terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Escrever Para a Filha Distante

   É como uma data mórbida, o dia 10. No último completou 10 meses que não vejo ou falo com Dora. Continuo ligando compulsiva e insistentemente no telefone da casa dos avós dela. Cai na secretária eletrônica ou desligam, minha esperança é que um dia Dora atenda. Só pra eu dizer "eu te amo, eu e toda a torcida do Santos. E por aqui estamos todos com saudades e nunca ninguém vai te esquecer".
  Eu poderia ter ficado em casa chorando e lamentando o destino que me fez cruzar um dia com um crápula, psico, com tempo de sobra para acabar com a minha vida. Lamentar todas as merdas que fiz por deixar de ser racional. Logo eu! O raciocínio em pessoa! Mas eu não sabia que o amor incondicional muda até o que a gente sempre foi. Eu poderia ter ficado chorando ouvindo minhas músicas tristes. Mas preferi ir ao Ouro Verde F.C. ouvir samba de roda com a velha guarda, três quadras da minha casa. A Miranda, para variar, atraiu todas as atenções, sambou e já estava quase tocando maraca. Musical total essa menina. Inteligente e carismática. Sei lá que dom é esse de ter filhas assim...impressionantes!

  Daí uma amiga, Glaucia Dieguez, disse para eu escrever no meu blog igual à personagem de uma novela, que escreveu por anos para a irmã em coma... não sou de ver novelas, mas fui ver do que se tratava. Sim, se eu ficar anos sem ver Dora ela vai ler o que tem aqui. Por mais que por lá falem sobre sua mãe doente, louca. Dora sempre saberá que tem uma mãe louca sim, louca de amor por ela, que esse amor passa por cima de tudo e é maior que o tempo e a distância que nos separa, por mais brega que isso possa soar...
  Se Dora esquecer das músicas que a gente ouvia, quando ela chegar vou colocar Heroes e Absolute Beginners, do David Bowie, bem alto e vamos dançar e cantar muito. E todos os beijos e abraços que não foram dados nesses quase 365 dias serão tão mais intensos e desejados que vão arder no meu peito. Ela pode até pensar que eu não estou ligando, não sei o que os guardiões dela dizem. Mas ela saberá que fui até lá e chamaram guardinhas do bairro, saberá que na escola dela, Albert Sabin, não me deixaram participar de reuniões, saberá tanta coisa, se é que  já não sabe ou imagina...
  Dora pode até esquecer o que é conviver com os animais, já que seus guardiões nunca tiveram bichos e não suportam muito a presença de cães e gatos, mas saberá que Sofia morreu e que tenho novos habitantes em casa (assunto para outro post). Mudaram a vida de Dora, que não tem nem uma foto da irmã, que não sabe o quanto Miranda conversa, fala e é tão esperta quanto ela. Tiraram tudo o que era sólido na vida de Dora: sua mãe, sua irmã, seus amigos, seus brinquedos, seu quarto, suas roupas, sua cidade.
  Mas o que está dentro da cabeça e do coração de Dora não vão poder mudar. O tempo passa tão rápido... quando ela foi, faltavam 9 anos para ela fazer 18. Agora falta menos de 8 anos e 2 meses... e então seremos todas livres! Tão triste Dora ter ido parar nas mãos de tiranos, de pessoas que não suportam independência e liberdade.
   Tirar a liberdade é como tirar a vida. Matam a mãe de Dora diariamente, matando assim Dora também...

2 comentários:

  1. É isso minha amiga, cada dia fica mais perto de vê-la, pq ninguém conseguirá aliená-la de vc, não agora (leram bem, Folguetos Folgados????)
    e nem precisará esperar até 18, hj em dia as crianças viram jovens muito cedo e aí... quem vai segurá-la??
    é por isso que agradeço todo santo dia pq ela esteve com vc, A MÃE, nos anos essenciais da tenra infância, quando teria sido + fácil aliená-la...

    isso nenhum juiz nunca vai entender...

    mas desafio aqui, publicamente, Folguetos, já que vcs leem e imprimem tudinho: imprimam também meu comentário, eu também quero depor

    por que a palavra de tantos profissionais sérios, gente que trabalha DE VERDADE (e não playboyzinho que mama na fortuna da família enquanto brinca de ser atorzinho), gente que é PAI e MÃE DE VERDADE (e não um ser que não sabe realmente o que é cuidar, estar ali presente no COTIDIANO, afinal levou a filha pra morar com os avós, enquanto tem seus ensaios e peças em outra cidade), enfim tanta gente que poderia ser ouvida nesse processo, por que não temos direito à voz?

    Sou mãe, gestora pública federal, doutoranda, cidadã e declaro: eu também quero depor! Quero declarar aos 4 ventos porque Adriana é a mãe mais dedicada, inteligente e amorosa, e porque a melhor coisa que aconteceu com Dorinha foi ter sido CUIDADA por sua mãe até os 9 anos.

    Folguetos, imprimam isso e coloquem aí no próximo processinho, vai.

    Dri, força.
    Beijo na Mi musical e nos bichanos!

    Todo nosso amor daqui de Brasília.

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  2. Muito triste tudo isso. Eu rezo por vcs sempre. Não consigo imaginar ficar sem meus filhos. Q Deus continue lhe dando força!

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