Há três anos e dois meses minha filha foi levada da escola, em Santos,
para o interior de SP, dentro da Lei, com Rede Globo gravando e tudo. Só soube
onde ela estava dois meses depois, quando foi cancelada a audiência marcada em São
Paulo, já que "a menor" encontrava-se em outra cidade. O pai foi ligeiro em
despachá-la para a casa dos avós. Um promotor, que nunca viu minha cara, leu lá o
que a advogada Ana Maria Murari escreveu, entre outras que eu morava de favor
em casa de estranhos e minha filha passava fome. Nenhuma prova, mas esse eficiente
promotor acatou tudo e, vendo que foi brilhante em ludibriar promotor e juiz, a
formidável advogada colocou lá no processo que “depois” mostraria as provas. Nunca mostrou.
Foram
seis meses para a tal audiência de conciliação acontecer, com o juiz de paz, vulgo “juiz
inútil”, já que é pura perda de tempo tentar conciliar as partes em litígio.
Dessa audiência inútil ficou um acordo de que eu falaria diariamente com minha
filha por skype e a outra parte, Jonas Golfeto, teria um mês para encontrar uma
psicóloga para, finalmente, monitorar nossos encontros quando, onde e como Ele,
o todo-poderoso Jonas, quisesse. Aceitei
tudo, estava há mais de seis meses sem ver, falar, tocar minha filha.
Ele, o
pai que tudo pode e nada permite, concedeu um dia de skype, mas minha filha
ficou tão emocionada e chorou tanto e eu falei coisas que Ele não queria, então,
não deixou mais. Viajei 7 horas para ir ao Fórum daquela cidade, falei com o
juiz inútil, que me respondeu: “era um acordo amigável, podendo voltar atrás a
qualquer tempo”. “Mas para que perder tempo com isso? “, perguntei. “Ah, mas
será pior para ele”, respondeu sorrindo o juiz conciliador, como se fosse tudo
uma grande brincadeira. Pior? Só se for para mim, pois a outra parte também demorou um ano e um mês
para encontrar a tal psicóloga, Fabíola Januário, que por uma coincidência
incrível, trabalhava no mesmo consultório da avó paterna da minha filha, Ed
Melo Golfeto.
O primeiro juiz, Ricardo Braga Monte Serrat, saiu do processo
após 8 meses sem fazer nada e está me processando. O que foi bom, pois entre
suas centenas de sentenças duvidosas, está a guarda de uma criança concedida aos
avós paternos. Afinal o filho deles tinha morrido e a criança era um alento
para o casal de idosos. Dane-se a mãe que perdeu o marido, que lhe tirem a
filha também. Coincidência ou não, era um casal afortunado, a mãe não tinha
posses, o juiz Ricardo Braga Monte Serrat considerou que a criança ficaria
melhor com os avós e sua casa grande, seu cofre cheio. Após 4 anos, essa mãe desistiu de tentar
reverter a guarda. Está conformada em vê-la de 15 em 15 dias e nas férias.
Coincidência
ou não conheci uma mãe, na beira de uma piscina, que cuidava dos filhos dos
outros e conversamos sobre filhos. Ela perdeu a guarda de dois, que moram,
vejam só, na mesma cidade da minha filha. Está há seis anos sem ver os filhos.
Os juízes? São os mesmos...
Após 8 meses sem fazer nada, Ricardo Braga Monte
Serrat sai e entra José Duarte Neto. Esse ficou 4 meses, não fez nada e saiu
segundo Artigo 35, parágrafo único: motivos pessoais. Já que é pessoal, não precisa
dizer o motivo. Entrou outro, ficou um mês e saiu, nem deu o motivo. Finalmente
chegou o último juiz, Márcio Peliciotti. Entrou no processo em março de 2012.
Em 8 janeiro de 2013 fui para a cidade quente, sufocante e provinciana para
encontrar minha filha, segundo acordo entre advogadas. O todo-poderoso Jonas
Golfeto não permitiu, fiquei 4 dias naquele calor infernal, tentando, ligando
para a casa dos avós. Entramos com liminar para eu poder vê-la, o senhor juiz,
ao invés de decidir alguma coisa e mandar um oficial de Justiça para eu
encontrá-la, mandou vistas para o Ministério Público decidir. De boa, para que
uma pessoa quer ser juiz se não é capaz de decidir algo tão simples? O que esse
juiz conseguiu foi me deixar mais 4 meses sem ver ou falar com minha filha. Daí
tenho que escutar de advogada “vai ser pior para o Jonas”, não, o tempo está
contra e só é pior para nós duas. Aquela família vibra com tudo isso.
