Acordei com barulho de ventania. Depois de dois dias sem sair de casa fui andar ao sabor do vento. Um
vento morno, que deixava meu cabelo do jeito que gosto: bagunçado. Depois vi
que esse vendaval causou muita destruição e até incêndio na Baixada Santista.
Impressionante como é envolvente e devastador o poder da natureza, mas mesmo trágico, parece que o
vento levou o que havia de ruim embora.
Mas a literatura, sempre ela e a música,
ajudou também a clarear o horizonte. Nesses dias, sofríveis, li 1808, de Laurentino Gomes, e entendi um
pouco mais sobre como sou e porque sou e de onde venho. Pensei na minha família
portuguesa, atravessando o oceano para um lugar novo e desconhecido. Pensei na
dualidade dos portugueses, tão desbravadores dos sete mares e, o mesmo tempo, o
primo pobre da Europa. Destemidos e com baixa estima. Inovadores nas conquistas
e sempre presos no passado de glórias, tipo eu (que nem tive lá tantas glórias
assim).
Uma coisa que meu pai sempre lembrava era o obscurantismo em que
Portugal se meteu por ser um País completamente católico, portanto conservador
e assassino (Santa Inquisição). Lembro bem da minha vozinha, Maria do Carmo
Brites, do baixo de seus 1m45cm, devota de Nossa Senhora de Fátima, balançando
a cabeça com seus lindos olhos azuis e cabelos platinados, no estilo Chanel,
cada vez que meu pai maldizia a Igreja. Tipo “perdoe esse homem, senhor, ele não
sabe o que diz”. Mas ele sabia, sim. Pensei muito nele no dia da canonização dos
dois Papas, se vivo estivesse (e sem Alzheimer), faria comentários cheios de
ironia sobre a nova regra de não precisar nem mais de dois milagres para virar
santo.
Talvez esteja no meu DNA essa vontade de sair viajando, conhecendo
gente nova e seus costumes, assim como um pensamento melancólico e fúnebre, que
vem de repente, como se eu não fosse capaz de nada, nem de ser amada. Em
alguma parte do livro (1808) li que Portugal era como um marisco, entre o
rochedo e o mar (quando pairava a dúvida entre render-se`a França ou resistir, junto da aliada Inglaterra). Muitas vezes me sinto como um marisco, apanhando das
ondas, mas agarrada nas pedras, resistindo sempre. Além do que achei linda essa história
de estar entre o rochedo e o mar. Pura poesia.
Por falar em poesia, minha
querida Raquel foi selecionada para o livro Novos Poetas, fiquei orgulhosa que só. Daí há algumas
semanas fui com Miranda fazer visita para essa família que tanto amo. Raquel
criou um blog para uma aula de empreendedorismo e começou a me dar dicas. Ela e também seu irmão gêmeo, Pedro, o príncipe. Os dois se revezavam entre brincar com
Miranda e tentar dar um up no meu blog. Primeiro me fizeram colocar o número de
leituras, porque “quanto mais lido, mais as pessoas irão ler”. Depois colocar
os textos mais lidos, porque “serão mais lidos ainda”. E querem colocar anúncio
e tem um outro lance que ganha sei lá quantos centavos por cada texto lido.
Puxa, deixei de ganhar uns 100 mil reais nessa brincadeira... mas nunca é tarde
para começar.
De repente eu ali, com os gêmeos de 12 anos me dando dicas de
empreendedorismo. Sempre adorei a adolescência. É a fase de maiores mudanças na
vida. Não posso acompanhar a adolescência da minha filha, mas posso acompanhar
dos filhos da minha amiga, que já não pode. Que vida, né?
Comecei receber uns
chamados ruralistas há uma semana. Eu, que pensava agora mais seriamente do que nunca,
exercer minha cidadania portuguesa e abusar do meu passaporte europeu, me vejo
sendo sugada para o meio do mato. Para dentro da natureza selvagem, que tanto admiro e
respeito. Com pessoas que acreditam nas mudanças pela educação e cidadania.
Talvez meu tempo de ter “escritório na praia e estar sempre na área” esteja
acabando. Santos ainda é a melhor cidade que já morei (e morei em várias) e sei que sempre irei voltar, como o filho pródigo.
Como
escreveu meu querido amigo Angel, algumas pessoas são como navios que passam, para
me salvar do naufrágio. Tenho contado com alguns grandes amigos nesses tempos
de tempestade: Angel Rodriguez e família; com o amor que, mesmo de longe,
acalma minha alma perturbada. Geórgia Corrêa, que ressurgiu para ocupar o
espaço que sempre foi seu em minha vida. Os sempre presentes Gustavo Liedtke e
Fábio Diegues, meus companheiros desde a faculdade, do tipo que nunca preciso
contar como me sinto. Eles já sabem só no olhar. São muitos navios que passam
para socorrer essa náufraga. Muitas vezes fico cega pelas lágrimas e nem vejo quando me acenam.
Estou assim
meio poética porque hoje a menina Giovana, que nem imagina o quanto inspira a
mim e tantos outros (ou talvez tenha certeza disso), escreveu “Se uma escritora
se apaixonar por você, você pode nunca morrer”. Achei tão lindo. De certa forma
tornei alguns dos meus amores imortais. Ao nomeá-los torno possível que sejam
lembrados daqui umas décadas. Por outras pessoas, porque por mim jamais são esquecidos
(a não ser que tenha Alzheimer).
Juro que tento ter um novo amor. Mas dá uma
preguiça alcançar aquele nível máximo de intimidade. De ter que lidar com
insegurança, confusões mentais masculinas e sentir aquela queda infinita da paixão.
Gosto muito de ser eu e minha(s) filha(s). Nunca apresento como namorado antes
dos 3 meses, como nos empregos, período de experiência. Muitas vezes não chega nem nesse tempo.
Queria esquecer meus amores
do passado. Mas é um torpedo que chega do namorado de adolescência. Uma
mensagem daquele que está em outro País... e tudo isso para ter a certeza de que
tive namorados incríveis. Todos antes dos 30 anos. Depois disso ou fiquei muito
exigente ou perdi a capacidade de amar e ser amada. Ou fico agarrada no rochedo, tipo o marisco...
Dri amiga, você tem de lançar um livro só seu. Já te falei isso,não? bjs
ResponderExcluirW/ all of my love, my dear...
ResponderExcluiruai!
youtu.be/ojUKOBqKNOo?t=39m14s
<3 <3 <3
ExcluirSó se vc me ajudar a selecionar os textos <3
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