É como uma data mórbida, o dia 10. No último completou 10 meses que não vejo ou falo com Dora. Continuo ligando compulsiva e insistentemente no telefone da casa dos avós dela. Cai na secretária eletrônica ou desligam, minha esperança é que um dia Dora atenda. Só pra eu dizer "eu te amo, eu e toda a torcida do Santos. E por aqui estamos todos com saudades e nunca ninguém vai te esquecer".
Eu poderia ter ficado em casa chorando e lamentando o destino que me fez cruzar um dia com um crápula, psico, com tempo de sobra para acabar com a minha vida. Lamentar todas as merdas que fiz por deixar de ser racional. Logo eu! O raciocínio em pessoa! Mas eu não sabia que o amor incondicional muda até o que a gente sempre foi. Eu poderia ter ficado chorando ouvindo minhas músicas tristes. Mas preferi ir ao Ouro Verde F.C. ouvir samba de roda com a velha guarda, três quadras da minha casa. A Miranda, para variar, atraiu todas as atenções, sambou e já estava quase tocando maraca. Musical total essa menina. Inteligente e carismática. Sei lá que dom é esse de ter filhas assim...impressionantes!
Daí uma amiga, Glaucia Dieguez, disse para eu escrever no meu blog igual à personagem de uma novela, que escreveu por anos para a irmã em coma... não sou de ver novelas, mas fui ver do que se tratava. Sim, se eu ficar anos sem ver Dora ela vai ler o que tem aqui. Por mais que por lá falem sobre sua mãe doente, louca. Dora sempre saberá que tem uma mãe louca sim, louca de amor por ela, que esse amor passa por cima de tudo e é maior que o tempo e a distância que nos separa, por mais brega que isso possa soar...
Se Dora esquecer das músicas que a gente ouvia, quando ela chegar vou colocar Heroes e Absolute Beginners, do David Bowie, bem alto e vamos dançar e cantar muito. E todos os beijos e abraços que não foram dados nesses quase 365 dias serão tão mais intensos e desejados que vão arder no meu peito. Ela pode até pensar que eu não estou ligando, não sei o que os guardiões dela dizem. Mas ela saberá que fui até lá e chamaram guardinhas do bairro, saberá que na escola dela, Albert Sabin, não me deixaram participar de reuniões, saberá tanta coisa, se é que já não sabe ou imagina...
Dora pode até esquecer o que é conviver com os animais, já que seus guardiões nunca tiveram bichos e não suportam muito a presença de cães e gatos, mas saberá que Sofia morreu e que tenho novos habitantes em casa (assunto para outro post). Mudaram a vida de Dora, que não tem nem uma foto da irmã, que não sabe o quanto Miranda conversa, fala e é tão esperta quanto ela. Tiraram tudo o que era sólido na vida de Dora: sua mãe, sua irmã, seus amigos, seus brinquedos, seu quarto, suas roupas, sua cidade.
Mas o que está dentro da cabeça e do coração de Dora não vão poder mudar. O tempo passa tão rápido... quando ela foi, faltavam 9 anos para ela fazer 18. Agora falta menos de 8 anos e 2 meses... e então seremos todas livres! Tão triste Dora ter ido parar nas mãos de tiranos, de pessoas que não suportam independência e liberdade.
Tirar a liberdade é como tirar a vida. Matam a mãe de Dora diariamente, matando assim Dora também...
Histórias reais do meu cotidiano, das pessoas ao meu redor, longe de mim e comigo sempre.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
7 Anos Depois
Gosto sempre de ouvir música quando escrevo. Gosto de ouvir música sempre, quase o tempo todo. Dia desses queria ouvir Chico Buarque e procurei uma canção dele menos conhecida (por mim). Então fui no youtube e coloquei Você Você, que fez para o neto, que era grudado na mãe e tudo falava "você, você". Daí depois de um ano foi para a creche e o avô perguntou: "O que você faz na creche?". "Espero a mamãe".
