terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A Madrugada dos Canalhas e a União dos Aflitos


    Só fui perceber que fiquei muito tempo sem escrever por aqui porque já é dezembro e fui mostrar o último post para Dora. Todo cheio de amor, união e esperança, sobre o Show de Talentos da Teia. Custei a dormir, primeiro porque não canso de olhar Dora e Miranda dormindo juntas, abraçadas. Segundo porque pensei sobre o último mês e os acontecimentos pessoais e mundiais que me impulsionariam a escrever. Sorri ao lembrar um comentário de Dora: “Quando acabar 2016, vão colocar: dirigido por Quentin Tarantino”.
    Nesses dias elegeu-se Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. E eu já estava bastante abatida com a vitória esmagadora do retrocesso e imbecilidade nas cidades de todo o Brasil, principalmente na cidade de São Paulo, onde moro, e do Rio de Janeiro, onde tanta gente incrível que conheço, mora. Duas cidades símbolos do Brasil. Então vejo Trump ser eleito, ao mesmo tempo em que leio o que posso, o que me enviam, o que me indicam sobre Estado Islâmico, Nação Árabe, Grupos Terroristas e Crime Organizado. Tudo para o trabalho final de um curso que fiz sobre Geopolítica e Grupos Terroristas. Fiquei tão cheia de informações e ideias que não conseguia mais dormir.
   Indo para um Encontro de Nadadores, que ajudei a idealizar, onde encontraria os melhores amigos, os mais antigos, os que não vejo há décadas, os que vejo sempre, levei um tombo. Fraturei o nariz em duas partes. Sangrei até quase desmaiar, senti muita dor, fiquei inchada, não fui. Me neguei a escrever sobre mais um acidente no lugar de um encontro cheio de emoção, lembranças e abraços. O mundo não precisa disso. Nem eu precisava...
   E um dia eu acordo às 6h, como de costume, faço café, me preparo para escrever o tal artigo para o curso e ligo a TV para ver as notícias do dia. Um avião havia caído. “Nossa, lá vem mais uma tragédia mundial”. Estava toda a equipe do Chapecoense. Conforme fui ouvindo o desenrolar da história, fui me dando conta da importância do fato. Não era “apenas” um acidente de avião, que choca por ter mortes simultâneas e coletivas e, direta e indiretamente, afetar um grande número de pessoas, num efeito dominó. Era um acidente com duas equipes inteiras: de futebol e de jornalismo. Eram pessoas que iam para a final de um campeonato internacional, todas com o mesmo destino: fazer o melhor trabalho, trabalhando no que gosta. Quase o sonho de quase todos. Era um time pequeno que ficou grande. Eram jornalistas especializados, alguns tão grandes, tão generosos, que mostravam as melhores imagens para todos, sem distinção, e nunca se mostravam (assim são os cinegrafistas, ao menos, todos os que já conheci).
   Então, para sair do choque emocional que uma tragédia como essa causa, imediatamente comecei a ver o fato de forma jornalística. Não era só uma tragédia nacional, era também o maior acidente aéreo da história envolvendo atletas. E quando envolve atletas o choque é maior. Porque sabemos que atletas estão sempre juntos, na alegria e na tristeza, na explosão de raiva e na explosão de choro. Os atletas, na minha humilde opinião, são o maior símbolo de união. Porque são muitos e estão sempre juntos. Repórter com cinegrafista e fotógrafos também, mas em escala e tempo menores. Talvez por isso, em pouco tempo já eram mostrados, em retrospectiva, os acidentes com a equipe de futebol do Torino, da Itália, e da equipe de Rugby do Uruguai. Ou seja, o da Chapecoense será lembrado para todo o sempre. E ainda mais se outras tragédias acontecerem. Porque eram atletas e estavam voando atrás de seus sonhos e objetivos: ganhar o campeonato e disputar a Libertadores da América.
   A princípio o que vejo na mídia nacional é a exploração de lágrimas, imagens repetidas de avião destroçado. A TV Globo, enquanto não chegavam realmente notícias, ficava mostrando repórter entrevistando repórter esportivo que era amigo de algum repórter morto. Jogadores de futebol amigos dos jogadores mortos. Arrancavam lágrimas para tirar mais lágrimas.
   E no meio da comoção mundial, na madrugada seguinte a esse acidente tão trágico, os congressistas brasileiros trabalharam sem parar. Mas não foi com diplomacia, relações internacionais ou coisa parecida, já que o acidente aconteceu na Colômbia, com avião boliviano. Os congressistas nacionais passaram a noite votando em medidas que congelam salários, aumentam o tempo de aposentadoria, tiram vários direitos trabalhistas e dão vantagens a empresários. Também votam o fim da Operação Lava Jato, aquela mesma que era para acabar com a corrupção. Mas só com a corrupção do PT, porque PSDB, PMDB e demais partidos podem continuar roubando e corrompendo a vontade.
   Esses congressistas não são nada menos do que canalhas. E todas as pessoas que apoiam o Governo Michel Temer são imbecis ou canalhas. E a mídia do mundo inteiro sabe o quanto foram desumanos e canalhas ao votarem na calada da noite, enquanto pedaços de corpos de brasileiros mortos estavam sendo recolhidos. Espero que daqui a 50, 100 anos, essa madrugada seja lembrada como a madrugada dos canalhas.
   Mas 2016 também teve e ainda terá coisas boas, que escreverei depois, pois agora as estou vivendo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Libertem Rafael Braga

  No dia 20 de junho de 2013, justamente dia do meu aniversário, o Brasil parou em manifestações motivadas pelo aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus e metrôs da cidade de São Paulo. Começou pelos 20 centavos, mas seguiu por várias reivindicações. O Brasil quase viveu um Estado de Sítio. O movimento já se alastrava há algumas semanas, mas o ápice foi no dia 20 de junho e alguns manifestantes foram presos. Apenas um continuou encarcerado: Rafael Braga, preto, pobre, catador de latinhas, sem nenhuma passagem pela polícia. Em sua mochila havia produtos de limpeza. A polícia disse que era para fazer bomba caseira. Tenho para mim que ele nem imaginava como se fazia bomba caseira. Certamente, agora já sabe.
  Ele seguiu preso por mais de três anos, teve liberdade condicional. A polícia novamente parou Rafael e o revistou. Desta vez encontrou 0,6 gramas de maconha em sua mochila, então, no dia 20 de abril de 2017 ele foi julgado e condenado há 11 anos de prisão. 
  Desde que Rafael Braga foi preso, essa história ficou na minha cabeça, que já estava cheia de erros judiciários. Desde a semana passada, quando saiu o seu julgamento, fui tomada por indignação. Apesar de branca, tenho contato com várias lideranças de movimentos negros e quilombolas. E vi tomar corpo um ato pela liberdade de Rafael Braga. Enquanto a ação se formava, alguns diziam que Rafael é só mais um, que as prisões estão lotadas de Rafaeis. Concordo, mas Rafael é emblemático. Ele é preso político, ele é preso pelo racismo, pelo preconceito. 
   Trabalhei por alguns anos na assessoria do governador Mario Covas, minhas áreas eram Segurança Pública e Administração Penitenciária, como sei que pouca coisa mudou, aliás, só piorou, porque Covas era um bom político, Alckmin é ladrão de merenda*, sei do que estou falando. Interessante ao Estado manter gente presa. Muitos serviços são terceirizados, cada detento vale dinheiro para o Estado. Muitos inocentes ficam esperando serem julgados dentro de celas, passam anos nessa situação. E quando (e se) libertos, já aprenderam tudo sobre vingança, ódio e injustiça. Não pensem que pagamos por cada detento. É o Estado que recebe por eles. 

Ato Histórico pela Liberdade

   Ontem peguei minha filha Miranda, na escola Teia Multicultural, e seguimos para o vão do MASP da avenida Paulista, na vigília pela libertação de Rafael Braga. Por redes sociais foi organizado um movimentoAlckmin é ladrão de merenda* que se estendeu por vários Estados do Brasil e alguns países da América do Sul. Quando chegamos, uma via da avenida já estava bloqueada. Um carro de som dava voz às lideranças de movimentos negros. Entre uma voz e outra, um rap de protesto. Alguns, como eu e Miranda, acendemos velas.
   Uma líder negra vociferou palavras contra brancos que prendem e matam,  que ali só deveria ter preto, que estavam aproveitando a ação por Rafael Braga para convocar a população para a Greve Geral do dia 28 de abril, para a Marcha da Maconha, dia 6 de maio. Não seria eu, a branquinha que sofre há 13 anos no Sistema Judiciário, a dizer que ali não era para libertar um preto pobre, era para libertar a todos do sistema judiciário corrupto, vendido, assassino. Não seria eu a dizer que, se maconha fosse legalizada, ninguém seria preso por portar 0,6 gramas de maconha. Nem pretos, nem brancos, nem amarelos.
   Mas eu entendia o discurso de ódio dela. É uma mulher e negra. Eu sofro por ser mulher, imagino o sofrimento em dobro, se fosse negra. Eu entendi quando ela disse que "Querem que nosso movimento seja pacífico? Alguém é pacífico com a gente?". Eu entendi o ódio dela, a vontade de gritar sua raiva. Também tenho vontade de vomitar a minha. Por coincidência ou não, após sua fala, chegou a Força Tática do Exército. Muitos carros da polícia já estavam lá quando chegamos. Ninguém teve medo, ninguém foi violento. A partir daí palavras de ordem contra a violência militar. Depois todos sentamos na avenida Paulista e fizemos um minuto de silêncio. Após o silêncio, uma líder gritava nomes como "Amarildo! Claudia! Luana! DG! Maria Eduarda!". Todos mortos por balas da Polícia Militar. Amarildo até hoje desaparecido. E todos respondíamos: Presente!
   Um grupo de atores negros fez uma encenação muito comovente por ser absolutamente verdadeira. Apenas retrataram o que vivem todos os dias. "Preto não tem medo de morrer, a gente sabe que pode morrer de bala perdida todos os dias". "A caneta da Justiça nos mata todos os dias. A caneta da Justiça nos mata todos os dias". Eu chorei. Porque fui morta várias vezes em Fóruns, fui desqualificada, fui desumanizada. Eu e tantas mães. Eu e tantos jovens negros. Eu e tanta gente pobre. Eu sou mais uma a ser morta pela caneta da Justiça. Rafael Braga não será mais um. 


