terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A Madrugada dos Canalhas e a União dos Aflitos


    Só fui perceber que fiquei muito tempo sem escrever por aqui porque já é dezembro e fui mostrar o último post para Dora. Todo cheio de amor, união e esperança, sobre o Show de Talentos da Teia. Custei a dormir, primeiro porque não canso de olhar Dora e Miranda dormindo juntas, abraçadas. Segundo porque pensei sobre o último mês e os acontecimentos pessoais e mundiais que me impulsionariam a escrever. Sorri ao lembrar um comentário de Dora: “Quando acabar 2016, vão colocar: dirigido por Quentin Tarantino”.
    Nesses dias elegeu-se Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. E eu já estava bastante abatida com a vitória esmagadora do retrocesso e imbecilidade nas cidades de todo o Brasil, principalmente na cidade de São Paulo, onde moro, e do Rio de Janeiro, onde tanta gente incrível que conheço, mora. Duas cidades símbolos do Brasil. Então vejo Trump ser eleito, ao mesmo tempo em que leio o que posso, o que me enviam, o que me indicam sobre Estado Islâmico, Nação Árabe, Grupos Terroristas e Crime Organizado. Tudo para o trabalho final de um curso que fiz sobre Geopolítica e Grupos Terroristas. Fiquei tão cheia de informações e ideias que não conseguia mais dormir.
   Indo para um Encontro de Nadadores, que ajudei a idealizar, onde encontraria os melhores amigos, os mais antigos, os que não vejo há décadas, os que vejo sempre, levei um tombo. Fraturei o nariz em duas partes. Sangrei até quase desmaiar, senti muita dor, fiquei inchada, não fui. Me neguei a escrever sobre mais um acidente no lugar de um encontro cheio de emoção, lembranças e abraços. O mundo não precisa disso. Nem eu precisava...
   E um dia eu acordo às 6h, como de costume, faço café, me preparo para escrever o tal artigo para o curso e ligo a TV para ver as notícias do dia. Um avião havia caído. “Nossa, lá vem mais uma tragédia mundial”. Estava toda a equipe do Chapecoense. Conforme fui ouvindo o desenrolar da história, fui me dando conta da importância do fato. Não era “apenas” um acidente de avião, que choca por ter mortes simultâneas e coletivas e, direta e indiretamente, afetar um grande número de pessoas, num efeito dominó. Era um acidente com duas equipes inteiras: de futebol e de jornalismo. Eram pessoas que iam para a final de um campeonato internacional, todas com o mesmo destino: fazer o melhor trabalho, trabalhando no que gosta. Quase o sonho de quase todos. Era um time pequeno que ficou grande. Eram jornalistas especializados, alguns tão grandes, tão generosos, que mostravam as melhores imagens para todos, sem distinção, e nunca se mostravam (assim são os cinegrafistas, ao menos, todos os que já conheci).
   Então, para sair do choque emocional que uma tragédia como essa causa, imediatamente comecei a ver o fato de forma jornalística. Não era só uma tragédia nacional, era também o maior acidente aéreo da história envolvendo atletas. E quando envolve atletas o choque é maior. Porque sabemos que atletas estão sempre juntos, na alegria e na tristeza, na explosão de raiva e na explosão de choro. Os atletas, na minha humilde opinião, são o maior símbolo de união. Porque são muitos e estão sempre juntos. Repórter com cinegrafista e fotógrafos também, mas em escala e tempo menores. Talvez por isso, em pouco tempo já eram mostrados, em retrospectiva, os acidentes com a equipe de futebol do Torino, da Itália, e da equipe de Rugby do Uruguai. Ou seja, o da Chapecoense será lembrado para todo o sempre. E ainda mais se outras tragédias acontecerem. Porque eram atletas e estavam voando atrás de seus sonhos e objetivos: ganhar o campeonato e disputar a Libertadores da América.
   A princípio o que vejo na mídia nacional é a exploração de lágrimas, imagens repetidas de avião destroçado. A TV Globo, enquanto não chegavam realmente notícias, ficava mostrando repórter entrevistando repórter esportivo que era amigo de algum repórter morto. Jogadores de futebol amigos dos jogadores mortos. Arrancavam lágrimas para tirar mais lágrimas.
   E no meio da comoção mundial, na madrugada seguinte a esse acidente tão trágico, os congressistas brasileiros trabalharam sem parar. Mas não foi com diplomacia, relações internacionais ou coisa parecida, já que o acidente aconteceu na Colômbia, com avião boliviano. Os congressistas nacionais passaram a noite votando em medidas que congelam salários, aumentam o tempo de aposentadoria, tiram vários direitos trabalhistas e dão vantagens a empresários. Também votam o fim da Operação Lava Jato, aquela mesma que era para acabar com a corrupção. Mas só com a corrupção do PT, porque PSDB, PMDB e demais partidos podem continuar roubando e corrompendo a vontade.
   Esses congressistas não são nada menos do que canalhas. E todas as pessoas que apoiam o Governo Michel Temer são imbecis ou canalhas. E a mídia do mundo inteiro sabe o quanto foram desumanos e canalhas ao votarem na calada da noite, enquanto pedaços de corpos de brasileiros mortos estavam sendo recolhidos. Espero que daqui a 50, 100 anos, essa madrugada seja lembrada como a madrugada dos canalhas.
   Mas 2016 também teve e ainda terá coisas boas, que escreverei depois, pois agora as estou vivendo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O Terror Generalizado


