segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Nós e Eles

   Estava em Ribeirão Preto para resolver umas pendências de mudança ou não mudança para lá. Não esperava nada, sem expectativa nenhuma de processo. Então saiu um despacho do juiz, entendendo o esforço da outra parte em não deixar mãe e filha se encontrarem, achando que passava dos limites recorrer tanto, entrar com apelação e tudo que a Justiça, afinal, permite. Depois de ver que nem com ordem judicial eu pude ver minha filha, o juiz determinou, em um despacho relâmpago, que haverá multa de 1 mil reais cada vez que a outra parte não cumprir a determinação judicial. Infelizmente, há pessoas que só sentem dor no bolso ou na conta bancária. Essa multa já deveria ter sido estipulada há muito tempo. Mas antes tarde do que em 2020!
   Já estava com a passagem comprada para voltar na sexta, mas com todo o prazer e ansiedade do mundo fiquei na casa da Paola Miorim, a pessoa que indiquei para acompanhar as visitas, que agora devem acontecer, impreterivelmente, de 15 em 15 dias, sábado das 14h às 19h e domingo, das 10h às 16h. 
   No sábado acordei muito cedo, de tanta ansiedade. Comecei a arrumar a casa. Logo Paola chegou dos seus 30 km de corrida (está treinando para uma maratona), colocou o DVD de um show do Pink FLoyd num volume bem alto e faxinamos a casa. Enquanto organizávamos íamos lembrando nossa fase Pink Floyd, entre 13 e 15 anos. Falamos muito do Marcelo Miorim, o irmão mais velho da Paola e que, por muitos anos, foi também meu irmão mais velho e mais querido. Do caçula Rodrigo Miorim, que se foi tão precocemente dessa vida, tão lindo e tão amado. Algumas vezes me dava vontade de chorar. Pela música, pela saudade, pela emoção de estar ali na espera de ter liberdade. Nada poderia ser mais simbólico do que ouvir Pink Floyd.
   Fomos buscar minha filha, pontualmente, às 14h. O abraço não foi tão apertado como eu queria, o sorriso não foi tão largo quanto eu esperava. Nada mais será como antes. Não dá para comensurar o tamanho do buraco que ficou em nossas histórias. Não vou contar detalhes de como foram nossos dois encontros. Só posso dizer que nunca foi tão bom sentar num sofá e ver um filme de mãos dadas. Almoçar a comida deliciosa da Paola, numa mesa de família, uma família de verdade e harmoniosa. Nunca foi tão bom tomar um café expresso em um shopping, enquanto Dora e Giovana (a caçula da Paola) tomavam um milkshake. 

    Acho que a outra parte e sua família nunca imaginariam que eu teria uma tão grande amiga em Ribeirão Preto, capaz de passar seus finais de semana comigo e minhas filhas, com "muito orgulho e com muito amor" e que suas filhas ficariam amigas de Dora. E tenho certeza que Dora e Giovana terão a mesma irmandade que tenho com Paola.
   Nesse tempo tão breve, mas tão importante que passamos juntas, falamos de quando éramos adolescentes, de nossos treinos de 10 km nadando, de nossos paqueras, primeiros namorados, estudos e parte de algumas situações hilariantes que já vivemos. Nossas filhas riam de tudo. Lívia, a mais velha da Paola, sempre dando suas pitadas divertidas de ironia.
  Também acho que é muito emblemático a Paola me acompanhar nesses encontros. Depois de quase 4 anos acompanhando mais de perto do que qualquer um essa saga, não poderia existir pessoa melhor para tal missão (ela assinou um termo de responsabilidade no Fórum, é uma missão, um compromisso com a Lei). E não digo isso só por ser equilibrada, inteligente, divertida e linda (e ainda muito mais por dentro do que por fora, acreditem). Mas porque tem aquela sensibilidade que falta na maioria dos seres humanos, porque tem paciência e sabedoria. E tem perseverança e determinação.
    
    Sempre foi o avô quem levou e buscou minha filha no portão. Na "entrega" me estendeu a mão e disse: "Não precisa ter tanto ódio, Adriana". Apertei sua mão, que estava meio trêmula, e respondi: "No meu coraçãozinho não há espaço para ódio e rancor". Imediatamente lembrei de uma das músicas que ouvi pela manhã, Us and Them. No final somos todos iguais e continuamos com os mesmos desafios e desavenças desde que o mundo é mundo. Mas é sempre "nós e eles". É muito difícil combater a injustiça. E nossas vidas muitas vezes está nas mãos de quem não nos conhece. E vejo tantas brigas por guarda de filho em todas as partes. Depois a criança cresce e vai embora. E o que fica são buracos, vazios e uma sensação de vida perdida.

