sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Há uma luz que nunca se apaga (Smiths)

   No dia 9 de julho recebi uma ligação inesperada. Não, não foi de minha filha Dora, porque essa ligação eu espero há mais de um ano e meio. Foi de um amigo, namorado que tive aos 17 anos e que não via há 24! Sempre fiquei amiga dos meus namorados (com exceção do genitor de Dora, óbvio), mas não consegui manter a amizade com esse garoto. Nosso namoro começou de forma confusa, meio destrambelhada. Íamos juntos para o colégio e eu estava sempre muito triste por causa da minha primeira decepção amorosa e só usava roupas pretas, ouvia basicamente Smiths, Echo, Cure, Joy Division e U2. Esse garoto sempre tentava me alegrar, só ouvia Raul Seixas e Beatles (confesso que passei a amar Beatles por causa dele). Um dia me disse para parar de usar preto, porque parecia que eu estava sempre com a mesma roupa. Reclamava do meu cabelo sempre meio duro e esverdeado. Nos divertíamos muito, mas brigávamos muito também. Ele era extremamente ciumento e hoje entendo que não devia ser fácil me ver sempre rodeada de garotos bonitos, bronzeados e de ombros largos, afinal a natação era (e ainda é) um reduto mais masculino e os nadadores, mesmo feios, são todos lindos! Mas eu gostava dele e só dele. 
    A separação foi definitiva, nem podia encontrá-lo em Santos, pois mesmo separados, havia um clima pesado e ruim. Ele não queria me ouvir e eu tinha tanto pra falar. Acabei mudando de cidade e hoje admito que foi para fugir dele! Nunca mais nos vimos, mesmo com esse mundo digital, mesmo sendo ele conhecido, não procurei mais saber dele. E quando lembrava era sempre com saudade e carinho. Por mais que minhas amigas, meu pai, quase o mundo todo o achasse arrogante, metido e que me fazia sofrer, eu via muito valor nele. Achava um garoto inteligente e divertido, qualidades fundamentais para querer estar com alguém. Além de ter aquela química inexplicável que desperta um tipo de paixão incontrolável. Racionalmente queria evitar, mas quando o via, queria abraçar.
   Quando eu atendi, sem reconhecer o número, ele se identificou e disse em seguida. "Queria que você soubesse que nunca foi insignificante pra mim". As palavras me soaram como um bálsamo! Porque eu pensei que ele me odiasse, porque até  hoje  pensa que quando sofri um acidente de carro, no dia 15 de novembro de 1987, com meu amigo Roberto Capela, era porque o estava traindo! Capela era namorado de Flavia, uma das minhas melhores amigas até hoje, aliás, minha irmã. Jamais trairia uma irmã! Eu quebrei o nariz, fui internada... e ele nunca acreditou em mim... Para alguém tão orgulhoso não deve ter sido fácil passar mais de duas décadas pensando ter sido traído.
  Conversamos por mais de duas horas. Como nascemos no mesmo dia, mês e ano, com 20 minutos de diferença, não estranhei ter tanto assunto e, mesmo com destinos diferentes, termos passado por momentos muito semelhantes, nos mesmos locais. Sabia muito da minha vida, quis saber mais de Dora, quis saber mais de tudo. Acabei chorando. Por contar tudo de novo, por pensar que ele me odiasse e descobrir que ele gosta tanto de mim... disse também que iria casar no fim do mês, pela primeira vez! Não tem filhos, mas é filho e não conseguia imaginar a dor de ser separado assim da mãe. Me contou coisas tão íntimas que só podem ser contadas para alguém em que se confia muito. Uma contradição, eu sei, mas ele também sabe que sei preservar minhas fontes. Quando eu usava termos como "discorra mais sobre isso", ria, dizendo que tinha certeza de me tornaria uma jornalista. "Claro, eu prestei vestibular para jornalismo!", respondi irritadinha. "Não, não por isso, nem porque você escrevia e falava muito bem, mas por essa sua mania de defender os fracos e oprimidos, por querer justiça num mundo tão injusto". É, eu não mudei e não sei se isso é bom ou ruim. Também não sei se é bom escutar das pessoas que me conhecem há mais de duas décadas: "Não acredito que isso está acontecendo com você".
   Por quê? Seria porque eu sempre gostei de dialogar, de resolver tudo na conversa, de apaziguar? Ainda sou assim, mas é difícil querer justiça quando você vê como funciona o sistema judiciário. Por mais que um dia eu veja Dora, o que foram feitos desses mais de 18 meses de nossas vidas? Minha sorte é conhecer tanta gente boa. E não paro de me surpreender com iniciativas fantásticas de cidadãos comuns. Acho que ainda me restou o amor.

http://youtu.be/INgXzChwipY e essa é a música que mais me lembra o período da minha vida nesse relacionamento juvenil, instável e arrebatador.

2 comentários:

  1. Oi Adriana, li o seu blog e me comovi muito com a sua história. Espero que logo dê tudo certo e tudo se resolva, que Eru queira que não seja preciso Dora ficar de maior para que vocês se reencontrem novamente.

    É muito fácil se afundar em raiva, angustia e tudo mais em uma situação como essa. Vivo uma parecida, mas sou noiva do pai e a mae nao deixa ele ver a filha de nenhum modo. É triste, ter que esperar uma justiça super lenta para que esses problemas se resolvam.

    Eu sei que não tenho nada com a sua vida, mas como leitora do blog... teve uma coisa que nao entendi.. É verdade que você "levou Dora embora" e ficou 4 anos sem dar notícia para o pai dela? Me perdoe se entendi errado...

    E que a graça e todo esplendor de Eru ilumine vocês e que possam consertar essa situação horrível.

    Você é uma mulher muito sábia, seus textos são maravilhosos. Que Eru ilumine seu caminho. (:

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  2. Oi Natasha, obrigada por ler e por desejar o melhor. Não, vc não entendeu errado, eu peguei Dora num final de semana e não devolvi... mas não é verdade q o pai não sabia onde estávamos, ele passou mais de um ano negociando com promotor sobre minha mudança para São Paulo, sabia q estávamos em Santos, ele morava em São Paulo... imagine se um pai saudoso não iria descer imediatamente para abraçar a filha.. não, ele preferiu esperar a Globo para gravar a busca e apreensão... por muitas vezes me arrependi, mas depois do que está acontecendo agora, penso que foi uma forma de Dora ter mãe, pq antes disso vivia no meio de uma batalha... agora vive longe da mãe. A verdade é que ninguém tem razão, nem eu que fiz por amor e por querer protegê-la, nem ele, que faz por vingança... que levou Dora para Ribeirão Preto para morar com os avós...se vc quiser te mando uns emails que provam como ele sabia onde estávamos, me escreve para mendes_jornalista@yahoo.com.br

    Queria dizer que também conheci pais que eram obrigados a visitar as filhas no Visitário Público por falsas acusações de abuso sexual... não me conformava de mães submeterem suas filhas à isso por vingança. Um deles é meu amigo até hoje...a filha foi tão alienada, que agora, após 7 anos (!), mesmo podendo, não quer mais visitas do pai... a Justiça é lenta demais e na Vara de Família todos são culpados até que se prove o contrário e até provar levam-se anos e a criança cresce no meio do processo, são muitas infâncias perdidas. Mas antes da Justiça lenta e ineficiente há semper uma pessoa rancorosa e vingativa, que não se importa em ver uma criança sofrendo. Espero que tudo dê certo também para a filha do seu noivo. Obrigada mais uma vez!

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