   Estou fazendo um curso no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo: Geopolítica e Grupos Terroristas. Quem me conhece sabe que desde muito nova já lia tudo que podia sobre IRA e Sendero Luminoso, sempre me interessaram os pequenos e grandes conflitos políticos e religiosos. Não que goste das guerras, mas porque elas existem desde que o mundo é mundo e o melhor jeito de não ter guerra é evitá-la. Sei o quanto esse pensamento é utópico também. Me resta estudar mais para entender e não sair por aí, falando aleatoriamente, sobre minhas teorias, que podem parecer bobagens.
   Na última aula tivemos uma interessante palestra com Abdul Nasser, da Aliança Nacional Islâmica. Tirando todo o machismo do pensamento muçulmano, que respeita suas mulheres de véus, mas acha que sair com blusa de alcinha e shorts rasgados é “não se dar ao respeito” e “desperta” os instintos do estuprador, que sexo antes do casamento é o que gera filhos sem pais (e não a irresponsabilidade e soberania masculina, que deixa os filhos a mercê dos cuidados e condições das mães “solteiras”, pois sabem que jamais serão punidos ou cobrados), o Islã prega igualdade e compaixão. Por isso, a partir de agora, denominarei o grupo terrorista Estado Islâmico de ISIS, para evitar essa confusão e esse ódio generalizado ao Islã. O ISIS se apoderou da bandeira do Islã, o que não significa que 1,6 bilhão de muçulmanos no mundo sejam coniventes. Muito ao contrário. As comunidades islâmicas espalhadas pelo mundo tentam identificar e combater possíveis terroristas. Como? Combatendo a desigualdade e intolerância.
   Uma frase simples e marcante de Abdul (um homem inteligente, radical e sincero) foi: “A injustiça é o que gera o terrorismo”. Sim, terrorismo não é feito apenas de homens bomba. Antes disso eles foram crianças com casas bombardeadas, com famílias exterminadas, moraram em acampamentos, foram doutrinados por extremistas (com infância semelhante) e não conheceram outra vida que não fosse guiada pela destruição e fúria. Quantos terroristas não podem surgir a partir das crianças e jovens refugiados sírios?
   Fazendo uma analogia com o caso das mães que perderam a guarda de filhos. Após anos de batalha judicial em que perdemos também nossa saúde, dinheiro e sanidade mental, sofrendo todos os tipos de humilhações, penúrias e injustiças por parte do Poder Judiciário (aquele que deveria defender, principalmente, o direito das crianças), pensamos, algumas vezes em “tocar o terror” nos fóruns. Sim, pensamos, mas o Brasil não é de cultura extremista e nós, apesar dos pesares, pensamos nos inocentes que estão nos fóruns: o pessoal do cafezinho, da faxina e o cidadão comum que está lá tentando resolver seus problemas. Os demais envolvidos no sistema são tudo, menos inocentes.
 Por que existem feministas que odeiam os homens? Porque foram humilhadas, violentadas, estupradas, encarceradas por homens. Sou uma feminista que só quer igualdade de direitos. E me dói ver mulheres tirando sarro do movimento, que “feminista quer direito igual, mas não vai lá carregar um saco de cimento igual homem”, isso não é só infantil e raso, é também imbecil. Nunca a mulher vai ter força física igual a dos homens. Eu nado melhor e mais rápido do que muitos homens. Mas me coloque ao lado de um nadador que tenha o mesmo treinamento e ele será mais rápido do que eu. O feminicídio é nosso terrorismo diário. Toda mulher tem (ou deveria ter) medo do estupro. Pode ser evangélica, temente a deus, usar roupas que cubram todo o corpo, ser idosa. O estuprador não vê diferença. Não adianta castração química. O estupro está no cérebro, não no corpo.
   Não fugi do tema. No terrorismo do ISIS, da Al-Qaeda e em todos os conflitos de maiores ou menores proporções, mulheres são estupradas. Muitos filhos do estupro são novos terroristas em potencial. Muitos são levados para crescerem como terroristas. Muitos não conhecem outra forma de vida.
   Dia desses escrevi a frase de Abdul numa rede social. Foi na segunda-feira, quando as tropas iraquianas entraram em Mosul (dominada pelo ISIS desde setembro de 2014) para combater os terroristas. Perguntei quem mais lucra com mais essa guerra. Pensei, principalmente, nos EUA e sua indústria bélica e seu interesse no petróleo do Oriente Médio. Claro, existem mais países que fabricam armas. Mas essa mania do Governo dos EUA sempre se meter nas guerras dos outros e, desde o começo do ataque ao terror, estar sempre perdendo as guerras, parece até de propósito. Não seria interessante perder uma guerra para entrar em outra e assim continuar vendendo suas armas?
    Quando eu digo que os EUA estão sempre fabricando terroristas para serem combatidos depois, não é coisa que surgiu da minha cabeça. Ou melhor, surgiu, após muita leitura e análise. Desde que comecei esse curso, muitos amigos indicam livros, emprestam livros, e quanto mais leio, algumas certezas e muitas dúvidas aparecem. Num desses livros, do correspondente Patrick Cockburn, há o e-mail de uma amiga dele (síria, sunita), depois que seu bairro, em Mosul, foi bombardeado pela aviação iraquiana. O jornalista deixa claro que sua amiga tem todas as razões para não gostar do ISIS. Reescrevo a mensagem na íntegra, pois mostra como os sunitas iraquianos passarão a enxergar o governo de Bagdá:

