terça-feira, 23 de abril de 2013

"Mas ela vai voltar"

   No dia 6 de março acordei com uma notícia: "O Chorão morreu!". Na hora nem entendi, depois fui pensando no Charlie Brown Jr, a banda que vi nascer quando as letras eram cantadas em inglês, a banda que fiquei curiosa em ver porque contava com o baterista Pelado, que arrebentava tocando no Torto, lendário bar do Canal 4, em Santos. Daí também vi o Chorão, quem diria, aquele garoto que chegou na cidade já fazendo parte da cena rock dos anos 80, que bebia muito e às vezes chorava por motivos que quase ninguém sabia. Não é que o moleque sabia cantar e tinha o que dizer? Para completar o prodígio Champignon, um menino de 15 anos que tocava baixo como gente grande.
   Uma vez estava voltando de uma festa com minha amiga Ana Paula, vimos um rapaz jogado na calçada, de tão bêbado, tentamos animá-lo, disse lá umas frases desconexas e mandou a gente ir, nem reparou na beleza extraordinária da minha amiga! Era o Chorão! Por isso me impressionou vê-lo no palco, tão cheio de energia, tão lúcido, tão poético. Finalmente havia encontrado seu caminho, deixado de ser um marginal para a sociedade. O sucesso veio como consequência de uma banda profissional, que levava a música a sério. A trajetória do Charlie Browm confunde-se com a história dos adolescentes que foram crescendo a partir dos anos 80. São três gerações de fãs, não fãs saudosos, mas fãs atuais, que lotam os shows e isso não é pra qualquer banda. Como todos os adolescentes, frequentávamos os mesmos lugares, porque nascemos em 1970 e adolescentes se procuram para encontrar seus iguais.

   No mesmo dia era a cirurgia da minha mãe no Guilherme Álvaro, andei muito pela cidade, deixando Miranda com minha amiga Marcia Abad para  poder ficar esperando no hospital a cirurgia (que deu muito certo). Santos estava estranha, pessoas de todas as idades lamentavam o fim trágico de um cara ainda jovem, cheio de ideias e palavras para escrever. Não cabe aqui discorrer sobre  motivos que levam tantos ídolos da música a abusarem de drogas e ter mortes precoces. Mas sobre a importância desta banda para Santos. Primeiro traduzia o estilo de vida santista: "meu escritório é na praia, eu tô sempre na área". Fez a cidade ficar ainda mais conhecida no exterior, com os prêmios grammys, com os videoclipes gravados na praia.

   E também falava tanto de amor! Na mesma época em que era visto bebendo exageradamente pelos bares da cidade, teve um filho com uma garota ainda mais novinha, irmã de uns conhecidos meus - também da cena rock de Santos. Para calar a boca dos idiotas que julgam sem conhecer, era um pai presente, levava o filho em shows, dava bons exemplos! Estava lá! Bem novo encontrou o amor de sua vida, sua companheira e musa inspiradora. Conheci essa garota com cachos dourados, pele muito branca e fala mansa, quando namorava meu amigo Thiaguera, também músico, também com fim trágico. Nem acompanhei nada sobre velório, morte, investigações da morte do Chorão. Mas vi posts maldosos sobre essa mulher tê-lo abandonado. Não! O que sei é que não fosse ela, talvez ele tivesse ido antes. Sei que suas músicas eram pedidos de perdão. Espero que  A Banca continue tocando as músicas que tanto tocam o coração dos jovens.  E jovem é todo aquele que não se entrega, que se rebela com injustiça, que não aceita o "porque sim" como resposta e que quer continuar aprendendo sempre. Por isso as letras do Chorão, que se foi perto de completar 43 anos, falam direto aos jovens de corpo ou de alma.

   A música é eterna e continuo escutando Charlie Brown e acreditando que ela vai voltar pra mim.

 http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=l50yFF-faV8

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