quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Minha Primeira Impressão Sobre Djalma Santos

    Passei dois dias em Uberaba (MG) tendo a honra e privilégio de entrevistar o lendário Djalma Santos ou “o melhor lateral direita que esse País já teve”.  Para quem não acompanha esportes ou futebol,  Djalma jogou 4 Copas e venceu duas: a de 1958 e 1962. A série de entrevistas, que ainda não terminou,  é para um livro biográfico, que será lançado em março. Eu e os jornalistas Norian Segatto e Flavio Prado estamos nesse projeto. 
   Quando entrei na sala de troféus e títulos tive uma dupla emoção: de atleta e jornalista. Como atleta, cada troféu ou medalha significa o reconhecimento do seu talento e empenho. E  lá tinha uma sala inteira de glórias, isso já me tocou de forma singular. Como jornalista, senti que estava fazendo parte da história. Tantas fotos, tantas matérias guardadas. Mais do que a história do futebol, estava ali parte da história recente do Brasil e do mundo.  Esse senhor de 82 anos tem uma vida extraordinária. 
   Se pudesse resumir sua presença em uma palavra seria elegância. Um homem muito elegante. Um príncipe negro. Jogou profissionalmente dos 17 aos 41 anos e nunca foi expulso de campo. Numa posição que é tipo um “zagueirão”, não agredia ninguém e ainda apaziguava as brigas. Como Flavio Prado é uma enciclopédia ambulante do futebol, tentei tirar histórias pessoais, li muito sobre ele antes de entrevistá-lo e não achei muita coisa  íntima.  
   Então ficamos sabendo que na sua infância pobre, quando o pai abandonou a mãe, ele e suas duas irmãs, muita coisa aconteceu.  Não posso escrever tudo aqui porque precisa sobrar no livro, mas uma passagem me deixou abalada, me afetou de uma maneira intensa, ao ponto de me fazer chorar até dormir quando cheguei ao hotel.  Sobre o amor desse homem por sua mãe, que morreu quando ele tinha 11 anos. 
   No trecho em que ele fala que não foi no hospital visitá-la porque estava na fábrica de sapatos (aos 11 já trabalhava numa fábrica) e dois dias depois, na outra visita, só deu tempo de vê-la morta, meu coração apertou. Amassa meu coração de vez completando que foi enterrada como indigente, nem sabe onde. As três crianças não sabiam o que fazer. Seus olhos marejaram e tive de conter meu aguaceiro, porque estava numa entrevista. Soltei a represa no quarto, por isso chorei até dormir.
    No dia seguinte voltei em sua casa, só eu e a fotógrafa Camila Tostes. Nosso papo foi mais intimista, me contou passagens incríveis de suas inúmeras viagens com a seleção... mas voltamos na sua mãe, que não deixou uma foto ou documento, como se não tivesse existido. Na despedida disse para ele que não importa onde a mãe esteja enterrada. O importante é que após 70 anos de sua morte, continua viva em suas lembranças e agora todos vão saber quem foi Laura Nogueira Santos, nesse livro. 
    Juro que não queria fazê-lo chorar, queria dar um sentido para o único vazio que parece persistir em sua trajetória incrível. Me abraçou muito emocionado e agradeceu. Não, não... eu que tenho que agradecer a oportunidade de contar sua história fantástica. 
   Vamos falar de uma mãe que criou os filhos sozinha, até onde pôde, com muita dignidade. Que mesmo na pobreza e abandono deu amor, carinho e nunca usou violência, maltratou ou bateu nos filhos. Segundo Djalma, quando aprontavam, mandava lavar louça, fazer trabalho artesanal ou coisa parecida, era esse o castigo. Talvez venha dessa educação parte de sua postura elegante e tolerante.
   Muito pesar partir tão cedo, tivesse vivido mais 10 anos veria o talentoso filho que criou, cheio de ética e caráter. Talvez acabasse morrendo jovem, mas não de doença, poderia ser de orgulho...

3 comentários:

  1. Bela historia,tocante naquilo que esta falando dentro de voce. Grandes máes,são grandes mesmo quando distantes.
    Abs e fique firme.

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