quarta-feira, 27 de abril de 2011

Só de Água

   Uma semana antes da Páscoa, dois queridos amigos vieram em casa. Entre uma taça de vinho francês e outra, uma recomendação relevante de Fábio Diegues para "que eu não beba nem socialmente". Ainda bem que estava muito mais na água que no vinho! Ainda me alertou para tirar do facebook o aplicativo Frases de João Estrela, personagem real biografado por Guilherme Fiúza no livro Meu Nome Não é  Johnny, pois sso soaria como apologia às drogas. O livro, que me foi emprestado pelo próprio Fábio e devorado em menos de 2 dias, é um roteiro pronto. Quando li ainda fiquei imaginando quem seria o ator escolhido para interpretar história tão fantástica. Confesso que já tinha vislumbrado o genial Selton Melo.
  O autor do livro viveu parte da saga de João Estrela, por isso a veracidade dos fatos com muito caráter afetivo. João é exemplo de degeneração seguida de regeneração humana. De como somos capazes de nos estragar ou sermos estragados e regenerar. Suas experiências me fazem ter até um pouco de esperança no sistema judiciário. Tudo em seu caminho é tão extaordinário que ao ser preso por tráfico internacional, foi inquerido por uma juíza que não o considerou um bandido, afinal não enriqueceu com tráfico, ao contrário, gastava tudo e fazia dívidas. Não tinha armas e o único apartamento da família foi vendido para pagar advogados. Era um doente viciado. Sem limites na dolescência, tornou-se um adulto sem noção da realidade. Como pena recebeu a internação num manicômio penitenciário, por uns 3 anos. Lá João trabalhou no setor administrativo e realizou mudanças significativas na vida social e política dos internos. Nada de ficar parado esperando o tempo passar, já que estamos no hospício, vamos aprender com isso. A identificação é imediata, pois também fiquei internada num sanatório psiquiátrico, por 30 dias. Também operei mudanças.
  Mas enfim, retirei o aplicativo Frases do João Estrela, mesmo achando as frases divertidas e estimulantes. Não entendo um mundo onde João Estrela é mal exemplo e o psicopata Dexter é considerado um serial killer do bem! Eu nunca tinha visto este seriado, típico enlatado americano. Mas depois de ouvir alguns comentários e comparações, do tipo "se fosse um assassino bonzinho como o Dexter". Não consigo imaginar alguém bom que mata e assisti 2 episódios para ter opinião formada, confesso que dormi no segundo.

Mais do Mesmo

  Há 2 dias reencontrei outro amigo, Marco Sapucaia. Esse nadador baiano, residente em Santos, veio de bicicleta me fazer uma visita. Um dos primeiros comentários: "Drica como você emagreceu!", o primeiro pedido foi um copo d'água. Por falha injustificável da anfitriã a água havia acabado. "Mas tem vinho branco, cerveja, suco, refrigerante, leite e posso fazer um café". O sorriso reflexivo optou por cerveja. Era um fim de tarde quente.
  Não sabia nada sobre o processo de Dora e enquanto dividíamos a segunda latinha, conforme fui narrando os fatos, entendeu o porquê de eu ter emagrecido tanto. Ainda sugeriu que eu voltasse a nadar e avisou que tem etapa de Campeonato Brasileiro de Master em maio. Menos, meu amigo, menos. Por fim, relembrando as injúrias que tenho sofrido e por ter que me monitorar o tempo todo, constatei que além de não citar mais João Estrela, também é prudente não ter bebidas alcoólicas em casa. "Por outro lado, isso pode ter outro significado, Drica. Essa é a segunda vez que vou numa casa que não tem água, mas tem vinho, cerveja e champagne. A outra foi na do Fernando Scherer". Quis dizer que se acaba a água e tem bebida alcoólica na geladeira é porque toma-se muita água e pouca bebida alcoólica. Simples.
  Agora é assim, não posso falar o que penso, por mais coerentes que sejam meus pensamentos, nem escrever sobre o que sinto ou faço, por mais sinceros e inocentes que sejam meus sentimentos e atitudes. Afinal, tudo pode acabar se virando contra mim, qualquer frase pode ser relevante ou revirada. Ataques verbais podem causar estragos. Já teve até amiga minha sofrendo ameaça de processo pelo que escreve na internet. E só escreve o que pode provar.
  Será que eu deveria estar escrevendo sobre isso? Será que minhas palavras se virarão contra mim? Bom, só espero que o nadador Fernando Scherer, que nem conheço pessoalmente, não se sinta injuriado por ter sido citado e resolva me processar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Nadador Exemplar

