sábado, 25 de agosto de 2012

Dora, Miranda, Harry Potter e Eu

   É como uma viagem fantástica ao passado recente. Me vejo sentada com Miranda, me abraçando nas cenas mais tensas, do mesmo jeito, com o mesmo rosto expressivo, as mesmas tiradas inteligentes e perguntas contundentes, além da mesma imensa sensibilidade de Dora quando víamos ao mesmo Harry Potter e a Pedra Filosofal.  Ambas também o assistiram pela primeira vez aos 3 anos, um pouco precoce eu acho, já que a saga do meu amado Harry começa quando ele completa 11. 
  A primeira vez que vi esse filme foi em 2005, em Boiçucanga, litoral norte de São Paulo, na TV. Antes não havia dado importância nem para o filme, menos ainda para os livros. Mas o mundo criado pela escritora inglesa J.K. Rowling me fascinou de um tanto que fui atrás de informações. Ao saber que a ideia original veio por acaso e foi escrita em guardanapos, em 1990, quando JK, mãe solteira de dois filhos, estava desempregada, achei mais fascinante! Sete anos depois o primeiro livro foi publicado, dando início aos outros seis que contam a história desse pequeno bruxo. 
   Em 2001 foi lançado o primeiro longa, mas eu achei que era filme infantil e, como não tinha filhos, nem dei muita atenção. Ainda bem que tive Dora para me introduzir neste mundo mágico! Fui comprando todos os DVDs e assistindo aos lançamentos no cinema com Dora. Não fui ao cinema para a segunda parte de Relíquias da Morte porque além da tristeza em saber que a história acaba, não teria Dora ao lado para comentar tudo depois...
   Daí há umas três semanas, Miranda viu a capa do DVD e pediu para colocar o filme. Viu inteiro e pediu para ver de novo. E passamos sábados e domingos com Pedra Filosofal e Câmara Secreta, ainda não apresentei os outros, ela ainda está fascinada pelos primeiros. E também vai ficando tudo muito forte e cada vez mais cruel, assim como a vida. Mas, mais que tudo, da eterna luta entre o bem e o mal, Harry Potter fala de amizade, confiança e coragem. E agora vejo um enorme paralelo entre Harry, Dora, Miranda e eu. Até completar 11 anos, a vida do menino era restrita a uma cama embaixo da escada. Fica órfão ainda bebê e foi criado por tios abomináveis, que escondiam dele sua verdadeira história. Ele só começa a descobrir quem é a partir desta idade.
   As pessoas nem sempre são o que parecem ser. Miranda já percebeu que Severo Snape, apesar da aparência sinistra e atitudes duvidosas, faz o bem. Tem um passado de sofrimento e desprezo, envolveu-se com os Comensais da Morte, mas teve a sua redenção. E que o bonzinho, na verdade é o mal encarnado. Assim é na vida, as aparências enganam muito. A parte preferida de Miranda é quando Harry fica em frente ao espelho que mostra o que mais deseja ter ou ser. O que o menino vê é a imagem dos pais...
   Harry descobre que é muito poderoso e admirado e que seus pais não morreram num acidente de carro, mas foram assassinados! Harry sofreu alienação em toda a sua infância! Ainda tentam fazê-lo acreditar que seus amigos o esqueceram, escondendo todas as cartas que lhe eram enviadas. Assim é com Dora, que teve seus amigos bloqueados, para nem poder conversar por msn e pensar que ninguém mais lembra dela.
  Sirius Black*, o Prisioneiro de Azkaban, preso e condenado como um louco, é na verdade um herói! E a cada filme as peças vão se encaixando, cada detalhe, como o ratinho Perebas de Rony que na verdade é o espião do mal, Peter Pettigrew, um fraco que a princípio segue o grupo do bem que forma A Ordem da Fênix, mas que, vulnerável, cede para o mal, e transforma-se num Comensal da Morte. Afinal é muito mais fácil fazer o mal do que o bem e, como os ratos, é o primeiro a abandonar o navio quando este afunda, vendo mais vantagens no lado do mal... e existem muitos ratos por aí.
    Assim como Harry Potter, todos tem o bem e o mal dentro de si, todos são tentados a praticar maldades. É uma escolha pessoal e Harry escolhe ser bom. Como ele, em A Ordem da Fênix, eu também sinto tanta raiva o tempo todo porque estou ligada ao mal e não posso escapar disso, tenho que enfrentá-lo. No Cálice de Fogo até o seu melhor amigo duvida quando seu nome aparece para uma disputa que só pode ter participação de alunos com 17 anos. Ele precisa provar para a escola inteira (a sociedade em que vive) que não está mentindo e participar de uma disputa para a qual pensava não estar preparado. Assim é comigo nessa disputa de guarda insana.
   Os personagens fictícios criados por essa escritora brilhante são como as pessoas da vida real, alguns seguem o lado mais fácil, outros são fiéis aos seus princípios. Há Neville, um garoto que parece inseguro e meio bobo, mas que nas horas decisivas se enche de coragem e glória. E quem nunca conheceu uma Hermione? Que estuda e sabe tanto que chega a parecer arrogante. Que levanta a mão quando o professor faz uma pergunta, parecendo exibicionista. Que tem tanta sede de saber que faz uma magia para poder estar em várias aulas ao mesmo tempo. Altruista, luta pela liberdade dos elfos, líder, idealiza e ajuda a fundar a Armada de Dumbledore, nos mesmos moldes do grupo antecessor, que funda a Ordem da Fênix. Dora era fã de Hermione, sua personagem favorita. Por enquanto o favorito de Miranda é Harry, diz que quer abracá-lo (ela sempre abraça quem ama). Mas Miranda prefere o Homem Aranha à Mulher Maravilha...
   Quando assisti a primeira parte de Relíquias da Morte, com Dora, me surpreendi por ela considerar o melhor de todos os filmes. Achei muito intimista, com os três personagens centrais fugindo o tempo todo, com diálogos mais profundos... ainda não sei de qual eu gosto mais, mas uma menina de 8 anos ( a idade dela na época) preferir este filme, achei muito perturbador... vai ver é mais parecida com a Hermione do que eu imaginava!
  A cada ano a vida dos personagens vai ficando mais difícil e alguns amigos vão morrendo pelo caminho. Assim é a vida, com muitas perdas. E sim, muitos morrem tragicamente jovens.Daria para fazer uma tese sobre a saga de Harry, minha vida e de minhas filhas. Mas a história de Harry, para minha tristeza, já teve fim. Espero que a de Dora e Miranda continue por muito tempo e que o desfecho seja menos trágico, com menos mortos e feridos.
   
* Sirius Black foi interpretado magistralmente por Gary Oldman, um dos meus atores favoritos. Em O Prisioneiro de Azkaban Dora virou fã dele e sua morte foi muito sentida por nós duas. Quando engravidei de Miranda, um dos nomes cogitados, caso fosse menino era Sirius. Ideia de Dora, que queria mesmo Sirius Black. Mas realmente pensei em batizar de Sirius.
 

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