Estava
em Brasília, com meus amados amigos Angel Luís e Gabriela Cunha.
Nossas crianças (minha filha Miranda e seus filhos Inaê e Rudá)
dormiam tranquilos. Então abrimos um vinho tinto e resolvemos ver um
filme. Gabriela escolhe Incêndios. Eu nunca tinha visto, nem
ouvido falar. Gab afirma que vou adorar, “é um filme impactante,
daqueles que precisam ser vistos duas vezes”. Gab e Angel são
aquele tipo de gente que vê filmes perturbadores para dormir,
justamente para afastar o sono, coisa que não lhes falta. Adoro esse
tipo de gente.
Só
sei que é uma produção canadense,
dirigida
por
Dennis Villeneuve
e
que
foi adaptado de
peça homônima.
O autor libanês,
Wajdi Mouawad, não
achava possível sua obra ser transformada em filme. Mas Villeneuve
mostrou apenas a primeira cena, que
não tem
palavras, só olhares e gestos, com
música de Radiohead. Isso bastou para Mouawad
perceber
que todo
o resto seria
possível. Parei de saber por aí. Ao contrário de mim, Gabriela não
gosta de contar as histórias, nem os finais. Melhor assim!
Começa
com tanta intolerância seguida de violência, que paro com o vinho
para não doer também o estômago. Namorado refugiado assassinado na
frente da moça que o ama. Bebê arrancado de mãe e levado para
orfanato. Mãe desesperada atrás do filho, fruto de muito amor,
tomado de seus braços na hora do parto. Crianças aprendendo a
atirar, tendo como alvo outras crianças. Menino com ódio no olhar e
lábios trêmulos, controlando a vontade de chorar. Radiohead
arrebentando meu coração. Aliás, a trilha sonora inteira do filme
é brilhante. Não exagera, nem exclui, só aumenta a dramaticidade
de todos os incêndios, reais ou metafóricos.
Uma
mulher está em estado de choque e há 5 anos parou de falar. Após
sua morte, um grande amigo e advogado, chama o casal de filhos gêmeos
e entrega uma carta para cada. Pede para um procurar o pai. E o outro
procurar o irmão. Os gêmeos olham-se confusos. O pai estava morto e
não tinham conhecimento de nenhum irmão. Assim começa a busca pelo
desconhecido. Desvendam toda a verdade sobre o passado de sua mãe.
Prisioneira, torturada, sobrevivente. Nada disso sabiam. E a cada
nova pista, algo mais estarrecedor. Sinto que o final será
surpreendente. E foi...
Volto
a tomar vinho e conversamos sobre o filme. Nossas impressões sobre
como a falta de amor pode transformar uma criança indefesa em um
assassino cruel são as mesmas. Tudo é terrivelmente triste. Só
consegui chorar deitada, esperando o sono que nunca vem, com as cenas
se repetindo em minha mente, um roteiro tão bem amarrado, montagem
perfeita, interpretações tão realistas. E esse tema que sempre me
intrigou, sobre a razão em tanta guerra (religiosa, política,
social, pessoal). Queria tanto ter um cérebro capaz de entender e de
explicar.
No
dia seguinte falamos muito sobre Incêndios. E na outra
semana. Também no mês seguinte. É uma película apenas para quem
tem estômago e ao mesmo tempo sensibilidade de ver beleza em
escombros. Mas considero um filme fundamental. E como gosto de
trilogias, segue mais uma dica de um que me tirou o sono. Se é para
ficar acordada, que seja por algo que realmente me afete.
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