Então chorei muito ao lembrar de quando comecei a visitar a Dora no Visitário Público. Ela morava com o pai, no apartamento da namorada dele, Luciana Viacava. Nos víamos aos sábado e perguntei o que ela fazia lá. "Espero o dia de te ver, mamãe". Depois, quando comecei a levá-la aos finais de semana para nossa casa, fiz a mesma pergunta. "Espero você ir me buscar, mamãe". Então perguntei o que ela gostava de fazer lá. "Gosto quando a Lu conta histórias para eu dormir". "E o papai?" perguntei. "Ele nunca está lá quando vou dormir". O que Dora teve de melhor quando morou com o pai, foi a madrasta! Agora nem imagino o que ela faz, sei que não me espera mais...
Imagino mesmo que, se em algum momento ela pergunta sobre quando nos verá de novo, a resposta deve ser "quando o juiz deixar". Ah, esse juiz que decide a vida da criança que nunca viu...imagino também que devem dizer que a mãe de Dora é doente, por isso não pode vê-la. Se sou assim tão terrível, como posso ter criado uma filha tão inteligente, disciplinada, afetuosa, amorosa e carinhosa? Nas palavras do próprio avô (tenho o email), "Dora é uma criatura fantástica!". Quem criou essa criatura fantástica?
E vai chegando o Natal, que aprendi a gostar por causa da Dora. Depois de passar o Natal de 2004 internada numa clínica psiquiátrica e o de 2005 em um Visitário Público, realmente, essa data é só mais uma data para mim. Mas agora tenho a Miranda, que ama o Papai Noel, esse velho batuta, na versão light dos Garotos Podres. E cada vez que olho para Miranda vejo que a vida me deu uma segunda chance. Há exatos 7 anos eu tinha uma criança adorável de 2 anos e 10 meses, morava numa linda casa no litoral paulista, que construí da forma que quis, tinha estabilidade financeira e nenhum processo. Mesmo assim tive uma depressão que, olhando de longe, agora entendo: era minha crise existencial da meia idade! Sempre fui muito precoce... e, aos 34 anos, me vi repensando tudo que havia feito na vida, se estava no caminho certo, me via sozinha com Dora, sem apoio da outra parte, meu pai me esquecendo (era o alzheimer, mas eu não sabia), desilusão com a minha profissão, com as pessoas... e agora? Tenho 7 anos mais, não tenho mais a linda casa no litoral (vendida para comprar um apartamento menor e pagar "o processo"), aquela criança adorável tornou-se uma menina incrível, lá longe, quase um ano sem falar comigo, meu pai que ainda falava, andava e até nadava, agora só olha o vazio. Tenho outra filha sozinha. De 2 anos e 10 meses.
E mesmo com tudo isso, estou de pé! Vejo Dora em Miranda o tempo todo. Miranda já mostra que adora dança, é inteligentíssima, bem humorada... e ama tanto essa mamãe aqui. E posso ter a certeza que sempre terei Miranda, ninguém vai tirá-la de mim, ninguém! Desta vez acertei. Por mais que não permitam que Miranda fale ao telefone com Dora, sei que uma não esquecerá da outra. Não peço mais por mim o contato telefônico, peço por Miranda... mas não adianta. Ninguém lá vai se importar com a irmã da Dora. Acredito mesmo que o maior desejo daquelas pessoas nefastas seja a nossa morte. Se Dora perder de fato a mãe e a irmã, não precisarão mais mentir ou fazer BOs contra mim ou gastar com advogados. Seria tão bom se não existíssemos, não é família Golfeto?
