoje perguntando pela titia. Prefiro pensar que nos veremos em breve, quem sabe iremos para Paris, com Dora, que desde que começou essa amizade, manifestou o desejo de conhecer a França. Se o dia de hoje pudesse ser mensurado num sentimento, seria saudade.