quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

7 Anos Depois

   Gosto sempre de ouvir música quando escrevo. Gosto de ouvir música sempre, quase o tempo todo. Dia desses queria ouvir Chico Buarque e procurei uma canção dele menos conhecida (por mim). Então fui no youtube e coloquei Você Você, que fez para o neto, que era grudado na mãe e tudo falava "você, você". Daí depois de um ano foi para a creche e o avô perguntou: "O que você faz na creche?". "Espero a mamãe".
  Então chorei muito ao lembrar de quando comecei a visitar a Dora no Visitário Público. Ela morava com o pai, no apartamento da namorada dele, Luciana Viacava. Nos víamos aos sábado e perguntei o que ela fazia lá. "Espero o dia de te ver, mamãe". Depois, quando comecei a levá-la aos finais de semana para nossa casa, fiz a mesma pergunta. "Espero você ir me buscar, mamãe". Então perguntei o que ela gostava de fazer lá. "Gosto quando a Lu conta histórias para eu dormir". "E o papai?" perguntei. "Ele nunca está lá quando vou dormir". O que Dora teve de melhor quando morou com o pai, foi a madrasta! Agora nem imagino o que ela faz, sei que não me espera mais...
   Imagino mesmo que, se em algum momento ela pergunta sobre quando nos verá de novo, a resposta deve ser "quando o juiz deixar". Ah, esse juiz que decide a vida da criança que nunca viu...imagino também que devem dizer que a mãe de Dora é doente, por isso não pode vê-la. Se sou assim tão terrível, como posso ter criado uma filha tão inteligente, disciplinada, afetuosa, amorosa e carinhosa? Nas palavras do próprio avô (tenho o email), "Dora é uma criatura fantástica!". Quem criou essa criatura fantástica?

  E vai chegando o Natal, que aprendi a gostar por causa da Dora. Depois de passar o Natal de 2004 internada numa clínica psiquiátrica e o de 2005 em um Visitário Público, realmente, essa data é só mais uma data para mim. Mas agora tenho a Miranda, que ama o Papai Noel, esse velho batuta, na versão light dos Garotos Podres. E cada vez que olho para Miranda vejo que a vida me deu uma segunda chance. Há exatos 7 anos eu tinha uma criança adorável de 2 anos e 10 meses, morava numa linda casa no litoral paulista, que construí da forma que quis, tinha estabilidade financeira e nenhum processo. Mesmo assim tive uma depressão que, olhando de longe, agora entendo: era minha crise existencial da meia idade! Sempre fui muito precoce... e, aos 34 anos, me vi repensando tudo que havia feito na vida, se estava no caminho certo, me via sozinha com Dora, sem apoio da outra parte, meu pai me esquecendo (era o alzheimer, mas eu não sabia), desilusão com a minha profissão, com as pessoas... e agora? Tenho 7 anos mais, não tenho mais a linda casa no litoral (vendida para comprar um apartamento menor e pagar "o processo"), aquela criança adorável tornou-se uma menina incrível, lá longe, quase um ano sem falar comigo, meu pai que ainda falava, andava e até nadava, agora só olha o vazio. Tenho outra filha sozinha. De 2 anos e 10 meses.
  E mesmo com tudo isso, estou de pé! Vejo Dora em Miranda o tempo todo. Miranda já mostra que adora dança, é inteligentíssima, bem humorada... e ama tanto essa mamãe aqui. E posso ter a certeza que sempre terei Miranda, ninguém vai tirá-la de mim, ninguém! Desta vez acertei. Por mais que não permitam que Miranda fale ao telefone com Dora, sei que uma não esquecerá da outra. Não peço mais por mim o contato telefônico, peço por Miranda... mas não adianta. Ninguém lá vai se importar com a irmã da Dora. Acredito mesmo que o maior desejo daquelas pessoas nefastas seja a nossa morte. Se Dora perder de fato a mãe e a irmã, não precisarão mais mentir ou fazer BOs contra mim ou gastar com advogados. Seria tão bom se não existíssemos, não é família Golfeto?
    Hoje falei com minha amiga Zan Moraes, sobre sua ideia de aproveitar o fim do ano e doar tudo que não usamos mais. Tenho 5 gavetas repletas de roupas da Dora, que com certeza não servem mais. Um armário com sapatos. Os brinquedos estão sendo usados por Miranda, mas as roupas... então tentei separar para dar. Não consigo, eu choro, choro e choro. Eu queria que Dora escolhesse as roupas para doar, como sempre fez. Dora sempre foi tão generosa. Chegou a doar seu brinquedo favorito para o dia das crianças, aos 2 anos, presente do meu querido amigo Marcelo Santos (Mônico), a "Batatinha". Perguntei porque iria dar seu brinquedo favorito. "Porque toda criança vai adorar ter a Batatinha". E deu, e nunca se arrependeu.
    Sei que não deveria escrever o quanto estou triste e sofrendo. Fiquei sabendo que quando escrevo o quão mal me sinto, Jonas Golfeto, o guardião de Dora, fica feliz. Fica visivelmente mais feliz. Como pode alguém ter o poder de destruir tudo o que toca? Esse suposto homem das artes ajudou a montar a peça A Hora da Estrela, texto de Clarice Lispector, em Adamantina. Será que em nenhum momento Jonas fez um paralelo entre a inocência e a pureza da Macabeia com Dora? Será que nem mergulhado nesse projeto teve seu coração de pedra tocado? Isso é muito grave. Como um artista não se emociona, não sente a dor do outro, nem da própria filha? Macabeia reza porque a mãe manda, nem sabe o que é Deus. Assim como Dora, que um dia me disse que não podia me adorar, porque a babá Maria disse que só devemos adorar Deus. Tanta inocência nesse coração tão puro. Por favor, Jonas Golfeto, não destrua isso.
   E eu fui ter uma filha com isso...fiquei totalmente estragada... não tenho a metade da metade da metade do brilho e entusiasmo que sempre me marcaram. Sempre superei tudo com facilidade ímpar. Sofrer de amor? Não mais que uma semana. Demitida? Um emprego melhor sempre esteve me esperando. Mas é muito difícil, quase impossível, superar 10 meses sem contato algum com uma filha. Não sei se um dia vou superar esses 7 anos de processo. Acho que não.

Um comentário:

  1. Ás vezes tenho a mesma sensação.
    De que nunca vou conseguir superar, esses 6 anos de processo + os dois que vivi com aquela família.
    Aí, sempre penso: "Meu Deus... onde eu fui me meter?"
    Aí penso, os velhos "SE's"... SE eu não tivesse me envolvido.. SE eu tivesse fugido deles enquanto era tempo... SE isso, SE aquilo...
    E a gente sabe que "SE" não leva ninguém a lugar nenhum.
    Fico me perguntando oque será do futuro do meu filho.
    Morro de medo que ele fique igual ao pai.
    Que assuma as características psicopatas/sociopatas que a familia inteira lá, parece ter...

    Morro de medo de que ele fique traumatizado, com a quantidade de brigas que vê por lá.
    Com a quantidade de mentiras que ele acredita, porque ainda tem 7 anos. Tá começando a perder sua inocência agora. Tá começando a ver como as coisas funcionam, agora.
    E isso me assusta. Muito.

    Penso em "COMO OS RESPONSÁVEIS, PELA (IN)JUSTIÇA CONSEGUEM DORMIR DE NOITE, MESMO SABENDO QUE ESTÃO DESTRUINDO A VIDA DE CRIANÇAS?"
    Mas pra essa pergunta, eu nunca terei resposta.

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