Hoje falei com minha amiga Zan Moraes, sobre sua ideia de aproveitar o fim do ano e doar tudo que não usamos mais. Tenho 5 gavetas repletas de roupas da Dora, que com certeza não servem mais. Um armário com sapatos. Os brinquedos estão sendo usados por Miranda, mas as roupas... então tentei separar para dar. Não consigo, eu choro, choro e choro. Eu queria que Dora escolhesse as roupas para doar, como sempre fez. Dora sempre foi tão generosa. Chegou a doar seu brinquedo favorito para o dia das crianças, aos 2 anos, presente do meu querido amigo Marcelo Santos (Mônico), a "Batatinha". Perguntei porque iria dar seu brinquedo favorito. "Porque toda criança vai adorar ter a Batatinha". E deu, e nunca se arrependeu.
Sei que não deveria escrever o quanto estou triste e sofrendo. Fiquei sabendo que quando escrevo o quão mal me sinto, Jonas Golfeto, o guardião de Dora, fica feliz. Fica visivelmente mais feliz. Como pode alguém ter o poder de destruir tudo o que toca? Esse suposto homem das artes ajudou a montar a peça A Hora da Estrela, texto de Clarice Lispector, em Adamantina. Será que em nenhum momento Jonas fez um paralelo entre a inocência e a pureza da Macabeia com Dora? Será que nem mergulhado nesse projeto teve seu coração de pedra tocado? Isso é muito grave. Como um artista não se emociona, não sente a dor do outro, nem da própria filha? Macabeia reza porque a mãe manda, nem sabe o que é Deus. Assim como Dora, que um dia me disse que não podia me adorar, porque a babá Maria disse que só devemos adorar Deus. Tanta inocência nesse coração tão puro. Por favor, Jonas Golfeto, não destrua isso.
E eu fui ter uma filha com isso...fiquei totalmente estragada... não tenho a metade da metade da metade do brilho e entusiasmo que sempre me marcaram. Sempre superei tudo com facilidade ímpar. Sofrer de amor? Não mais que uma semana. Demitida? Um emprego melhor sempre esteve me esperando. Mas é muito difícil, quase impossível, superar 10 meses sem contato algum com uma filha. Não sei se um dia vou superar esses 7 anos de processo. Acho que não.
Então chorei muito ao lembrar de quando comecei a visitar a Dora no Visitário Público. Ela morava com o pai, no apartamento da namorada dele, Luciana Viacava. Nos víamos aos sábado e perguntei o que ela fazia lá. "Espero o dia de te ver, mamãe". Depois, quando comecei a levá-la aos finais de semana para nossa casa, fiz a mesma pergunta. "Espero você ir me buscar, mamãe". Então perguntei o que ela gostava de fazer lá. "Gosto quando a Lu conta histórias para eu dormir". "E o papai?" perguntei. "Ele nunca está lá quando vou dormir". O que Dora teve de melhor quando morou com o pai, foi a madrasta! Agora nem imagino o que ela faz, sei que não me espera mais...
Imagino mesmo que, se em algum momento ela pergunta sobre quando nos verá de novo, a resposta deve ser "quando o juiz deixar". Ah, esse juiz que decide a vida da criança que nunca viu...imagino também que devem dizer que a mãe de Dora é doente, por isso não pode vê-la. Se sou assim tão terrível, como posso ter criado uma filha tão inteligente, disciplinada, afetuosa, amorosa e carinhosa? Nas palavras do próprio avô (tenho o email), "Dora é uma criatura fantástica!". Quem criou essa criatura fantástica?
