Quando
vi a notícia sobre o Prêmio Nobel de Literatura ser de Bob Dylan,
minha primeira reação foi de desaprovação. Claro que é uma
escolha polêmica dar um prêmio de literatura para um compositor.
Sim, ele escreve letras, ele é um poeta, mas sua comunicação é
pela escuta e não pela leitura. As pessoas não leem Bob Dylan, as
pessoas o ouvem. E olha que estou deixando minha admiração pessoal
pelo cantor/compositor bem de lado. Gosto tanto de Bob Dylan, que aos
11 anos, lá nos idos de 1982, meu primeiro cachorrinho foi batizado
de Bob, em homenagem ao músico.
É
indiscutível sua importância musical e política. Suas letras
pacifistas influenciaram uma geração contra guerras. Suas letras
são simples e a simplicidade é a melhor forma de atingir pessoas.
Os que escrevem cheios de metáforas, querendo mostrar o quanto seu
vocabulário é vasto, acabam deixando os leitores inferiorizados,
sentindo-se meio “burros” e, pior, muitas vezes não conseguem
nem ser entendidos. Porém, esses livros rocambolescos, não deixam
de ser literatura. Assim como as letras de Bob Dylan também são.
Há acadêmicos dizendo que isso é sinal dos tempos, que mostra uma
inovação no Nobel, que está acompanhando as mudanças na
comunicação. Estou muito longe de ser conservadora, inclusive na
linguagem, que muda conforme as gerações. Adoro palavras
inventadas, que de tanto serem usadas, são incorporadas no
português. Mas, se continuar assim, logo teremos “escritores de
internet” ganhando prêmios literários. E por que não?
Mesmo gostando tanto de Bob Dylan e reconhecendo todo o seu mérito e
valor, esse Prêmio me incomodou bastante. E por que incomodou?
Porque é praticamente um anúncio do fim da Literatura. Porque todas
as pessoas leem menos. Eu leio muito menos. Antes eu lia um livro por
semana. Agora não lembro qual foi o último livro que li inteiro. No
momento estou lendo A Origem do Estado Islâmico, junto com mais
dois, não consigo terminar nenhum, por mais interessante que sejam
os temas, por mais que seja necessário para o curso que estou
fazendo (tema para outro post, porque o assunto é vasto). Não sou
conservadora, mas adoro Shakespeare, Saramago, James Joyce, Kafka,
Adélia Prado, Cecília Meirelles, Edgard Alan Poe, Carlos Drummond e
Fernando Pessoa. Gosto de quem escreve livros. Gosto de livro
reportagem. Gosto de clássicos, assim como realismo fantástico.
Talvez seja mesmo um prenúncio de que literatura em breve não
existirá. E a brevidade do tempo, na história da humanidade, pode
ser 100 ou 200 anos. A leitura de livros está escassa. Acho lindo
minha filha de 14 anos me pedir livros de presentes, me dar dois
livros de dia das mães (ainda não terminei nenhum), acho lindo
quando vejo pessoas lendo no metrô ao invés de olhar para o
celular. Estamos num momento em que ler é coisa de gente cool.
Ainda há pessoas que ouvem, mas também é cada vez menor o número,
porque a maioria só ouve o que lhe convém. Então, um Prêmio Nobel
de Literatura para alguém que canta palavras tão contundentes não
seja tão negativo. Seja um presságio para o que estar por vir. Seja
um tapa na cara do mercado literário, como bem disse o querido
Wilson Bispo, uma pessoa que lê e escreve muito.
Talvez seja uma
abertura para que Bono Vox, Neil Young, Paul Mcartney, Chico Buarque,
Gilberto Gil, Jorge Mautner e tantos outros compositores recebam
prêmios por suas letras e não por seus livros.
Talvez eu esteja ficando velha e muito cansada.
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