  A natação entrou na minha vida aos 6 anos porque meu pai nadador quis que eu estudasse numa nova escola do Guarujá, com piscina de 25 metros. Eu engolia água, meus olhos ardiam, achava muito difícil rodar os braços, flutuar, bater as pernas e respirar ao mesmo tempo que meu corpo adaptava-se ao ambiente novo das águas geladas (nos anos 70 não existia piscina aquecida). Era um sofrimento tudo aquilo, mas meu pai dizia que morar no Litoral e não saber nadar era o mesmo que ter um restaurante e não poder comer - ou coisa  parecida. E disse mais: quando eu atravessasse a piscina poderia parar de nadar! Então me esforcei para superar logo esse obstáculo. Mas no dia que atingi essa meta, me senti tão vitoriosa e feliz que busquei muito mais. Minha maior dificuldade foi aprender a mergulhar. Como em tudo na minha vida, não consigo entrar de cabeça, analiso o movimento, a situação, até hoje é muito difícil me entregar. Mas um dia, depois de provocar muitas risadas em técnicos e amigos, aprendi a mergulhar e minha largada tornou-se um dos meus maiores trunfos.
  Depois de ter destaque em campeonatos estudantis estaduais fui nadar no Centro Esportivo do Guarujá e comemorei 11 anos em Jacareí, nos Jogos Regionais de 1981! Como era nadadora reserva pensei que seria só festa, participar em espírito, mas não em corpo. Era a mais nova da delegação da minha cidade, os atletas de outros esportes me enchiam de mimos e brincadeiras fofas, até que me colocaram para nadar 200 metros de peito! Fim de junho, a água muito gelada, arquibancada lotada e muitos gritos de incentivo para minha prova. Nunca meus braços e pernas doeram tanto, me faltou o ar, dei meu melhor tempo e cheguei em último lugar... mas isso não me abateu. A natação não é só uma disputa com o adversário, é uma disputa com você mesmo. E essa eu venci! Tive mais confiança de tudo que era capaz de conseguir.
  Como o Guarujá ainda não inscrevia atletas na Federação Paulista, eu nadava também campeonatos de Aprenda a Nadar. Claro que ganhava todos, pois já alcançava marcas para campeonatos oficiais. Com esse panorama, assistentes técnicos de clubes santistas convidaram a mim e minha inseparável amiga Rosane Mendes (com a mesma trajetória) para nadar em Santos. Sim, queríamos ir, com pesar nos separaríamos de nossos colegas de braçadas, mas iríamos juntas para algo mais desafiador. Rosane queria ir para o Clube Vasco da Gama, que tinha a melhor equipe de Juvenil, sua categoria. Eu preferia o Saldanha da Gama, pois ainda tinha 2 longos anos como Infantil e a equipe deles era a melhor de Santos nessa categoria. Entramos em um acordo: depois de assistir o Campeonato Santista Absoluto, decididíramos. A mãe de "Zaninha" e meu pai davam carta branca e apoio incondicional. Eram muito participativos.
  Noite quente no Vasco, a prova era 1.500 metros livre masculino. Não sabia quem estava nadando, mas dois atletas disputavam braçada a braçada. Até que um deles foi aumentando o ritmo, seu estilo era imperfeito, mas quanta força! Na chegada, com mais de meia piscina na frente, esse nadador tira os oclinhos, vê que quebrou o recorde da prova e abre o sorriso mais lindo do meu universo. Quem era? Onde nadava? José Ricardo Carvalho de Oliveira, então com 16 anos, era atleta do Clube de Regatas Vasco da Gama. Essa prova e esse sorriso nortearam meu destino a partir de então.
  Nadar no Vasco formou parte do que é minha personalidade hoje. Trago de lá alguns dos meus melhores momentos, amigos que até hoje acompanham minhas aventuras e desventuras, fiz viagens inesquecíveis, incríveis, conheci pessoas fantásticas, participei de competições acirradas, venci, perdi, aprendi. Fazer parte de uma equipe como aquela era mais que praticar um esporte, era integrar uma enorme família, sofrer junto, vibrar junto. Minha paixão pelo Zé Ricardo foi só mais um capítulo dessa história. Mais que o sorriso encantador, tinha o coração valente, humor sagaz e muito charme. O garoto moreno ainda tinha voz rouca... como não me apaixonaria? Mas eu era uma criança e ele quase um adulto! Com 13 eu já era fisicamente o que sou - quer dizer, muito melhor do que sou hoje - e ele viu com outros olhos a minha pessoa. Durante 2 anos demos muitos beijos escondidos (ele sentia vergonha por eu ser tão novinha, essa é a verdade), tive a minha primeira paixão semi-correspondida, meu primeiro coração na boca e pernas bambas. Minhas primeiras lágrimas de amor!
  Depois de dois anos ele começou a namorar uma bailarina, com quem ficou por mais de 10 anos até se casar. Eu tão cabelo com cloro, ela tão coque e rabo de cavalo. Eu tão abrutalhada, ela tão delicada. Demorei longos 6 meses para superar isso. Ora, 6 meses soa como eternidade para uma adolescente de coração partido. Ainda nos econtramos nos treinos de pólo aquático, esporte que pratiquei, assim como o Zé Ricardo, depois de parar com a natação. Ele continuava com o sorriso lindo!
  Aos 30 anos, o meu inesquecível primeiro amor, morreu num trágico acidente de carro, quando subia pela Imigrantes, numa noite de muita chuva, para pilotar um avião - sim, ele virou piloto. Era casado com a bailarina e tinha uma filhinha de 2 meses.  Na missa de sétimo dia encontrei nadadores do Brasil inteiro. Encontrei sua irmã Ana Claudia, uma querida amiga, que igualmente encantadora, me abraçou sorrindo: "- Só o Zé pra me fazer te encontrar de novo". E com muitas lágrimas tentei consolar aquela irmã caçula e coruja, com um buraco imensurável no peito.
  Eu tinha 25 anos e vivia outra vida, como jornalista boêmia, ficava acordada até tarde, fazia plantões de madrugada, dormia pouco, me alimentava mal, com pressa, tive ácido úrico que detonou meus pés aos 23 anos, por estresse! Ver todos aqueles bons e velhos amigos, naquela celebração mórbida, foi um tapa na cara. "Quem sou eu agora? O que me tornei?"
  Após sua partida, tive muitos sonhos com  o Zé Ricardo, ele estava sempre no meio de uma piscina enorme, num dia ensolarado, me chamando  para mergulhar. E eu mergulhava de cabeça e nadávamos juntos até eu acordar literalmente cansada, com braços doendo. E de tanto nadar em sonhos, voltei às piscinas, como master, no mesmo fatídico ano de 1995. Esse nadador exemplar me trouxe de volta para a vida. Porque pessoas assim nunca morrem nas nossas lembranças. Hoje uma tradicional travessia da Baixada Santista leva seu nome. Jovens atletas nadam a travessia José Ricardo Carvalho de Oliveira sem saber que homenageiam não só o atleta que colecionou títulos, mas o nadador que amava nadar, que conseguia esses títulos não por talento nato ou técnica perfeita, mas por muita dedicação, esforço e vontade. E que sua coleção de amigos era ainda maior que de medalhas. E que seus curtos anos na Terra valeram por muitas vidas. E que mesmo não estando aqui, me fez voltar na minha essência de disciplina, persistência e irmandade. E eu nunca pude agradecer.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mantenha Seu Brilho

  Como não é sempre que estou disposta a falar da dor e da saudade ou do processo pérpetuo (até que atinja - Dora ou o processo - a maioridade), esse blog era pra ser uma forma de contar aos amigos mais próximos o que estava se passando, comigo e com as pendengas judiciais. Também uma forma de desamarrar o nó. Tentar entender, dar um fio na meada, costurar essa história. Porém percebo agora que mais que tudo é para Dora. Só ela importa nesse momento, a maior vítima de tantos erros e intolerância. E há quanto tempo essa forte menina passa por tanto desrespeito aos seus direitos de criança? Há mais de 6 anos e tem apenas nove. É ela quem precisa entender como os adultos transformam sua vida sem perguntar o que sente ou pensa. E qual motivo fez chegar ao ponto do insustentável. E porquê de novo teve que largar a vida dela para ingressar em outra vida, levando dela só ela mesma.
  Ainda bem que tenho tudo guardado, Dora já lia e terá maior entendimento ainda no futuro, que seu pai falava de acordo por emails, exigia nossa mudança para São Paulo para partilhar guarda... mas foi lá com busca e apreensão, tirou Dorinha no meio da aula e levou para morar com os avós em Ribeirão Preto. Ou seja, queria transtornar mais ainda nossa vida, obrigando a fazer uma mudança para São Paulo para depois levá-la para o interior. A intenção clara é afastar Dora da mãe, irmã, amigos, cidade... a tal alienação parental declarada! E enquanto escrevia sobre acordo, enquanto gastava horas do tempo do promotor Alfonso Presti sobre acordo, entrava com novo processo, para a Destituição do Poder Familiar - já extinto graças ao juiz de bom senso. Tão evidente o empenho da outra parte em separar mãe e filha, para sempre.