E vai chegando o Natal, que aprendi a gostar por causa da Dora. Depois de passar o Natal de 2004 internada numa clínica psiquiátrica e o de 2005 em um Visitário Público, realmente, essa data é só mais uma data para mim. Mas agora tenho a Miranda, que ama o Papai Noel, esse velho batuta, na versão light dos Garotos Podres. E cada vez que olho para Miranda vejo que a vida me deu uma segunda chance. Há exatos 7 anos eu tinha uma criança adorável de 2 anos e 10 meses, morava numa linda casa no litoral paulista, que construí da forma que quis, tinha estabilidade financeira e nenhum processo. Mesmo assim tive uma depressão que, olhando de longe, agora entendo: era minha crise existencial da meia idade! Sempre fui muito precoce... e, aos 34 anos, me vi repensando tudo que havia feito na vida, se estava no caminho certo, me via sozinha com Dora, sem apoio da outra parte, meu pai me esquecendo (era o alzheimer, mas eu não sabia), desilusão com a minha profissão, com as pessoas... e agora? Tenho 7 anos mais, não tenho mais a linda casa no litoral (vendida para comprar um apartamento menor e pagar "o processo"), aquela criança adorável tornou-se uma menina incrível, lá longe, quase um ano sem falar comigo, meu pai que ainda falava, andava e até nadava, agora só olha o vazio. Tenho outra filha sozinha. De 2 anos e 10 meses.
E mesmo com tudo isso, estou de pé! Vejo Dora em Miranda o tempo todo. Miranda já mostra que adora dança, é inteligentíssima, bem humorada... e ama tanto essa mamãe aqui. E posso ter a certeza que sempre terei Miranda, ninguém vai tirá-la de mim, ninguém! Desta vez acertei. Por mais que não permitam que Miranda fale ao telefone com Dora, sei que uma não esquecerá da outra. Não peço mais por mim o contato telefônico, peço por Miranda... mas não adianta. Ninguém lá vai se importar com a irmã da Dora. Acredito mesmo que o maior desejo daquelas pessoas nefastas seja a nossa morte. Se Dora perder de fato a mãe e a irmã, não precisarão mais mentir ou fazer BOs contra mim ou gastar com advogados. Seria tão bom se não existíssemos, não é família Golfeto?
Hoje falei com minha amiga Zan Moraes, sobre sua ideia de aproveitar o fim do ano e doar tudo que não usamos mais. Tenho 5 gavetas repletas de roupas da Dora, que com certeza não servem mais. Um armário com sapatos. Os brinquedos estão sendo usados por Miranda, mas as roupas... então tentei separar para dar. Não consigo, eu choro, choro e choro. Eu queria que Dora escolhesse as roupas para doar, como sempre fez. Dora sempre foi tão generosa. Chegou a doar seu brinquedo favorito para o dia das crianças, aos 2 anos, presente do meu querido amigo Marcelo Santos (Mônico), a "Batatinha". Perguntei porque iria dar seu brinquedo favorito. "Porque toda criança vai adorar ter a Batatinha". E deu, e nunca se arrependeu.
Sei que não deveria escrever o quanto estou triste e sofrendo. Fiquei sabendo que quando escrevo o quão mal me sinto, Jonas Golfeto, o guardião de Dora, fica feliz. Fica visivelmente mais feliz. Como pode alguém ter o poder de destruir tudo o que toca? Esse suposto homem das artes ajudou a montar a peça A Hora da Estrela, texto de Clarice Lispector, em Adamantina. Será que em nenhum momento Jonas fez um paralelo entre a inocência e a pureza da Macabeia com Dora? Será que nem mergulhado nesse projeto teve seu coração de pedra tocado? Isso é muito grave. Como um artista não se emociona, não sente a dor do outro, nem da própria filha? Macabeia reza porque a mãe manda, nem sabe o que é Deus. Assim como Dora, que um dia me disse que não podia me adorar, porque a babá Maria disse que só devemos adorar Deus. Tanta inocência nesse coração tão puro. Por favor, Jonas Golfeto, não destrua isso.
E eu fui ter uma filha com isso...fiquei totalmente estragada... não tenho a metade da metade da metade do brilho e entusiasmo que sempre me marcaram. Sempre superei tudo com facilidade ímpar. Sofrer de amor? Não mais que uma semana. Demitida? Um emprego melhor sempre esteve me esperando. Mas é muito difícil, quase impossível, superar 10 meses sem contato algum com uma filha. Não sei se um dia vou superar esses 7 anos de processo. Acho que não.
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