quinta-feira, 12 de março de 2015

Me Abstenho Porque Eles não Valem Nada

    Apesar da crise irreversível que o País vive, da última eleição tão disputada e do meu histórico de participação política e ativismo ambiental, me abstive de escrever sobre tudo isso. Mas me sinto compelida a discorrer sobre as causas que me levaram à desilusão total, pragmatismo político absoluto e desesperança por um mundo melhor e mais justo. 
    Aos 12 anos me juntei à turma do Greenpeace para impedir a construção de três prédios de 30 andares, no Costão das Tartarugas, no canto da praia da Enseada, Guarujá. Cheguei a ver tartaruguinhas correndo para o mar na minha infância feliz e a aberração desses prédios iria fazê-las migrar e continuar migrando até não haver mais mar para migrarem. Não teve jeito. A Prefeitura do Guarujá, duvidosa desde sempre, liberou a construção em troca de milhões. Chorei muito por isso. Um ano depois tive minha primeira grande briga com meu pai, que trabalhava na construção civil e vendeu todo o cimento e cal para a obra abominável. "Se eu não vender, outros irão vender, é assim que acontece", me explicava, sem paciência para tanta ideologia juvenil. Hoje entendo o quanto tinha razão. Esse dinheiro todo talvez fosse para alguém mercenário e explorador de trabalhadores, coisa que meu pai não era.
   Na minha primeira eleição, em 1989, após os anos da ditadura, votei em Mario Covas e iria me abster no segundo turno, não conhecia Collor, não acreditava em Lula. Mas amigos petistas me convenceram que Lula seria menos pior. Votei nele. Quando o presidente caçador de marajá, Fernando Collor de Melo, convocou a população para apoiá-lo vestindo verde e amarelo, fiz carreata na avenida da praia de Santos, com carro preto e vestida de preto. Tinha esperança de mudar, tinha o frescor das ideias da juventude. Tinha endorfina e sangue nos olhos.
   
