sábado, 4 de junho de 2011

Sobre a Viagem Para o Chile

Ou Como Um Sonho Virou Pesadelo
  
   Para entender todo o processo litigioso que vivo hoje é preciso saber onde a outra parte começou a ver fantasmas, acreditar tanto na mentira, uma espécie de esquizofrênia, até que se tornasse verdade, inclusive, para emissora de TV e juízes. Para entender as linhas que se seguem, seria bom também entender o Chile na minha vida, como já postei anteriormente - Sobre o Chile e Sobre Um Chileno.

  Passei por uma depressão profunda, fui internada, tive minha amada filha Dora arrancada de mim, consegui a guarda provisória em uma audiência marcada com urgência em Ribeirão Preto, onde minha filha já estava sob os domínios dos avós, José Hércules Golfeto e Ed Melo Golfeto, psiquiatra e psicóloga, respectivamente. Sim, esse filme é velho, no início de 2005, o pai de minha filha, o ator Jonas Golfeto, quando pedi para ficar com a filha durante minha internação, levou Dora para Ribeirão Preto, para ficar com os avós. Desde então, minha vida tornou-se uma guerra, cheia de pequenas batalhas. Mas nessa audiência emergencial, com minhas testemunhas Marcelo Santos, Paula Gil e Douglas Gonçalves, tudo parecia ter se resolvido rápido, até demais pelo tempo judicial. Cinco meses depois, ingenuamente, pensava que tudo ia bem, no caminho da compreensão e respeito. Enfim, queria me dar férias (mas com trabalho no meio, porque vejo matéria em tudo).
  Em contato com meu amigo Chico, que na época trabalhava na assessoria de imprensa do Ministério da Saúde do Chile, procurei uma pauta para realizar a viagem, unindo assim o útil ao agradável. A então ministra Michelle Bachelet era candidata à presidência, já com 52% de intenção de votos para a eleição que aconteceria em dezembro de 2005, o que a tornaria a primeira presidente mulher na América Latina. Estava aí a pauta.
  Me organizei, pedi para o pai de Dora trocar os 15 dias de férias, porque seria a melhor época para a viagem. Claro que só informei sobre a viagem 2 dias antes, por email, para que ficasse registrado pois, apesar de ingênua, não sou burra. Ainda liguei para o avô de Dora, caso a outra parte dissesse que não recebeu email. O avô ainda mostrou-se muito surpreso quando eu disse que viajaria para Santiago: "No Chile? O Jonas sabe disso?". Sim, meu senhor, comuniquei por email e, para que não haja dúvidas, já que Dora passará as férias com vocês, estou ligando para avisar e passar meu telefone de contato por lá, caso haja alguma emergência. E passei o número do celular do Chico.
  No aeroporto de Guarulhos, antes de embarcar, já ganhei passagens de ida e volta para serem usadas no período de 1 ano. Havia mais passageiros do que poltonas e, se eu esperasse o próximo vôo, dali 3 horas, garantia as passagens. Aceitei, claro!
  Sobrevoar a Cordilheria dos Andes é sentir a pequenez humana. Muito solitário, muito lindo. Ao chegar no Chile fui recepcionada por Chico, sua irmã Paulina, o primo Pat com sua filha, mãe e a namorada Sandra. Uma turma de gente boa. Ficamos na casa de Pat e Sandra, ambos publicitários, com uns horários bem malucos. Na época estava em cartaz o filme Mi Mejor Inimigo, produção chilena, com participação da produtora Sandra. Esse filme, poético (redundância, já que falo de Chile) e sensível, mostra uma guerra que quase aconteceu, entre Chile e Argentina e, como o título indica, todos se tornam amigos. Isso, um resumo bem resumido, fique claro e fica também a indicação do filme.
  
Política e Poesia

   De qualquer lugar de Santiago avista-se a Cordilheira. Parece uma cidade européia, as pessoas não conversam pelas ruas ou filas, são muito silenciosos, talvez por serem um povo meio que exilados, entre montanhas de neve e o oceano pacífico.  Era tratada com a máxima cordialidade quando falava que era brasileira. Sim, o Brasil é o país do futebol, tema inicial de qualquer conversa. Como não poderia deixar de ser visitei as moradas de Neruda. Em Santiago, a casa apelidada de La Chascona (A Descabelada), mesmo apelido de sua amante e amada Matilde, onde funciona um museu. Fui com Chico para Cartagena,  próxima de Isla Negra, outra casa linda, parecia um navio e lá estava sendo comemorado os 100 anos de Neruda, programação especial. A outra casa de Neruda era em Valparaíso, também conheci e fotografei. Em Valparaíso encontramos um amigo de Chico, outro chileno politzado. Não sei se pela minha excelente companhia, mas todos que conheci eram pessoas especiais. Tudo na viagem foi muito especial.
  Tanto para fazer, 13 dias foi muito pouco. No fim, não teve Bachellet, mas teve uma matéria linda, poética e romântica sobre Neruda, suas casas, sua poesia e sua trajetória sócio-política. Trocava emails quase diariamente com o pai de Dora, ligava dia sim, dia não para Dorinha. Numa das mensagens perguntei para o pai qual o presente que ela gostaria que eu levasse, ele respondeu que uma roupa bem quentinha e uma boneca de vermelho. E lá vamos eu e Chico atrás dessa boneca. Encontramos uma linda boneca de capa, botas e chapéu vermelho. E um poncho lindo, amarelo, com flore colorias, que guardo até hoje e que Miranda já começa a usar.
  Eu estava com muita saudade de Dora e o Chico de Amanda, sua filha, então com 5 anos. Também ligava para ela quase diariamente, pois, assim como ele, morava em Copiapó, lá no extremo norte, quase no Deserto do Atacama. Combinamos que eu voltaria nas férias de verão (já que havia ganho passagem), com Dorinha, para viajarmos com as duas filhas.
  Voltei. Ao me despedir de Chico, nem olhei para trás, pensei numa poesia de Neruda: "Vou-me embora: estou triste. Mas sempre estou triste. Vim dos teus braços. Não sei para onde vou." Me sentia assim, mas sabia que ia para os braços de Dorinha!
  Chegando em São Paulo fui para o apartamento de um casal de amigos. O pai de Dora a levou no horário combinado. Que saudade. Dorinha não tirava os olhos de mim, nem eu dela. Estava mais branquinha e adorou os presentes (trouxe também alguns livros). Fomos para o Guarujá. Era julho! Em agosto de 2005, no final de semana do Dia dos Pais, o pai a buscou e nunca mais devolveu. Quinze dias depois fiquei sabendo que ele entrou com um agravo, dizendo que eu havia ido para o Chile, não havia comunicado e que havia preparado uma fuga! O juiz leu isso e, imediatamente, passou a guarda para Jonas Golfeto, me tirando o direito de visitas, já que eu poderia "fugir" com ela. Eu tinha todas as trocas de emails... mas meus advogados da época, Muruy de Oliveira e Jurrara Aguiar, perderam o prazo de recorrer do agravo!!!! E eu paguei para esses dois infelizes!
  Depois uma sucessão de erros me trouxe onde estou agora. O resto é história.

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