   “O bombardeio foi executado pelo governo. Os ataques visaram bairros totalmente civis. Talvez desejassem atingir duas bases do ISIS, mas nenhuma das rodadas de bombas acertou os alvos. Um dele é uma casa, ligada a uma igreja, onde vivem homens do ISIS. Fica próxima ao gerador do bairro e distante 200 a 300 metros de nossa casa. O bombardeio apenas feriu civis e demoliu o gerador. Desde ontem à noite, não temos mais eletricidade. Escrevo de um aparelho na casa de minha irmã, que está vazia. O bombardeio do governo não atingiu nenhum homem do ISIS. Acabo de ouvir de um parente que nos visitou para saber que se estamos bem, depois daquela noite terrível, que, em razão do bombardeio, jovens estão juntando-se ao ISIS, às dezenas ou centenas, porque cresceu o ódio contra o governo, que não se preocupa com a morte de sunitas. As forças do governo foram para Amerli, uma vila xiita circundada por dezenas de vilas sunitas, embora Amerli jamais tenha sido tomada pelo ISIS. As milícias do governo atacaram as vilas sunitas que a circundavam, matando centenas, com auxílio dos ataques norte-americanos”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O Nobel de Bob Dylan


   Quando vi a notícia sobre o Prêmio Nobel de Literatura ser de Bob Dylan, minha primeira reação foi de desaprovação. Claro que é uma escolha polêmica dar um prêmio de literatura para um compositor. Sim, ele escreve letras, ele é um poeta, mas sua comunicação é pela escuta e não pela leitura. As pessoas não leem Bob Dylan, as pessoas o ouvem. E olha que estou deixando minha admiração pessoal pelo cantor/compositor bem de lado. Gosto tanto de Bob Dylan, que aos 11 anos, lá nos idos de 1982, meu primeiro cachorrinho foi batizado de Bob, em homenagem ao músico.
   É indiscutível sua importância musical e política. Suas letras pacifistas influenciaram uma geração contra guerras. Suas letras são simples e a simplicidade é a melhor forma de atingir pessoas. Os que escrevem cheios de metáforas, querendo mostrar o quanto seu vocabulário é vasto, acabam deixando os leitores inferiorizados, sentindo-se meio “burros” e, pior, muitas vezes não conseguem nem ser entendidos. Porém, esses livros rocambolescos, não deixam de ser literatura. Assim como as letras de Bob Dylan também são.
   Há acadêmicos dizendo que isso é sinal dos tempos, que mostra uma inovação no Nobel, que está acompanhando as mudanças na comunicação. Estou muito longe de ser conservadora, inclusive na linguagem, que muda conforme as gerações. Adoro palavras inventadas, que de tanto serem usadas, são incorporadas no português. Mas, se continuar assim, logo teremos “escritores de internet” ganhando prêmios literários. E por que não?
   Mesmo gostando tanto de Bob Dylan e reconhecendo todo o seu mérito e valor, esse Prêmio me incomodou bastante. E por que incomodou? Porque é praticamente um anúncio do fim da Literatura. Porque todas as pessoas leem menos. Eu leio muito menos. Antes eu lia um livro por semana. Agora não lembro qual foi o último livro que li inteiro. No momento estou lendo A Origem do Estado Islâmico, junto com mais dois, não consigo terminar nenhum, por mais interessante que sejam os temas, por mais que seja necessário para o curso que estou fazendo (tema para outro post, porque o assunto é vasto). Não sou conservadora, mas adoro Shakespeare, Saramago, James Joyce, Kafka, Adélia Prado, Cecília Meirelles, Edgard Alan Poe, Carlos Drummond e Fernando Pessoa. Gosto de quem escreve livros. Gosto de livro reportagem. Gosto de clássicos, assim como realismo fantástico.
    Talvez seja mesmo um prenúncio de que literatura em breve não existirá. E a brevidade do tempo, na história da humanidade, pode ser 100 ou 200 anos. A leitura de livros está escassa. Acho lindo minha filha de 14 anos me pedir livros de presentes, me dar dois livros de dia das mães (ainda não terminei nenhum), acho lindo quando vejo pessoas lendo no metrô ao invés de olhar para o celular. Estamos num momento em que ler é coisa de gente cool. Ainda há pessoas que ouvem, mas também é cada vez menor o número, porque a maioria só ouve o que lhe convém. Então, um Prêmio Nobel de Literatura para alguém que canta palavras tão contundentes não seja tão negativo. Seja um presságio para o que estar por vir. Seja um tapa na cara do mercado literário, como bem disse o querido Wilson Bispo, uma pessoa que lê e escreve muito. 
   Talvez seja uma abertura para que Bono Vox, Neil Young, Paul Mcartney, Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge Mautner e tantos outros compositores recebam prêmios por suas letras e não por seus livros.
     Talvez eu esteja ficando velha e muito cansada.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Mães contra o Estado