A única coisa que esse juiz Márcio decidiu
até agora foi dar, em maio de 2013, mas com a ajuda do Ministério Público, a
visita monitorada que eu pedi em 2011. Pedi 10 dias de férias para julho de
2013, ele nem leu. Em novembro minha advogada entrou com uma série de pedidos,
entre eles férias de janeiro. Ele leu tudo desta vez, mas só concedeu uma
visita monitorada no Fórum, no dia 19 de dezembro. E foi a última vez que ouvi
a voz dela, agora diferente, com forte sotaque do interior.
Minha advogada
garantiu que o resultado sairia antes do fim das férias. Agora “acredita” que
até o fim de abril. Ah, mas tem feriado, vai ter Copa, depois eleição. Eu não acredito,
nem espero mais nada. Esse juiz está há 2 anos e 1 mês no processo e a única
coisa que decidiu foi conceder visita monitorada, pedida em 2011, justamente
para não perder o vínculo, já perdido. O primeiro promotor, o que me chamou de mãe
nociva, inclusive, baseado no que Ana Maria Murari, a advogada casca grossa,
escreveu, indicou para o juiz que eu ficasse 3 meses sem ver minha filha, para
que a família paterna retomasse o vínculo. Agora quem perdeu o vínculo fui eu e
minha filha caçula. Quero três anos para retomar o convívio. Claro que é piada,
claro que eu sei que isso nunca vai acontecer. Esse atual juiz tem prazo? Tem.
Ele cumpre? Não. Eu posso ir na Corregedoria reclamar? Poder, posso, mas Ele
vai ficar com raiva de mim e demorar mais, segundo minha própria advogada.
São
três anos e dois meses. Mataram minha filha, mataram a mãe da minha filha.
Mataram para ela todas as pessoas que faziam parte da vida dela. Três anos e
dois meses. Meu pai morreu, minha grande amiga, segunda mãe de Dora, morreu,
minha prima que era muito mais que prima (uma grande amiga) morreu, escrevi até
a biografia do Djalma Santos, livro que será lançado segunda-feira, mas o
biografado, por quem me enchi de afeto e amizade, também morreu. Será que esses juízes não sabem que a vida é
breve e que a infância passa rápido?
Ontem falei com minha filha, rapidamente,
pelo facebook, ela me pediu para contar alguma história engraçada de quando era
pequena, pois não lembrava nenhuma. Falei algumas, mas também lembrava de
poucas. Pedi que perguntasse ao pai, mas Ele não estava, nunca está. Perguntei
se pediu para o avô levá-la ao lançamento do livro, mas ela nem pede, disse que
ele anda muito cansado. Ela sabe que a resposta é negativa. Foram mais de três
anos e nem sei quantos mais serão. O crime já foi feito. A Justiça apagou
nossas melhores lembranças. Mas é melhor nem lembrar para não sentir saudade.
Melhor deixar tudo guardado no passado, como se fosse alguém que passou em
minha vida brevemente e partiu.
Isso me faz lembrar minha melhor amiga, que
morreu na adolescência, eu tinha 19 anos e ela 18. No início a dor era
insuportável, eu acordava no meio da noite com falta de ar. Eu pensava nela
todos os dias e chorava. Como eu faria sozinha tudo o que tínhamos planejado
juntas? Entre nossos planos estava morar em Londres (ela queria
trabalhar na BBC). Nunca fui para Londres, talvez porque a falta dela fosse
dolorosa demais. Dia 29 de abril completará 24 anos que a presença de Ana Paula Rodrigues Assumpção
se foi da minha vida para sempre. Claro que me acostumei com a ausência e a dor
diminui, mas ainda lembro muito dela e de nossos planos. Lembrei tanto dela no
show do New Order e quando escuto várias bandas de rock que me apresentou. Quando
vejo esse jornalismo superficial, parcial, penso na jornalista fantástica que Ana
Paula teria sido, com toda sua inteligência, beleza, sendo crítico e simpatia. Sinto saudade mais do que não vivemos, porque o passado é só
uma lembrança, a mesma coisa acontece com Dora.
