Dizem
que é apenas uma data comercial e que dia das mães é todo dia. Não, não é. Para
uma mãe proibida pela Justiça de exercer a maternidade, nenhum dia é dia de ser
mãe. E essa data comercial passa a ser
de uma dor incomensurável. Imagino que o mesmo aconteça para crianças sem a
presença da mãe viva. O que pensam? Nem sei mais qual o
valor desse dia (e dos outros dias) para minha filha. Esse será o quarto ano consecutivo que ela
passará sem mãe.
Espero (só o que tenho feito é esperar) que no próximo ano
esse quadro mais surreal que uma obra do Salvador Dalí, mude. Será que o juiz
conseguirá decidir alguma coisa nos próximos 12 meses? Nem que seja uma
negativa, para que eu possa recorrer? Será que algum dia das mães terei minhas duas filhas juntas, comigo?
Tento imaginar o que a família da minha filha tem falado para ela nesses anos.
Não a vejo desde dezembro, numa visita pedida pela minha advogada, pela
proximidade do Natal. Deixei de ir nas visitas em outubro, por um mês, e perdi o
direito. Agora se quiser ver de novo, tenho que fazer novo pedido. E isso pode atrasar ainda mais o processo. Como em
novembro fizemos vários pedidos, minha advogada concordou que seria melhor
esperar e ter 10 dias de férias. Passaram as férias. Esperei o aniversário
dela. Esperei o Carnaval, depois a Páscoa. Logo chegarão novas férias e se
continuar assim, não a verei o ano inteiro. Ou então vou ter que pedir de novo
visitas monitoradas no Fórum.
Quando eu tento explicar para ela, por mensagem,
os trâmites legais, numa linguagem menos burocrata, diz que não quer saber desse
papo. Resta deixar que falem o que quiserem falar.Espero que não falem que a esqueci, como sempre, só espero. Como explicar que
visitas de 2h, numa segunda-feira, a 500km de distância, é algo muito
complicado? Talvez eu deva mudar para lá. Miranda já me sugeriu isso. Miranda
diz muitas coisas que me impressionam. Dia desses falou do nada: “Tenho certeza
que quando a Dorinha fizer 18 anos vem morar com a gente”. Me deu vontade de
chorar, mas não choro mais na frente dela. Apenas a abracei. Se Dorinha seguir
meus passos estará morando em república e fazendo faculdade com essa idade.
Morar de novo com a gente é um sonho que eu deixo Miranda continuar sonhando.
Derrotista eu? Não, é só usar a lógica: se em 3 anos 4 meses não consegui nem
um fim-de-semana...
Sei que todas as mães proibidas pela Justiça de estarem
com seus filhos estão sofrendo mais neste mês. Falo com todas. Mais duas me
procuraram na última semana. Uma delas tem o perfil tão parecido com o meu,
respondi o primeiro email, mas nessa semana não consegui responder nada sobre o
assunto. Não quero que percam antes de lutar. A outra tem um bebê de meses.
Como dizer para ela que já vi uma mãe amamentando um bebê de meses em um visitário
público?
Minhas amigas Adriana Botelho e Luciana Mendonça já escreveram sobre
o dia das mães. Sei que outras irão escrever. Sei o quanto sofrem e o quanto
sentem. Sei que pensam em desistir e muitas vezes tentam esquecer. Sei que não
conseguem. Sei que as mães que tem outro filho tentam preencher o vazio e a
falta daquele que foi levado. Sei que também não conseguem. Mas tenho uma
certeza intuitiva que, de alguma forma, esses irmãos serão capazes de juntar os
cacos e montar um mosaico muito lindo. Sinto que serão capazes de retomar o
vínculo e contar as histórias que foram proibidos de viver juntos.
Nas minhas
noites de insônia imagino minhas filhas encontrando-se com os filhos dessas
mães minhas amigas, formando um grupo de apoio, contando suas experiências
pessoais, fazendo um trabalho de reforma judiciária, mudando Leis. Porque nós,
as mães, vivemos um lado da história. Tem a outra parte que conta o que quiser.
Só eles, nossos filhos, quando crescerem, serão capazes de avaliar o estrago
que seus pais e o sistema judiciário fizeram em suas vidas. O buraco que
deixaram. Espero que superem tudo isso e façam muita diferença nesse mundo
caótico. E que continuem amando muito suas mães. Cazuza, meu querido poeta,
errou ao afirmar que “só as mães são felizes”, mas nós merecemos sim “todo o
amor que houver nessa vida”.
Uma emoção muito grande ler este post.... Conheci sua dor tão de perto, correndo todos os riscos para estar junto de Dora. Parece que foi ontem que estávamos todas juntas. Dora conhecendo a geografia do Brasil numa aventura que poucas pessoas experimentaram ou experimantarão.
ResponderExcluirHoje mesmo tão distante, todas nós, separadas ou por essa mesma geografia ou pela injustiça e a intolerância, seguimos unidas por um vínculo tão forte que nada e ninguém pode romper. As experiências que transformam nossas vidas e moldam nosso ser permanecerão sempre conosco e nos trarão sempre de volta à quem realmente somos. Sei que Dora estará junto de nós e nós estaremos todas juntas novamente. Demore o tempo que for. Sei que Dora estará pensando nisso nesse dia das mães e sonhando com o dia em que ela nos levará em uma aventura que mudará novamente nossas vidas.
E pra vc Dri, nesse dia das mães te desejo que você sempre tenha essa certeza e ela será tão forte que te alimentará de uma energia que te fará simplesmente suceder! Beijo grande e muitas saudades!
Minha amada, sei lá pq cargas d'água só fui ler seu comentaŕio agora. Ainda espero o dia de estarmos todas juntas, eu, elas e você, minha amiga tão amada e que está tão longe. Dora lembra da nossa aventura em detalhes, nunca esqueceu, nunca esquecerá. E, se tudo der certo, passamos umas férias aí com vc. Te amo!
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