quinta-feira, 9 de junho de 2011

As esquecidas



   Todos os dias me chegam relatos comoventes de mães que foram afastadas brutalmente de seus filhos. Hoje fiquei sabendo de uma história cruel, acontecida na Espanha, de uma mãezinha de 15 anos, que teve sua filha de 15 meses arrancada dela porque estava amamentando livremente a filha!
  Eu sempre soube, desde muito jovem, da crueldade do mundo, mas como todos os jovens idealistas, acreditava que pudesse mudar o mundo cruel. Nem me lembro quantas vezes defendi “minorias”. Passei madrugadas de plantão nas ruas de São Paulo ouvindo histórias de viciados, de marginais, de esquecidos...  quando iria imaginar que eu também seria uma dessas esquecidas. Acho até que minha filha Dora pode estar me esquecendo. Amanhã completa 4 meses que ela foi levada daquele jeito da escola, quem não viu pode acessar o site do Profissão Repórter (e dar mais um pouco de audiência para aquele sensacionalismo barato travestido de jornalismo verdade), do dia 31 de maio. É a última imagem que tenho de minha amada filha. Eu não tenho mais a ilusão de mudar o mundo. Foi o mundo que me mudou.
   Cansei de procurar advogados. Demoram tanto para escrever ações que eu mesma, com toda a experiência que tenho na escrita e com toda a informação que tenho do meu próprio caso, escreveria em um dia. Porque sou mãe e tenho urgência. Ficam traçando estratégias de guerra enquanto eu só penso no meu amor. E por isso estou sempre para trás. E o que mais me dói é constatar que a outra parte só separou mãe e filha por sadismo. O pai de Dora, Jonas Golfeto, não está com ela. Mora em São Paulo e Dora em Ribeirão Preto. No último final de semana sua peça nem estava mais em cartaz, mas ele continuava em São Paulo e Dorinha lá, com os avós, José Hércules Golfeto (um psiquiatra infantil) e Ed Melo Golfeto (uma psicóloga) que me proíbem de falar com ela. Esse avô mentiu tanto para mim e agora nem me atende no telefone. Eles são todos tão cruéis.

   Lendo o blog da já tão querida Elaine César, sobre o nascimento do seu precioso Rudá, não pude deixar de me identificar profundamente com seus sentimentos. Ela teve o filho mais velho, Théo, também arrancado brutalmente por uma instituição preconceituosa e lenta e falida. Sentiu tanto ódio, tanta revolta e repulsa. Mas com a chegada do novo filho foi envolvida por novo amor infinito. E agora pode exercer novamente a maternidade. Nas duas primeiras vezes que Dora foi arrancada de mim, fiquei sem chão, doente, perdida. Dessa vez, apesar de ser muito mais longo o tempo sem Dora, sou mais forte, porque tenho Miranda. Continuo sendo mãe, exercendo a maternidade, tendo os cuidados de mãe, cuidando bem, com amor, de minha filha. Quem leva e traz Dora da escola? Quem leva e traz Dora do ballet? Quem vê filmes com Dora? Quem dorme com Dora? O pai que não é...
   Miranda não esquece Dora, ela dança e fala da irmã, veste roupas da irmã e tudo que é de Dora ela cuida com carinho. E fala triste que “Doinha foi emboia”. É tão, tão cruel tudo isso. E por que a outra parte age assim? Para provar que é mais poderoso? Que tem advogados melhores? Que seus pais tem mais dinheiro, que aliás, o Dr Golfeto usa para ameaçar com opressão financeira até minhas amigas? Que valores estarão ensinando para minha doce filha?
   Sinto falta até do silêncio de Dora quando deitava para ler um livro. Nunca mais assisti Boa Sorte Charlie, porque não tenho Dora para rir comigo. Evito passar em frente ao Teatro Municipal, porque choro ao ver as lindas bailarinas indo para suas aulas. Não sei quanto tempo surportarei isso. Não sei quanto tempo Dora suportará. Sei que ela não está expondo seus sentimentos, sei que ela é extremamente inteligente e tenta de todas as formas um meio de comunicação com seus amigos. Sei que sente saudades da sua vida, arrancada sem dó, nem piedade pelo pai carrasco, que mantém sua vida em São Paulo e deve ver a filha uma vez por semana, se tanto, pelas informações que tenho. Estou com visitas suspensas porque salvei minha filha desse pai cruel, que me acusava de mantê-la em cativeiro. Sim, caros leitores, tenho emails cheios de veneno, para mostrar não mais para juízes ou repórteres que seguem roteiros prontos, mas para Dora, quando ela crescer e entender, se é que já não endente, toda a crueldade do mundo.
   Recebi o relato sincero e emocionado de uma mãe que foi afastada por 2 anos e meio de seu filho, por uma família poderosa e também cruel. Dois anos e meio! Ela viu o tal programa e percebeu que eu não era nenhuma vilã, porém o pai... a cena dele levando Dora no colo, daquele tamanho, só não foi ridícula porque foi triste. E ainda ressoa a voz de Dora, sumida, sem força, chorosa “você vai deixar eu falar com a minha mãe?”. Ela só queria falar com a mãe, entender o que poderia estar acontecendo... nem isso o pai cruel deixou. A maldade nos olhos, a encenação tosca para as câmeras da Globo, tudo tão fake, tão fake...
   Estou muito triste pela mãe separada da filha de 1 ano e meio, lá na Espanha e que tem todo a minha solidariedade. A dor é grande, mas o amor por nossos filhos é muito maior. Eles podem sentir esse amor mesmo de longe. Ah, como dói essa falta da Dora, como eu queria poder abraçar minha filha e dizer que a amo. E dormir abraçadinha com ela numa noite fria, embaixo de edredons, comendo pipoca e vendo  Harry Potter e a Ordem da Fênix ou ainda poder ouvir sua voz... não se esqueça de mim, Dora, não se esqueça de mim...

3 comentários:

  1. Querida, não acredito que ela esteja te esquecendo, isso nunca, porque mãe é mãe, ainda mais vc, mãezona que tudo sacrificou por ela! Acho apenas que ela deve estar sofrendo uma pressão imensa naquela clausura, e aí deve se fechar ainda mais pra se auto-preservar. Mas o momento chegará em que Dora deverá ser ouvida, aliás ela pode ser ouvida já. Não acredito em nada que digam POR ela como ela está se sentindo, na hora certa saberemos DELA mesma. Seja forte, por vc, por ela, por Mimi. Todas as mães verdadeiras unidas em solidariedade umas com as outras, contra as brutalidades de indivíduos e instituições.

    ResponderExcluir
  2. Adriana, a Dora não vai te esquecer nunca!! E as lembranças que ela tem de vcs duas juntas devem consolar nos momentos de saudade.
    Sempre penso em vcs e torço muito para que esse pai cruel tenha um pouco mais de amor no coração, que pense no melhor para Dora e que a liberte desse cativeiro!!
    Conte comigo!!
    Um beijo!

    ResponderExcluir
  3. A probabilidade da Dora te esquecer é a mesma da de você e o pai dela voltarem a se amar. Dificilmente poderá acontecer!!!! Beijos!!!

    ResponderExcluir