 * O Governo de Geraldo Alckmin desviou dinheiro das merendas das escolas públicas do Estado de São Paulo. Até hoje, nada foi feito. A Justiça não é cega. É corrupta, elitista, patriarcal e branca.
  

O Show de Talentos da Teia

   A Escola Teia Multicultural, em São Paulo, onde Miranda estuda, é diferente em vários aspectos e não por acaso saiu recentemente numa publicação sobre escolas inovadoras. Bem, eu conheço a Teia muito antes dela existir. Lá no meio dos "anos 80", quando conheci Georgya Corrêa na sala de aula. A garota de 15 anos, que se tornou uma das melhores amigas do colégio, não cansava de falar da escola em que estudou quando morou na Índia. E como aquele método de ensino fazia muito mais sentido na vida prática do que como aprendíamos nas nossas escolas tradicionais.
  Mas falar do surgimento da Teia é material para tese de mestrado (aliás, coisa que a Georgya já está fazendo). O que tentarei reproduzir aqui é um dos momentos únicos que essa Teia de amor, solidariedade e conhecimento proporciona a todos e qualquer um que a conheça: o tradicional Show de Talentos da Teia.
   Miranda estava se preparando para o Show de Talentos há algumas semanas. Todo dia cantava a música Nem Uma Verdade Me Machuca, da Pitty. A letra é complexa e bem profunda. Mas ela diz ter dúvidas se canta ou se faz um cati do kung fu. Incentivei a apresentar o cati, "porque todo mundo vai achar diferente", "porque se errar, ninguém vai perceber". Mesmo sabendo cantar e acertando as notas, conheço minha caçulinha e sei que, caso errasse, poderia cair no choro. Ela é exigente demais com ela mesma. Talvez eu seja exigente demais. Enfim, decidiu apresentar o cati.
   Chegar na Teia em dia de festa é uma alegria. É dia de encontrar velhos e novos amigos. De cara encontrei o querido André, irmão da Geo, que tem uma filha também na Teia. Conversamos sobre muitas coisas da vida. E como nossos encontros são breves nunca temos tempo para banalidades. Nossas vidas podem ser tudo, menos banais. Em 15 minutos falamos de carreira, de filhas, de prazeres, de sonhos, de possibilidades, de vocações.
   Então começo a ver os shows com Cauã (filho mais novo da Geo) e sua legião de tietes. Antes mesmo de cantar, acompanhado de seu pai Tanã ao violão, já era ovacionado pelos amigos. E quando pegou o microfone  para cantar Pokemon, até eu acompanhei fazendo coral. 
   Foram tantas as apresentações marcantes, que não cabem todas aqui, mas vou pontuar algumas. Quando a pequena Sofia foi chamada para cantar ninguém esperava o que estava por vir. Antes da música começar, ela disse, em tom sério e emocionado: "Essa música eu dedico para o meu avô. Ele tem uma doença, que chama câncer". Então, com voz doce e um tanto embargada, começou a cantar Teresinha, de Ana Larousse https://youtu.be/5k4cCt__hWU. São poucas as pessoas que não tenham um caso próximo, ou mesmo distante, com o câncer. Eu chorei. Olhei ao lado e duas mães choravam. Muitas crianças choravam. Não sei se pelo avô de Sofia ou pela música linda, cantada de forma suave e, mesmo com lágrimas, até o fim. Muitos abraçavam crianças, que também choravam e já nem sabiam porque. Sabiam que ali alguém sentia dor e queriam dividir essa dor. Porque, de alguma forma, já sabem, que a dor dividida, diminui.
   Depois de Sofia, foi a vez de Tsu, um menino encantador. Percebi que ele não sabia bem como começar, como transformar aquele tanto de lágrimas em risos. Pegou o microfone com sua voz rouca e seu jeitinho charmoso e cantou Mais Ninguém, da Banda do Mar https://youtu.be/61jSSF3Vu54. E o ambiente foi tomado por um clima de amor e música, bem ao estilo Mallu Magalhães e Marcelo Camelo. Muitos aplausos, ainda algumas lágrimas.
    Quando o menino Martin fez o seu tradicional show de mágicas, pediu assistentes. Todos levantaram as mãos, mas, claro, ele chamou essa que vos escreve para ser "hipnotizada". E lá estava eu, sendo hipnotizada, desaparecendo atrás de um lençol e, por mais que o outro assistente tenha me deixado aparecer, todos aplaudiram como se Martin fosse o mago dos mágicos.
   Algumas patinadoras, bailarinas, menina da fita, interpretações depois, vem o irmão de Tsu, o pequeno Petrus e mais três colegas, cantando cheio de malandragem e swing Nem Vem Que Não Tem, do Wilson Simonal https://youtu.be/ssHV0eTCeTc. As lágrimas passaram a ser de excesso de riso. Foi hilário!
   Algo transformador e, ao mesmo tempo, tão simples, nesse Show de Talentos, é que a palavra talento foi usada em sua forma mais esplêndida. Talento não é apenas um dom, algo que alguns nascem com e outros sem. O talento pode ser genético ou ser desenvolvido. Ter talento não é ser o melhor no que se faz. Mas é ter habilidade para algo, que pode ser artístico, físico ou mental. É gostar de fazer e fazer, mesmo não sendo um virtuose. Muitas vezes temos talento para alguma coisa, mas nunca descobrimos. A Teia desenvolve talentos natos e aflora talentos que nem imaginávamos existir. E o mais emocionante na apresentação dessas pequenas criaturas é o entusiasmo, a forma como um incentiva o outro, como um amiguinho torce pelo desempenho do outro. E aplaudem! E dão urros! E vibram! E sentimos a vida pulsando e uma tremenda esperança nessa geração que está crescendo com valores realmente humanos. 

   Ah, sim, Miranda apresentou seu cati, ficou chateada porque errou, mas eu disse que ninguém percebeu que ela errou, nem eu. E a menina Sofia, que emocionou a escola inteira cantando Teresinha, veio parabenizar Miranda:" Você arrasou!". E eu, como sempre, me emocionei.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O Terror Generalizado


   Estou fazendo um curso no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo: Geopolítica e Grupos Terroristas. Quem me conhece sabe que desde muito nova já lia tudo que podia sobre IRA e Sendero Luminoso, sempre me interessaram os pequenos e grandes conflitos políticos e religiosos. Não que goste das guerras, mas porque elas existem desde que o mundo é mundo e o melhor jeito de não ter guerra é evitá-la. Sei o quanto esse pensamento é utópico também. Me resta estudar mais para entender e não sair por aí, falando aleatoriamente, sobre minhas teorias, que podem parecer bobagens.
   Na última aula tivemos uma interessante palestra com Abdul Nasser, da Aliança Nacional Islâmica. Tirando todo o machismo do pensamento muçulmano, que respeita suas mulheres de véus, mas acha que sair com blusa de alcinha e shorts rasgados é “não se dar ao respeito” e “desperta” os instintos do estuprador, que sexo antes do casamento é o que gera filhos sem pais (e não a irresponsabilidade e soberania masculina, que deixa os filhos a mercê dos cuidados e condições das mães “solteiras”, pois sabem que jamais serão punidos ou cobrados), o Islã prega igualdade e compaixão. Por isso, a partir de agora, denominarei o grupo terrorista Estado Islâmico de ISIS, para evitar essa confusão e esse ódio generalizado ao Islã. O ISIS se apoderou da bandeira do Islã, o que não significa que 1,6 bilhão de muçulmanos no mundo sejam coniventes. Muito ao contrário. As comunidades islâmicas espalhadas pelo mundo tentam identificar e combater possíveis terroristas. Como? Combatendo a desigualdade e intolerância.
   Uma frase simples e marcante de Abdul (um homem inteligente, radical e sincero) foi: “A injustiça é o que gera o terrorismo”. Sim, terrorismo não é feito apenas de homens bomba. Antes disso eles foram crianças com casas bombardeadas, com famílias exterminadas, moraram em acampamentos, foram doutrinados por extremistas (com infância semelhante) e não conheceram outra vida que não fosse guiada pela destruição e fúria. Quantos terroristas não podem surgir a partir das crianças e jovens refugiados sírios?
   Fazendo uma analogia com o caso das mães que perderam a guarda de filhos. Após anos de batalha judicial em que perdemos também nossa saúde, dinheiro e sanidade mental, sofrendo todos os tipos de humilhações, penúrias e injustiças por parte do Poder Judiciário (aquele que deveria defender, principalmente, o direito das crianças), pensamos, algumas vezes em “tocar o terror” nos fóruns. Sim, pensamos, mas o Brasil não é de cultura extremista e nós, apesar dos pesares, pensamos nos inocentes que estão nos fóruns: o pessoal do cafezinho, da faxina e o cidadão comum que está lá tentando resolver seus problemas. Os demais envolvidos no sistema são tudo, menos inocentes.
 Por que existem feministas que odeiam os homens? Porque foram humilhadas, violentadas, estupradas, encarceradas por homens. Sou uma feminista que só quer igualdade de direitos. E me dói ver mulheres tirando sarro do movimento, que “feminista quer direito igual, mas não vai lá carregar um saco de cimento igual homem”, isso não é só infantil e raso, é também imbecil. Nunca a mulher vai ter força física igual a dos homens. Eu nado melhor e mais rápido do que muitos homens. Mas me coloque ao lado de um nadador que tenha o mesmo treinamento e ele será mais rápido do que eu. O feminicídio é nosso terrorismo diário. Toda mulher tem (ou deveria ter) medo do estupro. Pode ser evangélica, temente a deus, usar roupas que cubram todo o corpo, ser idosa. O estuprador não vê diferença. Não adianta castração química. O estupro está no cérebro, não no corpo.
   Não fugi do tema. No terrorismo do ISIS, da Al-Qaeda e em todos os conflitos de maiores ou menores proporções, mulheres são estupradas. Muitos filhos do estupro são novos terroristas em potencial. Muitos são levados para crescerem como terroristas. Muitos não conhecem outra forma de vida.
   Dia desses escrevi a frase de Abdul numa rede social. Foi na segunda-feira, quando as tropas iraquianas entraram em Mosul (dominada pelo ISIS desde setembro de 2014) para combater os terroristas. Perguntei quem mais lucra com mais essa guerra. Pensei, principalmente, nos EUA e sua indústria bélica e seu interesse no petróleo do Oriente Médio. Claro, existem mais países que fabricam armas. Mas essa mania do Governo dos EUA sempre se meter nas guerras dos outros e, desde o começo do ataque ao terror, estar sempre perdendo as guerras, parece até de propósito. Não seria interessante perder uma guerra para entrar em outra e assim continuar vendendo suas armas?
    Quando eu digo que os EUA estão sempre fabricando terroristas para serem combatidos depois, não é coisa que surgiu da minha cabeça. Ou melhor, surgiu, após muita leitura e análise. Desde que comecei esse curso, muitos amigos indicam livros, emprestam livros, e quanto mais leio, algumas certezas e muitas dúvidas aparecem. Num desses livros, do correspondente Patrick Cockburn, há o e-mail de uma amiga dele (síria, sunita), depois que seu bairro, em Mosul, foi bombardeado pela aviação iraquiana. O jornalista deixa claro que sua amiga tem todas as razões para não gostar do ISIS. Reescrevo a mensagem na íntegra, pois mostra como os sunitas iraquianos passarão a enxergar o governo de Bagdá:

   “O bombardeio foi executado pelo governo. Os ataques visaram bairros totalmente civis. Talvez desejassem atingir duas bases do ISIS, mas nenhuma das rodadas de bombas acertou os alvos. Um dele é uma casa, ligada a uma igreja, onde vivem homens do ISIS. Fica próxima ao gerador do bairro e distante 200 a 300 metros de nossa casa. O bombardeio apenas feriu civis e demoliu o gerador. Desde ontem à noite, não temos mais eletricidade. Escrevo de um aparelho na casa de minha irmã, que está vazia. O bombardeio do governo não atingiu nenhum homem do ISIS. Acabo de ouvir de um parente que nos visitou para saber que se estamos bem, depois daquela noite terrível, que, em razão do bombardeio, jovens estão juntando-se ao ISIS, às dezenas ou centenas, porque cresceu o ódio contra o governo, que não se preocupa com a morte de sunitas. As forças do governo foram para Amerli, uma vila xiita circundada por dezenas de vilas sunitas, embora Amerli jamais tenha sido tomada pelo ISIS. As milícias do governo atacaram as vilas sunitas que a circundavam, matando centenas, com auxílio dos ataques norte-americanos”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O Nobel de Bob Dylan


   Quando vi a notícia sobre o Prêmio Nobel de Literatura ser de Bob Dylan, minha primeira reação foi de desaprovação. Claro que é uma escolha polêmica dar um prêmio de literatura para um compositor. Sim, ele escreve letras, ele é um poeta, mas sua comunicação é pela escuta e não pela leitura. As pessoas não leem Bob Dylan, as pessoas o ouvem. E olha que estou deixando minha admiração pessoal pelo cantor/compositor bem de lado. Gosto tanto de Bob Dylan, que aos 11 anos, lá nos idos de 1982, meu primeiro cachorrinho foi batizado de Bob, em homenagem ao músico.
   É indiscutível sua importância musical e política. Suas letras pacifistas influenciaram uma geração contra guerras. Suas letras são simples e a simplicidade é a melhor forma de atingir pessoas. Os que escrevem cheios de metáforas, querendo mostrar o quanto seu vocabulário é vasto, acabam deixando os leitores inferiorizados, sentindo-se meio “burros” e, pior, muitas vezes não conseguem nem ser entendidos. Porém, esses livros rocambolescos, não deixam de ser literatura. Assim como as letras de Bob Dylan também são.
   Há acadêmicos dizendo que isso é sinal dos tempos, que mostra uma inovação no Nobel, que está acompanhando as mudanças na comunicação. Estou muito longe de ser conservadora, inclusive na linguagem, que muda conforme as gerações. Adoro palavras inventadas, que de tanto serem usadas, são incorporadas no português. Mas, se continuar assim, logo teremos “escritores de internet” ganhando prêmios literários. E por que não?
   Mesmo gostando tanto de Bob Dylan e reconhecendo todo o seu mérito e valor, esse Prêmio me incomodou bastante. E por que incomodou? Porque é praticamente um anúncio do fim da Literatura. Porque todas as pessoas leem menos. Eu leio muito menos. Antes eu lia um livro por semana. Agora não lembro qual foi o último livro que li inteiro. No momento estou lendo A Origem do Estado Islâmico, junto com mais dois, não consigo terminar nenhum, por mais interessante que sejam os temas, por mais que seja necessário para o curso que estou fazendo (tema para outro post, porque o assunto é vasto). Não sou conservadora, mas adoro Shakespeare, Saramago, James Joyce, Kafka, Adélia Prado, Cecília Meirelles, Edgard Alan Poe, Carlos Drummond e Fernando Pessoa. Gosto de quem escreve livros. Gosto de livro reportagem. Gosto de clássicos, assim como realismo fantástico.
    Talvez seja mesmo um prenúncio de que literatura em breve não existirá. E a brevidade do tempo, na história da humanidade, pode ser 100 ou 200 anos. A leitura de livros está escassa. Acho lindo minha filha de 14 anos me pedir livros de presentes, me dar dois livros de dia das mães (ainda não terminei nenhum), acho lindo quando vejo pessoas lendo no metrô ao invés de olhar para o celular. Estamos num momento em que ler é coisa de gente cool. Ainda há pessoas que ouvem, mas também é cada vez menor o número, porque a maioria só ouve o que lhe convém. Então, um Prêmio Nobel de Literatura para alguém que canta palavras tão contundentes não seja tão negativo. Seja um presságio para o que estar por vir. Seja um tapa na cara do mercado literário, como bem disse o querido Wilson Bispo, uma pessoa que lê e escreve muito. 
   Talvez seja uma abertura para que Bono Vox, Neil Young, Paul Mcartney, Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge Mautner e tantos outros compositores recebam prêmios por suas letras e não por seus livros.
     Talvez eu esteja ficando velha e muito cansada.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Mães contra o Estado

   Dia desses estava relendo o post Nem Puta Perde a Guarda de Filho, já que é por ele que dezenas de mães chegam até aqui. E relendo, além de achar que o texto deva ser melhorado, percebi que deve também ser reeditado. Lá conto como é torturante repetir a mesma história, quase todos os dias, para pessoas em geral e psicólogos, advogados e jornalistas, em particular. Que no início pensei que fosse única, mas já conhecia mais de 10 mães na mesma situação. Passados alguns anos, muitas procuram desesperadas algum tipo de auxílio e se encontram naquele texto. Cada julgamento, cada passagem por fórum, ficar presa na esquizofrenia do sistema judiciário, ficar afastada do filho judicialmente, perder saúde, dinheiro, emprego, terminar relacionamentos, não terminar projetos. Viver num looping surreal infinito. 
   A reedição seria que agora não são mais de 10. Conheço mais de 50 mães e tenho conhecimento de mais umas 50 que perderam a guarda do filho. Mas tudo parece ter piorado muito com o a instauração da Lei de Alienação Parental. Os homens estão se beneficiando desta Lei. E não é mais apenas por vingança ou para parar de pagar pensão. Também para continuar abusando sexualmente dos filhos. Resumirei tentando explicar o inexplicável: As mães, primeiro incrédulas, depois em desespero por perceber o abuso, afastam os pais pedófilos. Esses pais entram na Justiça rapidamente e conseguem a guarda dos filhos. E então as mães ficam meses, anos, sem ver os filhos. E o "Estado", aquele que deveria proteger, entrega o inocente para os monstros. Comecei a desconfiar de um tremendo esquema de pedofilia entre o Poder Judiciário e Parlamentar. Não tenho provas, mas tenho convicção.
   Outra mudança na minha saga é que não é mais torturante repetir a história. É muito desgastante, sim, mas já consigo rir até da passagem pelo Fantástico, com a voz assustadora de Cid Moreira dizendo que eu sofria de graves problemas mentais. Baseado em que mesmo? No que a outra parte disse. "Ah, Rede Globo, faz tempo que não acredito em nada do que você mostra ou defende".
    Agora estou naquele limiar entre minha história e as outras, praticando o distanciamento. Quero ouvir mais do que concordar. Me vejo trabalhando nisso. Com muito envolvimento, mas sem tanto sofrimento. Estou na fase em que sofro mais pelos outros do que por mim e minha filha. O que foi feito, foi feito. Não quero deixar que continuem fazendo. Apenas isso.

