segunda-feira, 21 de julho de 2014

Mis Hermanos Argentinos

    Meu primeiro contato com argentinos foi aos 16 anos, quando fui para uma competição no Clube San Fernando. Não sabia falar nada de espanhol e fiquei uma semana na casa de atletas. Eram 3 nadadores: Pablo, 16 anos, Florência, 14, Natália, 10. Fui tratada como filha e irmã. Os pais me disseram que poderia abrir a geladeira quando quisesse e comi uma caixa inteira de alfajor (não conhecia essa delícia), depois me deram duas caixas para levar para o Brasil, uma para mim e outra para meus pais. Chorei na despedida de tanta saudade antecipada. Alguns meses depois recebi Florência em casa e também Gabriela, que era recordista sul-americana de 800m nado livre (um luxo e uma das minhas provas preferidas na época) e nada tinha de arrogante por isso, ao contrário, era muito divertida e incentivava outros nadadores sempre.
   Algum tempo depois minha prima e grande amiga Keila, uma "parabólica" de argentinos, namorou Max. Depois conheceu um argentino guitarrista gato e eu acabei namorando Diego, o baterista da banda, que era lindo, inteligente e apaixonado, tinha 21 anos e eu 23. Quando levei Diego para passar um final de semana em Paúba (litoral norte de SP), com amigos brasileiros, alguns falaram: "Pô, namorar argentino?". Depois de algumas horas, Diego já era amigo de todo mundo, muito divertido e cheio de charme. Um tempo depois Keila conheceu Guadalupe Bárcena e Ximena Spina, que se tornaram minhas grandes amigas.
      A primeira vez que fui para Búzios (RJ) fiquei na casa de Marcela Ferioli e ela nem estava em casa.  Fiquei lá com o pessoal da banda Nova Semente, e as filhas de Marcela que estavam com o pai e a boadrasta argentina Gabriela Klet (pessoa linda, de quem me tornei muito amiga). Dois anos depois morei em Paraty e Marcela, seu companheiro Sebastina e suas filhas Raiz e Alice mudaram para lá. Nos tornamos as melhores amigas. Seu caçula Leon foi gerado na mesma semana que Miranda e eles tem cinco dias de diferença! Com Marcela voltei a fazer yoga e fizemos vários programas de grávida juntas.

   Tudo isso para dizer que há quase três décadas convivo com hermanos, conheço sua cultura, seus talentos, suas características, seus defeitos. Admiro como são politizados, independentemente da classe social, como gostam de literatura e música. Assisti todos os jogos da Argentina na Copa do Mundo e vi uma equipe que ia se acertando e melhorando a cada jogo. Não escrevi durante a Copa porque não me envolvi muito, admito que torci para o Chile vencer o Brasil nos penaltys, e que assisti ao jogo com camiseta do Brasil e agasalho do Chile (um pedaço do meu coração mora lá). Sabia que se passasse do Chile e Colômbia, os "canarinhos" tomariam uma lavada da Alemanha. Tudo bem que a minha lavada era de 3x0, mesmo tão realista não esperava a goleada histórica. Mas no final os 7x1 foi pouco. Foi evidente que os alemães se controlaram para não fazer mais gol. Eu torcia mesmo era para Neymar e assim que ele foi lesionado perdi a vontade de ver jogo da Seleção. 
    Desde as oitavas de final eu pedia para ver jogo da Argentina na casa de Ximena e seu companheiro Sebastian Madruga, com os filhos Axé, Leon e Joakin. Mas nunca dava certo a combinação, até que fui lá na semifinal com Miranda (que se considera prima dos meninos e adora dizer que é Argentina). Ximena achava que eu não poderia ir porque só os que viram desde o começo juntos deveriam seguir assim até o final. Já "Sebá" observava que uma brasileira torcendo sinceramente para a Argentina só poderia trazer sorte. E foi assim que assisti o excelente e emocionante jogo Holanda e Argentina. Nos penaltys eu torci em pé e pulei abraçada com meus hermanos.
    Um dia antes da final minha mãe fez uma reunião para comemorar seus 79 anos. Fiquei muito feliz ao ver que vários primos iriam torcer para os hermanos. Assim como minha mãe, que gosta demais de Ximena e Guadalupe. Mas fiquei completamente irritada com outros parentes que só falavam mal dos argentinos como povo, chamando-os de racistas e arrogantes. Gente que não conhece argentino e nunca esteve no País. Gente que se deixa manipular pela mídia que incentiva esse quase ódio contra os argentinos. O que vi nas redes sociais foi um absurdo de torcida contra, de palavras de xenofobia. Chegaram a me mandar morar na Argentina já que gosto tanto deles! E olha que moraria em Buenos Aires fácil...
     Na derrota cheia de garra e luta para a Alemanha, fiquei tão triste que Ximena acabou me consolando: "Jogamos bem, fomos vencedores, nem esperava ir tão longe, é só um jogo". Mas com muita alegria viajei para a Bahia, fiquei no Assentamento Terra Vista, em Arataca, e lá os assentados torceram para a Argentina com fervor. Entendem que essa quase cultura de ódio é uma estratégia do império para que os latino-americanos não sejam unidos. Que nós da América Latina juntos seríamos tão fortes e independentes que nenhum país imperialista seria capaz de nos dominar. Mas essa é história para outro post.

Um comentário:

  1. Prezada Adriana;

    Me chamo Paulo Henrique, sou professor e escritor. Me veio à mente a ideia de escrever um livro sobre o crime da rua Cuba, mas para isso eu precisava de mais informações. Você poderia me ajudar?
    Estou terminando um livro intitulado "Um Homem sem Chão". Você pode fazer o download dos 12 primeiros capítulos em phdescritor.blogspot.com.br.

    Abraços!

    Paulo Henrique

    vieiraphd@gmail.com

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