    Pensei muito em todas as mães* e filhos que passam ou passaram por isso, todas que conheci nesses anos duros. Em especial na Natália Nogueira, que me preparou para esse estágio do estranhamento inicial. E porque ela ama Pink Floyd tanto ou mais do que eu e Paola. E a sensação de liberdade, mesmo momentânea, que senti, talvez possa ser traduzida nesse vídeo e nessa música. A vida é muito curta para ser perdida em processos, fóruns e cartórios.

* Não consigo pensar nos pais que disputam guarda porque os que fazem isso é por vingança. E sempre, sempre mesmo, as crianças ficam aos cuidados de terceiros (avós, tias, madrastas, babás). Pai que tem guarda é porque a mãe morreu, ficou doente demais ou presa. E esses pais torcem para que as mães melhorem e retomem a guarda. Ou procuram uma mulher bacana para ajudar com os filhos.
    Mas penso em pais que lutam pelo direito de ter finais de semana com seus filhos. Porque também existem muitas mulheres vingativas, que usam os filhos para machucar seus ex... não é uma questão sexista, é uma questão humanitária. E há humanos de todos os tipos, até os sem nenhuma humanidade.

13 comentários:

  1. Adriana,
    acompanho silenciosamente a sua luta e torço mt por vcs. Parabéns por essa vitória.

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    1. Muito obrigada Isadora, fico tão feliz de saber q pessoas q não conheço acompanham e torcem por nós :)

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    2. Adriana, também sou mãe e crio minha filha praticamente sozinha. Sua luta me comove muito, vc é muito guerreira. Leio todos os seus posts. A maneira que vc escreve é muito boa de ler e fico aguardando sempre novos posts.
      Alice tem 8 anos e tem um blog de poesia! Se puder, visite rsrsrs
      http://osonhodapoesia.blogspot.com.br/ :)

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    3. Vou lá ver sim, desculpe só responder agora... estou viajando tanto, tão sem tempo. Muito obrigada por ler o que escrevo e compartilhar comigo sua história. Bj

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  2. Vitória querida! a primeira de muitas! E voce provou que sabe vencer ao apertar a mão de um ignorante escroto que ainda tem a coragem de dizer algo. Deveria ele ter ficado calado. Seria mais digno. Um beijo enorme! e como diria o velho Bob, never give up the fight!

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    1. André, querido, obrigada! Vc bem sabe como tá difícil essa batalha... é só uma batalha, a guerra continua, né? Como poderia não estender a mão para o avô da minha filha? Bem ou mal é ele quem está cuidando dela...

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  3. Chorei de emoção, de alegria, de amor...quero um final de semana destes participar deste encontro...vamos combinar...eu, vc, Paola, Dora, Maria, Livia, Giovana

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    1. E Dora já me disse que, assim que vier pra Santos, quer encontrar a Maria Eduarda. Amizade de infância, aquela que nunca morre... bjs

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Nunca deixe crianca com o pai sem antes procurar a justica da sua comarca ,deic=xar com o pai sem ordem judicial e de alto risco,pela situacao o correto seria inverter a guarda a seu favor que deve ocorrer logo ,mas pelo amor de Deus parem de deixar crianca com o pai sem procurar um advogado antes.

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  6. Na verdade a guarda sempre sera da mae ,o pai so consegue a guarda quando a mae nao sabe conduzir o processo legal.

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  7. Ao pedir a liminar na cidade onde a menina estava ela fixo o processo na cidade paterna,sendo que poderia ter pedido liminar na cidade onde a mae morava ai o processo seria fixado na cidade materna,outro erro foi nao ter dado andamenti no processo,Nenhum pai ganha a guarda se a nae observa o processo.

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    1. Obrigada pelas dicas Eduardo, mas a Justiça brasileira, esse sistema, é corrompido e corrupto, já está entranhada a morosidade... e acho que existem pais e pais, muitos homens são bons e sabem o que é melhor para os filhos. Nem todas as mulheres tem o azar q eu tive...

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