    A Rede Materna ficou tão grande, tão interligada, que a querida Flavia Werlang me falou de uma mãe que estava tão mal que nem conseguia visitar o filho. Descobrimos que era a mesma mãe que conheci há mais de um ano. Uma foi escrevendo para outra, que colocou outra da mesma cidade na história e de repente essa mãe no estado de negação, em que o próprio "psiquiatra" disse ser melhor não ver o filho (!), encheu-se de coragem, cercada de amor e foi. E conseguiu abraçar muito o filho. E não voltou tão vazia. Mais do que lastimar a perda, temos de valorizar os ganhos.
    Foi o que fez a doce Lívia Guimarães, que após quase 4 anos sem ver os filhos, passou uma noite com eles. Não parava de olhá-los dormir. Quantas noites passamos em branco pensando em como, onde e com quem eles estariam? E como é maravilhoso passar uma noite acordada vendo como eles dormem. E perceber que o tempo, a distância, a amargura, a luta inglória, nada foi capaz de diminuir o tamanho deste amor. 
     E cada mãe que conheço, cada nova voz, cada sotaque vindo de todas as partes de tantos brasis, me derruba e me levanta. Muitas noites não durmo por aflição. Este ano uma mãe se matou. Todas nós pensamos em morrer, em algum momento, porque se não é fácil seguir na luta pelo direito da maternidade, é mais difícil desistir dela. Não há como se conformar com um sistema judiciário que nos tira um direito. Então temos de lutar. Mas daí acaba a saúde, o dinheiro, a dignidade, a força. Não há como desistir de um filho. É como desistir da vida. E foi isso que aconteceu com uma mãe. Ela desistiu de lutar pelo filho, desistindo assim da própria vida.

    Parei um pouco antes de continuar a escrever. Não quero que a emoção me tire o sono de novo, me aperte o peito, me faça chorar. Quero ser prática. O que vejo nessas mulheres é uma força descomunal em continuar. E vejo tanta beleza. São todas muito lindas, com sorrisos que iluminam o olhar triste. Com olhares profundos que escondem sorrisos irônicos. Todas enlouqueceram um pouco. Todas tornaram-se seres mais desconfiados, com um tanto de amargura, com tantos altos e baixos, que levam a vida numa gangorra emocional e financeira, mas não perdem a ternura. Não deixam uma irmã sem resposta. Me incluo nisso tudo. Temos tanto em comum apesar de nossas distâncias geográficas, criações, sotaques, formações, DNA. Porque a vida que levamos após o início do processo é praticamente idêntica. 
    Cansamos de brigar com a outra parte. Isso é peixe pequeno. Nossa briga é coisa de cachorro grande. Pessoas são pessoas e algumas se transformam, todas decepcionam, casais brigam, uns são mais vingativos, outros são passivos e assim sempre será. O que não pode é um Sistema pago por nós, acabar com a nossa vida. Chego a pensar que esses processos infindáveis só servem para alimentar a máquina. Pagamos peritos, pagamos técnicos, pagamos advogados, alguns pagam juízes (não tenho provas, mas tenho convicção). E tudo isso para quê? A tal Lei de Alienação Parental existe, mas percebo que o Estado é o que mais aliena. Segue a Lei
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/...

  No Art. 2, parágrafo único, existem as seguintes cláusulas:

II - dificultar o exercício da autoridade parental; 
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; 
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; 



   Ora, o que fez o sistema judiciário esse tempo todo além de dificultar o exercício da minha autoridade parental e destas mães? Nos impedem de ver nossos filhos até que as perícias, que demoram meses e até anos para serem marcadas, fiquem prontas. Demora anos para marcar audiência para regulamentação de visitas. Para que perder nosso precioso tempo com inúteis audiências de conciliação, sendo que qualquer acordo entre as partes pode voltar atrás a qualquer tempo?

    Pois é Estado de Direito, somos muitas mães espalhadas pelo Brasil para provar com muita convicção que é você, Estado, seu sistema falido e seus profissionais mofados, o causador de nossos danos e de nossos filhos. E sabe, Estado, tem advogada que também não te aguenta mais e podemos mover uma ação conjunta contra você. Podemos até morrer antes do fim desta ação, mas vai ter muita matéria, muita audiência, muito barulho. E se um dia nossa indenização milionária chegar e estivermos mortas, nossos filhos, as maiores vítimas, poderão usufruir das suas migalhas.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Nenhuma Crise Levará Embora

    Andei parada de escrever por motivos exteriores. Me acidentei novamente. Desta vez atravessando uma faixa de pedestre, tombei do nada. Não era bem do nada, havia uma espécie de lombada que já fez muita gente cair no mesmo lugar. Inclusive eu mesma ajudei um senhor a levantar-se, no local. Fui socorrida por várias pessoas. Trinquei um osso da mão direita. Desde então (isso ocorreu no dia 17 de junho), passei a usar o outro lado do cérebro, fazendo da mão esquerda minha principal aliada.
   É bem difícil fazer tudo ao contrário, me sentir limitada, não conseguir lavar os cabelos, não poder escrever com os 10 dedos. Por isso tenho pensado muito no Stephen Hawking* (físico teórico e cosmólogo britânico). Totalmente imóvel, está há mais de 30 anos sem nem poder usar a fala. E continua com aquele cérebro brilhante, fervilhando de ideias. 
   Apenas perdi por um tempo a mobilidade da mão direita, posso falar e gravar, tenho uma porcentagem bem menor de brilhantismo no cérebro e sinto-me parada no tempo. Então peguei Uma Breve História do Tempo** para ler novamente e me pareceu bem mais simples do que há quase 30 anos. Meu corpo já dobrou a curva da metade da vida, mas meu cérebro não parou de evoluir. Deve ser assim com todo mundo.
   Esse tempo parada me fez ter mais vontade de fazer tudo. Comemorei meu aniversário na Casa do Ernesto, com amigos queridos, com muito frio, música e vinho. O tempo é breve, passa tão rápido, temos tanto para fazer, tanto para aprender.
     

    Nesse mês e meio que não escrevo por aqui, conheci um grupo de psicanalistas que faz um lindo programa social em comunidade. Conheci ativistas que estão indo para o Mato Grosso do Sul, para tentar evitar o massacre dos guarani-kaiowá, mesmo correndo o risco de também serem massacrados. Estou cada vez mais envolvida com a cultura oriental (medicina chinesa, kung fu, budismo). Mais algumas mães que perderam a guarda de filhos entraram em contato comigo. Mal posso responder os emails com pedidos desesperados de apoio. Conheci uma dessas mães pessoalmente. Perdeu a guarda há pouco tempo e é sempre o mesmo. Ficam emocionadas ao saberem que não são as únicas, querem que outras mães e filhos não passem por isso, ficam reféns do sistema judiciário, gastam tudo que tem, vendem seus bens, pagam gordos honorários para advogados que "fazem o que podem".
      
    E com tantos problemas do mundo para resolver começo a achar os meus meramente circunstanciais. Com a União Europeia se desunindo, com circo de passagem de tocha olímpica matando onça pintada (em extinção) em Manaus, com a proximidade dos Jogos Olímpicos e o estado de calamidade pública do Rio de Janeiro, com moradores de rua morrendo de frio em São Paulo, com o governo ilegítimo no Brasil, com o desemprego crescendo, a aposentadoria chegando mais tarde, economia parada por essa bandalheira política, com o crescente fascismo no Brasil e no mundo, fica cada vez mais difícil ter esperança. Porém, historicamente, sempre nos momentos de crise surgem as melhores ideias e soluções. 
   Estou farta desse nacionalismo barato, dessas bancadas religiosas que colocam bíblia acima de leis. E, principalmente, desse atual desgoverno que veio com a velha máxima de "não fale em crise, trabalhe". Muito bem, senhor presidente interino, então nos dê emprego para trabalhar, nos dê trabalho remunerado. É tanto tema para escrever que me sinto perdida. É tanta crítica para fazer que me sinto inútil. 
   Não dá mais para acreditar em mídia nenhuma no Brasil. Para grandes emissoras de TV e jornais já ficou feio defender o golpe. Pessoal que saiu às ruas pedindo impeachment da presidente Dilma, agora percebe o papel de marionette. Serviram como patos, a la Fiesp. Então o que faço é falar com pessoas nas ruas, ver como estão os movimentos sociais. "Não fale em crise, estude", foi o que me disse um desses psicanalistas que conheci. Estude, leia, entenda o momento histórico que vive o mundo. E quando, e se a crise acabar, você saberá muito mais do que sabia. E o saber, o conhecimento, é o único bem que crise nenhuma levará embora.


* Hawking é portador de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem atingir as funções cerebrais. Ainda não possui cura. A doença foi detectada quando tinha 21 anos. Em 1985 Hawking teve que submeter-se a uma traqueostomia e, desde então, utiliza um sintetizador de voz para se comunicar. Gradualmente, foi perdendo o movimento dos seus braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua mobilidade é praticamente nula. Em 2005 Hawking usava os músculos da bochecha para controlar o sintetizador, e em 2009 já não podia mais controlar a cadeira de rodas elétrica. Desde então outros grupos de cientistas estudam formas de evitar que Hawking sofra de síndrome do encarceramento, cogitando traduzir os pensamentos ou expressões de Hawking em fala. A versão mais recente, desenvolvida pela Intel e cedida a Hawking em 2013, rastreia o movimento dos olhos do cientista para gerar palavras.

** Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros (título original, em inglês "A Brief History of Time:From the Big Bang to Black Holes", 1988), é um livro de divulgação científica, publicado pela primeira vez em 1988, inclui a Teoria do Big Bang, Buracos Negros, Cones de Luz e a Teoria das Supercordas ao leitor não especialista no tema. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

A Cultura que Divide o Brasil

   A equipe de Aquarius, que concorre à Palma de Ouro de Cannes e dirigido por Kleber Mendonça Filho, protestou na última terça-feira contra o "golpe de Estado no Brasil", durante a estreia do filme no Festival. Eles tiraram das roupas cartazes com os seguintes dizeres: "Um golpe ocorreu no Brasil", "Resistiremos" e "Brasil não é mais uma democracia". E voltaram a se manifestar com gritos "Fora!" na sala do Grande Teatro Lumiere, minutos antes da projeção. Kleber Mendonça Filho já havia recebido vários prêmios e indicações por seu longa de estreia, O Som ao Redor, considerado pelo The New York Times, um dos 10 melhores filmes de 2012.
  Essa manifestação causou polêmica por aqui. Uma das decisões de retrocesso do presidente interino, Michel Temer, foi transformar o Ministério da Cultura em Secretaria, atrelada ao Ministério da Educação, como corte de gastos. Então a classe artística e todos os seus simpatizantes saíram às ruas para protestar. Mas não pensem que o apoio é geral e irrestrito. Muita gente tem chamado artista de vagabundo e dizendo que todos "mamam nas tetas do Governo". Kleber Mendonça Filho tem um cargo público em Recife, Pernambuco. Ou tinha, pois seu ato, segundo o atual governo opressor, é merecedor de demissão. E tem tanta gente apoiando essa demissão! Gente que não entende que esse homem faz uma campanha positiva do Brasil no exterior. 
  Muita gente não entende que trabalhar fazendo teatro, filmes, música, livros é trabalho. Talvez porque o trabalho esteja intrinsecamente relacionado ao tédio, ao mecânico e repetitivo, sem alegria. Então quando alguém trabalha em algo que parece divertido, diminui-se o valor do trabalho. Essa mentalidade é tão tacanha quanto preconceituosa. O artista tem prazos, ensaia e fica cansado, sente fome e quer ir para casa logo descansar. Muitos não recebem nada enquanto ensaiam, só após a estreia. A maioria dos artistas trabalha por amor e vocação. O dinheiro, quando vem, é consequência.
   Tenho lido e ouvido pessoas falando que tem que boicotar esse filme! Que tem que fazer uma "cruzada" contra "essa gente". Cultura não é só arte. É também preservação de patrimônio histórico, de festas populares, de línguas indígenas. Não é  tanto o fim do Ministério da Cultura o que me entristece, é  mais a reação de ódio das pessoas contra os artistas. O fascismo cresce diariamente no Brasil. É assustador. Amanhã fará uma semana que afastaram a presidente Dilma. Nesses dias o interino e sua equipe tomaram as seguintes medidas: 
- O Ministério da Educação vai apoiar a cobrança de mensalidade das universidades públicas para cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado.
- O novo Ministro da Saúde, Ricardo Barros (que é um engenheiro) analisa a possibilidade de privatizar o Sistema Único de Saúde. Disse que não há como manter os direitos constitucionais, como acesso à saúde, ou seja, quem não tiver plano de saúde, morre à míngua.
- O novo Ministro das Relações Exteriores, José Serra (que nunca termina mandato que começa), como sua primeira ação, deu um passaporte diplomático para um pastor de igreja evangélica e sua esposa. O casal poderá agora viajar pelo mundo sem pagar nada, representado o Brasil que, definitivamente, não é um Estado Laico.
-  O novo ministro da Justiça, Alexandre Moraes,  tem no currículo ataques policiais a estudantes e movimentos sociais e já foi advogado de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, que está afastado, mas continua mandando em tudo, inclusive nas decisões do presidente interino.
- Foi revogada a construção de 11.250 moradias do Minha Casa, Minha Vida, projeto destinados às famílias com renda mensal de até 1.800 reais.
- O Ministério da Educação suspendeu novos contratos do Fundo de Investimentos Estudantes (Fies), suspendeu a seleção de oferta de bolsas dos programas Universidade para Todos (Prouni) e Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
   E claro, enquanto escrevo aqui, mais medidas de cortes de direitos devem estar sendo tomadas.

    O Brasil está culturalmente divididos. Tem "jornalista" de revista de direita, ator pornô e deputado evangélico fazendo vídeos, pedindo às "pessoas de bem", que não assistam Aquarius. Aqui é assim, ator pornô e pastor deputado evangélico pensam a mesma coisa. Bancada evangélica do Congresso e pornografia se misturam.
     Pessoas que fizeram ensino superior, que tem emprego e profissão estão aí, defendendo o fim do Minc. Tem até artista defendendo também. E tem os que não sabem o que a Lei Rouanet significa e falam tanta asneira que me dá vergonha alheia. Nunca tive tanta vergonha de ser brasileira. Porque agora não é mais pelos governantes, pelas aberrações do Congresso Nacional e do Senado, mas pelos que me rodeiam. Pela ignorância fascista de pessoas que tiveram privilégios e oportunidades. Pelo ódio que se espalha contra as minorias. Pela diminuição dos direitos das mulheres. Por perceber pessoas próximas com discursos intolerantes que não tolero.
    Já começo a pensar em ir para outro País. Já conversei seriamente com amigos sobre a possibilidade de mudança. E já me mandaram para Venezuela e Cuba, porque para os ignorantes, ser contra a opressão que se instala no Brasil é ser comunista. E tanta ignorância e intolerância juntas estão me fazendo sofrer mais do que com esse Golpe dado no País. E antes que os ignorantes digam "ele é o vice, votou na Dilma, votou nele, então não é golpe", respondo que quem votou nela*, votou em um vice que estava de acordo com o Governo. Ninguém que votou nela esperava que o vice iria romper e tramar contra a presidente, descaradamente, com a conivência e ajuda absoluta das principais mídias.
    Vocês que lêem esse blog em outros países não imaginam o que está acontecendo aqui. É como uma tática de guerra, as medidas apresentadas são como pauladas e ficamos tão atordoados que não sabemos contra o que lutar.

*Não votei nas últimas eleições, não voto desde 2002. Mas aceito a decisão da maioria. E a maioria votou em Dilma Roussef. E fiquei aliviada que Aécio Neves não venceu. Porque o helicóptero do senador José Perrela pousou na fazenda do senador Aécio Neves com meia tonelada de cocaína pura e as investigações deram em nada. Ninguém sabe de nada e as pessoas que votaram nele parecem não se importar com o tráfico de drogas, mas são pessoas de bem, as mesmas que irão boicotar Aquarius.


terça-feira, 17 de maio de 2016

De Cara Desfigurada e Atendida pelo SUS (que vai acabar)

  Na última quinta-feira tudo amanheceu estranho. Liguei a TV às 6h30 e vi que o presidente interino era Michel Temer. O dia foi todo muito esquisito. Não entendia os que comemoravam. Qual o motivo da alegria? A saída de Dilma? Sim, só pode, porque o fim da corrupção nesse País está muito, mas muito longe.
   O dia seguiu triste e no final dele, chegando ao Terminal Princesa Isabel, em São Paulo, louca para tomar um banho e ver as notícias do dia, levanto do banco e o motorista, que corria alucinado para chegar em casa logo, brecou bruscamente e fui de cara no ferro. Caí na hora e não enxergava nada. Os cortes na cabeça cobriram meu olho de sangue e o cabelo grudou no rosto. Também não conseguia falar, pois a pancada me deixou atordoada. Fazia sinal com a mão para dizer que estava consciente. Miranda, minha filha de 7 anos, chorava e não queria me ver, pois achou que eu tinha perdido um olho.
    Das pessoas que estavam no ônibus, três anjos me ajudaram. Uma garota de 14 anos brincou e tranquilizou Miranda. Seu irmão, de 17, ligou três vezes para o resgate. Só quando ele disse que eu continuava sangrando e minha pressão estava caindo, é que vieram. Entendo que uma cidade do tamanho de São Paulo tenha muitos chamados. E que alguns deles sejam desnecessários. Mas bati a cabeça, poderia ter um coágulo.
    O terceiro anjo foi Eliene, que ligou para a filha de 11 anos, explicou o ocorrido e que seguiria para o hospital comigo, já que eu estava com uma criança. O paramédico foi excelente e tranquilizador, a ambulância corria com sirene ligada e para Miranda foi mais uma história de aventura para contar.
     Fomos para o Hospital do Servidor Público, já que não tenho plano de saúde, afinal o SUS de Santos (que eu usava) é bem diferenciado (tem parceria com a Prefeitura) e não tenho doenças crônicas. E dificilmente contamos com acidentes, apesar de acontecerem o tempo todo.
     Me deram soro, quase desmaiei com as agulhas. Minha pressão não subia mais do que 9 por 5. A médica residente, cheia de boa vontade, me atendeu e me encaminhou para o Raio X. Aguardei imobilizada na maca, no corredor que, segundo as enfermeiras, nem estava cheio. Então chegou o médico chefe do plantão e disse que eu precisava de uma tomografia, já que a pancada foi na cabeça. Juro que pensei em pedir isso para a primeira médica, mas a cabeça doía tanto, que nem quis discutir a questão. E fiquei mais uma hora na maca aguardando, olhando para o teto e pensando em todas as séries médicas que já vi.
   Passava das 23 horas e após tentar falar com três enfermeiras para me ajudar ir ao banheiro, saí da maca em rebeldia e fui sozinha. O que mais me revoltou é que haviam três ambulâncias esperando macas para sair em socorro e eu repeti várias vezes que poderia ficar sentada, que levassem minha maca. Quando voltei do banheiro um enfermeiro veio ver o que aconteceu, o porquê de sair da maca e o porquê de não ter feito ainda a tomografia. Ora, esqueceram de encaminhar o papel!!
   Quando finalmente cheguei para fazer o exame, três profissionais aguardavam sem paciente nenhum, ou seja, fiquei mais de uma hora ocupando uma maca inutilmente! Percebi que o problema era mais organizacional do que propriamente falta de profissionais ou equipamentos.
   Quase fui embora sem os resultados, fui grossa com o médico, estava faminta, com dores no corpo todo e não achava minha filha, que já tinha sido devidamente alimentada e dormia no colo da mulher maravilhosa que me ajudou. Saímos de lá já era madrugada. O motorista do ônibus, o cobrador e o fiscal aguardavam no veículo para nos levar de volta. Não quis fazer B.O., não dava para ir numa delegacia àquele horário. Só disse para o motorista, triste de me ver desfigurada, que sua pressa em chegar acabou atrasando a vida de muita gente.
   Ainda tenho hematomas, não sinto mais dores e desinchei. Mas todos esses dias percebo como as pessoas me olham. Primeiro disfarçam, depois olham com piedade. Agora sei como sentem-se mulheres que são espancadas, que sofrem violência física. Domingo deu para passar maquiagem. Então me senti disfarçando, como mulheres que apanham fazem. Algumas vezes até expliquei o acontecido. Na escola da minha filha até pensaram que fiz cirurgia plástica!