   Dia desses estava relendo o post Nem Puta Perde a Guarda de Filho, já que é por ele que dezenas de mães chegam até aqui. E relendo, além de achar que o texto deva ser melhorado, percebi que deve também ser reeditado. Lá conto como é torturante repetir a mesma história, quase todos os dias, para pessoas em geral e psicólogos, advogados e jornalistas, em particular. Que no início pensei que fosse única, mas já conhecia mais de 10 mães na mesma situação. Passados alguns anos, muitas procuram desesperadas algum tipo de auxílio e se encontram naquele texto. Cada julgamento, cada passagem por fórum, ficar presa na esquizofrenia do sistema judiciário, ficar afastada do filho judicialmente, perder saúde, dinheiro, emprego, terminar relacionamentos, não terminar projetos. Viver num looping surreal infinito. 
   A reedição seria que agora não são mais de 10. Conheço mais de 50 mães e tenho conhecimento de mais umas 50 que perderam a guarda do filho. Mas tudo parece ter piorado muito com o a instauração da Lei de Alienação Parental. Os homens estão se beneficiando desta Lei. E não é mais apenas por vingança ou para parar de pagar pensão. Também para continuar abusando sexualmente dos filhos. Resumirei tentando explicar o inexplicável: As mães, primeiro incrédulas, depois em desespero por perceber o abuso, afastam os pais pedófilos. Esses pais entram na Justiça rapidamente e conseguem a guarda dos filhos. E então as mães ficam meses, anos, sem ver os filhos. E o "Estado", aquele que deveria proteger, entrega o inocente para os monstros. Comecei a desconfiar de um tremendo esquema de pedofilia entre o Poder Judiciário e Parlamentar. Não tenho provas, mas tenho convicção.
   Outra mudança na minha saga é que não é mais torturante repetir a história. É muito desgastante, sim, mas já consigo rir até da passagem pelo Fantástico, com a voz assustadora de Cid Moreira dizendo que eu sofria de graves problemas mentais. Baseado em que mesmo? No que a outra parte disse. "Ah, Rede Globo, faz tempo que não acredito em nada do que você mostra ou defende".
    Agora estou naquele limiar entre minha história e as outras, praticando o distanciamento. Quero ouvir mais do que concordar. Me vejo trabalhando nisso. Com muito envolvimento, mas sem tanto sofrimento. Estou na fase em que sofro mais pelos outros do que por mim e minha filha. O que foi feito, foi feito. Não quero deixar que continuem fazendo. Apenas isso.

    A Rede Materna ficou tão grande, tão interligada, que a querida Flavia Werlang me falou de uma mãe que estava tão mal que nem conseguia visitar o filho. Descobrimos que era a mesma mãe que conheci há mais de um ano. Uma foi escrevendo para outra, que colocou outra da mesma cidade na história e de repente essa mãe no estado de negação, em que o próprio "psiquiatra" disse ser melhor não ver o filho (!), encheu-se de coragem, cercada de amor e foi. E conseguiu abraçar muito o filho. E não voltou tão vazia. Mais do que lastimar a perda, temos de valorizar os ganhos.
    Foi o que fez a doce Lívia Guimarães, que após quase 4 anos sem ver os filhos, passou uma noite com eles. Não parava de olhá-los dormir. Quantas noites passamos em branco pensando em como, onde e com quem eles estariam? E como é maravilhoso passar uma noite acordada vendo como eles dormem. E perceber que o tempo, a distância, a amargura, a luta inglória, nada foi capaz de diminuir o tamanho deste amor. 
     E cada mãe que conheço, cada nova voz, cada sotaque vindo de todas as partes de tantos brasis, me derruba e me levanta. Muitas noites não durmo por aflição. Este ano uma mãe se matou. Todas nós pensamos em morrer, em algum momento, porque se não é fácil seguir na luta pelo direito da maternidade, é mais difícil desistir dela. Não há como se conformar com um sistema judiciário que nos tira um direito. Então temos de lutar. Mas daí acaba a saúde, o dinheiro, a dignidade, a força. Não há como desistir de um filho. É como desistir da vida. E foi isso que aconteceu com uma mãe. Ela desistiu de lutar pelo filho, desistindo assim da própria vida.