Crescendo rápido

  É muita coisa para uma criança! Como lidar com a proibição de falar com a mãe? Não poder mais ver sua querida irmãzinha e suas melhores amigas? Como Dora aguenta tudo isso? Eu sou mãe de Dora e a pessoa que mais a conhece e mais conviveu com ela em sua ainda curta, mas já tão expressiva, conturbada e singular trajetória. Dora tem inteligência acima da média. É popular, sociável, talentosa e sábia. Mesmo sendo tudo isso, ainda é uma criança e o tempo para ela corre diferente. Há 70 dias foi arrancada de tudo o que ela tinha e levada para morar em Ribeirão Preto, com os avós, obrigada a adaptar-se bruscamente, sem conversa sobre mudança, sem avisos ou recomendações e ficar lá, sem poder falar com ninguém do seu convívio, de sua rotina. Proibida, cerceada, monitorada! Para Dora esse tempo é interminável, ela não sabe o que está acontecendo aqui na casa dela, com as coisas dela, a vida dela, os amigos, a cidade. Se é difícil para quem está aqui, mal posso imaginar como está sendo para ela, sua angústia e insegurança. Seu coraçãozinho tão jovem e já tão martelado com o prego da saudade.
  Mas ela precisa saber que ninguém nunca e jamais a esquecerá. Que sua irmãzinha Miranda fala dela todos os dias. Que eu tive que tirar suas fotos, pois Miranda fazia beicinho e chorava! Ela vê perua escolar, aponta e fala: "Doinha!" e fica muito feliz quando a Raquel, melhor amiga da Dora, vem em casa. A doce e meiga Raquel, com sua inesgotável paciência, brinca com Miranda, que afoga em Raquel a saudade de Dora. Miranda não esquece Dorinha e não tenho mais como dizer que Dorinha foi passear. Que passeio mais demorado mamãe! Deve ser o que fala em mirandês.
  Saber que o ballet do Municipal continua com sua vaga, suas professoras torcem por sua volta. Que suas colegas de classe ficaram muito tristes de não ter mais Dora na frente, para poder seguir seus passos. As amigas sentem sua falta, me enchem de perguntas sobre Dora e porque não podem falar mais com ela. Tão querida, foi e será sempre assim a vida de Dora. O brilho de Dora transcende sua pessoa. Ela ilumina todos os espaços que ocupa. Agora ela está lá em alguma escola de ballet de Ribeirão Preto, estimulando outras garotas com seu entusiasmo e alegria; encantando outras professoras com sua inteligência e talento. É isso que faz Dora tão especial, a diferença que faz pelos lugares que passa. Espero que percebam isso e deixem Dora falar, que o melhor para Dora é ficar com a mãe!
  Sempre digo que os filhos devem ser criados para o mundo, de preferência, para melhorar o  mundo. Mas minha filha ainda é muito nova  para ser do mundo, eu precisava ensiná-la mais sobre liberdade de expressão, direitos humanos e cidadania. Protegê-la mais um pouco da maldade e prepará-la para enfrentar o mal. Agora ela está vivendo uma educação completamente diferente, sendo criada por pessoas estranhas, com ideias muito distintas das minhas! Quem a conhece ou esteja conhecendo agora, neste momento, verá uma menina simpática, tranquila, segura, esperta e decidida. Assim ela era até 70 dias atrás. Não imagino o que possa ser feito para tornar Dora uma menina melhor! Ao contrário, com o atual sistema de cerceamento, proibições, constrangimentos e privações a que tem sido submetida, temo muito por sua saúde mental. Ah, se a Justiça não fosse tão lenta e se não desse tantas brechas para os maus intencionados, de tempo vago... quem sabe ainda salvaria Dora de tanta ditadutra e autoritarismo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Nosso Natal no Visitário Público

   Mais um capítulo inacreditável da infâcia de Dora!

  Dia 24 de dezembro seria um sábado. Passei a semana em conflito sobre qual decisão tomar: passar o Natal no Visitário com Dora e fazê-la feliz por 6 horas monitoradas ou poupá-la de nova separação dolorosa? Numa das cinco perícias pelas quais passei com o psicólogo forense Sidney Shine, pedi ajuda nessa conduta. "Entendo que você se prive do contato para preservá-la do sofrimento da separação. Por outro lado é tudo o que ela tem com você e espera por esses momentos ansiosamente". Ele só me fez refletir mais ainda. Era tudo o que tinhamos: 6 horas semanais, presas numa caixa de cimento.
  Mas era o único tempo para abraçar e beijar Dora, dizer o quanto a amava e sentia tudo aquilo, acompanhar seu desnvolvimento levando revistas para desenhar, escrever e pintarmos juntas. E estava chegando o Natal, que nunca tinha sido muito especial pra mim até o nascimento de Dora. Depois dela, eu passei a entender melhor o espírito natalino, como verdadeiro símbolo de união e amor ao próximo, amando a todos mais que a si mesmo. Afinal, os locais onde crianças nascem, geralmente são tomados de ternura e esperança!
  Durante a semana Evandro, o pai de Pietra, me animou dizendo que tinha uma roupa de Papai Noel e nós faríamos uma festa! Comprei até uma árvore para montar e minha mãe, que também visitava Dora, fez um vestido lindo para a netinha. O dia chegou. Dora e a amiguinha ficaram radiantes em montar a árvore e mais algumas crianças ajudaram a colocar os penduricalhos. Em algum momento, Evandro esquivou-se da sala e foi ao banheiro, com a devida autorização oficial, colocar a roupa de Noel. Quando voltou com doces e presentes foi delírio coletivo! Estava totalmente disfarçado, barba gigante, óculos... mas não mudou os sapatos! Após detalhada observação, Dora vira para mim e solta essa: "- É o pai da Pietra, né mamãe?" Fiz que sim com a cabeça. "Que legal, mamãe". Sim, era muito legal um pai colocar uma fantasia e transformar um ambiente carcerário em lúdico. Não era legal um pai levar uma filha para passar o dia lá, com sua doce mãezinha. Mas esse dia tornou-se único, especial, definitivo.
  Uma hora antes do final do nosso breve encontro, levei Dora para tomar banho. Uma assistente social nos acompanhou. Observava eu tirar a roupa da Dora, entregar o sabanote, shampoo, muito desagradável e constrangedor. Enquanto eu a secava carinhosamentero - há  mais de quatro meses não dava banho ou trocava minha filha - a mulher disse que nunca tinham usado o local para banho. "Mas deveriam, aqui é muito abafado e as crianças ficam sujas e suadas". Ela concordou comigo e vislumbrei um olhar de compaixão.
  Arrumei o cabelo de Dora artisticamente. Ela estava linda e pronta para passar o Natal com a família da namorada do pai. Isso mesmo, nem com a família paterna ela passaria a noite de Natal. Minha filhinha linda, indo de cabeça baixa ao encontro do pai. Como estava grande, crescida, com ar amadurecido nesses três meses de visitário, morando com o pai, passando por perícias, tantas mudanças, sem nunca mais ver seus amiguinhos Tomás, Serena, Laurinha... tudo isso me passou como um cometa natalino. Ela estava indo para a vida que eu não fazia parte e não me deixavam fazer. Dessa época só sei o que Dora me confiava ou achava importante saber.
  Não me contive e fui atrás dos dois, quem sabe conseguiria comovê-lo. Dora de cabeça baixa, a ergueu com um sorriso. Ele fingiu não perceber nada. Já estavam entrando no carro quando gritei: "Jonas!" Um olhar com flecha de gelo me atinge, mas prossigo: "Feliz Natal!" Nenhuma reação, desprezo absoluto. Só pude lamentar. Espero que Dora já tenha esquecido o pior desse dia, lembre-se apenas de como enfrentamos e transformamos a realidade.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cárcere Infantil