O possível fim do SUS (Sistema Único de Saúde)

   Desde que o presidente interino assumiu são muitos os absurdos propostos. A cada dia fico mais estupefata, quando penso que não pode piorar, piora. Sobre o novo ministério não conter mulheres ou negros, ouço e leio por aí que não há importância. O importante é ter competência. Ora, num País onde mais de 50% da população é feminina e mais de 50% negro ou pardo, é uma chacota não achar nenhum representante negro ou feminino com competência. É dizer que mulheres e negros são inferiores. Que homens brancos são os mais competentes.
   Acabar com o Ministério da Cultura é uma afronta! Mas a mobilização já é grande e essa bomba relógio que transformou-se o Brasil está prestes a estourar. Vários artistas em vários Estados estão se mobilizando contra mais esse absurdo no governo interino.
   Mas com a experiência que passei ao quebrar a cara e parar no SUS de um grande hospital paulistano, saber que o recém-nomeado ministro da Saúde (um engenheiro, diga-se de passagem), Ricardo Barros (PP-PR), expôs a preocupação de que o País não sustente o acesso universal à saúde, me deixou ainda mais estarrecida. Barros disse também que terá de repactuar, como aconteceu na Grécia, onde cortaram as aposentadorias. Desolador saber que seguiremos o exemplo da Grécia. 
   A celeuma é a segunite: a União é obrigada a aplicar na saúde ao menos o mesmo valor do ano anterior, mais o percentual de variação do PIB (Produto Interno Bruto). Estados e municípios precisam investir 12% e 15%, respectivamente. Na educação, o governo federal deve gastar 18% do arrecadado e as outras esferas, 25%. Em seus tempos de vice, o presidente interino defendeu publicamente o fim dessa regra. 
   Mas se você pensa que é uma ideia absurda que nem vai vingar, saiba que já tramita uma proposta de emenda à Constituição de número 143/2015, aprovada em primeira votação no Senado. A PEC pretende estender aos Estados e municípios um direito que o Governo Federal já exerce com a DRU (Desvinculação de Receitas da União): o que permite que as gestões usem livremente 25% dos valores que teriam de aplicar compulsoriamente em saúde.

   Durante a hora na maca olhando para o teto, pratiquei a paciência. Não pude deixar de pensar que meu estado era transitório, mas que todas as pessoas ali, a maior parte de idosos, precisavam passar por aquela rotina de corredores, enfermeiras mal humoradas e rabugentas, médicos iniciantes que comem mosca, quase que diariamente. E agora penso que sem assistência médica gratuita, essas pessoas morrerão à míngua em seus pobres lares. Como pagar planos privados de saúde com um salário mínimo ou aposentadoria?
   Quando haverá uma revolta coletiva contra os altos salários de deputados e senadores, além de todos os benefícios? Como essa gente recebe auxílio moradia se já possui casa própria (mais de uma, claro)? Como um aposentado ou qualquer um que receba um salário mínimo consegue pagar aluguel?
    Eu tenho vontade de chorar e nem é porque quebrei a cara. 

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Ativismo por Igualdade - Amor por Direito

    O cinema sempre foi um refúgio. Onde entro em outra história que não as minhas. Uma espécie de meditação, em que fico no presente por duas horas ou mais, parada, mas acompanhando um movimento exterior que não está acontecendo. Foi montado para acontecer daquele jeito.
   Cinema é programa que dá para fazer sozinho. Mas companhias de amigos cinéfilos (tanto ou mais do que eu), namorados (é um requisito) são sempre boas. Gosto de falar e escrever sobre filmes e ouvir outras opiniões. Decidindo com um grande companheiro de cinema (e de tantas outras maravilhas e desventuras da vida), Gustavo Liedtke, um entre tantos para ver, optamos por Amor por Direito (Freeheld). Um amor lésbico, mesmo sabendo que uma das mulheres tem câncer, parecia leve e condizente com esse momento de lutar para manter direitos adquiridos. 
    Baseado em uma história real, o filme conta a história de Laurel Hester (Julianne Moore), uma policial diagnosticada com uma doença terminal, que luta para assegurar à companheira, Stacie Andree (Ellen Page) os benefícios de sua pensão. Mesmo morrendo, a policial ia em reuniões do Condado da cidade, para pedir que aprovem esse direito. A Comissão do Condado era responsável pela votação, já que as duas não eram casadas, tinham "apenas" união estável, não havia casamento gay. O fato, ocorrido em New Jersey, no começo deste século, foi uma bola de neve que mudou a Lei sobre casamento homossexual nos Estados Unidos.
   A obra já vale pela sempre maravilhosa Julianne Moore e por Ellen Page, atriz ativista e ícone  da causa GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Trans). Ambas estão incríveis. Mas este filme deveria ser visto por todos os homofóbicos e para os que não tem opinião formada sobre união gay. Também por ativistas de causas diversas. 
    Pense numa mulher policial. Sua luta contra o machismo é diária. Ela precisa ser muito melhor do que a média para ser reconhecida. Pense que essa mulher é homossexual e esconde isso de todos. Na maturidade encontra o grande amor numa jovem mecânica. Temos aí mais um ingrediente para o preconceito: a diferença de idade.
    Se for duro demais ver beijo entre mulheres, ultrapasse as poucas cenas de olhos fechados e veja apenas duas pessoas que amam ficar e viver juntas. E que projetam e realizam sonhos. E que uma dessas duas pessoas está morrendo e quer deixar sua pensão para a outra, com quem está, de fato (mas não de direito) casada, como todos os funcionários públicos fazem. Mas precisa de votos e de Lei. E essa mulher nem era ativista e nem queria que o mundo soubesse que era gay.
    Então entram no filme personagens secundários que poderiam ser qualquer um de nós:
 - O policial hetero, branco e ateu, apoiador da causa, que nunca havia imaginado que sua parceira fosse gay e que não muda em nada a amizade e admiração que sempre nutriu por ela. 
 - O jornalista judeu e ativista gay, que convence o casal a levantar a bandeira da causa e mostra o quanto isso é muito maior do que uma pensão. Pode ser a mudança de um sistema.
- O político que sente-se envergonhado em votar contra e mal pode olhar na cara da filha, enojada pela postura do pai. A mudança que esse provoca lentamente nos demais.
- O jovem policial gay que resolve sair do armário para apoiar a colega.
- O chefe que tenta ser imparcial.
     Foi bastante emblemático ter visto esse filme com Gustavo, um ativista gay. Nesse País assumir ser homossexual já é ativismo. Mostrar em redes sociais, denunciar homofobia, falar abertamente sobre homossexualidade, querer direitos iguais e respeito é considerado petulância, arrogância. Um filme sobre direitos conquistados que não podem ser tirados é essencial em tempos de retrocesso político e avanço conservador.

