quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ventos Fortes, Novos Ares, Amores Antigos

   Acordei com barulho de ventania. Depois de dois dias sem sair de casa fui andar ao sabor do vento. Um vento morno, que deixava meu cabelo do jeito que gosto: bagunçado. Depois vi que esse vendaval causou muita destruição e até incêndio na Baixada Santista. Impressionante como é envolvente e devastador o poder da natureza, mas mesmo trágico, parece que o vento levou o que havia de ruim embora.
   Mas a literatura, sempre ela e a música, ajudou também a clarear o horizonte. Nesses dias, sofríveis, li 1808, de Laurentino Gomes, e entendi um pouco mais sobre como sou e porque sou e de onde venho. Pensei na minha família portuguesa, atravessando o oceano para um lugar novo e desconhecido. Pensei na dualidade dos portugueses, tão desbravadores dos sete mares e, o mesmo tempo, o primo pobre da Europa. Destemidos e com baixa estima. Inovadores nas conquistas e sempre presos no passado de glórias, tipo eu (que nem tive lá tantas glórias assim).
   Uma coisa que meu pai sempre lembrava era o obscurantismo em que Portugal se meteu por ser um País completamente católico, portanto conservador e assassino (Santa Inquisição). Lembro bem da minha vozinha, Maria do Carmo Brites, do baixo de seus 1m45cm, devota de Nossa Senhora de Fátima, balançando a cabeça com seus lindos olhos azuis e cabelos platinados, no estilo Chanel, cada vez que meu pai maldizia a Igreja. Tipo “perdoe esse homem, senhor, ele não sabe o que diz”. Mas ele sabia, sim. Pensei muito nele no dia da canonização dos dois Papas, se vivo estivesse (e sem Alzheimer), faria comentários cheios de ironia sobre a nova regra de não precisar nem mais de dois milagres para virar santo.
   Talvez esteja no meu DNA essa vontade de sair viajando, conhecendo gente nova e seus costumes, assim como um pensamento melancólico e fúnebre, que vem de repente, como se eu não fosse capaz de nada, nem de ser amada. Em alguma parte do livro (1808) li que Portugal era como um marisco, entre o rochedo e o mar (quando pairava a dúvida entre render-se`a França ou resistir, junto da aliada Inglaterra). Muitas vezes me sinto como um marisco, apanhando das ondas, mas agarrada nas pedras, resistindo sempre. Além do que achei linda essa história de estar entre o rochedo e o mar. Pura poesia.
   Por falar em poesia, minha querida Raquel foi selecionada para o livro Novos Poetas, fiquei orgulhosa que só. Daí há algumas semanas fui com Miranda fazer visita para essa família que tanto amo. Raquel criou um blog para uma aula de empreendedorismo e começou a me dar dicas. Ela e também seu irmão gêmeo, Pedro, o príncipe. Os dois se revezavam entre brincar com Miranda e tentar dar um up no meu blog. Primeiro me fizeram colocar o número de leituras, porque “quanto mais lido, mais as pessoas irão ler”. Depois colocar os textos mais lidos, porque “serão mais lidos ainda”. E querem colocar anúncio e tem um outro lance que ganha sei lá quantos centavos por cada texto lido. Puxa, deixei de ganhar uns 100 mil reais nessa brincadeira... mas nunca é tarde para começar. 
   De repente eu ali, com os gêmeos de 12 anos me dando dicas de empreendedorismo. Sempre adorei a adolescência. É a fase de maiores mudanças na vida. Não posso acompanhar a adolescência da minha filha, mas posso acompanhar dos filhos da minha amiga, que já não pode. Que vida, né?
   
   Comecei receber uns chamados ruralistas há uma semana. Eu, que pensava agora mais seriamente do que nunca, exercer minha cidadania portuguesa e abusar do meu passaporte europeu, me vejo sendo sugada para o meio do mato. Para dentro da natureza selvagem, que tanto admiro e respeito. Com pessoas que acreditam nas mudanças pela educação e cidadania. Talvez meu tempo de ter “escritório na praia e estar sempre na área” esteja acabando. Santos ainda é a melhor cidade que já morei (e morei em várias) e sei que sempre irei voltar, como o filho pródigo.
   Como escreveu meu querido amigo Angel, algumas pessoas são como navios que passam, para me salvar do naufrágio. Tenho contado com alguns grandes amigos nesses tempos de tempestade: Angel Rodriguez e família; com o amor que, mesmo de longe, acalma minha alma perturbada. Geórgia Corrêa, que ressurgiu para ocupar o espaço que sempre foi seu em minha vida. Os sempre presentes Gustavo Liedtke e Fábio Diegues, meus companheiros desde a faculdade, do tipo que nunca preciso contar como me sinto. Eles já sabem só no olhar. São muitos navios que passam para socorrer essa náufraga. Muitas vezes fico cega pelas lágrimas e nem vejo quando me acenam.
   Estou assim meio poética porque hoje a menina Giovana, que nem imagina o quanto inspira a mim e tantos outros (ou talvez tenha certeza disso), escreveu “Se uma escritora se apaixonar por você, você pode nunca morrer”. Achei tão lindo. De certa forma tornei alguns dos meus amores imortais. Ao nomeá-los torno possível que sejam lembrados daqui umas décadas. Por outras pessoas, porque por mim jamais são esquecidos (a não ser que tenha Alzheimer).
   Juro que tento ter um novo amor. Mas dá uma preguiça alcançar aquele nível máximo de intimidade. De ter que lidar com insegurança, confusões mentais masculinas e sentir aquela queda infinita da paixão. Gosto muito de ser eu e minha(s) filha(s). Nunca apresento como namorado antes dos 3 meses, como nos empregos, período de experiência. Muitas vezes não chega nem nesse tempo.
   Queria esquecer meus amores do passado. Mas é um torpedo que chega do namorado de adolescência. Uma mensagem daquele que está em outro País... e tudo isso para ter a certeza de que tive namorados incríveis. Todos antes dos 30 anos. Depois disso ou fiquei muito exigente ou perdi a capacidade de amar e ser amada. Ou fico agarrada no rochedo, tipo o marisco...

  

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