  Escrever sobre o período mais traumático da minha vida não é tarefa fácil. Mas é preciso esclarecer alguns fatos, pois cada vez mais a história se repete. Até hoje o motivo pelo qual fui fazer visitas para minha filha Dora, então com 3 anos e 7 meses, num Visitário Público (espécie de cárcere infantil) monitorada por psicólogos, assistentes sociais e policiais militares, ainda é confuso para muita gente. Até amigos muito próximos se atrapalham com o amadorismo dos advogados da época somado ao meu desespero em ver Dora com urgência. Para piorar tem ainda o sadismo e oportunismo da outra parte, aproveintando-se da situação para inverter fatos!
  Há 6 anos - abril de 2005 - eu tinha a guarda provisória da Dora e o pai fazia visitas em finais de semana alternados, levava para viajar, participava das festinhas da escola em Boiçucanga, no litoral norte de SP, ligava quando queria para minha casa. Isso seguia enquanto esperávamos marcar uma audiência sobre guarda definitiva. Eu já sabia que guarda definitiva não existe, pode ser revertida a qualquer tempo, com agravo. Então para melhorar essa história eu estava disposta a mudar para o Guarujá, deixando Dora mais perto do pai, que morava em São Paulo. Enfim, tudo parecia se encaminhar rapidamente para um final gratificante. Esse processo já tinha mais de 6 meses! Nas férias Dora ficou 15 dias com o pai, período em que fui para o Chile. Trocava emails diariamente com o pai de Dora e ligava quase todos os dias para ela. Voltei da viagem, dormi na casa de amigos e o pai de Dora foi levá- para mim. Tudo tão civilizadamente... 
 
E assim fiquei sem chão

  Aconteceu que em agosto de 2005, ao chegar na rodoviária do Guarujá para buscar minha filha, quando Dora voltaria  do fim-de-semana do Dia dos Pais, ela não chegou! Minha mãe ligou no meu celular para dizer que o pai dela havia ligado com uma história de que Dora machucou o dedo, mas estava bem! Não, Dora não tinha machucado o dedo e não acredito que estivesse bem! Passei uma semana tentando falar com ela, com o pai e ninguém me dizia nada sobre o paradeiro dela! No máximo os avós repetiam que "estava viajando pelo interior com o pai"! Chegou ao ponto da advogada Marta Macruz de Sá, da outra parte, me ligar em casa para me colocar "a par dos fatos". Que o juiz passou a guarda provisória para o pai, pois o mesmo cismou que eu fugiria para o Chile. Tinha provas circunstanciais.
  Essa advogada me ligou tanto que cheguei a gravar uma conversa de 18 minutos. Da minha parte, a advogada Jussara Esther Aguiar comia uma mosca andróide, já que o árbitro passou a guarda baseado num agravo apresentado ao Ministério Público. Meus defensores deveriam ter sido rápidos, mas não, aceitaram determinação baseada em suposições estapafúrdias.
   Mil burocracias a parte eu precisava ver minha filha de 3 anos e meio que foi levada sem nada, sem entender nada, era para voltar na segunda e ela nem queria ir. Eu insisti para que fosse, era dia dos pais e seria muito gostoso. Dora foi confiante, ainda comprei mais uma revistinha das princesas e dei na rodoviária. Me deu tchau e foi com essa revistinha. Suas bonecas, roupas, álbuns de figurinhas, tudo estava lá comigo esperando por ela - peraí? Estou maluca ou está tudo se repetindo? Estou falando de acontecimentos ocorridos em 2005!
  Mas isso não podia estar acontecendo. Muita autoridade, trata-se de uma criança que fica repentinamente privada de ver a mãe! Deveria haver alguma forma de eu ver minha filha! Segundo Muruy de Oliveira, o parceiro, assistente e sócio de Jussara, eu teria que passar por perícia psicossocial. Quando saísse resultado da perícia, com certeza visitaria Dora. Mais absurdo ainda. A tal perícia poderia demorar meses, em seguida o recesso de final de ano. Imaginem ficar sem ver Dora por até 6 meses!
  Muruy me veio com a alternativa do tal visitário público, se eu pedisse veria Dora no próximo fim-de-semana. Eu quiz! Eu não sabia o que era, mas veria minha filha, falaria com ela. Em alguns dias Muruy me ligou para confirmar visita no tal Visitário. Ele estava satisfeito por ter conseguido as tais visitas, todos os sábados, das 10h às 16h! Depois eu fui saber que Muruy de Oliveira nem tinha inscrição na Ordem dos Advogados nessa época, mas enfim, era ele quem tocava o meu processo, Jussara só assinava e agora entendo porque aconteceu tamanho equícovo.
  Um dia antes da primeira visita Jussara me ligou recomendando que não levasse brinquedos porque lá não havia nenhum e as crianças poderiam brigar pelos de Dora. Logo se via que Jussara não entendia mesmo de crianças, fiz o oposto, preparei uma mala carregada de brinquedos. Fui de ônibus, fiz baldiação de metrô para a zona leste e fui me aproximando do que parecia um presídio! Da calçada cheia de buracos eu avistava altos muros cinzas e brancos. Passo pelo portão onde dois policiais fardados me cumprimentam. Só cimento,  nenhuma árvore ou planta. Subo uma rampa e mostro meus documentos para uma assistente social e uma psicóloga. Vejo Dora! Largo a mala e corro para abraçá-la, meu coração dispara, ela não acredita que está me vendo, quer olhos nos olhos e não pára de me beijar.  "Eu te amo, mamãe! Que saudade!". Aperto forte minha menina e percebo que está mais magra,os olhos um pouco fundos... para que esse sofrimento precoce minha filhinha?
  Ela mal pegava suas bonecas, só queria ficar no meu colo, me abraçar e conversar. Ficamos num canto, em colchonetes azuis, desses de academia. Eu não entendia aquele monte de gente estranha participando de momentos tão meus e de minha filha. Profissionais analisando nossas conversas e carinhos. Tudo muito perturbador. Depois fiquei sabendo que na teoria esse era o lugar destinado para encontros de pais que pudessem oferecer risco aos filhos: violentos, estupradores, dependentes químicos ou sei lá mais o quê! Mas na prática era um lugar onde pais desesperados com a lentidão jurídica apelam para ver os filhos e se arrependem, pois a outra parte aproveita-se desse desespero e usa a criança para manipular situações . O próprio sistema sabe disso. Posteriormente, em conversa com a assistente social do meu processo, afirmei ser impossível aqueles pais terem molestado suas filhas. Resignadamente ela respondeu que em cada 70 denúncias, duas são verdadeiras, as outras 68 são ex-esposas vingativas que querem destruir o homem. É mais raro no meu caso. Eu mesma só conheci mais duas na minha situação. De mulheres que vão visitar os filhos...