    Parei um pouco antes de continuar a escrever. Não quero que a emoção me tire o sono de novo, me aperte o peito, me faça chorar. Quero ser prática. O que vejo nessas mulheres é uma força descomunal em continuar. E vejo tanta beleza. São todas muito lindas, com sorrisos que iluminam o olhar triste. Com olhares profundos que escondem sorrisos irônicos. Todas enlouqueceram um pouco. Todas tornaram-se seres mais desconfiados, com um tanto de amargura, com tantos altos e baixos, que levam a vida numa gangorra emocional e financeira, mas não perdem a ternura. Não deixam uma irmã sem resposta. Me incluo nisso tudo. Temos tanto em comum apesar de nossas distâncias geográficas, criações, sotaques, formações, DNA. Porque a vida que levamos após o início do processo é praticamente idêntica. 
    Cansamos de brigar com a outra parte. Isso é peixe pequeno. Nossa briga é coisa de cachorro grande. Pessoas são pessoas e algumas se transformam, todas decepcionam, casais brigam, uns são mais vingativos, outros são passivos e assim sempre será. O que não pode é um Sistema pago por nós, acabar com a nossa vida. Chego a pensar que esses processos infindáveis só servem para alimentar a máquina. Pagamos peritos, pagamos técnicos, pagamos advogados, alguns pagam juízes (não tenho provas, mas tenho convicção). E tudo isso para quê? A tal Lei de Alienação Parental existe, mas percebo que o Estado é o que mais aliena. Segue a Lei
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/...

  No Art. 2, parágrafo único, existem as seguintes cláusulas:

II - dificultar o exercício da autoridade parental; 
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; 
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; 



   Ora, o que fez o sistema judiciário esse tempo todo além de dificultar o exercício da minha autoridade parental e destas mães? Nos impedem de ver nossos filhos até que as perícias, que demoram meses e até anos para serem marcadas, fiquem prontas. Demora anos para marcar audiência para regulamentação de visitas. Para que perder nosso precioso tempo com inúteis audiências de conciliação, sendo que qualquer acordo entre as partes pode voltar atrás a qualquer tempo?

    Pois é Estado de Direito, somos muitas mães espalhadas pelo Brasil para provar com muita convicção que é você, Estado, seu sistema falido e seus profissionais mofados, o causador de nossos danos e de nossos filhos. E sabe, Estado, tem advogada que também não te aguenta mais e podemos mover uma ação conjunta contra você. Podemos até morrer antes do fim desta ação, mas vai ter muita matéria, muita audiência, muito barulho. E se um dia nossa indenização milionária chegar e estivermos mortas, nossos filhos, as maiores vítimas, poderão usufruir das suas migalhas.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Nenhuma Crise Levará Embora

    Andei parada de escrever por motivos exteriores. Me acidentei novamente. Desta vez atravessando uma faixa de pedestre, tombei do nada. Não era bem do nada, havia uma espécie de lombada que já fez muita gente cair no mesmo lugar. Inclusive eu mesma ajudei um senhor a levantar-se, no local. Fui socorrida por várias pessoas. Trinquei um osso da mão direita. Desde então (isso ocorreu no dia 17 de junho), passei a usar o outro lado do cérebro, fazendo da mão esquerda minha principal aliada.
   É bem difícil fazer tudo ao contrário, me sentir limitada, não conseguir lavar os cabelos, não poder escrever com os 10 dedos. Por isso tenho pensado muito no Stephen Hawking* (físico teórico e cosmólogo britânico). Totalmente imóvel, está há mais de 30 anos sem nem poder usar a fala. E continua com aquele cérebro brilhante, fervilhando de ideias. 
   Apenas perdi por um tempo a mobilidade da mão direita, posso falar e gravar, tenho uma porcentagem bem menor de brilhantismo no cérebro e sinto-me parada no tempo. Então peguei Uma Breve História do Tempo** para ler novamente e me pareceu bem mais simples do que há quase 30 anos. Meu corpo já dobrou a curva da metade da vida, mas meu cérebro não parou de evoluir. Deve ser assim com todo mundo.
   Esse tempo parada me fez ter mais vontade de fazer tudo. Comemorei meu aniversário na Casa do Ernesto, com amigos queridos, com muito frio, música e vinho. O tempo é breve, passa tão rápido, temos tanto para fazer, tanto para aprender.
     

    Nesse mês e meio que não escrevo por aqui, conheci um grupo de psicanalistas que faz um lindo programa social em comunidade. Conheci ativistas que estão indo para o Mato Grosso do Sul, para tentar evitar o massacre dos guarani-kaiowá, mesmo correndo o risco de também serem massacrados. Estou cada vez mais envolvida com a cultura oriental (medicina chinesa, kung fu, budismo). Mais algumas mães que perderam a guarda de filhos entraram em contato comigo. Mal posso responder os emails com pedidos desesperados de apoio. Conheci uma dessas mães pessoalmente. Perdeu a guarda há pouco tempo e é sempre o mesmo. Ficam emocionadas ao saberem que não são as únicas, querem que outras mães e filhos não passem por isso, ficam reféns do sistema judiciário, gastam tudo que tem, vendem seus bens, pagam gordos honorários para advogados que "fazem o que podem".
      
    E com tantos problemas do mundo para resolver começo a achar os meus meramente circunstanciais. Com a União Europeia se desunindo, com circo de passagem de tocha olímpica matando onça pintada (em extinção) em Manaus, com a proximidade dos Jogos Olímpicos e o estado de calamidade pública do Rio de Janeiro, com moradores de rua morrendo de frio em São Paulo, com o governo ilegítimo no Brasil, com o desemprego crescendo, a aposentadoria chegando mais tarde, economia parada por essa bandalheira política, com o crescente fascismo no Brasil e no mundo, fica cada vez mais difícil ter esperança. Porém, historicamente, sempre nos momentos de crise surgem as melhores ideias e soluções. 
   Estou farta desse nacionalismo barato, dessas bancadas religiosas que colocam bíblia acima de leis. E, principalmente, desse atual desgoverno que veio com a velha máxima de "não fale em crise, trabalhe". Muito bem, senhor presidente interino, então nos dê emprego para trabalhar, nos dê trabalho remunerado. É tanto tema para escrever que me sinto perdida. É tanta crítica para fazer que me sinto inútil. 
   Não dá mais para acreditar em mídia nenhuma no Brasil. Para grandes emissoras de TV e jornais já ficou feio defender o golpe. Pessoal que saiu às ruas pedindo impeachment da presidente Dilma, agora percebe o papel de marionette. Serviram como patos, a la Fiesp. Então o que faço é falar com pessoas nas ruas, ver como estão os movimentos sociais. "Não fale em crise, estude", foi o que me disse um desses psicanalistas que conheci. Estude, leia, entenda o momento histórico que vive o mundo. E quando, e se a crise acabar, você saberá muito mais do que sabia. E o saber, o conhecimento, é o único bem que crise nenhuma levará embora.


* Hawking é portador de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem atingir as funções cerebrais. Ainda não possui cura. A doença foi detectada quando tinha 21 anos. Em 1985 Hawking teve que submeter-se a uma traqueostomia e, desde então, utiliza um sintetizador de voz para se comunicar. Gradualmente, foi perdendo o movimento dos seus braços e pernas, assim como do resto da musculatura voluntária, incluindo a força para manter a cabeça erguida, de modo que sua mobilidade é praticamente nula. Em 2005 Hawking usava os músculos da bochecha para controlar o sintetizador, e em 2009 já não podia mais controlar a cadeira de rodas elétrica. Desde então outros grupos de cientistas estudam formas de evitar que Hawking sofra de síndrome do encarceramento, cogitando traduzir os pensamentos ou expressões de Hawking em fala. A versão mais recente, desenvolvida pela Intel e cedida a Hawking em 2013, rastreia o movimento dos olhos do cientista para gerar palavras.

** Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros (título original, em inglês "A Brief History of Time:From the Big Bang to Black Holes", 1988), é um livro de divulgação científica, publicado pela primeira vez em 1988, inclui a Teoria do Big Bang, Buracos Negros, Cones de Luz e a Teoria das Supercordas ao leitor não especialista no tema. 

quinta-feira, 24 de março de 2016

Juízes Mandam, Globo Edita, Fascistas Ganham

   Fazer análise política no Brasil não é tarefa fácil. A coisa é tão rápida que cientista político e jornalistas ficam tontos por aqui. Tinha escrito sobre a indicação de Lula como chefe da Casa Civil. Sobre como essa decisão iria inflamar mais os ânimos dos Fora Dilma e que não havia problema nenhum querer escapar do juiz salvador da pátria, Sérgio Moro. Eu mesma, que não sou tão esperta e apenas uma mãe que perdeu a guarda da filha e ficou anos sem vê-la pela morosidade da inJustiça brasileira, discuti com o juiz e ele saiu do processo. Coincidência ou não, o processo andou mais rápido sem Ricardo Braga Monte Serrat, um juiz que não fazia nada, não decidia nada e quando decidia era algo bem duvidoso. O que dizer sobre Moro? Que é implacável contra petistas e todo rabo preso com psdebistas? É tão óbvio que só o PT é investigado. Faria o mesmo para sair da parcialidade brutal desse Moro.
    Não ia escrever mais nada sobre política nenhuma. Mas lendo um artigo do colega Alceu Castilho, sobre o fascismo crescente no País, me identifiquei com o que ele chama de "esquerda blasé". Isso mexeu com minha dignidade, com meu instinto mais esquerdista. Sim, sou blasé em várias coisas. Falo baixo, não gosto de brigas, sou pelo diálogo, até faço o que não quero fazer por não saber dizer não, não querer decepcionar e ainda gosto de filme iraniano e dinamarquês. Mas contra o fascismo não dá para ser blasé! Não dá mais para tolerar gente que odeia pelo ódio, que é "contra tudo isso que está aí", que detesta pobre (e não pobreza, que eu também detesto), que detesta negro, detesta gay, detesta petista, mas não sabe nem quem sucederá Dilma, caso ela saia da presidência, por renúncia ou impeachment.
     Quando ela foi reeleita eu estava em Ribeirão Preto. O que ouvimos (eu e Miranda, minha filha de 7 anos, que gosta muito da Dilma e acha o máximo uma mulher presidente) foi xingamentos dos prédios, de todos os tipos. Miranda perguntou porque xingavam a presidente. Respondi que essas pessoas, apesar do acesso à educação e informação, não souberam aproveitar sua sorte. Não voto desde 2002, mas sempre torço para que o eleito democraticamente pela maioria, dê conta do recado. Torço por Alckmin também! Torço para que ele perceba que a truculência que usa hoje contra manifestantes e estudantes pode se voltar contra ele um dia, seria extermínio na certa.

    Mas quando pensei em reler sobre a posse de Lula para publicar o texto, eis que uma liminar, assinada em tempo recorde (28 segundos!) pelo juiz Catta Preta, proíbe Lula de assumir. Puxa vida, fiquei impressionada com os dois pesos e duas medidas da Justiça brasileira. Uma vez pedi uma liminar para ver minha filha, já estava acordado e tudo. O pai não deixou ver. Fui até o Fórum e achei que bastava o juiz assinar e mandar um Oficial de Justiça cumprir a Lei. Mas não, ele pediu vistas para o Ministério Público, porque era difícil um juiz decidir sozinho se uma filha tem o direito ou não de ver a mãe. E lá se foram mais 5 meses sem ver ou falar com minha filha. Agora quando é com Lula, tudo é tão rápido, porque Lula vale mais do que eu? Porque não dei a sorte de pegar um juiz tão ágil? Claro que isso é ironia, caros leitores, claro que vocês já devem saber que esse juiz é um dos Fora Dilma. Todos nós temos opiniões formadas, mas levá-las a público tendo um cargo público tão elevado é, no mínimo, leviano.

    Então o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está sendo investigado por milhões desviados e depositados em contas no exterior. E ele continua presidindo a Câmara! Ele já é réu! Pior, ele faz parte da Comissão de Impeachment!! Mas qual o problema do seu desvio? Vamos concentrar nossos esforços nos pedalinhos de Lula e no sítio em Atibaia. É muito mais amador, mais tupiniquim do que dinheiro em contas na Suíça. É a cara do Brasil. E o Paulo Maluf também está na Comissão! Aquele mesmo que eu pensei estar, finalmente, no ostracismo. As investigações contra Cunha estão paradas há mais de 5 meses. E o que dizer do senador Aécio Neves, que aparece mais no Lava Jato do que no Senado? O que dizer da meia tonelada de cocaína encontrada em sua propriedade? E o helicóptero que transportava a droga era da empresa de Zezé Parrela, amigo de Aécio, que fez três contratos sem licitação para o brother, mas isso é matéria do passado. Para que investigar? Afinal, as pessoas que querem depor Dilma são todas de bem e contra a corrupção, não é verdade?

  
    Quando a extrema direita e a Rede Globo perceberam que Lula poderia assumir a Casa Civil, o justiceiro Sérgio Moro não hesitou em passar todas as gravações sigilosas para a Rede Globo, que em edição profissional, fez de Lula um arrogante, grosseiro e que desdenha do povo. Ele pode ser tudo isso, mas ele não é só isso. A gravação inteira mostra muito mais. Alguns dos odiadores poderiam parar para ouvir na íntegra. Mas o ódio cega e ensurdece. Sei bem disso. Daí mais uma vez penso nos pesos e medidas da Justiça brasileira. Em 2011, a juíza carioca, Patrícia Accioli, foi executada com mais de 20 tiros, por policias que estavam sendo julgados por ela. Ninguém foi preso. Num País onde juiz é assassinado por ter coragem em enfrentar o tráfico, considerei, no mínimo estranho, um juiz vazar todas as gravações de Lula, inclusive, conversas com a presidente. Ele não tem medo? Claro que não! Todos os políticos corruptos de todos os partidos estão ao seu lado. Dilma caindo, Moro ganha um cargo daqueles, acima do bem e do mal, querem apostar?

    Mas os "rebosteios" midiáticos e políticos no Brasil não param por aí. Saiu enfim uma lista da Odebrecht, com mais de 300 políticos envolvidos no Lava Jato. William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional, explicou com sua cara lavada de bom moço e voz linda, que a lista não seria divulgada. O mesmo juiz Moro decretou sigilo nessa lista. Por que? Porque o nome da Dilma não está. Nem o meu. Acho que nem o de Lula. Mas todos os outros estão e não é conveniente dar os nomes de políticos que chamaram às ruas para manifestação contra  a corrupção. Sendo que TODOS são corruptos. Inclusive você que compra DVD pirata, que passa ponto para a carteira de habilitação do amigo, que sonega...
   
   Você que está lendo esse texto em outro País e não entendeu nada, não fique constrangido. Estou aqui há 45 anos e não consigo entender até hoje. Você que está aqui e é contra "tudo isso que está aí", reflita um pouco e pense quem você quer no lugar de Dilma. Não concordo com muita coisa desse atual desgoverno. Na minha análise parca, Dilma quis ser legal com banqueiros e empresários, mas não conseguiu. E foi péssima com as classes que a elegeram. Há genocídio indígena, MST (Movimento Sem Terra) sendo desrespeitado, desmatamento recorde na Amazônia. Mas pensem que nunca antes houve tanta investigação de políticos nesse País.
   Corrupção existia, e muita, na Ditadura Militar, mas ninguém podia falar sobre isso. Os fascistas estão mostrando sua cara. E é muito feia. Na manifestação nacionalista dos verde e amarelo, dia 13 de março, estava em Ribeirão Preto, de vestido vermelho (coincidência e não provocação). Gritaram para mim, de um carro: Fora Dilma. Cheguei a fazer piada sobre o acontecido. Mas agora vejo que não tem graça. Tem mãe com bebê de colo sendo agredida por usar vermelho. Ciclista com bicicleta vermelha tomando pedrada. Sei o quanto é pequeno burguês pensar na cor da roupa por medo de represálias. Penso nos negros que acordam todos os dias e temem represálias pela cor da pele. Os valores desse mundo estão muito errados, mas ainda acho que vale tentar acertar os erros.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Descaso com Dengue deu em Zika

  Começar o primeiro post do ano falando de epidemia não era minha intenção. Pessoas que não conheço me escrevem para saber se está tudo bem, que sentem falta desses textos aqui, aparece gente nova lendo tudo. Digo que muitas coisas boas aconteceram nesses quase dois meses de ausência. As férias com minhas meninas foram simples e ótimas, muitas mudanças - inclusive geográficas e físicas - aconteceram na minha vida. Leitores me escrevendo por empatia, mais mães querendo desabafar, ouvir conselhos. Mas minha cidadania e essa mania de ter e passar informação me obrigam a falar do zika vírus. Não dá para falar apenas do meu cotidiano às vezes normal, outras surreal. Ainda mais porque este blog é lido em todos os Continentes (humildemente me orgulho muito sobre esse fato) e com tanta tecnologia e informação, é difícil crer que um mosquito possa causar tanto estrago, mas causa. 
   Segundo informações do Ministério da Saúde foram registrados 40 mil casos de dengue em 1990. Os números foram crescendo até atingir 1,5 milhões de pessoas em 2015. E sabemos que muitas pessoas passam pela dengue sem registro. Tenho um caso na minha casa. Há uns 4 anos minha mãe, que não gosta de ir ao médico, que mal fica doente, teve o que chamou de "uma gripe muito forte", passou uma semana "derrubada", por insistência minha foi fazer exame e, bingo, era dengue. Então podemos dizer que esse número pode ser maior que o dobro.
   O zika vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, em Uganda, na África. É sempre assim, enquanto a doença mata nossos irmãos africanos, sem poder de consumo, que já "nascem para morrer de fome", ninguém liga muito. Mas depois o vírus se espalhou para Ásia e Oceania. Pior quando chega na Europa e América do Norte! 
   Como o maior transmissor do zika vírus é o mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue, não causa estranhamento a proliferação no Brasil. Mais de 4 mil casos de bebês nascidos com microcefalia nos últimos meses é assustador. Já soube de mulheres grávidas abortando sem nem ao menos ter contraído o vírus, apenas por medo. Mas é para ter medo mesmo. Já não é fácil criar uma criança saudável, imaginemos como seria saber da possibilidade de ter um filho com problemas neurológicos irreversíveis, num País onde a saúde vive em coma.
   Para piorar o quadro, os cientistas ainda não tem tanto conhecimento quanto ao vírus, nem se uma pessoa uma vez infectada estará imune. É assim com a gripe, que precisa de nova vacina a cada ano. Como o Brasil é um País tropical (sei lá se abençoado por Deus), a proliferação é maior. Até acho que o nosso Governo está informando a população e contabilizando os casos de forma eficiente. Mas teremos Olimpíadas em breve e sim, será uma situação de risco, que poderá levar o vírus para lugares onde ainda não existe.

    O que podemos fazer? Mulheres, não engravidem! Pessoas, passem repelente o tempo todo! Mas, por favor, nada disso será eficaz se continuarmos deixando a água parada acumular... estamos em guerra e não podemos perder várias batalhas para um mosquito.