   A última vez que votei foi em 2002, no próprio Lula. Tinha esperança que o Partido dos Trabalhadores no poder daria também poder ao proletariado, que o MST, movimento que sempre admirei e apoie, ganharia força, que o desmatamento na Amazônia diminuiria, que haveria mais igualdade nos direitos civis. Eu não era proletária, graças ao capitalismo do meu pai tive muitas oportunidades e queria que os menos favorecidos também tivessem.
    Em 2003, com minha primeira filha prestes a completar 2 anos, sem apoio nenhum do pai dela (nem físico, emocional ou financeiro), fiquei realmente preocupada com seu futuro. Infelizmente não tenho o tato para vendas e negócios como meu pai e sinto muito por não ter seguido seus passos e decidido ser jornalista, uma carreira difícil, cansativa, para poucos. Na época eu tinha 20 mil reais sobrando (sim, já houve um tempo na minha vida, quando não havia processo, nem advogados, nem juízes, nem outras partes, que dinheiro me sobrava) resolvi fazer um investimento. Em novembro de 2003 procurei o gerente do meu banco para escolher uma aplicação que rendesse, nos próximos 16 anos, o suficiente para pagar a faculdade da minha filha ou comprar um pequeno apartamento, caso ela entrasse em Federal. Concluímos que o melhor seria investir na Previdência Privada, porque Lula havia sancionado uma lei que não descontava em imposto para bancos nesse investimento. Achei ótimo, até porquê sei, há décadas, que na minha velhice não poderei contar com aposentadoria. O País não tem como sustentar uma população que cresce e envelhece cada vez mais. Só pago INSS quando sou obrigada pelo holerite.  Não pago há mais de 10 anos porque jornalista contratado, com carteira de trabalho assinada, é bicho em extinção.
   Então em janeiro de 2004 recebo um documento em que meus 20 mil se transformaram em 17! O gracinha do presidente revogou a Lei, justamente entre Natal e Ano Novo, quando ninguém presta muita atenção em mudanças políticas. Pode parecer muito individualismo e talvez seja, afinal, nem o Partido dos Trabalhadores pensa no coletivo, porque eu iria pensar? Passei a ter muita raiva de Lula e sua corja.
    Em julho de 2005 estava no Chile e acompanhando as notícias do Brasil, ao lado de Francisco Javier Cabezas, meu querido Chico, vimos estarrecidos a notícia dos dólares na cueca de José Genoíno. Mandei um email na hora para Carla Stoicov, porque isso não poderia ser real, ela poderia me esclarecer melhor, talvez. Mas era! Carla, que foi petista e é uma das pessoas mais politizadas que conheço, estava em choque. Chico, que veio para o Brasil aos 6 anos, com a família, fugindo da ditadura de Pinochet, diretamente para Santo André, no ABC paulista, berço do PT e dos movimentos sindicais, quase chorou de desgosto.
      Lula não parou de me surpreender com sua soberba e egocentrismo. Houve outro caso, que poucos se lembram, mas eu, enquanto jornalista de memória privilegiada, não consigo esquecer. O correspondente norte-americano do Washignton Post escreveu que o então presidente Lula estava sempre alcoolizado em todos os eventos que participava. Lula simplesmente deportou o trabalhador para seu País, numa atitude ditatorial e que acaba com a liberdade de expressão. Se fosse uma pessoa justa levaria o caso aos tribunais, exigiria indenização. Mas não, agiu como agem pessoas sem razão e com poder ilimitado.
     Tive uma depressão arrasadora em 2004 e muitos foram os motivos que me levaram a isso. Nenhum deles foi desilusão amorosa, embora seja a pergunta que todos os homens (arrogantes) me façam. Não! Existem bilhões de homens no mundo e se um me magoar e me ferir posso chorar algumas noites, sentir dores no peito, mas sei que sempre haverá alguém melhor para mim. Como há hoje. Mas foi difícil demais ver minhas ideologias afundarem-se, não ter esperança em nada, ver meu pai morrendo em vida, cuidar sozinha de uma criança e ser desdenhada pelo pai dela, ouvindo coisas como "você quis ter, que cuide sozinha!". Foi muito difícil tudo isso, mas eu superei. Meu pai morreu e eu o enterrei. O pai da minha filha me tirou a filha e eu, finalmente, aceitei. E nunca mais votei!
     Em 2014 quase mudei de ideia, votaria na Luciana Genro no primeiro turno, mas não deu tempo de chegar na minha zona eleitoral (acho que não é coincidência o lugar onde votamos ser chamado de zona). Não votaria em Dilma para dar aval em continuar fazendo o que fazem. Não votaria em Aécio, pois parece que todos se esqueceram da tonelada de cocaína em sua propriedade. Já teve até uma ex-amiga que me disse que não acredita que ele trafique, "é para consumo próprio". Nossa, mas é cocaína para consumo próprio e para consumo de todas as futuras gerações de familiares e familiares de amigos!

    Aproxima-se 15 de março e rumores sobre impeachment. Seria o primeiro País da história a derrubar dois presidentes por clamor popular. Não estarei lá, não participo, não quero mais Dilma, mas vocês sabem quem é o vice? Michel Temer, o temerário! Seja quem for que assuma, não se iludam, nada irá mudar. Sou egoísta? Posso ser, posso ter me tornado essa pessoa amargurada e descrente, não quero mais resolver os problemas dos outros, porque muitos outros me encheram de problemas porque apenas quis ajudar. Estou onde estou e como estou porque eu escolhi ser quem sou. Não consigo nem me ajudar, nem resolver meus problemas pessoais. Como posso defender os direitos iguais se lá no Planalto está cheio de Bolsanaros dizendo que mulher tem que ganhar menos, que homossexualismo é doença? Eles não valem nada! Nem essas palavras gastas e desgastadas que vocês acabaram de ler valem alguma coisa.

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