sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Ferida Só Aumenta

  Pior do que não ver ou falar com Dora é não saber nada dela. É tê-la como lembrança, falar dela apenas no passado, como se tivesse morrido, perceber que ninguém pergunta mais dela, porque eu não terei o que responder. Não é apenas uma ferida que não cicatriza. É uma ferida que só aumenta e me destrói um pouco a cada dia. E não importa o quanto digam que isso vai terminar, que tem data certa para acabar, que Dora nunca irá me esquecer. Os longos 14 meses afastada judicialmente dela e que poderão procrastinar-se por não sei mais quanto tempo nunca serão esquecidos. Me impuseram esta dor há mais de 7 anos.
  Todos os dias são tristes, mas alguns são piores. Algumas vezes tenho pesadelos horríveis, como o desta noite, quando vi Dora desfazendo-se numa imagem etérea. Então acordo às 5h da manhã e não durmo mais. Sim, todos sofrem, alguns mais, outros menos, com intensidade diferente. Mas essa dor imposta e saber que minha filha está sofrendo e ter essa sensação de impotência sobre a minha vida e não fazer parte da vida da Dora, a pessoa que eu gerei... isso é uma tortura diária, que poucos, muito poucos conseguem suportar. Para desgraçar tudo de vez, sou do tipo que quando a coisa está mal, escuto aquelas  músicas tristes, para afundar de vez, tipo essa  http://youtu.be/pudOFG5X6uA
  Porque daí começo a achar a situação piegas, de uma breguice sem par. É uma dor tão grande que não cabe no peito e precisa ser extravasada de alguma forma. Como não sou adepta da luta armada, só posso me diluir em lágrimas. E haja lenços de papel. Ainda não sei como consigo trabalhar, cuidar da Miranda, duas gatas, duas cachorras, ter 5 projetos para realizar e ainda arrumar tempo para me amargurar e chorar. O que mais posso fazer para ocupar todo o meu tempo e parar de pensar na Dora? O que eu posso fazer para esquecer tudo isso e não deixar o ódio tomar conta de mim? Como não execrar o sistema judiciário, suas falhas, seu protecionismo e injustiças? Como, se vivo isso todos os dias e ainda encontro situações piores, mais cruéis, mais humilhantes? Como não desprezar pessoas como os membros da família Golfeto? Ah, o avô psiquiatra, que ainda me fez acreditar que poderia conversar com o guardião da Dora... só para ser mais humilhada por policiais, que chegaram junto com o guardião. A crueldade da família Golfeto é inacreditável. E com exceção de Jonas, todos são doutores! A avó Ed, a tia Raquel.Onde eu estava com a cabeça para me envolver com gente tão torpe? Quando eu poderia imaginar que aquele sujeito com cara de bonzinho era um torturador cruel, com traços claros de psicopatia?
  Não sei mais quanto tempo conseguirei viver essa vida que não é minha, nem esse mundo que não é meu. Se eu quisesse viver em fóruns, audiências, no meio de ações, processos, execuções e perícias, teria feito Direito. Não essa vida não é minha, essa não sou eu. Se a outra parte (vulgo Jonas Golfeto) acha o máximo viver assim (tanto que também processa as empresas TAM e Claro), sorte dele, que terá ainda mais 7 anos nesse litígio. Aliás, já que não tem nível superior, deveria fazer faculdade de Direito. Seria um excelente advogado de causa própria!

  Tento pensar nas coisas boas da vida: 

  Miranda, minha filha perfeita e que está todos os dias comigo. Laura, minha mãe, que com 77 anos também fica proibida de ver a neta, mas mesmo assim encontra forças e alegria para cuidar da Miranda quando viajo a trabalho. Meus inúmeros amigos, que ficaram comigo nos meus melhores momentos, mas também estão ao meu lado nas horas tristes. A música, que me basta quando não tenho forças ou palavras. O Santos F.C. que completará 100 anos amanhã. E a literatura, porque quando parece que vou explodir, escrevo sobre petardos ou pétalas e isso me alivia muito.
  Tantos bons momentos, mas são tão pequenos perto desta dor que eu sinto. Não é só saudade, é muito mais. Saudade eu tenho das pessoas que morreram e não vou poder ver mais. O que sinto é pior! É não saber, é ficar ignorante de tudo. É cruel e isso precisa ter fim. Nem que seja daqui 7 anos, 7 meses e 27 dias, quando Dora deixará de ser menor e passará a ser gente. Então vou querer ver de que forma a família irá nos impedir. Quais serão os meios ardilosos usados para nos separar quando ela tiver 18 anos? O que eu farei para viver com essa ferida dilacerando o meu peito?

4 comentários:

  1. Ainda bem que você tem a Miranda. Eu sei que filho é insubstituível, mas pelo menos, você tem que tocar a vida, sabendo que alguém precisa muito de você. A Dora tem uma boa cabeça, graças aos anos que passou com você, um dia ela vai escolher voltar, mesmo que tenha uma vida de princesa. Dinheiro não é tudo, quem está acostumada com amor de verdade, deve sentir um vazio, mesmo cercada de presentes caros. O amor não se compra.

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  2. Uma força inacreditável é o que tu tens.

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  3. Dizem que ser mãe é a melhor coisa do mundo...
    Tenho medo, juro que tenho medo.
    Beijos

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  4. Mais uma vez digo e repito: quero ver o que a família (se é que podemos nomeá-los assim) Golfeto fará quando suas consicências cobrarem de cada um o crime que estão cometendo. Ai sim, veremos a todos se diluirem em rancores, separações e cancêr! E olha que não desejo nada disso. Apenas constato! Podres todos eles. Força Adriana, vc irá sobreviver a todo este horror Golfetiano.

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