A Vida em Desespero

  Mas quero voltar nessa primeira visita. O início de um calvário que resultou numa sequência de atitudes desesperadas. É o preço que se paga por não ter paciência, não saber esperar. O calvário só aumenta. Mas até de uma cova funda você vê uma luz. Um rapaz simpático, com um enorme sorriso solidário se aproximou: "Você é nova aqui, né?" Era o Evandro Paiva, pai de Pietra, já nesse esquema de visitas há 9 meses! Seríamos companheiros de sábados cármicos. Vê-lo ali com sua filha, brincando e sorrindo, uma menina amorosa, que parecia gostar tanto do pai...como ele foi parar ali? Ah, sim, fazia parte da estatística da vingança. O caso dele era tão doentio que a mãe de Pietra não se contentava em deixar a filha lá. Ficava das 10h às 16h e até levava lanche, já que o Visitário também era desprovido de lanchonete ou alimentação gratuita. Nós é que tínhamos que nos preocupar em proporcionar refeições, do jeito que desse, no chão mesmo.
  E com isso tudo Dora estava tão feliz, só queria ficar abraçadinha na mamãe. Perguntava quando o juiz ia decidir com quem ela iria morar. Que ela pedia para morar comigo, mas o pai respondia que o juiz é quem iria decidir. Eu só tinha vontade de chorar, mas dizia que o juiz seria justo e faria o melhor para ela. O tempo passou rápido. Um pouco antes das quatro o pai da minha filha apareceu, junto da namorada, com quem Dora estava morando. Ele abaixou e abriu os braços lá do portão. Dora viu, me agarrou e começou a chorar. "Não mamãe, eu vou ficar com você, a gente dorme aqui mamãe!" Eu a abraçava e não pude mais conter tanto choro. O pai dela aproximou-se impassível. "Vamos Dorinha, você tem que ir comigo!". Ela dizia não com a cabeça e chorava até perder o fôlego. Tentei acalmá-la de todas as formas. E um policial chegou mais perto, falou com Dora de jeito carinhoso, teve que literalmente arrancá-la de mim, mas sem violência, pegou-a e passou para o pai. Enquanto via Dora indo embora, limpando as lágrimas com uma mão e acenando com a outra, minhas pernas desabaram. Esse mesmo policial, Laerte, me apoiou e com lágrimas nos olhos, disse. "Em tantos anos, nunca vi cena igual. Não imagino o que a senhora fez, mas essa menina te ama e não merece passar por isso". Tomei uma água, o policial era muito mais sensível a dor da Dora do que o próprio pai.
  Antes de ir ainda conversei mais um pouco com o Evandro. "Você vai ter que ser forte para aguentar isso aqui, é uma pressão terrível!", me alertou. Sim, ele tinha razão. Sábado após sábado eu tinha que estar refeita para enfrentar tudo aquilo  de novo, com situações de brigas pesadas, constrangimentos, climas de mágoa, rancor, vingança, tudo o que crianças não precisam ser submetidas a passar.
  Será que eu iria suportar descer a Serra do Mar todos os sábados, com lágrimas nos olhos e estilhaços no coração? Passar meus domingos jogada na cama chorando? Tentar me recuperar na segunda-feira e já ficar mal na quinta quando começava a arrumar a mala de brinquedos? Conseguiria suportar ver minha filha ser sistematicamente arrancada de mim todos os sábados naquele lugar sombrio por tempo indefinido? E durante a semana passar por perícias psicológicas e tentar em vão falar com Dora ao telefone? O que seria a minha vida a partir de então? Era duro demais até para a mais forte das mulheres perfeitas. E eu estava cada dia mais fraca e sem paciência.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma Vida Nada Banal

  Estou tão triste que nem tenho vontade de escrever. Me sinto mais que triste. Nem Lars Von Trier, o cineasta dinamarquês dado a imaginar situações bizarras e surreais, seria capaz de criar uma personagem tão patética quanto eu, como em seu genial "Os Idiotas". Me sinto mais ingênua e enganada do que a protagonista cega de Dançando no Escuro. A cegueira da personagem,  impressionante interpretação da sempre linda Bjork, é literal, a minha é metafórica. Ela não vê a armadilha feita para incriminá-la, eu vejo, mas não posso acreditar! Sou o pior tipo de cega: a que não quer ver.
  Desde o início eu pensei que Dora pudesse estar em Ribeirão Preto, com os avós. Porém isso deixaria cristalino como o genitor não quer ficar com ela, apenas tirá-la de mim. Não importa se ela está sofrendo longe de tudo e todos. Importa que eu sofra. Tento muito entender o porquê de tanto ódio. Por eu decidir levar adiante uma gestação que ele não queria? Por eu tê-lo apoiado no início amador de sua carreira? Por eu tê-lo sustentado financeira e emocionalmente todo o tempo em que morou comigo? Por ter secado suas lágrimas nas duas vezes em que o diretor da Cia do Feijão, Pedro Pires, avisava que se continuasse não decorando textos, sairia do grupo antes da estreia? Por eu ter sido sincera quando percebi que cometi um grande erro ao ter me juntado a ele? Por querer me separar antes que aparecesse um homem minimamente interessante por quem eu me apaixonasse? Ou por que não morri no meu desesperado  pedido de socorro?
  Ter sumido com a Dora por mais de 4 anos foi o de menos, o ódio dele era muito anterior, porque ao reverter a guarda, em agosto de 2005 - baseado em fatos irreais - não me deixava falar ao telefone com ela, não me deu paradeiro, foi morar na casa da namorada, a atriz de teatro, Luciana Viacava,  por quem sentia gratidão, afinal, foi ela quem deu abrigo para minha filha. Já superei esse sentimento de gratidão. Li o que ela falou sobre mim em seu depoimento da sentença de guarda definitiva.
  Me sinto tão idiota por ter trocado emails por mais de um ano com o avô de Dora, o psiquiatra infantil José Hércules Golfeto, recém aposentado da USP Ribeirão Preto, onde era catedrático. Em uma das mensagens ele me pediu a numeração de roupas e calçados de Dora, para mandar presentes. Eu dei! Porque pensei que seria uma forma de aproximá-la da família paterna. Esses presentes nunca chegaram. Ele comprou todos os sapatos e roupas para colocar no armário do quarto que já preparava para receber a neta! Ainda bem que se aposentou! Nem quero imaginar o que ensinou e como formou seus alunos!
  Há menos de duas semanas liguei no consultório dele para pedir humildemente que me passasse o endereço onde Jonas e Dora estariam morando, sem isso seria mais difícil entrar com ação para regularizar visitas. Disse que não sabia, nem a escola em que Dora estudava ele sabia, pois Jonas não contava nada para ele. Repetia verborragicamente que precisávamos fazer acordo, parar de brigar. "Como vou brigar com alguém que não me atende, meu senhor?" Era como se não houvesse interlocutor do outro lado da linha. O psiquiatra, em seu joguinho mental barato, ainda repetia que eu preciso fazer tratamento, tenho que me tratar...
  Ao menos agora eu sei com quem Jonas aprendeu a mentir descaradamente, em casa mesmo, não foi em curso de ator, não! O tempo todo Dora está lá com os avós! O avô psiquiatra é quem sustenta toda essa história, seja mental ou financeiramente. Com sua experiência profissional sabe como desestabilizar uma mãe desesperada por notícias da filha. Ele está repetindo o que já fizera antes, mas eu, mais cega que a mãe que dançava no escuro, acreditei na mudança de comportamento.
  A ida de Dora para Ribeirão Preto dificulta ainda mais minha situação no processo. Eles querem perpetuar essa história até Dora crescer, tornar-se uma adolescente rebelde e frustrada. Mais que isso, carente do amor da mãe e dos amigos queridos! Se esses pais criaram Jonas, o que farão com minha filha? Será que conseguirão tornar aquela doce e sincera criança num ser sem moral e dissimulado? Não, isso não pode acontecer... algum juiz tem que perceber que o melhor para Dora é estar com a mãe e a irmã. Não com os avós! Se ela tem pai e mãe, por que deixá-la com os avós?

