quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mais um Dia dos Pais Superado

    Como bem lembrou meu amigo Clayton Martin, é só uma data comercial, feita para vender, assim como Dia das Mães e das Crianças (agora também tia dia da Avó, afinal a expectativa de vida aumentou muito na última década). Também não gosto de homenagens póstumas... Mas foram tantas declarações que precisei escrever. Fiz uma postagem no tal facebook, que rendeu muitos comentárias e que me deixou muito feliz, porque meu pai não era só bom para mim, mas para muita gente. Chorei quando li minha amiga/irmã Rosane Mendes "por muitos anos, seu pai também foi meu pai".  
    Dia dos Pais para mim, há muito tempo, é uma data triste. Não tenho mais meu pai, o pai de minha filha a levou embora e há 3 anos não sei nem o que é Dia das Mães com ela. E Miranda não tem pai, o genitor primeiro negou, depois não compareceu em audiência, nem em teste de DNA, depois não foi encontrado e nunca procurou por ela. Mas Miranda é tão impetuosa e destemida que talvez nem precise da figura forte de um homem para protegê-la. Tem a mamãe aqui, que também é muito forte e destemida. Mesmo assim é triste, pois ela vê propagandas, fotos e preparativos na escola. O mundo consumista não pensa nos bilhões sem pai ou mãe. Enfim... 

     "Não perdi meu pai no dia de sua morte. Comecei a perdê-lo 10 anos antes, quando seu cérebro brilhante foi atacado pelo Alzheimer... E eu demorei para perceber e passei noites chorando por tudo que viria acontecer. Me sinto incompetente porque os genitores de minhas filhas não chegam aos calos dos pés de meu pai. Não dá para imaginar o Abel arrancando a filha da mãe, ao contrário, sempre apaziguava nossos desentendimentos constantes. Sapateava para driblar o conservadorismo materno com a independência e liberdade da filha. Não imagino meu pai tendo uma filha e não reconhecê-la ou ampará-la, por mais que tenha sido o encontro de uma noite. Meu pai amparava os filhos dos outros!
    Sou a mãe que posso ser, mas tento ser para Miranda o pai que eu tive. O que leva na escola, faz lição de casa, torce, viaja para lugares distantes e selvagens, briga, grita, xinga e pede desculpas e diz sempre que ama. Dele herdei duas paixões que me definem: natação e literatura. Queria ter dito muito mais vezes o quanto eu o amava. E se dele tiver também a herança genética do Alzheimer será esperado e até merecido. Assim poderei esquecer as pessoas ruins que arruinaram minha vida (e que tiveram a sorte de eu já ter um pai doente), poderei me perder aos poucos e dar valor ao que realmente é necessário... Ah! Ele também era lindo e nem precisava!"

    Foi esse o texto que escrevi e despertou citações e muitas saudades. Repito o mesmo texto aqui, porque muitos leitores não fazem parte dos meus amigos de redes sociais (até porque tem leitores em todos os continentes e me orgulho muito por isso). Me emociona tanto saber que meu pai é lembrado sempre como a pessoa que eu acredito que ele foi. Muitas vezes fantasiamos um herói ou vemos um antagonista na figura paterna. Eu via um companheiro, um feminista, liberal. Agora eu sei que o valor que via nele era real. Com todo seu jeito explosivo, porém conciliador, com seu sorriso e olhar maroto/santista, como comentou meu querido Sérgio Duran (uma pai maravilhoso, diga-se de passagem). E quando eu escrevi que certas pessoas deram sorte por meu pai estar doente, quis dizer que, se estivesse são mentalmente, jamais deixaria um litígio acabar com minha vida, me afastar de minha filha. Primeiro que ele pagaria todos os advogados necessários, se não conseguisse antes convencer as partes com sua lábia fenomenal, pois Abel Correia Mendes, se não vencesse pelo argumento, ia mesmo pelo cansaço.
    Mas só fiquei sabendo após sua morte sobre uma atitude linda, encantadora. Quando eu tinha 16 anos namorava Danglares Silva, um jogador de vôlei de 19 anos, lindo, inteligente, fazia faculdade de Educação Física, gostava das mesmas músicas e filmes que eu, adorava esportes, enfim, um daqueles príncipes que sempre aparecem na adolescência. Certa vez voltávamos dos nossos respectivos treinos pela orla da praia da Enseada, no Guarujá, o ano era 1986, tudo muito deserto. Paramos num banco para conversar, namorar e ver o mar. Como nunca nos faltou assunto, nem percebemos que já passava das 21 horas e eu nunca chegava do treino depois das 19h30 (e sempre ligava para não deixar ninguém preocupado). Então vejo o carro de meu pai se aproximando. Ele parou com cara de contrariado, falou que era um perigo nós ali sozinhos, com o tanto de bandido que tem nas ruas. Me levou para casa primeiro, depois levou o Dan até a "república" que ele dividia com outros atletas.
   
    Só 25 anos depois o Dan me contou a conversa que teve com meu pai. Não cabe aqui todo o diálogo, mas o pedido de meu pai; "Eu só te peço uma coisa, Dan, faça a minha filha feliz". Quando soube disso, chorei como a menina que vai mal na prova. Meu pai era ainda maior do que eu imaginava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário