quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dor Visível e Materializada

   Me perguntaram porquê parei de escrever.  O motivo exato não sei. Uma série de acontecimentos: não estar me sentindo bem fisicamente.  Falta de inspiração. Mais do mesmo. Fatos que preciso censurar.  Dor latejante de uma saudade eterna. Tudo isso e mais um pouco. 
  De repente me apareceram umas bolinhas vermelhas abaixo do peito. Não dei muita importância, eram poucas e pequenas. Uma semana depois já haviam se espalhado para a barriga, não demorou muito foram parar nas costas. Não houve sintoma como coceira insistente, febre, nada. Por isso demorei uns 20 dias para ir ao Pronto Socorro. E fui porque minha tia Cida me levou, não estava me sentindo mal. Embora, claro, a visão do meu corpo coberto de manchas vermelhas, em alto relevo, não estivesse me agradando. 
  Fui no PS Municipal de Santos, na avenida Afonso Pena. Não tinha fila para fazer a ficha e como sou cadastrada, em 2 minutos já estava na sala de espera, com ar condicionado e revistas. Enquanto esperava aproveitei para ligar mais uma vez para Laura, filha de Djalma Santos, que precisava entrevistar para enriquecer informações para o livro sobre seu pai. Ela esteve internada e ficou de me retornar para marcar o melhor dia. Consigo falar com Laura, que precisou ser novamente hospitalizada. Apesar da situação (ela no hospital, eu no Pronto Socorro), conversamos animadamente e a entrevista ficou marcada para sexta-feira, 11/11/11, às 9h30 (naquele momento eu nem tinha me ligado nessa data tão comentada). Depois ainda liguei para Norian Segatto, confirmando dia e local, pois queríamos ir juntos e acertar nossas agendas já não é tarefa fácil. E liguei também para o diagramador do jornal, liberando-o , porque só iria passar alguma matéria depois das 16h. E quando completava a terceira ligação já fui chamada para a enfermaria. Tudo muito rápido. Mesmo assim, algumas pessoas ainda reclamavam da espera. Talvez não saibam que, muitas vezes, o atendimento médico particular, com hora marcada, nos faz esperar até por mais de uma hora, em salas cheias.  
   A enfermeira me faz perguntas de praxe. Há mais de um ano não tomo nem aspirina, porque meus olhos chegam a fechar.  Isso aconteceu duas vezes e então nunca mais tomei qualquer remédio, nem para dor de cabeça.  Em seguida sou chamada pela médica, que me indica uma injeção de fernegan e soro. Até a injeção, tudo bem. Na hora de colocar a agulha na minha veia, expliquei meu pânico. Nunca ninguém acredita até acontecer. 
   Primeiro comecei a me contrair e tremer, suar frio, tudo tornou-se esverdeado e cinza e fui apagando, até desmaiar. Uma enfermeira dizia: “saiu a agulha”. Eu estava já na cama, deitada e ouvia ao longe alguém perguntando se me tirava do soro. A veterana não hesitou em colocar outra agulha numa veia da mão e ainda disse “essas veias são ótimas!”. Tipo da frase que me causa náuseas. Fiquei lá, deitada no soro e até dormir. Quando acordei, vi que já tinha ido todo o líquido. Como me sentia bem e tinha pressa, levantei e carreguei o soro pendurado comigo. Quando olhei minhas mãos, vi sangue. Foi o suficiente para sentir tudo de novo, me arrastei ainda até uma cadeira e fui imediatamente socorrida . Tiram tudo. Melhoro. “Você veio com acompanhante?”. Não, sozinha, eu não sabia que estava tão mal. Na verdade, passei mal pelo pânico da agulha na veia, não pela alergia, ou conjunto de tudo, não sei. 
  O resultado é que tenho que fazer vários exames para saber o que me provoca alergia. Pode ser peixe e frutos do mar (que tristeza), produtos de limpeza (desculpa perfeita), sol (não, isso nunca!) ou até mesmo emocional (ah, tá). Acabei perdendo uma tarde no soro, desmaiando, consultando, o que acarretou uma reação em cadeia de atrasos e coisas ruins. 
  Eu não sei como isso vai acabar, mas me sinto cada dia pior e agora é físico. Minha dor é tão grande e eu sei a causa. Não adianta tomar ansiolíticos ou anfetaminas para amenizá-la, não é existencial a minha dor, é pura matéria, posso vê-la e tocá-la. A forma de diminuí-la é ver minha filha. Não dá para viver essa tortura de sofrer podendo aplacar o sofrimento, sabendo que é tudo tão mesquinho, burro e vão.  Saber que o outro também sofre. E tanto sofrimento causando tanta dor. A vida é tão frágil, acaba tão rápido. E vivê-la com tanta dor é jogar tudo fora. É viver com desapego da vida.

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