Não posso parar de escrever

  Recebi instrução jurídica para parar de escrever nesse blog sobre o processo, parar de dar nome e sobrenome aos da outra parte. A outra parte lê o que escrevo e pode não gostar, pode fazer tudo se virar contra mim, ficar nervosinho. Acontece que a outra parte tirou minha filha, meu dinheiro, minha saúde, não posso permitir que tire meu direito de liberdade de expressão. A instrução é para escrever e guardar o que escrevo, não divulgar nada. Devo agir como mãe e não jornalista. Mas não se trata de maternidade ou jornalismo. É cidadania, se eu não puder expressar o que sinto, deixo de ser humana! Não consigo disassociar as várias faces de mim: mãe, jornalista, filha, amiga, nadadora, escritora! De guardada já basta Dora, eu queria que o mundo soubesse desse caso. A verdade sobre esse caso.
 E mais: se for para escrever no blog, que seja sobre banalidades. Impossível, minha vida não é banal. As pessoas na minha vida não são banais. E mesmo os mais triviais dos acontecimentos, na minha visão, tornam-se significativos. O que acrescentaria em mim e nos outros escrever levianamente sobre assuntos banais? Não que tenha sido essa a instrução, mas é como me sentiria. O que decidi é que paro por aqui sobre os acontecimentos da ação, afinal tudo que escrevo pode se voltar contra mim.
  Só porque escrevi sobre a Associação Síndrome do Amor, que fica em Ribeirão Preto, a outra parte surtou porque achou que eu houvesse "descoberto" que Dora estava lá e que eu também estaria em frente da casa da família dele, para sequestrá-la! Quem precisa mesmo de tratamento? Esse mesmo ser que vê fantasmas em tudo que falo ou escrevo, mandou emails - tenho guardado - para tentar mediação num órgão que tenta acordo em situações de conflito. Liguei, marquei, avisei... nada. Só provas para juiz ver! Também escreveu para eu ver Dora no Fórum de São Paulo, depois no Fórum de Santos, sempre em Fóruns, para evitar que eu fuja com minha filhal. Aceitava tudo. Desmarcava tudo.
  Não entendo como uma pessoa como eu pode suscitar tanto medo! Sou ingênua, beirando a idiotice, como escrevi no primeiro parágrafo, sou fácil de enganar, como também deu para perceber. Ainda tem um psquiatra nessa história, agindo para desestruturar a mãe da neta, batendo na tecla da depressão que eu tive em 2004! E, pelo visto, tentando ardilosamente me deprimir de novo! Qual mãe não se deprimiria numa situação dessas? Eu! Estou muito triste, mas não deprimida.
  Incrivelmente me mantenho sã. Graças a minha Miranda, criança feliz, divertida e carinhosa, que não deixa nenhuma lágrima escorrer por meu rosto. Mesmo quando tenho que explicar para essa menininha de 2 anos que sua irmã "Doinha" foi passear. Ela fala da Dora todos os dias! Não, não ouso chorar na sua frente! Ela merece o meu melhor sorriso, toda a minha alegria que ainda resta. Me mantenho sã graças a minha legião de amigos, que não me deixa esquecer o quanto sou querida e que sempre terei com quem contar.
  Enquanto isso vou tentando parar de dançar no escuro. E escrever sobre todos os assuntos relevantes da minha vida, muito maiores que o processo perpetuado de guarda.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sem Direito de Visita

  Dora está morando em Ribeirão Preto, na casa dos avós. Por isso nem teve audiência hoje, já que tenho que entrar com ação na cidade onde a menor reside. O que aconteceu hoje foi fazer juíza, advogadas e eu aqui perdermos tempo e energia. Por essas e outras que o sistema judiciário fica atravancado.
  Até então Dora e seu genitor estavam com paradeiro desconhecido. Por isso distribuímos uma ação livremente, no Fórum João Mendes, em São Paulo, porque até 4 de fevereiro, quando o genitor de Dora entrou com ação pedindo a minha Destituição do Poder Familiar, constava que seu endereço era na rua Diana, em Perdizes. Aliás, essa ação já foi extinta, um juiz de bom senso julgou descabido um pedido desses! Deixar Dora sem mãe de Direito!

Mas não vou precisar dar entrada com ação nenhuma em Ribeirão Preto, pois a outra parte se prontificou a entrar com pedido de Regularização de Visita. O juiz de Ribeirão Preto leu a papelada, nunca me viu, nem minha filha, mas determinou suspensão de visitas até dia 09 de maio, quando terá audiência em Ribeirão Preto. Até lá as visitas estarão suspensas e tenho que apresentar perícia psquiátrica. Mesmo assim, pode ser que eu nem consiga ver ou falar com Dora no dia 09 de maio, daqui 31 dias! E fomos inesparada e permanentemente separadas desde 10 de fevereiro! Não vejo minha filha desde 10 de fevereiro. Hoje é dia 8 de abril e estou proibida de vê-la até 09 de maio!

É ísso... mais nada há dizer porque tudo o que digo ou escrevo pode se virar contra mim (será mania de perseguição? cada dia que passa acho que tem mais gente me seguindo, hoje vi 27). A única constante nessa vida é a mudança.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Síndrome do Amor

  Ontem conheci a Associação Síndrome do Amor, que fica em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Dedica-se aos familiares de crianças portadoras de doenças severas, como a síndrome de Edwards. Leigamente falando para leigos são crianças que nascem com expectativa de vida curtíssima, 1 mês ou 2, mas que com muito cuidado e amor chegam a superar a barreira de um ano. Essas crianças precisam de sondas para se alimentar, pois não conseguem fazer sucção ao nascer. Vi um vídeo postado no meu facebook, está no youtube como 99 Balloons, chorei aos cântaros e fui saber mais com minha amiga Paola Miorim, responsável pela postagem e que mora em Ribeirão Preto. Logo entrei no site, vi um depoimento da cantora Maria Rita, madrinha da associação, emocionante, visceral. Me comuniquei com Marília Castelo Branco, fundadora da associação, mãe de Thales, com quem conviveu por 541 dias, apesar da mais otimista das expectativas ser de 30 dias.
  O que quero dizer é que esses familiares sabem que vão perder aquela frágil criança em pouco tempo. Todos podemos perder quem amamos hoje, em alguns minutos, amanhã, em algumas horas. Mas essas pessoas têm a certeza constante da brevidade da vida. Cada dia é uma vitória do amor incondicional. Essas mães são a prova da existência desse amor. Não que todas as outras mães, de crianças sadias e perfeitas não o sejam, mas a correria do cotidiano, as crises mundanas, os nervosismos repentinos banalizam esse amor. Chega um tempo em que olhamos os filhos com naturalidade maternal, não mais como o milagre da vida. Não vivemos cada dia como se fosse o último. Essas famílias sim. E vivem intensamente esse amor.
  O dia em que Dora foi levada da escola, sem despedidas, deixando toda a sua vida aqui comigo, me acompanha em todas as horas. No almoço eu briguei com ela porque não comeu beringela! Mas disse que a amava ao vê-la entrar, tão docemente, na escola. Eu nem imaginava que seria o último dia. Dora não morreu, mas a vida que vivíamos acabou! Eu vejo tudo dela intacto, como o quarto do filho que se foi e não vai voltar. Dora não morreu, mas seus projetos e sonhos sim, mesmo que temporariamente. E isso tudo que eu sinto é infimamente menor do que essas mães vivem...
 
