sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Filhas Únicas

   Quando pequena causava estranhamento o fato de ser filha única. Realmente não era comum e as pessoas diziam que eu não parecia ser filha única, seja lá o que isso quisesse dizer. Mas sempre me senti cobrada, com todas as expectativas e atenções em cima de mim. Na entrevista do dia 11/11/11, com a filha única de Djalma, Laura Santos, perguntei sobre isso. É diferente e ela sentia uma diferença ainda maior por ser filha dele, demorou a entender que era filha de um mito do futebol. Talvez por estar no hospital, emocionou-se ao lembrar da infância. Eu já estava com os olhos inchados, meio pela alergia e o antialérgico, meio por ter chorado enquanto subia a Serra, de saudade. Então, servi água, para que Laura continuasse contando sua história, enquanto tantas lágrimas escorriam por seu rosto. Como todo filho único, sei que gostaria muito de ser mimada.
    Certa vez fiz uma matéria sobre filhos únicos. Era para o Diário do Grande ABC, caderno Dia-a-Dia, queria um personagem conhecido e telefonei para uma agência, para pegar uma fala. Logo me retornaram com o telefone da Giulia Gam, para que eu ligasse. Conversamos longamente sobre o tema, um sentimento de solidão compartilhado. Acabei lembrando disso, e que agora é mais comum encontrar filho único. Quando Dora tinha uns 2 anos eu comecei a pensar no segundo filho. Já estava sozinha com ela e não queria que fosse filha única como eu. Um peso muito grande, por mais distante, ausente ou indisponível que o filho único seja.
   E voltei para casa. Era sexta-feira, véspera de um feriado e eu esqueci completamente. Ainda fui encontrar um querido para almoçar. Só percebi meu equívoco ao sair da rodoviária. A Imigrantes estava parada. Folgada como o quê, sentei ao lado da janela ( meu lugar era o corredor). Mas logo apareceu uma moça muito bonita e elegante e não se importou em trocar a poltrona. Fiz uma meia dúzia de ligações e para minha sorte, o que seria uma enfadonha descida de 4 horas (em que eu até dormiria, talvez), tornou-se uma deliciosa troca de experiências, comentários e coincidências. Aline, uma santista simpática (redundância) e inteligente, que até já morou em Ribeirão Preto, também é filha única. Nada mesmo acontece por acaso.
   Evito falar de Dora para quem acabo de conhecer. Vou acabar me referindo a ela só no passado, pois há quase um ano não falo com Dora, não sei dela, como se sente, quem são seus amigos, o que faz, para onde vai. Pode parecer  mórbido. Daí tenho que contar sobre o processo, que minha filha está com o guardião, que não me deixa falar com ela, que tudo demora... e muito mais do mesmo. E daí a pessoa pode não acreditar em nada ou pensar por dentro "nunca vi mãe perder guarda de filho, o que ela fez?". Julgamentos o tempo todo...
  Mas depois de tanta sincronicidade, já tinha até mostrado foto da Miranda no celular, acabei contando. E pareceu que falei algo comum ou banal. Não me senti  julgada. Ao contrário, o comentário imediato que veio de Aline foi: "Viu, ainda bem que você teve a Miranda, que Dora não é filha única!". Simples assim.
  Ao mesmo tempo é como se eu tivesse duas filhas únicas. Agora estou só com Miranda. Por 7 anos tive só a Dora. E essa distância... tenho medo que diminua a irmandade. Esse sentimento tão profundo, incondicional  que nunca tive. Esse te amo e te odeio, empurra e abraça. Perdoa e esquece. Não queria criar Miranda como filha única, nem Dora. Queria irmãs, com brincadeiras, casa cheia e alegria. Queria aulas de pintura, chás de bonecas...
   Dia desses a Miranda disse que quando "a Doinha vier, vamos brincar de Babí". As irmãs já estariam brincando de boneca juntas. Será que Dora ainda brinca com bonecas?

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