   Sobretudo é um convite ao ativismo. As cenas que mais emocionaram foram as que personagens tomaram posição. Mostra a importância de lutarmos pelos direitos civis e humanos. Você não precisa ser gay para apoiar o casamento gay. Você só precisa ser justo.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Carta Aberta ao Deputado Jair Bolsonaro

    Primeiramente, deputado, gostaria de agradecer. Os absurdos proferidos pela sua boca no domingo, durante a votação na Câmara, me fizeram deixar de ser tolerante. Tenho familiares que o apoiam, via também apoio de desconhecidos na minha página de facebook. Mas quando ouvi que o seu voto é pela ditadura e torturadores, resolvi não tolerar mais os intolerantes. Tolerar não é aceitar. Nunca aceitei, mas tolerava. Hoje não tolero mais. Também agradeço porque muitos dos que estavam apenas no "oba oba" do  Fora Dilma, ficaram chocados com as declarações dos parlamentares e, principalmente, a sua. E começaram a pensar. E só agora parecem entender o que nos espera com a saída da presidente Dilma.
   Imagino que o senhor deva ter sido muito castrado na sua família, foi obrigado por seu pai a continuar no militarismo, senão apanhava, como declarou certa vez.  Talvez tivesse profundo interesse nos corpos dos soldados, mas conteve-se pela família, tradição e propriedade. 
   Em uma das suas declarações cheias de ódio, disse que gastaram bala demais com Lamarca, que ele deveria ter sido assassinado a coronhadas. Isso já mostra seu apreço pela tortura. Não basta matar com tiro não é mesmo? Seu prazer está na dor do outro, no sofrimento físico e mental alheio. Lamarca é o meu grande ídolo revolucionário, pois sendo um capitão do Exército, viu as atrocidades que estavam sendo feitas e se rebelou. Ele é muito mais revolucionário que Che Guevara, mas o Brasil ainda prefere reverenciar ídolos de outros Países. Ou fascistas como o senhor.
    Infelizmente o senhor não é um verme ou lixo, como muitos o chamam. Se assim fosse não estaria na Câmara. É um cidadão comum, que pode se eleger e está aí, indo contra os Direitos Humanos, contra a Constituição. O que me estarrece é que comete diariamente crimes de homofobia e racismo, além de incitar ao ódio, mas ainda está livre. Espero que com o desequilíbrio mental apresentado no último domingo, a OAB entre com algum pedido de cassação do seu mandato. 
     Entre algumas de suas declarações "polêmicas" (para não dizer escrotas, nojentas, asquerosas), mandou índio comer capim, negros para o zoológico e que mulher deve receber menos do que homem, já que tem filhos. Ora, deveria era ganhar o dobro, já que tem dupla jornada de trabalho. O senhor não deve ter lá muito respeito por sua mãe, não é mesmo? Ou então foi criado num ambiente tão machista que acha mesmo que mulher que usa saia curta está pedindo para ser estuprada.
      O senhor deputado não representa o Brasil. Representa a escória da política brasileira, o preconceito, racismo, homofobia, misoginia e todos os sentimentos de ódio que destroem a humanidade. Penso até que o senhor não tenha humanidade nenhuma. 
     Não desejo nada que não seja sua casssação e exclusão da vida pública. E que seus descendentes não sejam gays ou feministas, pois sofrerão muito em suas mãos sanguinárias e torturantes. 
      Aos que o apoiam e o admiram, dedico minha compaixão. São pessoas ignorantes (no sentido de ignorar), que certamente não tiveram mãe, mulheres ou filhas. Ou se tem, não as respeitam também. São pessoas, provavelmente, cheias de amargura e recalque. Pessoas que apoiam tortura e violência, segregação e insultos.
    Também tenho pensado muito em religião após o famigerado domingo. Primeiro porque não a tenho. Como não acredito em deus, também não acredito no diabo. Mas vendo-o vociferar aquelas palavras, sua ode ao militarismo, pensei diferente. O senhor parecia a encarnação do mal. O diabo. No fim, é sempre a velha luta do bem contra o mal. Deus é o bem, diabo é o mal. Essa arbitrariedade que se tornou normal na política brasileira, que confunde voto de impeachment com família e deus, tem no senhor muita representatividade. A cusparada que o deputado Jean Wyllys lhe deu está sendo muito contestada. Já os absurdos que o senhor fala no Congresso Nacional parece normal. 
     Talvez essas pessoas estejam cegas de ódio, o mesmo ódio que o senhor é mestre em disseminar. E se esses cegos não tirarem logo o véu da ignorância, em breve não haverão mais cartas abertas aos políticos. Nem eleições diretas.
  

quinta-feira, 24 de março de 2016

Juízes Mandam, Globo Edita, Fascistas Ganham

   Fazer análise política no Brasil não é tarefa fácil. A coisa é tão rápida que cientista político e jornalistas ficam tontos por aqui. Tinha escrito sobre a indicação de Lula como chefe da Casa Civil. Sobre como essa decisão iria inflamar mais os ânimos dos Fora Dilma e que não havia problema nenhum querer escapar do juiz salvador da pátria, Sérgio Moro. Eu mesma, que não sou tão esperta e apenas uma mãe que perdeu a guarda da filha e ficou anos sem vê-la pela morosidade da inJustiça brasileira, discuti com o juiz e ele saiu do processo. Coincidência ou não, o processo andou mais rápido sem Ricardo Braga Monte Serrat, um juiz que não fazia nada, não decidia nada e quando decidia era algo bem duvidoso. O que dizer sobre Moro? Que é implacável contra petistas e todo rabo preso com psdebistas? É tão óbvio que só o PT é investigado. Faria o mesmo para sair da parcialidade brutal desse Moro.
    Não ia escrever mais nada sobre política nenhuma. Mas lendo um artigo do colega Alceu Castilho, sobre o fascismo crescente no País, me identifiquei com o que ele chama de "esquerda blasé". Isso mexeu com minha dignidade, com meu instinto mais esquerdista. Sim, sou blasé em várias coisas. Falo baixo, não gosto de brigas, sou pelo diálogo, até faço o que não quero fazer por não saber dizer não, não querer decepcionar e ainda gosto de filme iraniano e dinamarquês. Mas contra o fascismo não dá para ser blasé! Não dá mais para tolerar gente que odeia pelo ódio, que é "contra tudo isso que está aí", que detesta pobre (e não pobreza, que eu também detesto), que detesta negro, detesta gay, detesta petista, mas não sabe nem quem sucederá Dilma, caso ela saia da presidência, por renúncia ou impeachment.
     Quando ela foi reeleita eu estava em Ribeirão Preto. O que ouvimos (eu e Miranda, minha filha de 7 anos, que gosta muito da Dilma e acha o máximo uma mulher presidente) foi xingamentos dos prédios, de todos os tipos. Miranda perguntou porque xingavam a presidente. Respondi que essas pessoas, apesar do acesso à educação e informação, não souberam aproveitar sua sorte. Não voto desde 2002, mas sempre torço para que o eleito democraticamente pela maioria, dê conta do recado. Torço por Alckmin também! Torço para que ele perceba que a truculência que usa hoje contra manifestantes e estudantes pode se voltar contra ele um dia, seria extermínio na certa.

    Mas quando pensei em reler sobre a posse de Lula para publicar o texto, eis que uma liminar, assinada em tempo recorde (28 segundos!) pelo juiz Catta Preta, proíbe Lula de assumir. Puxa vida, fiquei impressionada com os dois pesos e duas medidas da Justiça brasileira. Uma vez pedi uma liminar para ver minha filha, já estava acordado e tudo. O pai não deixou ver. Fui até o Fórum e achei que bastava o juiz assinar e mandar um Oficial de Justiça cumprir a Lei. Mas não, ele pediu vistas para o Ministério Público, porque era difícil um juiz decidir sozinho se uma filha tem o direito ou não de ver a mãe. E lá se foram mais 5 meses sem ver ou falar com minha filha. Agora quando é com Lula, tudo é tão rápido, porque Lula vale mais do que eu? Porque não dei a sorte de pegar um juiz tão ágil? Claro que isso é ironia, caros leitores, claro que vocês já devem saber que esse juiz é um dos Fora Dilma. Todos nós temos opiniões formadas, mas levá-las a público tendo um cargo público tão elevado é, no mínimo, leviano.

    Então o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está sendo investigado por milhões desviados e depositados em contas no exterior. E ele continua presidindo a Câmara! Ele já é réu! Pior, ele faz parte da Comissão de Impeachment!! Mas qual o problema do seu desvio? Vamos concentrar nossos esforços nos pedalinhos de Lula e no sítio em Atibaia. É muito mais amador, mais tupiniquim do que dinheiro em contas na Suíça. É a cara do Brasil. E o Paulo Maluf também está na Comissão! Aquele mesmo que eu pensei estar, finalmente, no ostracismo. As investigações contra Cunha estão paradas há mais de 5 meses. E o que dizer do senador Aécio Neves, que aparece mais no Lava Jato do que no Senado? O que dizer da meia tonelada de cocaína encontrada em sua propriedade? E o helicóptero que transportava a droga era da empresa de Zezé Parrela, amigo de Aécio, que fez três contratos sem licitação para o brother, mas isso é matéria do passado. Para que investigar? Afinal, as pessoas que querem depor Dilma são todas de bem e contra a corrupção, não é verdade?

  
    Quando a extrema direita e a Rede Globo perceberam que Lula poderia assumir a Casa Civil, o justiceiro Sérgio Moro não hesitou em passar todas as gravações sigilosas para a Rede Globo, que em edição profissional, fez de Lula um arrogante, grosseiro e que desdenha do povo. Ele pode ser tudo isso, mas ele não é só isso. A gravação inteira mostra muito mais. Alguns dos odiadores poderiam parar para ouvir na íntegra. Mas o ódio cega e ensurdece. Sei bem disso. Daí mais uma vez penso nos pesos e medidas da Justiça brasileira. Em 2011, a juíza carioca, Patrícia Accioli, foi executada com mais de 20 tiros, por policias que estavam sendo julgados por ela. Ninguém foi preso. Num País onde juiz é assassinado por ter coragem em enfrentar o tráfico, considerei, no mínimo estranho, um juiz vazar todas as gravações de Lula, inclusive, conversas com a presidente. Ele não tem medo? Claro que não! Todos os políticos corruptos de todos os partidos estão ao seu lado. Dilma caindo, Moro ganha um cargo daqueles, acima do bem e do mal, querem apostar?