Infinitamente Amor

  Eu sempre disse que o ódio que o genitor da Dora sente por mim é infinitamente maior do que o amor que sente por ela. Fosse diferente teria desistido há tempos e deixado a filha com a mãe, como é de costume em separações. Como inicialmente ele deixou, dizendo ainda, quando cobrei alguma ajuda emocional e financeira, que eu era "muito" mais velha (5 anos), que quis ter a filha, que a vontade foi minha e eu que cuidasse dela sozinha. Dora tinha 1 ano e meio nessa época. Por que, mesmo com tanta má vontade da outra parte, insisti? Porque queria que Dora tivesso o direito de ter pai, que ele poderia melhorar, ser tocado pelo amor daquela criança doce e gentil, carinhosa e inteligente.
  Ao contrário meu amor por ela é infinito e cresce a cada dia e dói tanto a sua falta que parece que meu coração vai explodir de saudade. Um dia pode acabar explodindo mesmo. Que eu  morra de amor e não de ódio!
   Mas sou demasiadamente humana e por ser assim, imperfeita. Sinto raiva, muita raiva! Raiva de ter de lidar com burocracias jurídicas, raiva de um juiz que nunca viu minha cara e nem da minha filha e que baseado em informações falsas sobre uma suposta fuga para o Chile, em agosto de 2005, passou a guarda para o genitor, vingativo e perverso, que usa sua inteligência privilegiada para arquitetar formas de me separar de minha filha. Nunca vi esse juiz, nem lembro o nome dele, mas conseguiu arruinar a minha vida! Muitos foram os juízes que passaram por esse processo. Tenho raiva de um sistema que aniquila pessoas que não conhece. Tenho raiva de pessoas movidas por vingança. E mais que isso tenho muita raiva de Jonas Melo Golfeto, que deveria, no mínimo, me respeitar por ser mãe de sua filha, por pior que eu fosse. Eu o respeitava por isso, por ser o pai, até que um dia meu respeito acabou e se transformou. Ele registrou em mim um sentimento que eu desconhecia: ódio mortal.  E tenho muita raiva de sentir isso. De gastar minha energia com esse sentimento tão negativo. De me sentir má por desejar a morte alheia, isso é ódio mortal! Me pego pensando como seria tudo mais fácil se ele morresse! Não só por ele, mas por tudo o que representa.

  E volto às mães das crianças com síndrome de Edwards. Sinto uma tremenda admiração por elas. Admiro Marília Castelo Branco, que ao invés de ficar remoendo sua dor, resolveu transformá-la numa lição de amor. Li não sei onde nem quando que algumas coisas só vivem na escuridão, como as raízes de plantas, que quando expostas à luz, morrem. Assim é com o sofrimento. Se ficar guardado nunca termina. Mas ao mostrá-lo ao mundo, ao dividir o sofrimento... ele se vai. Que assim seja.
  Que a dor dessas mães, transformada em amor, alcance mais e mais corações endurecidos. Conheçam mais dessa história: http://www.sindromedoamor.com.br/ e não banalizem o milagre do amor e da vida.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tão Sem Sentido

  Foi marcada uma audiêcia de conciliação para sexta-feira, 8 de abril, às 14hs, no Fórum João Mendes, em São Paulo. Nessa audiência espero, ao menos, ter uma data para ver, falar, abraçar minha filha. Dia 10 completará 2 meses que ela se foi e tudo aqui ficou vazio e sem sentido, não fosse a Miranda eu já teria sucumbido. Músicas de amor me lembram Dora, a falta dela me faz sentir sua presença o tempo todo. Estou tão demasiadamente triste que minha tristeza está se transformando em misto de raiva e revolta. O que é melhor, a raiva move, a tristeza prostra. Não consigo me mover, estou arrasada física, mental, emocional e financeiramente. Mas a raiva pode me levar adiante, o desejo de justiça, pois não é justo Dora passar o que está passando.
  Estava numa conversa virtual com a Flavia Vieira, umas das minhas melhores amigas, que está na França. Para que tudo isso mesmo se o mundo vai acabar em 2012? Ou será que o planeta vai suportar essa raça tão destrutiva que é a humana? Não que acabe totalmente, mas a forma como conhecemos hoje tem que mudar. O homem, em sua prepotência e arrogância ilimitadas, acha que pode fazer tudo e passar impune? Acha que pode escavar as profundezas da Terra no fundo do mar e que isso não vai afetar o outro lado do mundo? O terremoto no Japão foi um sinal dessa movimentação, teoria minha, de botequim, mas a Terra não é um organismo vivo? Não há uma conexão entre todos os seres? Então mexer aqui movimenta lá.
  Por que um ex-casal briga tanto para ter a guarda da filha se há tantas crianças esperando em orfanatos para serem guardadas? E por que um casal ( M. e L.), junto há 15 anos, casado há 10, advogados, estabilizados, está há 5 anos na fila de espera para adotar uma criança? Mesmo não exigindo sexo, raça ou idade? Porque essa raça, a humana, é muito complicada. A civilização cresceu junto com a burocracia. Eu não imagino o que acontece depois da morte, o que sei é que somos enterrados ou cremados e que a vida passa muito rápido. Podemos escolher viver em paz ou em guerra, resignar-se ou rebelar-se, desistir ou lutar. Eu havia desistido de lutar, meu oponente é forte demais para mim. Por isso fugi, para não ver a infância da minha filha decidida em tribunais. Porque não tinha (e não tenho) forças para um inimigo tão movido pelo ódio, tão erraticamente humano, em seu pior exemplar. E de nada adiantou. Estou longe - e bota longe nisso - de ser perfeita. Impulsiva, quero resolver tudo imediatamente. Impaciente, não soube esperar os trâmites judiciais. Mais do que eu, Dorinha está pagando caro por isso.
  Sou uma descrente. Ver minha vida e da minha filha decididas por juízes que não nos conhecem me fazem acreditar cada vez menos. Estou muito cansada, não sei se suporto continuar essa guerra. Minhas forças estão se esvaindo, nada disso faz sentido.

   Se o mundo está chegando ao fim por que perdem tempo lendo isso aqui? Eu sou só uma pessoa medíocre - que está na média - que fez tudo errado. Aprendam a tocar aquele instrumento preferido que nunca aprenderam por falta de tempo. Escutem sua banda ou sinfonia preferidas no último volume até o vizinho reclamar. Larguem seus relacionamentos fracassados e vivam um grande amor. Deixem seus empregos repugnantes e façam o que deve ser feito. Se, ao contrário, estão no lugar certo, com a pessoa certa e no emprego certo, mostrem ao mundo que existe esperança e  felicidade. Só não repitam os mesmos erros que a humanidade repete desde que o mundo é mundo. Os erros da intolerância e insensatez.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Medo de Perdê-la

