quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A Solidão dos Números Primos

  Passava da 1h30 e eu já estava deitada. Mas meus olhos se recusavam a fechar. Não gosto de ficar condenando meus pensamentos, tentar freá-los ou contê-los. Sou uma, mas estou sempre dividida. Nunca faço uma coisa de cada vez. Parece que existe um duplo, o tempo todo. 

   Tento ser prática, já que não consigo nem fechar os olhos como vou dormir? Vou fazer alguma coisa porque não adianta lutar contra a insônia ou amaldiçoá-la, ela vence e depois se vinga durante o dia inteiro. Vou fugir para dentro de um livro! Mas não deveria, já que o que preciso é escrever dois livros! Um até final de dezembro, outro com prazo curto, porém estendido. Vou escrever! Mas minha tendinite está latejando um pouco. Uma dor que me acompanha há tanto tempo, que quando diminui sinto até falta. O pescoço dói mais.
  Tento me iludir.  "Ah, vou ligar a TV, quem sabe uma comédia romântica inofensiva". Sei que nenhum filme me devolve ao sono. Dona insônia maldita venceu. Levanto, vou até a sala e vejo um filme já começado, italiano, que me prende na primeira cena.
    Duas adolescentes de 13, 14 anos falam de meninos. Uma delas, Alice, nunca beijou, a amiga lhe ensina a beijar e pergunta qual garoto ela gostaria de beijar. Alice diz que gosta do menino Mattia. Aquele que se esfaqueou na sala de aula.
   Mergulhei na história de Alice e Mattia, naquele tipo de roteiro que vai e volta, decifrando traumas, comungando com os desajustes dos personagens. Torço por aquele beijo que Alice tanto espera. Não sei nada sobre o filme, no que vai dar, nem a sinopse, só reconheço a atriz, que admirei no também italiano, A Bela Adormecida. 
    Penso que está acabando, mas acontece um salto no tempo e surge Alice, visivelmente atormentada e assustadoramente doente. Estremeço. Me abalo com a cena e a interpretação. Agora tenho necessidade de saber tudo sobre essa atriz que tanto me impressionou. Nem sei seu nome.
   Sigo sentindo uma mistura de náusea e angústia. Além da expectativa romântica em saber se Mattia, agora um físico genial que mora na Alemanha, irá salvá-la. Ela sabe que está se matando e pede socorro a quem esteve ao seu lado por toda vida, sem nunca tocá-la. Eu choro. Como pode tanta crueldade consigo mesma e ternura com o outro?
      Parece ser a cena final. Abraço, por favor, aconteça! Beijem-se, nem que seja por necessidade! De repente, o sinal some. Como assim não vou saber como essa história termina? O sinal volta. Nem letreiros mais estão passando. Como assim não vou saber nem o nome do filme?
     

      Passava das 3h e eu precisava saber algumas coisas antes de dormir. A pista era que Alice foi construída pela mesma atriz que incorporou Maria, de A Bela Adormecida. Descubro outros vários filmes da brilhante Alba Rohrwacher, que só em 2010, atuou em quatro. Começo a ler sobre todos eles, num site italiano. E lá estava A Solidão dos Números Primos (2010, dirigido por Saverio Costanzo), adaptação do romance La Solitudine Dei Numeri Primi, de Paolo Giordano. Pronto, agora tenho mais um livro para ler. Quero muito ler esse livro. Como eu não sabia de nada disso?
   Tento não pensar em toda a singularidade de Alice e Mattia, enquanto indivíduos. Mas em todas as similaridades, enquanto casal.
     Passa das 6h e agora só o que eu preciso é dormir. Fecho os olhos e durmo pensando no romance, no amor que não se basta. Logo tenho que acordar.

      Um pouco disso tudo http://youtu.be/uwdfCce8Yfk
     

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