    Mas os "rebosteios" midiáticos e políticos no Brasil não param por aí. Saiu enfim uma lista da Odebrecht, com mais de 300 políticos envolvidos no Lava Jato. William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional, explicou com sua cara lavada de bom moço e voz linda, que a lista não seria divulgada. O mesmo juiz Moro decretou sigilo nessa lista. Por que? Porque o nome da Dilma não está. Nem o meu. Acho que nem o de Lula. Mas todos os outros estão e não é conveniente dar os nomes de políticos que chamaram às ruas para manifestação contra  a corrupção. Sendo que TODOS são corruptos. Inclusive você que compra DVD pirata, que passa ponto para a carteira de habilitação do amigo, que sonega...
   
   Você que está lendo esse texto em outro País e não entendeu nada, não fique constrangido. Estou aqui há 45 anos e não consigo entender até hoje. Você que está aqui e é contra "tudo isso que está aí", reflita um pouco e pense quem você quer no lugar de Dilma. Não concordo com muita coisa desse atual desgoverno. Na minha análise parca, Dilma quis ser legal com banqueiros e empresários, mas não conseguiu. E foi péssima com as classes que a elegeram. Há genocídio indígena, MST (Movimento Sem Terra) sendo desrespeitado, desmatamento recorde na Amazônia. Mas pensem que nunca antes houve tanta investigação de políticos nesse País.
   Corrupção existia, e muita, na Ditadura Militar, mas ninguém podia falar sobre isso. Os fascistas estão mostrando sua cara. E é muito feia. Na manifestação nacionalista dos verde e amarelo, dia 13 de março, estava em Ribeirão Preto, de vestido vermelho (coincidência e não provocação). Gritaram para mim, de um carro: Fora Dilma. Cheguei a fazer piada sobre o acontecido. Mas agora vejo que não tem graça. Tem mãe com bebê de colo sendo agredida por usar vermelho. Ciclista com bicicleta vermelha tomando pedrada. Sei o quanto é pequeno burguês pensar na cor da roupa por medo de represálias. Penso nos negros que acordam todos os dias e temem represálias pela cor da pele. Os valores desse mundo estão muito errados, mas ainda acho que vale tentar acertar os erros.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Culinária Intuitiva na Casa do Ernesto

   A Casa do Ernesto é um espaço de trabalho e convivência coletivo. Foi inaugurada em dezembro do ano passado. Os ocupantes são profissionais que atuam em diversas áreas, principalmente nas sociais, socioambientais e de comunicação. Há engenheiro, há jornalista. Dividimos tudo: contas, espaço, ideias, desejos, projetos (de vida e trabalho). Só para situar como fui parar nesse grupo, voltarei uns meses no tempo. 
   Em agosto do ano passado decidi mudar para São Paulo, uma cidade que adoro, apesar das coisas que se tem para odiar. Então comecei a falar com os melhores amigos que moravam por lá. Entre eles a santista Carla Stoicov. A Casa do Ernesto era uma ideia que já vingava em três cabeças (das mais pensantes): Carla, Wilson Bispo e Flora Cytrynowicz.
   Para dissipar a maior dúvida: Ernesto não é uma pessoa, é um cachorro. E a proprietária da casa, a jornalista Gisele Paulino, é  também a "dona" do Ernesto. Só que a Gi viaja muito e acabou mudando para o Rio de Janeiro, por conta de um mestrado. O Ernesto ficou. Quem alugasse a casa, hospedaria o Ernesto. Embora ele tenha uma "cuidadora", que já morou na casa com o Ernesto. Enfim, em menos de 4 meses já tem muita história nessa Casa. Isso tudo foi apenas um lead bagunçado, como disse, para situar os leitores. Essa Casa vale um post só sobre os ocupantes. Outro só sobre a inauguração. Outro sobre a primeira reunião, que estipulou "as regras" da Casa.
     Mas vamos à culinária. De pouco tempo para cá começamos a cozinhar um "resto de tudo" o que tivesse na geladeira com os que estivessem no horário de almoço (que pode ser qualquer um entre 12h e 15h). E os que estivessem vindo, trariam o que faltasse. Quem me conhece, minimamente, sabe do meu pouco potencial nas manobras do forno e fogão. Por isso sempre fui a pessoa que lava a louça e faz o café. Na semana passada, Carla perguntou/intimou: "- Amanhã você faz o almoço?". "- Pode ser macarrão?". " - Fazer o que, né? A gente come". Paralelamente, há mais de um mês, eu combinava um almoço ou café com o querido Norian Segatto. Eis que ele aceita almoçar na Casa, assim aproveitaria para conhecer o espaço. Fiquei tensa.
     No dia seguinte deixei Miranda na escola e fui ao supermercado. Lembrei da minha musa Jout Jout* e do primeiro vídeo dela que vi (apresentado há um bom tempo por Dora, claro, minha assessora para assuntos de vlog), justamente sobre culinária intuitiva
      Fui no corredor dos legumes e saladas. "Alface não ofende ninguém e tomate é um coringa", pensei e peguei. Daí acrescentei algo que dá graça em tudo: gorgonzola! Segui confiante e avistei um lindo pacote de shitake, que adoro e combina com shoyo, que dá gosto em chuchu. Para completar batatas. Quem não gosta de batata? Com salsinha e azeite não deve ter erro.
    Cheguei na Casa e só estava Carla, numa reunião por skype. Fui para a cozinha e parti para intuição. Norian chegou pontualmente, em tempo de sentir o cheiro do shitake queimando no azeite (a intuição nem sempre leva à perfeição). Então Flora e Wil ligaram para dizer que chegariam para o almoço. "Nossa! Era para ser eu e Carla e agora somos cinco!" Ainda bem que tinha um arroz integral na geladeira, que abrilhantou a salada. Mesmo assim fiquei um pouco mais tensa. Os dois chegaram com uma quirche e ingredientes para fazer brigadeiro de sobremesa. "Ufa! Brigadeiro eu mando bem".
      Para evitar mal entendido, avisei que a culinária era intuitiva. Mas no final, não sobrou grão de nada para contar história. Foi um sucesso de público e crítica. A Casa do Ernesto realmente opera milagres! E me inspirei para escrever porque quem manobrou as panelas hoje foram Carla e Beto Gomes. Fiz de novo o tal brigadeiro. Apenas repetirei aqui o comentário do Wil após provar minha especiaria: "- Dri, larga o jornalismo!".

*Cozinhando intuitivamente com Jout Jout https://youtu.be/iDMdlihU9Dw

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Descaso com Dengue deu em Zika

  Começar o primeiro post do ano falando de epidemia não era minha intenção. Pessoas que não conheço me escrevem para saber se está tudo bem, que sentem falta desses textos aqui, aparece gente nova lendo tudo. Digo que muitas coisas boas aconteceram nesses quase dois meses de ausência. As férias com minhas meninas foram simples e ótimas, muitas mudanças - inclusive geográficas e físicas - aconteceram na minha vida. Leitores me escrevendo por empatia, mais mães querendo desabafar, ouvir conselhos. Mas minha cidadania e essa mania de ter e passar informação me obrigam a falar do zika vírus. Não dá para falar apenas do meu cotidiano às vezes normal, outras surreal. Ainda mais porque este blog é lido em todos os Continentes (humildemente me orgulho muito sobre esse fato) e com tanta tecnologia e informação, é difícil crer que um mosquito possa causar tanto estrago, mas causa. 
   Segundo informações do Ministério da Saúde foram registrados 40 mil casos de dengue em 1990. Os números foram crescendo até atingir 1,5 milhões de pessoas em 2015. E sabemos que muitas pessoas passam pela dengue sem registro. Tenho um caso na minha casa. Há uns 4 anos minha mãe, que não gosta de ir ao médico, que mal fica doente, teve o que chamou de "uma gripe muito forte", passou uma semana "derrubada", por insistência minha foi fazer exame e, bingo, era dengue. Então podemos dizer que esse número pode ser maior que o dobro.
   O zika vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, em Uganda, na África. É sempre assim, enquanto a doença mata nossos irmãos africanos, sem poder de consumo, que já "nascem para morrer de fome", ninguém liga muito. Mas depois o vírus se espalhou para Ásia e Oceania. Pior quando chega na Europa e América do Norte! 
   Como o maior transmissor do zika vírus é o mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue, não causa estranhamento a proliferação no Brasil. Mais de 4 mil casos de bebês nascidos com microcefalia nos últimos meses é assustador. Já soube de mulheres grávidas abortando sem nem ao menos ter contraído o vírus, apenas por medo. Mas é para ter medo mesmo. Já não é fácil criar uma criança saudável, imaginemos como seria saber da possibilidade de ter um filho com problemas neurológicos irreversíveis, num País onde a saúde vive em coma.
   Para piorar o quadro, os cientistas ainda não tem tanto conhecimento quanto ao vírus, nem se uma pessoa uma vez infectada estará imune. É assim com a gripe, que precisa de nova vacina a cada ano. Como o Brasil é um País tropical (sei lá se abençoado por Deus), a proliferação é maior. Até acho que o nosso Governo está informando a população e contabilizando os casos de forma eficiente. Mas teremos Olimpíadas em breve e sim, será uma situação de risco, que poderá levar o vírus para lugares onde ainda não existe.

    O que podemos fazer? Mulheres, não engravidem! Pessoas, passem repelente o tempo todo! Mas, por favor, nada disso será eficaz se continuarmos deixando a água parada acumular... estamos em guerra e não podemos perder várias batalhas para um mosquito.