sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ela Nunca Mais Viu o Mar

    Assim que soube estar grávida fui ver qual hospital fazia parto na água. Apesar de desejar o parto em Santos, já estava até me conformando em ter uma filha paulistana, quando tive a placenta prévia, com 37 dias de gestação. Minha obstetra, Rosa Maria Neme, como toda boa médica, estava otimista, porém pragmática. "Esqueça parto na água, esqueça parto normal. Se você conseguir chegar ao sexto mês sem perder o bebê, será cesárea." E Dora, com todos os cuidados médicos, de amigos, de minha prima Keila, que ficou comigo nos últimos 3 meses, nasceu linda e saudável, aos 9 meses.
    Dora foi conhecer o mar com 4 meses. Amou e demonstrou com o entusiasmo que sempre teve pelo novo. Não consigo dimensionar a importância do mar em minha vida. Não preciso vê-lo, mas é sempre bom saber que estou a poucos quilometros dele. Como é bom ouvir o barulho do mar. Acho que isso só sente quem nasceu e cresceu na praia, caiçara mesmo. A praia é meu quintal, nunca foi lugar de férias.
    Antes de completar 2 anos, Dora mudou-se comigo para a casa que eu tinha em Boiçucanga (litoral norte de São Paulo). Uma casa bonita, em um terreno de mil metros quadrados. Construí essa casa enquanto estava grávida, pensando como Dora iria aproveitar na adolescência, com os amigos (foi vendida e a maior parte gasta no processo de guarda). Lá Dora passava as manhãs de Sol na areia e depois da escolinha íamos ver o pôr-do-sol.
     O mar de Boiçucanga fez muito bem para Dorinha, para mim, nem tanto. Lá tive depressão, depois de muitos percalços fui para meu apartamento no Guarujá, pequeno, de um quarto, mas falei com o pai de Dora e ele também achou melhor, pois ficaria mais perto de São Paulo. Daí cometi meu maior erro: confiei na pessoa que me tirou a filha na minha depressão! Mas como a guarda provisória era minha e ele ficava com ela nos finais de semana, queria dar um basta em tudo, não sabia que Jonas Golfeto estava saindo em busca de falsos testemunhos e brechas da Justiça para conseguir arrancar Dora de mim... e do mar.
    Quando foi levada pelo pai em agosto de 2005, para o final de semana do Dia dos Pais, ainda queria ficar comigo. Dora estava amando o novo apartamento, tinha condomínio com piscina, parquinho e era perto da praia da Enseada. Mas insisti para que fosse com seu pai, comprei até presente para ela entregar ao próprio carrasco. E seu pai não a devolveu. Havia conseguido a guarda, dizendo que fui para o Chile "planejar" uma fuga! (isso tem em outros posts). Depois de meses de Visitário Público, depois de fugir com Dora desse lugar medonho e bizarro e passar um mês em Búzios (sou fugitiva chique, tá?). Voltei, pois fomos escancaradas no Fantástico (o próprio, da Rede Globo). Mas o erro deu certo, Dora teve férias na praia e logo consegui ficar com ela nos finais de semana alternados, o que ainda era tão pouco para nós.
     Na primeira vez que desci a Serra do Mar com Dora, então com pouco mais de 4 anos, há  mais de 8 meses sem ver a Baixada, pediu para descer por Santos, para passar em frente ao mar, estava com saudade da praia. Durante o tempo em que morou na casa da namorada do pai, Luciana Viacava, nunca mais tinha visto o mar. Olhando pela janela me disse com brilho nos olhos que adorava ser santista. Lamentavelmente tive de informá-la que nasceu em São Paulo, mas ainda restava-lhe torcer para o Santos e morar na praia. Dora sempre foi uma abnegada. Conformou-se. Dora sempre foi generosa, obediente e puro amor. Por muito tempo achei que não merecia alguém tão especial. Mas era porque tinha depressão e essa doença nos cega, nos faz pensar que não merecemos nada, depois percebi que ela era assim porque, além de ser um espírito nobre, é minha filha, porque também fui criada dentro da verdade, do amor, da justiça e da generosidade.
     Moramos também em Paraty, uma das cidades mais lindas que já conheci. Lá fomos muito felizes, conhecemos bons amigos, alguns que levo para a vida toda, como Kátia Chigres, Andréa Doalmo e Yara Marques. Dora teve amigos maravilhosos também, fez natação, passeava de barco, morávamos numa casa linda, com cachoeira no terreno. Eu agradecia todos os dias nossa paz, nossa vida, nossos amigos. Como a maioria era "forasteira", havia muita solidariedade. Dora amava Paraty, concordava em mudar de lá só se fosse para Santos. E assim foi. E em Santos nasceu Miranda. Dora fazia ballet no Municipal de Santos, conheceu Raquel, sua melhor amiga, o que me fez conhecer Claudia, mãe de Raquel, a mulher mais guerreira que já conheci em toda a minha vida. Claudia luta bravamente contra o câncer há mais de 5 anos, tem 4 filhos incrivelmente educados, inteligentes e espirituosos. E tem o marido Fernando, que Dora também adorava. No fim de tarde santista eu levava Dora e Raquel para a praia, elas ficavam brincando na areia, enquanto eu ficava com Miranda no carrinho, com meus amigos. A praia em Santos é melhor à noite do que de dia. Santos tem vida na praia de dia e de noite. Dora adorava o mar.
   E agora Dora vive há mais de 500 quilometros do mar. Nem nas férias vai para a praia, porque isso a faria lembrar demasiadamente da mãe e de seu passado, que a família tenta apagar. Dora sente saudade não só de mim, da irmã, dos amigos, Dora sente saudade do mar. Sua dor um dia vai acabar, as marcas talvez nunca se apagem, mas sua alma é nobre e nada vai mudar o que está gravado em seu coração, nada.
http://youtu.be/MYTt3oKoOMA

7 comentários:

  1. O mar ...assim como suas ondas que vem e que vão... que vão e que vem...assim Dora que em uma tsunami chamada Golfeto foi arrancada do seio de sua mãe e levada para uma triste e seca vida ao lado de pessoas que, assim como os personagens do livro de João Cabral de Melo Neto, vivem e veverão miseravelmente em sua amargura, rancor, enebriados por um mar que virou sertão, seco! e principalmente na falta de um verdadeiro amor. E todos estes sentimentos, assim como as ondas, que vem e que vão.... que vão e que vem... cobrarão em suas consciências todo o mal que fazem. Pobres todos!

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    1. Esses Golfetos são tão miseráveis que só tem dinheiro. Lhes falta amor e sinceridade. Pobre Dora sofrendo nas mãos de pessoas tão sem sentimentos... o que será que José Hércules Golfeto e Ed Melo Golfeto ensinaram durante suas décadas como professores universitários? Isso mostra como a educação no Brasil é mesmo decadente... Dora perdida no meio dessa gente sem coração, alienadores criminosos, mas a Justiça de lá é co-autora desse crime!

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  2. Levaram Dora para um lugar árido, seco e quente, longe de tudo e de todos.
    Vá ao mar,peça ao mar, medite em suas areias, sinta o cheiro da maresia, que o imenso e poderoso mar,que como suas ondas chegando na praia,ele irá trazer Dora de volta.

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    1. Ah, mas eu olho o mar e choro... penso em Dora todos esses longos 20 meses sem olhar para o mar... Obrigada por suas palavras de solidariedade com a minha dor... sei que a sua também é grande e você sabe que sofro por isso também...

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  3. Nada nem ninguém pode apagar o amor.

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  4. insPirado na Luíza, do comentário acima >

    Nada nem ninguém pode apagar o mar.

    Dora nem ninguém vai apagar o mar, o amor...
    daquela última viagem por tantos mares amados.
    Última só até a próxima.

    Dri, nade. Que ninguém vai apagar o mar.

    Mais fácil o mar apagar tudo e todos.
    Dora, você, Mi, nós e mais alguns poucos saberemos nadar pelas muitas águas que rolarão...

    Amor!
    Ao mar!

    Bjs de Itacaré

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  5. Luiza e Angel,

    Minha amiga do Sul, meu amigo que está no Nordeste... esse País é mesmo muito grande, com muito mar e com tantos amigos em tantos lugares... um dia, quem sabe, Dora volta para o lugar dela...

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