Só fui perceber que fiquei muito tempo sem escrever por aqui porque já é dezembro e fui mostrar o último post para Dora.
Todo cheio de amor, união e esperança, sobre o Show de Talentos da
Teia. Custei a dormir, primeiro porque não canso de olhar Dora e
Miranda dormindo juntas, abraçadas. Segundo porque pensei sobre o
último mês e os acontecimentos pessoais e mundiais que me
impulsionariam a escrever. Sorri ao lembrar um comentário de Dora:
“Quando acabar 2016, vão colocar: dirigido por Quentin Tarantino”.
Nesses dias elegeu-se Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
E eu já estava bastante abatida com a vitória esmagadora do
retrocesso e imbecilidade nas cidades de todo o Brasil,
principalmente na cidade de São Paulo, onde moro, e do Rio de
Janeiro, onde tanta gente incrível que conheço, mora. Duas cidades
símbolos do Brasil. Então vejo Trump ser eleito, ao mesmo tempo em
que leio o que posso, o que me enviam, o que me indicam sobre Estado
Islâmico, Nação Árabe, Grupos Terroristas e Crime Organizado.
Tudo para o trabalho final de um curso que fiz sobre Geopolítica e
Grupos Terroristas. Fiquei tão cheia de informações e ideias que
não conseguia mais dormir.
Indo para um Encontro de Nadadores, que ajudei a idealizar, onde encontraria os melhores amigos, os mais antigos, os que não vejo
há décadas, os que vejo sempre, levei um tombo. Fraturei o nariz em
duas partes. Sangrei até quase desmaiar, senti muita dor, fiquei
inchada, não fui. Me neguei a escrever sobre mais um acidente no
lugar de um encontro cheio de emoção, lembranças e abraços. O
mundo não precisa disso. Nem eu precisava...
E um dia eu acordo às 6h, como de costume, faço café, me preparo
para escrever o tal artigo para o curso e ligo a TV para ver as
notícias do dia. Um avião havia caído. “Nossa, lá vem mais uma
tragédia mundial”. Estava toda a equipe do Chapecoense. Conforme
fui ouvindo o desenrolar da história, fui me dando conta da
importância do fato. Não era “apenas” um acidente de avião,
que choca por ter mortes simultâneas e coletivas e, direta e
indiretamente, afetar um grande número de pessoas, num efeito
dominó. Era um acidente com duas equipes inteiras: de futebol e de
jornalismo. Eram pessoas que iam para a final de um campeonato
internacional, todas com o mesmo destino: fazer o melhor trabalho,
trabalhando no que gosta. Quase o sonho de quase todos. Era um time
pequeno que ficou grande. Eram jornalistas especializados, alguns tão
grandes, tão generosos, que mostravam as melhores imagens para
todos, sem distinção, e nunca se mostravam (assim são os
cinegrafistas, ao menos, todos os que já conheci).
Então, para sair do choque emocional que uma tragédia como essa
causa, imediatamente comecei a ver o fato de forma jornalística.
Não era só uma tragédia nacional, era também o maior acidente
aéreo da história envolvendo atletas. E quando envolve atletas o
choque é maior. Porque sabemos que atletas estão sempre juntos, na
alegria e na tristeza, na explosão de raiva e na explosão de choro.
Os atletas, na minha humilde opinião, são o maior símbolo de
união. Porque são muitos e estão sempre juntos. Repórter com
cinegrafista e fotógrafos também, mas em escala e tempo menores.
Talvez por isso, em pouco tempo já eram mostrados, em retrospectiva,
os acidentes com a equipe de futebol do Torino, da Itália, e da
equipe de Rugby do Uruguai. Ou seja, o da Chapecoense será lembrado
para todo o sempre. E ainda mais se outras tragédias acontecerem.
Porque eram atletas e estavam voando atrás de seus sonhos e
objetivos: ganhar o campeonato e disputar a Libertadores da América.
A
princípio o que vejo na mídia nacional é a exploração de
lágrimas, imagens repetidas de avião destroçado. A TV Globo,
enquanto não chegavam realmente notícias, ficava mostrando repórter
entrevistando repórter esportivo que era amigo de algum repórter
morto. Jogadores de futebol amigos dos jogadores mortos. Arrancavam
lágrimas para tirar mais lágrimas.
E
no meio da comoção mundial, na madrugada seguinte a esse acidente
tão trágico, os congressistas brasileiros trabalharam sem parar.
Mas não foi com diplomacia, relações internacionais ou coisa
parecida, já que o acidente aconteceu na Colômbia, com avião
boliviano. Os congressistas nacionais passaram a noite votando em
medidas que congelam salários, aumentam o tempo de aposentadoria,
tiram vários direitos trabalhistas e dão vantagens a empresários.
Também votam o fim da Operação Lava Jato, aquela mesma que era
para acabar com a corrupção. Mas só com a corrupção do PT,
porque PSDB, PMDB e demais partidos podem continuar roubando e
corrompendo a vontade.
Esses congressistas não são nada menos do que canalhas. E todas as
pessoas que apoiam o Governo Michel Temer são imbecis ou canalhas. E
a mídia do mundo inteiro sabe o quanto foram desumanos e canalhas ao
votarem na calada da noite, enquanto pedaços de corpos de brasileiros
mortos estavam sendo recolhidos. Espero que daqui a 50, 100 anos,
essa madrugada seja lembrada como a madrugada dos canalhas.
Mas 2016 também teve e ainda terá coisas boas, que escreverei depois, pois agora as
estou vivendo.