   Não teve encontro com minha filha, como eu  já imaginava. O bom de lidar com uma pessoa má é que você sempre espera o pior, então, não há decepção! E acabo de receber uma nova mensagem do guardião da minha filha: se posso ir ao encontro na segunda ou terça. Sim, posso, posso tudo, só não posso ficar nessa angústia desgraçada! O mal de lidar com uma pessoa má é que sempre fará de tudo para desestabilizar você. A ideia é me deixar ansiosa o final de semana todo, na segunda marcar para terça e na terça desmarcar. Caso aconteça o contrário, estarei no lucro.
  De novo meu amigo Angel. Como ele mesmo disse, minha história é tão "fudidamente triste" que chega a ser engraçado. E numa mensagem lembrou nossas descidas na Serra do Mar, ao som de Pixies, na época da faculdade, "se não morremos na estrada é porque ainda temos muito o que viver e, se sobrevivemos até aqui é porque ainda temos muito o que fazer". Mas desde ontem fiquei muito nostálgica, pensei nas escolhas erradas que fiz na vida - foram muitas - que me fizeram estar aqui onde estou, na frente desse computador, tentando contá-las.
  Quando fiquei grávida de Dora decidi tê-la, mesmo sem jamais ter planejado ser mãe e nem ter me imaginado nesse papel - escolha certa. O genitor dela entrou em desespero, chorou, queria que eu abortasse, disse que era muito novo, não tinha emprego, não estava preparado... mas eu, um mês antes de completar de 31 anos, num emprego estável, ganhando bem... me senti preparadíssima e com uma vontade enorme de ser mãe. Quando a placenta descolou aos 37 dias de gravidez e a médica, Dra Rosa Maria Neme, me disse que um acontecimento assim antes dos 3 meses seria aborto espontâneo na certa e que para levar essa gestação adiante teria de fazer repouso absoluto, tive mais certeza ainda. Senti que esperava um ser muito especial, que faria muita diferença não só na minha vida, mas no mundo! Tinha mais, Rosinha, como eu carinhosamente chamava essa mulher que me apoiou muito, disse que eu poderia perder o bebê até o sexto mês e que, se nascesse antes dos 7 meses, poderia ter lesões irreversíveis. Tudo ia contra, mas eu estava muito a favor. Queria e amava esse bebê!
  Foi quando me dei conta do quanto era amada. Meus amigos se revezavam nos cuidados comigo, já que eu não podia nem ficar em pé, era deitada mesmo, com as pernas para cima. Antes eu trabalhava 10 horas por dia, nadava 4 vezes por semana, tinha vida social hiperativa, competia nos finais de semana quando não viajava a trabalho. Parei tudo. Aprendi a bordar. Por sorte gostava muito de ler e ver filmes. Sou filha única, o que já elimina cunhados e sobrinhos. Meus pais moravam no Guarujá, meu pai já não estava bem, nem dirigia mais. Mas quem tem amigos, tem realmente tudo! Eles não me deixavam sentir só. Meu colega Ali Hassan sempre dava uma passada em casa, levava almoço, ia me pondo a par dos acontecimentos do trabalho - na comunicação do Sebrae-SP. O ator André Corrêa, meu amigo de adolescência, por sorte tinha voltado a morar em São Paulo, estava numa peça do Abujamra, e nas suas folgas de quarta-feira ia me presentear com seu brilho e mimos. O casal Gabriela e Angel (de novo) presença constante até o parto. Flavia Vieira se desdobrava nas terças e quintas para ficar comigo, até partir para os Estados Unidos quando eu já estava tranquila, no sétimo mês. A protetora dos animais Claudia Pentiocinas ia me divertir com suas histórias bizarras. Entre o salvamento de um cão perdido na estrada e outro, dava um jeito de passar em casa para me alegrar. E o amigo e jornalista Fábio Diegues? Dividiu momentos incríveis comigo, é padrinho da Dora. Tudo bem, ela nunca foi batizada, mas tem um padrinho maravilhoso.
  O genitor estava ocupado nos ensaios do Antunes Filho e em reuniões para a produção de um curta. Como eu tinha que fazer repouso absoluto, nada de sexo. E foi quando eu percebi a distância entre nós. Sempre me achei mais inteligente, charmosa e divertida do que gostosa. Que bater papo é mais interessante do que fazer sexo comigo. Tenho pra mim que quando a paixão passa, se não existir um mínimo de amizade e compatibilidade de assuntos, tudo acaba. Acreditava mesmo que tinha mais em comum com o genitor. Mas ele foi ficando cada vez mais ausente, distante... tanto que no sexto mês, quando Rosa Neme ficou admirada com minha disposição em repousar e acreditou que a gravidez seguiria firme e forte, tive muitas dúvidas se deveria me juntar com o figura, decidi que deveríamos sim morar juntos - escolha errada.
  Para se ter uma ideia, quem ajudou na mudança foi Flavia - sempre me ajuda em mudanças - e seu irmão Pedro, meu amigo e que foi também namorado. Eles encaixotaram tudo, depois desencaixotaram, arrumaram a casa e ainda preparam o jantar. Inesquecível macorranada! O genitor chegou na hora do jantar, com tudo pronto...
  Não fiquei preparando nada de quarto, roupas, não comprava nada até o sexto mês, coisa mais sombria montar o quarto para um bebê que poderia não nascer. Se perguntavam para quando seria o parto, respondia que, se nascesse, poderia ser de novembro a fevereiro. O André Corrêa, que não entendia muito dessas coisas de gestação, repetia isso para os amigos e as pessoas ficavam em choque com tamanha frieza, o que eu considerava hipocrisia. Era só a constatação do fato! Eu estava preparada para o pior. Talvez esse seja meu trunfo: estar sempre preparada para o pior.

Celebrar a  Vida

  O nascimento de Dora não poderia ter sido melhor. Em 9 de fevereiro de 2002, um sábado de Carnaval, eu dava a luz para uma menina linda, forte, de 3kg640gr, 47 centímetros, na maternidade Pro Mater, em São Paulo. Parecia uma festa, foi um acontecimento. Em certo momento havia 17 pessoas no quarto, era uma fauna de jornalistas e atores e familiares, todos muito falantes e de vozes poderosas, muito barulho. E aquela bebezinha ali, quietinha, atenta. Uma enfermeira entrou e pôs metade para fora, pois eu precisava descansar. Não! Por favor, eu já descansei demais! Quero festa, quero gente! Quero mostrar o quanto fui forte, o quanto me cuidei, o quanto desejei essa linda menina Dora! Só eu sei o quanto tive medo de perdê-la, em cada um dos 18 sangramentos em que tive que ir ao hospital saber se estava tudo bem, em cada pontada de dor, em cada lágrima, em cada sorriso... só eu sei!
  Esse medo fez parte de mim durante nove meses, paradoxalmente com a minha certeza de que ela nasceria perfeita! É tão "fudidamente triste" ter passado por tudo isso e sistematicamente vê-la arrancada de mim por oficiais de Justiça, policiais militares... não, esse é outro capítulo dessa história. Eu só queria celebrar a vida! Eu só queria amamentar, abraçar, beijar, ver a vida nela! Que realmente faz diferença no mundo, com suas tiradas engraçadas, com seu humor sagaz, com seu talento nato para a dança, com sua inteligência brilhante, alma solidária, amiga fiel, filha amorosa, criança feliz... era só o que eu desejava e desejo para Dora. Que seja feliz e que faça escolhas mais acertadas que sua mãezinha.

PS: Aos inúmeros amigos não citados, meus agradecimentos eternos, vocês fizeram parte desse milagre que foi o nascimento da Dora.