Mas com Dora posso ainda ter
algum plano... não sei se é melhor
aceitar o fim ou ter esperança de um recomeço.
A Justiça matou nossas lembranças. Afastou mãe e filha, alienou
completamente uma criança. Quem paga por esses crimes? Eu penso em processar o
Estado, porque a outra parte só faz procrastinar tudo que a Justiça permite. A
culpa é da morosidade, da falta de compromisso desses profissionais de toga, a
falta de psicólogos e assistentes sociais nas Varas de Família. Sim, quero
muito processar o Estado, mas preciso de um advogado que não pense em retorno
financeiro imediato. É que quando falo isso para minha própria advogada, ela
diz que daria uma boa briga, mas só meus netos (se é que irei tê-los) verão a
cor deste dinheiro. Eu não me importo, só quero desobstruir meu fígado e não morrer
de câncer. Qual advogado pegaria uma causa para vencer daqui 30 anos? Talvez um
que pense em seus netos. Ou uma baiana arretada que também teve sua filha
arrancada pela Justiça.
Por uma lado fico contente em ler este seu texto, Drica! Pois vejo que não desistiu, nem desistirá!
ResponderExcluirPor outro... Também preciso desobstruir o meu fígado!
E sim, a Botelho tem esse perfil!
Tem noites que meu estômago dói tanto que nao consigo nem dormir... e sim, a Botelho é perfeita para isso e está a caminho da OaB e sua tese foi sobre alienaçao parental :)
ExcluirMana amada... mães e pais que acompanham esta injustiça:
ResponderExcluirnão pude deixar de pensar em Dora, Mimi e Dri ao ler sobre esta outra tragédia. E dá-lhe nossas instituições a assassinar o amor... nossa sociedade... nós mesmos? espero que não...
www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/A-Pascoa-de-Bernardo/5/30756
sigamos nas lutas. e no amor.
querido, tentei escrever sobre Bernardo, mas minha gastrite nervosa atacava demais. Foi mais um crime anunciado... dessa vez, a própria criança tentou se defender... mas o juiz viu indícios e nao provas... no meu caso, tiraram minha filha por indícios, sem provas... nao queria incitar o ódio, mas hoje sinto muito mais ódio do que amor...
ResponderExcluirQuerida Adriana,
ResponderExcluirSeu texto forte,contundente mesmo é um manifesto por justiça,um retrato fiel dos absurdos e parcialidades que acontecem Brasil afora,infelizmente.Se alguém conhece bem essa dor,então apenas outra mãe que tenha tido seus filhos arrancados de si,sobretudo aquelas que foram limitadas, prejudicadas em sua defesa pois a outra parte tinha dinheiro e influências.Por isso tenho dito à Flávia que, mais e mais,vocês precisam se unir,vir pra Brasília,fazer movimentos aqui,procurar parlamentares que abraçem essa causa com vocês,fazer aliados dentro do judiciário,do CNJ,continuar clamando por mudanças.Embora o tempo esteja contra nós mães( pois a alienação parental é uma realidade),quanto mais cedo comecarem a obrigar a sociedade e o parlamento a ouvir e discutir esses temas,mais cedo se alcançará um resultado,uma mudança.Embora talvez não alcance nossas necessidades e de nossos filhos,a luta por mudanças que impeçam a dor de novas possíveis vítimas, também é uma fonte de energia pra lidarmos com as dores e ganhar impulso pra seguir lutando por nossas crianças.O que não pode acontecer é resignar-se,parar no caminho.Essas crianças precisam saber que suas mães nunca desistiram delas,em momento algum.Precisam aprender de nós que: "Mãe é a luz que não se apaga quando sopra o vento"... Um forte e carinhoso abraço,prossiga na luta! Eliana März
Ah, Eliana, quanto tempo mais isso continuará acontecendo? Torço por você, as coisas melhoraram para mim, mas ainda há a distância e, como a mãe citada nesse texto, me conformei com férias e ver minha filha de quinze em quinze dias, tendo de viajar 500 km para que isso possa acontecer...
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